Digi-Shots escrita por Caelum


Capítulo 6
Digi-Shot VI: O Curioso


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! :)

Nossa, eu amei, amei, AMEI FAZER ESSA DIGI-SHOT! (A prova: Umas duzentas palavras a mais!)
Eu sempre amei o Koushiro. Ainda que o meu personagem masculino preferido seja o Takeru, o Koushiro é incrivelmente demais, ficando, na minha opinião, em segundo! Não sei explicar, de verdade. Amo o Koushiro, simplesmente, porque ele é o Koushiro.
Bem, não há, de fato, muito o que falar, aqui - só tenho coisas para dizer nas notas finais ;) Para não prolongá-las taaanto, aqui um pequeno BÔNUS:
Notas de OUTRAS histórias minhas:
—Sim, por favor, tenham paciência quanto à Brasão Lendário. Posso ter continuado a escrevê-la, mas não garanto nada rápido; ^^' Agradeço a compreensão.
—"E Tudo Começa Em Um Acampamento de Verão" logo, logo, terá seu capítulo final! :)
—Minha Digi-Fic de Páscoa Atrasada: Vai ficar UMA SEMANA atrasa. Pois então: Desisto dela?

—--------x------------

Aproveitem!



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Nada podia ser mais esperado do que Koushiro Izumi ser curioso.

Ele tinha sede de aprender. Isso já era revelado com bastante clareza por seu modo de pensar: As perguntas eram o caminho, as dúvidas, os obstáculos, a curiosidade era o meio de transporte e o destino do trajeto era o conhecimento, a sabedoria - a clareza intelectual e instigante daquele mundo escuro e sem graça, que deveria ser povoado por informações e descobertas.

Ele sempre procurava a versão mais atualizada de tudo que tinha vontade de saber.

Por mais que não fosse comum alguém de dez anos de idade pensar de tal forma, ele não se importava: a sua curiosidade fazia-o muito feliz, e, poder transmiti-la para quem quer que fosse, deixava-o ainda mais satisfeito. O ciclo do saber deveria ser interrupto, a incrível sensação de aprendizado, universal.

E ainda tinha o seu meio de escape da vida real, a solução para o que lhe atormentava em segredo:

O laptop.

Tão fácil, e mais cômodo do que interação humana - a solução, a dependência, o vício, a necessidade para a ofuscação do terrível medo.

Tão precoce quanto a sua maneira de ser, afastado dos outros.

"Koushiro... O que é que há? Porque você não se abre comigo?"

O ruivo corou, perplexo, olhando para o parceiro cujos simpáticos olhos verdes de inseto o fitavam com preocupação.

"Desculpe-me, Tentomon." Ele pediu ao ser que se assemelhava à uma joaninha.

"Não seja tão formal!" Tentomon pareceu sorrir. "Mas... Ah, não tem problema, é só como você é, né?"

"Sim." O garoto devolveu o gesto de leve.

"Eu gosto muito de como você é." Disse o Digimon, e Koushiro sorriu ainda mais, quase como que agradecido. "Só que eu queria que você me contasse o que está te incomodando."

Parou de sorrir.

O medo voltava a assombrar sua mente repleta de perguntas - e ele temia ainda mais as respectivas respostas.

Seus dedos vagaram para o laptop de imediato.

"Não é nada, não se preocupe." Abriu-o, e a tela cheia de dígitos o cumprimentou, gozando da familiaridade.

"É alguma coisa sim, menino teimoso!" Tentomon cantarolou, voando ao redor dele por um momento, insistente, antes de pousar novamente e suspirar. "Se você não abrir a boca, eu irei descobrir!"

Ele não lhe deu atenção, começando a digitar no laptop em seu colo.

Tentomon arriscou: "Você está com medo de perder a sua curiosidade de novo?"

Koushiro tomou um pequeno susto com a pergunta e parou de digitar, mexendo-se, em sua cama, para poder encarar o parceiro melhor. Pois, sim, ele estava em sua cama, não no Mundo Digital; este havia sido abandonado pela busca da Oitava Criança, e eles tinham saudado o querido Mundo Humano, agora ameaçado por Myotismon e seus servos.

Assim, naquele dia, todos os sete Digiescolhidos encontravam-se em suas casas, provavelmente dormindo àquela hora da noite. Ele, porém, claro, estava no laptop, com uma pergunta martelando sua cabeça: "Aonde essa criança foi se meter? E quem é ela?"

"Hein, é isso?" Insistiu.

"Não, Tento, não!" Koushiro superou o leve choque e riu. Ele nunca esqueceria o dia que haviam dele retirado sua mente curiosa. Isso não aconteceria mais, já que, a cada segundo, sua empolgação sobre os mistérios do Digimundo aumentava: ele queria saber tudo! Mas não era isso que o perturbava. "Não é isso, de verdade."

Tentomon se desesperou de forma cômica, e o ruivo prendeu o riso:

"Então o que é? Me conta, me conta! Se você não disser o que está te incomodando tanto, eu acho que vou enlouquecer! Eu quero te ajudar! "A sinceridade aqueceu seu coração. "Porque você é tão teimoso, hein?!"

Antes que ele pudesse lhe responder, uma voz feminina bastante doce foi ouvida:

"Koushiro! Tem alguém aí com você, querido?"

"AH, mãe, não, não!" Uma risada nervosa escapou de seus lábios enquanto o Digimon, aturdido, tapava a boca com as patas. Esquecera-se de que não podia falar tão alto. Koushiro se levantou da cama, deixando o aparelho na cabeceira, e elevou de leve o tom de voz, na direção de sua porta: "Eu só estava conversando com o Taichi por telefone! Vou tirar do viva-voz, desculpe-me, mamãe!" Ela, na sala da residência dos Izumi, riu, suave e amável, antes de se silenciar:

"Sem problemas, filho!"

Filho.

"Você não gosta de mentir para a sua mãe..."

Mãe.

"...E nem pro seu pai..."

Pai.

"...Você ama muito sua família, Koushiro."

Família.

"Sim, é claro que sim, eu os amo. Eu sou muito grato a eles." Ele respondeu aos três sussurros inquietos e reflexivos de Tentomon com um olhar perdido no nada. Aonde ele tinha deixado o laptop mesmo? Após um tempo cujos únicos barulhos eram os das teclas do aparelho favorito de Koushiro, seu parceiro tomou a palavra:

"Koushiro... A coisa que te incomoda - posso percebê-la através dos seus olhos -, ela tem a ver com seus pais, não é? Você fica diferente quando eu falo deles, como se tivesse medo de respostas que fossem te machucar, medo da sua mente curiosa..."

Não pode fugir da observação ou da pergunta. E confiava em Tentomon a própria vida.

Então, contou sobre aquele dia:

O dia que sua própria curiosidade lhe deu uma facada e quase arrebatou o coração

O dia que andou até a porta, motivado pela virtude amaldiçoada, e ouviu certa conversa entre os adultos que julgava serem seus progenitores que não deveria ter ouvido: Mentiras sujas tinham sido criadas e alimentadas sob aquele teto. Mentiras sobre seu nascimento, mentiras sobre amor familiar, mentiras sobre quem ele era e de onde tinha vindo. Ele era uma mentira.

Ah, o que ele não daria para não ter aberto aquela porta e ter escutado todas aquelas verdades sofridas? Foi o único momento de sua vida que ele desejou viver com a bênção da ignorância.

Koushiro Izumi era adotado.

As pessoas que o haviam criado não eram seus pais; eram dois mentirosos.

E ele os amava mais que tudo.

Era grato pelas mentiras, pelo amor incondicional, pela vida repleta de carinho que eles lhe proporcionaram. Grato, pois eles eram as melhores pessoas do mundo. E as perguntas das quais ele tinha medo eram estas: Seus pais biológicos haviam-no abandonado? Havia algum problema nele que o fizera ser rejeitado por aqueles que deveriam amá-lo? Ele só tinha aquela família por pena? Onde eles estavam? Eram parecidos com ele? Pensavam no filho ou será que ele era tão errado que nem ligavam mais para sua existência?

Teriam eles curiosidade de conhecê-lo?

Eu gostaria de saber o que aconteceu com os meus verdadeiros pais. Ele revelou a um Digimon mudo e pensativo, sofrendo pela dor do parceiro. Tentomon, porém, discordou, abraçando-o com força, amor e companheirismo quando algumas lágrimas silenciosas rolavam pelas bochechas de Koushiro:

"Os que você tem agora são seus verdadeiros pais, e eles te amam, assim como eu."

***

"Eles morreram num acidente de carro."

Lágrimas. Verdades.

Acidente de carro.

"Há... quanto tempo?" Koushiro aventurou-se a perguntar, com a voz embargada de choro.

"Você era recém-nascido." Informou-lhe seu pai adotivo, com tristeza. Então, era por isso que não possuía nem a mais enevoada das lembranças - ele não tivera tempo o suficiente na companhia dos que lhe deram a vida para criá-las. O tempo tinha sido morto, também.

Sua mãe adotiva tentou dizer, mas as lágrimas que escorriam pela sua face não a deixaram:

"Nós íamos contar antes, mas..."

Silêncio. Cabeças baixas.

Arrependimento.

"Eu já sabia, de qualquer jeito." O ruivo tomou uma respiração profunda, erguendo a cabeça para olhá-los. "Eu ouvi vocês conversando. Quanto mais calmo eu tentava me manter, mais desesperado eu ficava... Murmurou: No fim, eu me entreguei ao mundo do computador para fugir disso..."

"Desculpe, Koushiro, desculpe, espero que um dia você possa nos perdoar por não ter falado antes...!" A mulher falou, soluçando, tentando cobrir a boca com as mãos a fim de parar. "A última coisa na vida que eu queria era você sofrer por minha culpa!"

"Eu não culpo vocês!" Ele exclamou, para então falar mais baixo: "...Nenhum dos dois."

"Você não culpa, não é?" O homem sorriu tristemente. "Eu sei que não; você é um filho maravilhoso, Koushiro."

"Maravilhoso." Ela repetiu, com um tom que parecia ser uma mistura de alegria, orgulho e dor. "Nós não te merecíamos, para falar a verdade... Você sempre me agradece, Koushiro. Sempre diz 'Devo te agradecer, mamãe." Disse com carinho. "É tão bom ouvir isso... Mas, quem realmente deveria ser grata aqui era eu."

"Por quê?" Ele sussurrou.

"Porque você, com toda a sua criatividade, inteligência, educação, sensatez, curiosidade, sempre me deixou tão feliz, tão orgulhosa, tão cheia de amor. E eu pensava que não poderia mais ser feliz, pois, há muito tempo, na época em que você nasceu, eu tive um filho... "Engasgou.

"...Ele morreu." O pai revelou, sombrio e tranquilo. "Quando bebê - e foi aí que nos oferecemos para adotá-lo, Koushiro." Enquanto o menor assimilava as novas informações, e Tentomon espiava atrás de uma das pilastras do prédio da TV Fuji, a voz da mãe foi ouvida novamente, sem choro algum, dessa vez, apenas muito orgulhosa e grata:

"Você nos lembra muito o seu pai biológico, um parente distante... Ele era um homem incrível."

Muito, muito silêncio. Koushiro quase podia ouvir o barulho fantasmagórico dos Bakemons que haviam restado, nos pisos inferiores. Alguns dias tinham se passado desde a última vez que tocara no assunto agora discutido, a Oitava Criança tinha sido encontrada e, Myotismon, destruído.

Tomou coragem para expressar sua curiosidade - ela não doía mais tanto assim:

"Como ele era?"

"Um gênio da matemática." Seu pai sorriu. "Muito inteligente, Koushiro, assim como você é. Ele também era muito curioso, dedicado e estudioso, sempre atrás de saber tudo que fosse possível."

"E o que não fosse, também." Ela deu uma risadinha. "Ele tinha uma curiosidade que parecia infinita!"

Koushiro sorriu, arquivando a nova informação.

"Olha, eu sei que agora não é o momento adequado, mas... Eu gostaria de saber muito mais sobre eles dois, se me permitirem."

"É claro que sim! Contaremos tudo que você quiser tenho certeza de que se orgulhará ainda mais." Ela se apressou em dizer. O ruivo riu por um breve momento, já orgulhoso dos adultos presentes.

Ele já não tinha mais medo das respostas de suas perguntas; fá-las-ia, em outro momento.

Antes de ser tomado, novamente, por todas as suas precoces obrigações digitais ele não se importava, uma vez que seus pais verdadeiros o amavam e o apoiariam -, deu-lhes um grande abraço, feliz e sem um peso no coração por terem, afinal, dito a verdade. Foi retribuído com muito amor e emoção, e Tentomon, ainda oculto, suspirou de alívio. O menino sussurrou:

"Obrigado, papai. Obrigado, mamãe."

No que dos dois lhe responderam em uníssono:

"Obrigado, filho."

Pois eles eram uma família de verdade, ainda que não de sangue, e sempre seriam gratos pelo amor genuíno dos três.

(...)

E ali estava, novamente, a versão atualizada: seus pais atuais, os melhores que ele poderia um dia sequer pedir.

Uma promessa silenciosa foi feita, naquele dia.

Koushiro Izumi nunca mais teria medo de sua mente curiosa.


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Notas finais do capítulo

Entãããão? O que acharam? Boa, péssima, horrível, excelente, perfeita, razoável?

Essa, eu acho, é a minha preferida. (Aí, só por isso, aposto que ninguém vai gostar dela kkkkkkkk - ou não. Mereço esperanças? Ou ficou ruim?)

Foi um tanto complicada, sim, mas veio com uma certa facilidade que, excluindo a do Yamato, não teve nas outras. (Apesar de ter sido meio difícil conciliar as passagens dessa Digi-Shot). Acho que é porque as histórias do Yamato e do Koushiro são as mais sentimentais - e eu expresso bem sentimentos por meio das palavras. São, como posso dizer, as que, com detalhes, ficam mais emocionantes e bonitas. Melancólicas, tristes, mas, bonitas. Meio pesadas, mas, ao mesmo tempo, leves... Ah, viu? Eu não sei MESMO avaliar as coisas que eu escrevo, olha a prova, confundi-me toda kkkkkkkkk :3
Eu amei escrever sobre o Koushiro sendo adotado, e tudo mais. Adorei mesmo, foi a mais rápida de todas para formular, e acabou ficando um tanto mais longa. Sem problemas. ^^ Quero saber: Retratei bem o Koushiro, e a sua gratidão quanto aos pais adotivos e certo medo de pensar sobre os biológicos? Fiz jus ao nome dele??
Ah, basicamente, é o que eu escrevo aqui nas notas finais, mesmo.

INFORMAÇÕES:
*A primeira parte (ficou mais longa e desproporcional por certo descuido, mas a manterei assim) se passa no episódio 31 de Digimon Adventure! Logo antes do Koushiro receber um aviso no laptop de um Digimon na cidade - aquele meio gosmento, preto, derrotado por Kabuterimon, lembram? Inclusive, ele recebe um aviso do Digivice da Hikari - era o gato dela kkkkkk, Miko. Enfim, logo antes de tudo isso.
*A segunda parte de fato aconteceu, num dos andares da TV Fujji. Ela é do episódio 38, quando Myotismon foi destruído, as pessoas estão dormindo no prédio, antes delas acordarem clamando pelo "Mestre Supremo VenomMyotismon". É claro que eu a alterei, deixando-a a meu modo. As informações foram tiradas de lá, então são iguais (numa ordem e de formas distintas), e uma das falas do Koushiro está igual devido a sua importância, que a dele se entregando ao mundo do computador como fuga. Eu acrescentei e retirei coisas, para ficar "ao meu ver", a minha interpretação da situação, e tal.
*A música-tema do Koushiro é, originalmente, "Version Up", no que eu tomei como "Versão Atualizada" - daí as frases da Digi-shot sobre 'versão atualizada'. Foi muito complicado fazer uma frase legal com isso, espero que tenha ficado bom. :D

Confissão: Como eu assisti a cena em que os pais do Koushiro contam para ele que ele é adotado, e ele disse que ele já sabia, e tal, EU QUASE CHOREI. Sério, aquela cena foi emocionante. *-*

—--> A próxima Digi-Shot será a da Mimi Tachikawa!! :) (Chega logo a do Takeru, poxa kkkkkk brinks *-*)

Espero mesmo que tenham gostado!!
Abraços,
B. Star Fic ♥