Coração Vago escrita por KatherineKissMe


Capítulo 13
Capítulo 12




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"And when the broken hearted people
Living in the world agree
There will be an answer, let it be"

Let It Be - The Beatles

A loira ainda estava estática sentindo os olhos arderem. Antes que alguém pudesse dizer algo, Fatinha saiu correndo sem direção, sendo seguida por Vitor.

Cansada de correr ela encostou em uma parede e deixou o corpo escorregar até que estivesse sentada no chão. E foi só então que ela se permitiu chorar.

–Fatinha! É tão bom te ver aqui no colégio. –Uma voz alegre disse. –Eu tentei te visitar, mas o Michel disse que você tinha se mudado. Pensei até que tivesse voltado para Carambolas.

Quem falava era Marcela, que ainda não tinha notado que a garota chorava.

–Fatinha? –Marcela a chamou quando não obteve resposta. Foi só então que a professora percebeu as lágrimas que cobriam o rosto da garota. –Ei, o que aconteceu?

–Fatinha! –Vitor apareceu chamando por ela, e a encontrou abraçada a Marcela.

–Vitor, você poderia buscar um copo de água para ela, por favor? –Marcela pediu.

–Claro. –Respondeu o garoto, se retirando.

Aos poucos a loira foi se acalmando. Quando as lágrimas já estavam controladas ela explicou o ocorrido à professora.

–Me surpreende a Ju, sempre tão controlada, perdendo a paciência tão facilmente. –Marcela comentou.

–Sabe qual o pior de tudo isso? É que eu não sei se o ódio dela é infundado ou se eu realmente fiz por onde.

–Não adianta você ficar quebrando a cabeça com isso.

–Desculpa a demora, tive que convencer uma multidão que você estava bem, Fatinha. –Vitor se explicou entregando a água.

–Uma multidão? Que exagero. –A loira disse com um pequeno sorriso.

–Exagero nada guria, embora você não se lembre é muito querida por aqui. –Vitor disse.

O sinal tocou anunciando o fim do intervalo.

–Vitor, vai para a sala que eu cuido da Fatinha. Avise ao professor por favor. –Marcela pediu.

–Não quero te atrapalhar Marcela. É Marcela, certo? –A professora assentiu. –Você já me ajudou demais. Eu só preciso ir ao banheiro dar um jeito na minha roupa.

–Nada disso, tenho o horário vago agora e quero a sua companhia. Além do mais tenho certeza de que a senhorita está com fome.

–Falando desse jeito, você até parece com a minha mãe. –Fatinha comentou.

–Esqueceram de te contar quando a sua mãe não está aqui eu assumo o posto dela, querida. –Marcela brincou. –Agora vai lá Vitor, e faça o que eu te pedi.

–Certo. Mas Fatinha, precisando é só me chamar.

–Obrigado Vitor. –Ela agradeceu.

O garoto foi para a sala deixando as duas loiras sozinhas.

–E agora Fatinha, vamos ao banheiro para você se limpar enquanto me conta as novidades.

–Novidades? –Ela estava confusa.

–É, as novidades! O meu namorado pode ser o seu médico, mas leva muito a sério a privacidade do paciente.

As duas já haviam alcançado o banheiro. Fatinha tirou a camiseta e percebeu com alivio que blusa usada por baixo não estava molhada.

–O Lorenzo me disse que a minha amnésia é temporária, o que é um alivio. Já a Raquel descartou qualquer hipótese de não gravidez.

–E o bebê? Você está de quantas semanas?

–Entre a 11ª e a 12ª.

–E está tudo bem com vocês?

–Aparentemente sim. O desenvolvimento da criança está normal, assim como os batimentos cardíacos. A única pessoa que tem sofrido aqui sou eu.

–Sofrido? Como assim?

–Bem, enjoos matinais não me permitem levantar da cama antes de comer alguns biscoitos água e sal, o meu apetite aumentou e muito, e eu obviamente estou engordando. Preciso dizer mais?

–Não queria te assustar não, mas isso é o de menos. Espere até a sua bexiga exigir que você vá ao banheiro a cada quinze minutos. Isso sem falar nas noites mal dormidas já que a medida que a barriga cresce, mais difícil é de encontrar uma posição confortável. E o parto então...

–Marcela você está me desanimando.

–Bobagem, tenha certeza de que valerá a pena.

–Hn.

Fatinha já estava devidamente limpa e Marcela a levou até a cantina para que ela lanchasse.

–Marcela, você é professora de educação física, certo?

Ela confirmou.

–E eu poderei participar das suas aulas?

–Vai depender da aula, mas os esportes em geral são benéficos durante a gestação. Antes, é claro, você precisa do aval da sua obstetra.

–Entendido, mãe. –Fatinha disse brincalhona. –Não se preocupe, o seu netinho ou netinha está fora de perigo.

–OK, chegamos a um ponto sem volta. Você está sendo dispensada do posto de filha postiça e assumindo a vaga de irmã mais nova. Eu sou nova demais para ser avó.

–Nossa Marcela, magoou.

–Ih Fatinha, para de drama e termina de comer. Não estou por sua conta.

–OK, não está mais aqui quem falou.

Como os dois horários seguintes eram de Marcela, elas foram juntas até a quadra. Fatinha a ajudou a organizar os equipamentos e aos poucos os outros alunos foram chegando.

Hoje a aula seria de parkour então Fatinha foi dispensada. De tempos em tempos alguém aparecia para conversar com ela, mas quem a fez companhia praticamente todo o horário foi o Fera. Ele era engraçadíssimo e super gente boa.

Uma tal Rita foi até eles para conversar com Fera, mas quando o mesmo foi fazer as apresentações ela foi indiferente. Fatinha já estava se acostumando com o desprezo da ala feminina.

Quando a aula chegou ao fim ela rapadamente deixou o colégio. Ao chegar em casa, correu para o banho e nem percebeu que Bruno não estava.

Bruno na verdade estava na casa dos pais. Ele tinha ido em busca de açúcar, já que não havia encontrado em casa.

–Mãe, ela vai pro Hostel daqui a pouco. Depois a senhora passa lá em casa. –Ele tentava convencer a mãe.

–Mas é seguro para o meu neto que ela volte ao trabalho tão cedo?

–Claro que é, os médicos liberaram.

Ju chegou naquela hora, e ao ver a aparência séria do irmão supôs que Fatinha tivesse contado para ele do ocorrido na escola.

–Além de tudo ela é uma fofoqueira, né?! Foi correndo para casa reclamar com você. Quer saber, eu assumo. Joguei o suco nela mesmo e não me arrependo. Quem ela pensa que é pra ficar bancando a falsa comigo? A sorte dela é que eu não sou agressiva...

–Juliana, do que você está falando? –Bruno perguntou, sério, mas ela não ouviu.

–do contrário eu acabaria com essa história de amnésia em dois segundos.

–Juliana Menezes, o que você fez? –Marta perguntou, irada.

–Como se vocês já não soubessem. –Ela resmungou.

–Não Ju, nós não sabemos, então é melhor você contar essa história direito. –Bruno falou.

Ju percebeu o erro que tinha cometido, mas já não havia saída. Ela contou toda a história, tentando fazer com que eles concordassem com o lado dela.

–Honestamente, estou decepcionado com você. –Bruno disse à irmã. –Vou lá em casa conversar com a Fatinha.

Bruno saiu da casa antes que alguém pudesse dizer alguma coisa.

–Vamos almoçar? –Ju chamou a mãe, indo até a cozinha.

–Depois. Juliana senta aqui agora. –Marta ordenou apontando para o sofá.

Resignada, Ju obedeceu.

–Por que você fez isso? –A mãe perguntou.

–Porque ela derrubou o mamão em mim de propósito e depois ficou bancando a santa. Aquela garota é uma falsa, e todos acreditam nela.

–Juliana, porque ela derrubaria o lanche dela em uma pessoa que ela não conhece de propósito?

–Porque é tudo uma farsa mãe! Eu tenho certeza que não existe amnésia coisa nenhuma! Ela está fazendo isso só pra convencer o Bruno a assumir essa criança

–Seu raciocínio não fez o menor sentido pra mim. A criança que essa garota espera é filha do seu irmão, então independente da amnésia ele a assumiria.

–Mas o Bruno nunca ficaria com a Fatinha, ele só se interessaria pela criança. Agora com eles morando juntos...

–Se o Bruno vai ficar ou não com a Fatinha é uma escolha dele, nós não temos que intervir.

–Nós temos que intervir sim! Ela é a Fatinha mãe!

–É a Fatinha, e daí? Podia ser uma Lurdinha, Carlinha, Bruninha, continuaria sendo a mãe do seu sobrinho.

–Ela vai arruinar a vida do Bruno, mãe. Como a senhora pode não ver isso? –Ju estava chorando e Marta abraçou.

–Minha filha, uma criança não arruína a vida de ninguém. Eu sei que as coisas não estão acontecendo como eu esperava que acontecesse, mas eu prefiro ver o lado bom. O Bruno já maduro o suficiente para poder lidar com uma gravidez inesperada, e além do mais nós estamos aqui para apoiá-lo sempre que preciso.

–Mas... –Ju tentou argumentar, mas foi cortada pela mãe.

–Você também apoiará o seu irmão?

–Eu sempre apoiei e sempre vou apoiar.

–Eu preciso que você esqueça esse ódio pela Fatinha. O que o seu irmão precisa agora é da certeza de que ele pode contar com você. Ele pode?

–Pode.

–Então amanhã, a primeira coisa que você vai fazer é pedir desculpas a Fatinha.

–Mas mãe...

–Pelo seu irmão você fará isso, Juliana. Tente ser legal com ela também. Não precisa virar a melhor amiga dela, só espero que você seja a garota incrível que eu criei.

(...)

Quando Bruno chegou no 801, Fatinha estava na mesa comendo a macarronada feita por ele.

–Oi Bruno, desculpa não ter te esperado para comer, mas é que eu estava morrendo de fome e não sabia se você demoraria ou não. –Ela se desculpou entre garfadas.

–Sem problemas. E aí, o que achou da minha macarronada? –Ele perguntou, preferindo deixar o assunto Ju para depois.

–Divina! Eu não imaginava que você cozinhava tão bem. Devia ter deixado você cozinhar nos outros dias.

–Ficou com medo que eu fizesse uma gororoba, né?! –Bruno brincou, enquanto se servia.

–Honestamente, fiquei mesmo. E como o meu estomago não está nos melhores dias, não quis arriscar ter que comer uma comida ruim. –Ela respondeu com sinceridade.

–Estou ofendido. –Ele fez uma cara de falsa mágoa.

–Você não parece ser um bom cozinheiro. Não sabia sequer a marca do macarrão que come.

–Isso porque eu não imaginava que existiam tantas marcas de macarrão. Desculpe-me se eu não presto atenção na embalagem.

–Só desculpo porque a macarronada está muito boa. Ou sou eu que estou com muita fome?

–Que bom humor, ein?! Nem parece que a sua manhã não foi das melhores.

–E o que te faz pensar que a minha manhã não foi esplêndida?

Por alguns instantes eu tinha até me esquecido dos infortúnios ocorridos no colégio. Incrível, quando eu estou com o Bruno todos os meus problemas desaparecem! Clichê gigantesco eu sei, mas não será seguido de um “acho que estou apaixonada”. Tenho certeza que é o efeito de uma boa amizade. –Fatinha pensava.

–Você não precisa me esconder, estava na casa dos meus pais e a Ju me contou o que aconteceu.

–Aquilo não foi nada Bruno. Eu deveria ter prestado mais atenção. –A loira explicou, tentando amenizar o ocorrido.

–Mas isso não dá a ela o direito de ser rude e derramar o suco em você. Peço desculpas por ela, a Ju geralmente não é assim.

–Desculpas desnecessárias. Nenhum estrago foi feito, e a camisa já foi até lavada. Tenho certeza que sua irmã é uma ótima pessoa e só estava num mal dia. –Fatinha queria a todo custo evitar uma briga entre irmãos. Ela sabia o quanto esse território era sagrado.

De repente ela sentiu um aperto no peito, uma saudade enorme do irmão. Dois anos haviam se passado, ele provavelmente tinha mudado muito.

–Ela virou uma santa mesmo! –Bruno disse, fazendo a saudade ser esquecida.

–Quem virou uma santa? –Ela perguntou, confusa.

–Você. Nunca imaginei que você defenderia a Ju, mesmo ela estando errada.

–Eu não estou defendendo ninguém.

–Claro, Nossa Senhora de Fátima. –Ele falou brincando, e ela respondeu jogando o guardanapo nele.

–Bobo. Por causa dessa brincadeira a louça é toda sua. –Fatinha disse se levantando da mesa.

–Injustiça, eu fiz o almoço. –Bruno fingia indignação.

Ele não esperava que ela lavasse a louça, já que tinha que correr para o Hostel.

–E o almoço estava delicioso, mas você não está merecendo a minha ajuda.

Dito isso ela foi até o banheiro escovar os dentes. Faltavam apenas dez minutos para o expediente dela começar, mas como ela já estava praticamente pronta não entrou em desespero.

–Bruno, estou indo para o Hostel. –Ela avisou.

–OK.

Ela saiu do apartamento com um frio na barriga, quase como se estivesse indo para uma entrevista de emprego.


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Notas finais do capítulo

O que vocês estão achando dessa versão mais light da Fatinha?
Quero comentários.



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