Capítulo 13

Lena estava sobre o portal de pedra do forte que envolvia a Mesa de Pedra, sentada sob a beirada e balançando os pés no ar. Não sabia bem o que pensar, pois ainda tentava se convencer de que o que fizera realmente acontecera. Mal podia acreditar que estava em Nárnia, vivendo uma aventura ao lado de seu melhor amigo e seus outros amigos. Agora arrancaria certo tempo para finalmente cair a ficha de que beijara Edmundo. Algo que jamais imaginou que faria, em qualquer situação que fosse.

- Elena Stryder, exijo de que me conte o que houve ontem na Mesa de Pedra! - ordenou Lúcia, chegando por trás da menina, quase não se segurando em si de tanta felicidade.

Lena soltou um grito fino, assustando-se com a aproximação repentina da pequena. Sentiu-se com sorte, por, apesar de estar na beirada do portal de pedregulhos, estava sentada e o susto não teve tanto impacto. Sorriu cansadamente para a pequena, que se aproximou e se sentou atrás da morena, acariciando-lhe os fios escuros.

- Posso fazer uma trança? - Lúcia perguntou docemente.

- Anh... Claro. - Lena respondeu, sabendo que não haveria como dizer não a ela.

- Agora me diga... - pediu Lúcia, passando os dedos pelos fios de cabelo da mais velha, desembaraçando-o rapidamente e logo separando em camadas para começar uma trança embutida e complicada. - O. Que. Aconteceu?!

Lena suspirou teatralmente, arrancando uma leve risada da menor, que por mais que estivesse interessada na história, sabia que deveria esperar que a mais velha contasse em seus detalhes sua própria versão. Lena queria muito permanecer com a expressão fria e distante, mas foi praticamente impossível. Um sorriso mínimo em seus lábios surgiu ao se lembrar do que acontecera no dia anterior. Mas segundos depois sumiu ao se lembrar do que acontecera logo depois.

- Ahn... Bem... - ela tentou dizer, mas deu um nó em sua garganta, que a impediu de continuar. Queria chorar por ter sido tão idiota, mas ao mesmo tempo não podia, pois não queria parecer fraca.

- Só... Conte o que houve. Sou sua amiga, conta comigo. - Lúcia tentou amenizar a situação complicada da morena.

- Bem... Primeiro, ele me contou que foi na Mesa de Pedra que aquele leão do sonho se sacrificou por ele. - Lúcia arfou, surpresa por seu irmão ter revelado isso logo de cara, vendo que ele realmente a ama a ponto de contar uma das fases mais difíceis de sua vida. Lena olhou-a apreensiva, mas a pequena para que ela continuasse. - Eu percebi que ele queria me contar, mas algo nos olhos dele me disse para não forçar a barra.

Lena respirou fundo, assustada consigo mesma por estar confiando seus sentimentos na irmã do menino que ama. Era algo que também não imaginaria.

- Eu disse isso a ele e... Simplesmente o beijei. - ela exclamou, jogando os braços para o alto e acarretando um puxão acidental de cabelo. - Ai!

- Desculpe! - pediu Lúcia rapidamente.

- Tudo bem... - Lena disse, acariciando o couro cabeludo onde estava disponível.

- Vai, Lena, continue! - a pequena pediu ansiosamente.

- Continuar como?

- Anh... Tipo, como foi o beijo, o que vocês fizeram depois e por quê o Ed saiu de lá horas depois de você e completamente aturdido?!

Lena arregalou os olhos, preocupada. - Ele estava assim memo?!

- Só conto depois que você contar. - chantegeou Lúcia, ainda trançando os cabelos escuros de Lena e sorrindo marotamente.

- Ok, você venceu! - Lena abaixou os ombros apenas o suficiente para que seu cabelo não levasse outro puxão doloroso. - Não foi de língua, só encostei os lábios. Eu não vi bem a reação dele, já que estava de olhos fechados e...

- E qual foi a sensação de finalmente beijar o homem dos seus sonhos?! - ironizou Lúcia, com um sorriso maroto nos lábios.

- LÚCIA! - reclamou Lena, sentindo as bochechas queimarem e logo depois disse com a voz baixa, quase num murmúrio. - Não é bem por aí, não...

- Ok, Lena, agora fala, estou curiosa!

- Se você quer saber, eu digo! Eu só... Senti meu corpo trêmulo, minhas mãos suando frio, meu estômago revirou e eu fiquei com os olhos fechados. Só percebi o que estava fazendo quando senti as mãos dele na minha cintura. Abri os olhos, vi que os dele estavam fechados.

- E depois?! - insistiu Lúcia ansiosamente.

- Entrei em pânico e saí correndo.

- ARGH! - reclamou Lúcia, terminando a trança e jogando os braços para o alto. Virou Lena de frente para si e a encarou de olhos arregalados. - Você sabe a besteira que fez, não é?!

- Eu sei! - choramingou a morena, jogando-se nos braços da pequena.

- E foi por isso que ele ficou tão estranho. - comentou Lúcia para si mesma, mas Lena conseguiu ouvir por estar bastante próxima. E então Lúcia resolveu que deveria finalmente interferir nesse romance estranho entre sua amiga e seu irmão. - Lena, escute.

Lena se separou do abraço da pequena e escutou atentamente.

- Edmundo conversou comigo ontem. Está confuso, achando que você não o ama, apenas acha que o beijo de vocês foi um impulso.

- Espera, pausa! - brandou Lena, com uma ideia fixa em sua mente. - Por que, exatamente, você acha que ele está sentido por isso?!

- Pela juba do leão, Lena! Vocês dois são os únicos que ainda não viram que se amam!

- Ele... ele... - gaguejou Lena, sem conseguir formar uma frase coerente.

- Sim! Ele te ama e agora ele sabe que você o ama, só falta vocês admitirem!

- Sua criaturinha irritante! Como assim você sabia que ele me ama e não me disse nada?! - Lena se enfureceu, mas apenas deu alguns leves tapas na pequena para não deixá-la roxa, enquanto a outra ria de tudo aquilo.

- Eu não podia! - defendeu-se a pequena. - Ambos me pediram segredo, então achei que podiam resolver. Mas depois de ontem realmente precisavam da minha ajuda.

- E... E agora?! - perguntou Lena, colocando a mão sobre a boca de nervosismo.

- E agora que ele sabe o que você sente por ele, mas precisam admitir um ao outro. É o único jeito.

- Mas...

- Olha, vocês precisam conversar e pronto. - disse Lúcia, enquanto Lena mexia em seu cabelo trançado.

- Mas antes, a senhorita precisa treinar. - elas se viraram ao mesmo tempo e encontraram Caspian olhando-as divertidamente. - Augustus quer ensiná-la a cavalgar e depois vou te ensinar luta de espadas.

- Ai, meu coração! - dramatizou Lena, despedindo-se da pequena e seguindo o príncipe. - Se eu cair a culpa é de Augustus e se eu tiver a cabeça cortada a culpa é sua! - disse Lena, arrancando risadas do príncipe ao seu lado e da rainha que ficou mais atrás.