My Little Devil escrita por Drica


Capítulo 2
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo! Surtei com os review, afinal sou escritora iniciante e qualquer coisa já é um grande estimulo para mim. Esse capítulo é maior que o outro, então espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/340662/chapter/2

Cam.

Ela sabia sem precisar olhar, mas mesmo assim, olhou.

Ele ainda era o mesmo, claro. Tão lindo quanto ela se lembrava. Ou até mais. Ele estava agasalhado como todo mundo, graças ao frio de Londres, mas o sobretudo preto caia muito bem nele. Muito bem mesmo. Preto era a cor de Cam.

Ele veio até Gabbe, Roland, Annabelle e Ariane com um sorriso irônico no rosto e um caminhar confiante. Seu cabelo preto estava um pouco maior, e quando Cam levantou a mão para tirar os fios negros que caiam sobre o seu rosto, Gabbe pode ver os seus olhos. Tão verdes e maravilhosos como sempre. Intimidadores e desconcentrantes. Como o próprio Cam.

Houve aquela comoção toda coma chegada de Cam, mas Gabbe permaneceu no mesmo lugar em que estava, petrificada. Ela estava surpresa, é claro. Nunca houve muito amor entre Cam e Ariane, mas lá estavam eles, se abraçando e rindo como velhos amigos. Foi o tempo e a distancia que fizeram isso? Eram assim tão poderosos, capazes de mudar as pessoas?

Gabbe não sabia a resposta e nem queria saber, principalmente quando Cam se virou para olhá-la com os olhos verdes brilhando.

- Você não mudou nada, Gabrielle. - ele comentou, passando um braço pelo ombro dela. Discretamente, Gabbe inspirou seu cheiro forte e quente.

- Seu cabelo cresceu. - ela brincou.

- É, você notou.

Aquilo era uma indireta? Gabbe levantou a sobrancelha para ele. Cam não parecia estar brincando, mas também não estava falando totalmente sério. Esse era o verdadeiro problema com Cam: ela nunca sabia o que ele estava pensando. Nunca entendia as suas perguntas e nunca sabia o que dizer. Mas sempre foi assim. O problema é que agora ela se importava com isso. Era uma situação desconfortável, aida mais agora que ele estava tão perto dela sob os olhares atentos de Roland, Annabelle e Ariane.

Então ela apenas fingiu uma expressão de nojo, mas não conseguia sair de perto dele.

- Há quanto tempo você está em Londres, Cam? - perguntou Annabelle.

- Uns meses, sei lá. Eu gosto da Inglaterra.

- Gabbe também gosta. - faz Ariane. Ela era a única que olhava desconfiada para o braço de Cam nos ombros de Gabbe. Mas Gabbe não parecia se importar com isso. A cabeça dela estava flutuando ao redor do que Cam acabara de dizer.

- Não acredito que estava aqui durante esse tempo todo. - disse Gabbe.

Cam não respondeu. Ele parecia meio desconfortável, como se Gabbe estivesse o acusado de cometer algum crime. Mas não era isso. Ela só não acreditava que eles estavam tão perto... mas tão longe.

- Tá bom, estamos todos reunidos. Precisamos comemorar, pelos velhos tempos. - disse Roland, parecendo alguns anos mais jovem. Era a convivência com Ariane e Annabelle. Eles até completavam as frases um do outro.

- É - concordou Ariane - Podemos zoar alguns turistas na Tower Bridge.

- Ou encher a cara em algum bar no Soho. - disse Annabelle e, em seguida, jogou a cabeça para trás e gargalhou. 

Cam olhou para Gabbe com as sobrancelhas levantadas. Ele estava perguntando se ela queria ir? Gabbe sorriu para ele e para  os outros três.

- Parece uma ótima ideia. 

Algumas horas depois, os cinco anjos caídos estavam em um apartamento na cobertura de um arranha-céu tão alto, que, se não estivessem acostumados com altura, teriam ficado com nervosos. Era a casinha de Cam. Ele tinha chamado de casinha, mas o apartamento era absolutamente moderno e escandaloso, elegante e magestoso. Todo decorado em prata e chumbo, era meio “inadequado” para Londres.

Eles haviam passado a tarde na London Eye se divertindo e contando histórias de quando estiveram em Londres no passado. Tipo, Cam atuando no Globe Theatre, Roland bebendo até cair no Soho... coisas assim. Durante aquelas poucas horas, todos eles haviam esquecido que eram anjos caídos e que viviam uma eternidade que nem sempre era tão maravilhosa e divertida. Durante aquelas poucas horas, eles apenas riram e curtiram como se fossem adolescentes curtindo as férias de inverno em Londres.

Para Gabbe, aquele momento foi especial e único, ainda mais depois de passar tantos anos sozinha. Ela não tinha esquecido do quanto Ariane era engraçada, Roland era simpático, Annabelle era meiga e Cam era irônico. Mas, infelizmente, ela tinha esquecido de como era bom estar com eles e, mesmo que as coisas fossem meio complicadas, ela nunca mais sumiria do mapa novamente.

Ela foi arrancada de seus pensamentos ao ouvir as gargalhadas de Ariane e Annabelle vindas da “Sala da TV” – um cubículo com uma TV enorme grudada na parece e um tapete felpudo cheio de almofadas enormes no chão. Roland pairava sobre as duas, contando alguma história engraçada enquanto elas se dobravam de rir no meio das almofadas. Gabbe se sentiu tentada a ir pra lá se divertir e rir com eles, mas seu corpo foi tomado por uma nostalgia incomum.

- Você gosta mesmo de ficar sozinha, não é? – Cam perguntou, sentando ao lado dela no parapeito da varanda. 

- É bom para bem pensar. – Gabbe respondeu olhando para frente, para Londres.

- Em quê, por exemplo?

Ela tentou manter o rosto impassível quando disse:

- Você sabia que eu estava aqui, na Inglaterra?

- Acho que já respondi essa pergunta. – Cam tentou desconversar.

Gabbe revirou os olhos.

- Não respondeu, não.

- Hm, tá. Tá. Se eu soubesse que você estava em Londres, eu teria ido, sei lá, procurar você pra, sei lá, bater papinho.

- Não estou me referindo a Londres, Cam – ela o cortou secamente – Quero dizer a Inglaterra inteira.

Ele não respondeu de imediato, o que fez Gabbe achar que Cam estava tentando bolar uma mentira ou alguma alguma desculpa ou alguma forma de contar a verdade. Com tudo, a única coisa que saiu da boca dele foi:

- Hein?

Gabbe suspirou, mas não se virou para olhá-lo.

- Eu estou morando em York, há alguns anos, e vim para Londres hoje de manhã porque... não sei bem. Alguma coisa me dizia para sair de casa. E essa mesma coisa me diz que você sabia que eu estava aqui.

Dessa vez, foi Cam quem suspirou – um suspiro baixo e terrivelmente sexy – e Gabbe notou que ele estava desconfortável, o que era estranho levando em conta que ele era o Cam e o Cam nunca sentia vergonha  ou desconforto. No fundo, no fundo, Gabbe esperava que ele fizesse alguma piada ou soltasse aquela risada irônica para voltar a ser o Cam De Sempre. Mas ao inves de mostrar sinal de vida, ele continuou olhando para frente o que significava uma coisa:

Ele não ia falar nada.

Então ela decidiu ir mais fundo.

- Você não me deu a chance de agradecer.

- Pelo quê? – ele murmurou.

Gabbe mordeu o lábio antes de responder. Ela se sentia perdida. Queria ver os olhos dele, mas Cam continuava a olhar para frente, como se a vista de Londres fosse mais interessante que ela. Isso era um insulto para a mulher que deixou Leonardo Da Vince maravilhado.

- Por ter salvo a minha vida. Foi muito corajoso. Obrigada.

Cam deu de ombros.

- Sem problema. Você teria feito o mesmo.

- Claro que sim, mas... eu não entendo. Por que eu? Você nem gosta de mim, nunca gostou. Molly é quem era sua quase-amiga e ela estava mais perto, e tal.

Novamente, Cam virou estátua.

- Eu só queria entender – Gabbe disse baixinho, para si mesma.

E então ambos se viraram para o lado. Um olhando o outro. Gabbe se surpreendeu ao ver que os olhos de Cam estavam mais escuros que o normal, como se uma sombra tivesse atravessado o rosto dele.

- Eu não gosto de falar sobre aquela noite, Gabbe. Nem mesmo sobre aqueles nove dias. Não foi o momento mais feliz da minha vida. Então por que você não pode simplesmente esquecer?

- Porque não. – ela respondeu com determinação, mesmo que se sentisse meio infantil – É como se alguma coisa me prendesse, me obrigasse a pensar naquele momento. É mais forte que eu.

A expressão de Cam tornou-se mais cética a medida que ela falava.

- Tem sempre “alguma coisa” mexendo com você, Gabrielle. Talvez você devesse voltar para a Sword & Cross, lá é o lugar perfeito para pessoas assim. Meio malucas.

Cam estava zombando dela. E por que não o faria? Isso era típico dele. Tão típico que ela nem ficou surpresa. Ou zangada.

- Nunca mais me chame de Gabrielle.

Cam deu um sorriso irônico para ela, mas não disse nada. Ambos voltaram sua atenção para a vista espetacular que era Londres durante á noite. As luzes douradas brilhavam como milhares de vagalumes misturados com uma chuva de ouro. O brilho prateado das estrelas mesclava-se com a imensidão dourada e deixava tudo mais diferente e maravilhoso.

Como eu e Cam, Gabbe pensou. Mas depois balançou a cabeça tentano fazer o rosto parar de arder.

Gabbe não conseguia entender o motivo de Cam a afetar tanto. Ainda mais agora que ele estava bem ao lado dela. Cam era tão instável e imprevisível. Mas eles tinham compartilhado algo quando ele a salvara. Gabbe tinha certeza disso. Ele tinha segurado o corpo dela com força, fazendo seus corações baterem juntos, em uníssono, de tão próximos que estavam. Os olhos dele varriam cada pedacinho dela, procurando machucados e ele ficava repetindo um “você está bem?” ofegante e preocupado.

Ela estava tão inércia em seus pensamentos que nem percebeu que Cam estava observando-a pelo canto do olho. Gabbe apenas sentiu quando ele passou o braço pelo ombro dela e a puxou para perto, pela segunda vez naquele dia. Eles estavam tão perto que um podia sentir o cheiro e o calor do outro.

- Eu me enganei quando disse que você não tinha mudado nada. – ele disse baixinho – Você mudou muito, Gabbe.

Cam só não disse se ela tinha mudado para melhor ou para pior.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E AÍ, E AÍ? O que acharam? Mereço reviews? Ah, como eu estava com um pouco de pressa, não revisei a ortografia, então em desculpem por algum erro.