Coração Vago escrita por KatherineKissMe


Capítulo 14
Capítulo 13




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"I know what I am
And I'm your villain
Although I don't give a damn if
I'm your villain
Because serious
You're so serious"

I'm Your Villain - Franz Ferdinand

Hi little Fátima, how are you? I’ve heard you've been in a hospital. Oi Fatinha, como você está? Ouvi que você esteve no hospital. –Henry, um hóspede inglês, perguntou.

Hi! Estou fine. Foi só um accident. –Fatinha respondeu nervosa. –Precisa de help?

Help? Yes! I need some drugs, I’ve got the flu. Ajuda? Sim! Eu preciso de alguns remédios, estou gripado.

–Droga com um fluminense? You crazy? É problem na certa! –Ela respondeu entendendo tudo errado.

What? I don’t understand. I need a drugstore. O que? Eu não entendo. Preciso de uma farmácia. –Ele estava confuso.

–Drogas is evil! –Ela tentou alertar Henry que ficou ainda mais confuso.

–E aí Fatinha, dei uma passada aqui pra ver se está tudo bem. –Disse Vitor entrando no Hostel.

–Ah! Vitor, você entende alguma coisa de inglês? –Ela perguntou desesperada.

–Mais ou menos.

–Por favor, me ajuda a explicar pra esse cara que comprar drogas é crime. –Ela pediu.

–Hn? O que ele falou? –Vitor perguntou.

–Ah, ele disse algo sobre drugs com um flu. Ou seja, ele vai comprar drogas com um fluminense.

Yes! I’ve got the flu and I need some drugs. Sim! Eu estou com gripe e preciso de alguns remédios. –Henry explicou para Vitor.

–Fatinha, ele está gripado e precisa de remédios. É só indicar pra ele onde é farmácia. –Vitor explicou para a garota.

–Ah! E o que o fluminense tem a ver com isso? –Ela perguntou confusa.

Flu significa gripe.

–Entendi! Understand! Gringo é só you atravessar the street. Little easy.

–Across the street? Atravessar a rua?

–Isso! Across the street, very good! -Ela respondeu toda feliz.

Thanks! Obrigado!

O hóspede ainda estava confuso com o que ela tinha dito, mas fingiu ter entendido tudo.

–Nossa Vitor, você me salvou aqui! Estava quase chamando a polícia.

–Que isso. Eu estava indo trabalhar e decidi dar uma passada aqui pra ver como você está. Você ficou bem chateada com as coisas que aconteceram na escola não é?

–Ah Vitor, não vou fingir que já passou. Eu não entendo porque as pessoas não gostam de mim lá no Quadrante, principalmente as meninas.

–As meninas não entendem o seu jeito. Quero dizer, o seu outro jeito. –Ele tentou explicar.

–E você? Sempre foi o meu amigo ou só está com pena de mim? –Ela perguntou desconfiada.

–Olha Fatinha, eu cheguei aqui no Rio há poucos meses. Uma semana depois nós ficamos. Depois disso nós nos aproximamos, mas como amigos. Você estava sempre fazendo diversas brincadeiras pra me provocar, mas era só amizade mesmo. Você até me promoveu a seu anjo, acredita? –Ele disse rindo.

–Por que?

–Porque eu te ajudei com uma encrenca ou duas, coisa boba.

–Hn, bom saber. Eu não gosto que as pessoas tenham pena de mim.

–Você já me disse isso uma vez, só que a frase foi mais para “prefiro que me desejem, a que tenham pena de mim”. –Ele lembrou rindo.

–Meu Deus, o que essa cidade fez comigo? Eu me tornei uma pessoa horrível! –Ela disse com os olhos marejando.

–Fatinha, você é uma pessoa maravilhosa. Com ou sem memória, eu sei que você é incrível.

–Se é assim porque ninguém gosta de mim?

–Quem não gosta de você te julga pela aparência. É porque não teve a oportunidade de te conhecer como você realmente: dedicada, prestativa, verdadeira, bem humorada e autêntica. Não te preocupa com isso guria, tenho certeza que se os outros te conhecerem melhor vão gostar tanto de ti quanto eu.

–É, agora eu entendi porque você foi eleito anjo da guarda. –Fatinha disse rindo enquanto limpava as lágrimas.

E eu achando que era só pelos olhos azuis... –Ela pensou e logo depois se repreendeu mentalmente.

–Já te disse uma vez e digo de novo, precisando de mim é só chamar.

–Tá bom. Obrigado Vitor. –Ela agradeceu.

–Não precisa agradecer, eu sou seu amigo. E agora eu preciso ir, se não eu fico desempregado.

–Vai lá! Eu já estou bem. Obrigado por tudo... amigo. –Fatinha disse com um sorriso.

–Até amanhã então.

O trabalho dela transcorreu sem mais surpresas. O inglês dela era péssimo, mas os gringos eram pacientes e gostavam dela.

(...)

Quando chegou em casa Bruno se deparou com uma cena inimaginável: Fatinha estava estudando.

A garota estava sentada no sofá com um fone de ouvido escutando algo do notebook e anotando em seu caderno. Em cima da mesa de centro havia vários livros de matérias diferentes.

Butcher. Butcher. Eu nunca imaginaria que butcher é açougue. Que estranho. –Ela disse.

–Fatinha. –Bruno a chamou, mas como ela estava de costas e com o fone nem tinha visto que ele tinha chegado. –Fatinha?

Ele fechou a porta e foi dentro do campo de visão dela.

–Fatinha?

–Ah! Oi Bruno, não vi você chegar.

–Percebi. O que você está fazendo?

–Entrei em um curso de idiomas online. Meu inglês é péssimo, nem sei como consegui aquele emprego no Hostel. Sendo sincera, nem o meu português é bom.

Bruno riu.

–A sua sorte é que os hóspedes te adoram. Foi por causa deles que o Michel te recontratou depois do quase incêndio. –Ele disse sentando no sofá de frente para ela.

–Incêndio? –Ela estava confusa.

–É, nós estávamos jantando lá no seu antigo quartinho do Hostel ai as coisas começaram a esquentar e uma vela caiu em cima da cortina. Sorte que você percebeu a tempo. –Ele ria com a lembrança.

–Ai eu fui demitida e depois recontratada. É, pelo visto eu sempre faço bobagem.

Porra, eu ainda não acredito que eu dormi com esse cara e não me lembro! –Ela pensava incrédula. –Aparentemente a outra “eu” tem uma coragem que eu nunca terei. Pena que eu nem consigo me lembrar de como foi. Ah!!! O que minha mãe iria dizer se soubesse que eu penso nesse tipo de coisa. Agora ele vai perceber que eu estou super corada, e provavelmente vai imaginar o que eu estou pensando! Deus, eu estou surtando!

–E aconteceu alguma coisa no Hostel pra que você percebesse que o seu inglês é terrível? –Ele perguntou não sem perceber que a garota estava mais vermelha do que um pimentão.

–Ah, eu só quase chamei a polícia porque entendi que um dos hóspedes ia comprar drogas com um fluminense. No final ele só estava procurando uma farmácia. Minha sorte foi que o Vitor apareceu para me salvar, aparentemente ele é o meu anjo. –Ela comentou, rindo da situação.

–Vitor, o motoqueiro? –Bruno perguntou incomodado.

–Ele mesmo, você o conhece? –Ela perguntou inocentemente.

–É, conheço sim. Mas o que ele queria?

–Ele só queria saber se eu estava bem depois de tudo o que aconteceu na escola. Pelo que ele disse nós éramos amigos antes de toda essa confusão. De início eu fiquei desconfiada mas eu acho que seja verdade. Eu gosto dele.

–Hn. Pelo visto alem de inglês você estava estudando outras matérias. Já tem prova vindo por aí? –Bruno perguntou mudando de assunto.

–Não, é que eu estou meio perdida com as matérias. Mathias pediu pra que eu faça as coisas com calma já que não adianta eu tentar aprender tudo de uma vez, então eu estou estudando um pouco de cada matéria.

–Eu já sai do colégio há alguns anos, mas se precisar eu te ajudo. –Ele ofereceu.

–Obrigada, é muito bom saber que eu tenho amigos como você e o Vitor para me ajudar. –Ela agradeceu com um sorriso.

–É. Eu vou tomar banho ali.

Amigo? A Fatinha nunca quis ser só minha amiga. E o que ela quis dizer com “amigos como você e o Vitor”? Porra, ela ta grávida de um filho meu e me coloca no mesmo patamar que aquele motoqueiro?! –Bruno pensava confuso.

–Bruno, eu estava pensando em fazer estrogonofe para o jantar pode ser?

–Claro, se precisar de ajuda é só chamar.

(...)

Quando Bruno saiu do banho encontrou Fatinha no fogão. Ele ainda não havia se vestido, estando coberto só por uma toalha, mas acabou se esquecendo desse detalhe com a cena que viu.

–Enquanto eu fujo você inventou qualquer desculpa pra gente ficar. E assim a gente não sai que esse sofá tá bom demais! Deixa o verão pra mais tarde... Uh ah ãã aeãeã. –Fatinha cantava e dançava loucamente enquanto mexia a panela.

O volume do fone estava tão alto que Bruno podia ouvir a voz do Rodrigo Amarante ao fundo.

–Fatinha? –Ele chamou para confirmar que ela ainda não havia visto-o.

E como o esperado, ela sequer escutou.

Não vou resistir. –Bruno pensou com um sorriso, enquanto lentamente se aproximava da garota.

–Que isso, ein Fatinha?! Cantora profissonal! –Ele falou alto, apertando a cintura dela pelas costas.

O susto que ela levou foi enorme, o que já era esperado, mas a reação dela foi a mais hilária. Fatinha começou a gritar desesperadamente, batendo o pano de prato no rapaz.

–PORRA BRUNO! –Ela gritou, ainda batendo nele.

O rapaz ria histericamente, e a garota começou a chorar. Quando ele percebeu as lágrimas dela ficou extremamente preocupado.

–Mil desculpas Fatinha, foi uma brincadeira idiota, eu sei. Para de chorar, por favor. –Ele implorava, extremamente arrependido.

Fatinha parou de chorar e olhou para ele.

–Só te perdoo se você me pedir desculpas de joelhos. –Ela falou séria.

O garoto fez menção de abaixar, e ao ver que ele a obedeceria, a loira começou a rir escandalosamente, o que deixou Bruno mais confuso ainda.

–Por que você está rindo? –Ele perguntou.

–Você é muito trouxa mesmo. –Ela falou ainda rindo. –É só ver umas lágrimas pra entrar em desespero.

–Espera, então esse choro foi fingido?

–Claro! Você realmente acreditou que eu choraria por causa de um susto?

–Mas... –Ele tentou argumentar, descrente.

–Você precisava ver a sua cara de arrependimento quando eu comecei a chorar. Não sei se foi tão engraçado quanto a minha reação ao susto, mas agora me sinto vingada.

Fatinha foi bater em Bruno novamente com o pano de prato e foi só então que ela percebeu a falta de roupa do rapaz.

Sabe aquele momento em que a pessoa fica tão corada que as bochechas se confundem com um tomate? Bem, o rosto da Fatinha estava exatamente assim. Para disfarçar, ela virou para a panela e continuou a misturar o estrogonofe.

Bruno percebeu que a loira estava constrangida, mas ao invés de fazer uma piadinha sobre o assunto para deixá-la mais corada ainda, ele preferiu se aproximar dele.

O moreno parou do lado dela de modo que o abdômen descoberto dele encostasse no braço dela. Bruno enfiou o dedo dentro da panela para experimentar a comida da garota, e ao elogiar, não fez a menor questão de se afastar dela.

–Tá uma delicia Fatinha.

–É, uma delicia. –Ela concordou desconfortável.

Ai meu pai do céu! Delicia é esse moreno lindo e sensual só que toalha na minha frente. Calma Fatinha, respira fundo, e não olha pra ele. Acho que fui seduzida. –a loira pensava.

–O Bruno, por que você está andando só de toalha pela casa? –Fatinha não resistiu e acabou perguntando.

–Por que eu quero ué. Estou te incomodando? –Ele perguntou cínico.

–Está. Eu não sou obrigada a ver você desfilando essa pança pelos corredores.

–Que pança Fatinha? –Ele perguntou passando a mão pelo abdominal definido.

Fatinha acompanhou o gesto com um olhar ávido.

–Merda Bruno, vai se vestir! –Ela mandou irritada, batendo o pano de prato nele com força.

–Ai, essa doeu. –Ele resmungou.

–E era pra doer mesmo. Sai daqui!

Bruno deixou a cozinha rindo, e Fatinha o acompanhou com o olhar para se certificar de que ele já tinha saído.

–Meu Deus. –Ela suspirou baixinho, se abanando.

Bruno estava controlando a risada no quarto, enquanto se vestia.

Quem diria que um dia eu veria a Fatinha tão sem graça assim?! Inacreditável. A cada dia eu me surpreendo mais com a pessoa que ela era antes de se mudar para o Rio. Mas o que será que a fez mudar tanto assim? –Bruno pensava. –Ela fica tão fofa toda corada. Um adjetivo que eu nunca imaginei usar para a Fatinha, mas é simplesmente encantador vê-la constrangida.

Com esse pensamento em mente Bruno saiu do quarto sem a camiseta, usando apenas uma bermuda. Fatinha, ao vê-lo, foi logo dizendo:

–Mas você tem um problema com roupa, só pode!

–Está fazendo calor, Maria de Fátima.

–Ei, você já ouviu falar em uma coisa chamada andropausa? Talvez você deva procurar um médico. O doutor Lorenzo com certeza pode te recomendar alguém nessa área.

–Engraçadinha. E que papo é esse de andropausa, desde quando você é tão culta assim? –Bruno perguntou brincando.

–Fatinha é cultura, querido.

–Estou oficialmente impressionado. Você falando bonito, escutando Los Hermanos... Nem sabia que você tinha outro tipo musical no seu telefone que não fosse funk.

–Sim, o meu celular está cheio de músicas de um tal MC Koringa. Foi preciso muito esforço para encontrar as músicas que eu realmente gosto. Como eu disse, Maria de Fátima dos Prazeres é puro conhecimento.

–Convencida. –Bruno falou rindo e começou a fazer cócegas na barriga da loira.

–Ai, para Bruno. Minha resistência a cócegas é baixíssima. –Ela implorava tentando se esquivar dos dedos malignos do moreno.

O comentário dela só fez com que ele intensificasse a brincadeira. Fatinha estava surpresa com a espontaneidade do rapaz, mas estava adorando o nível de intimidade entre eles.

A loira foi chegando para trás tentando se livrar do algoz, mas acabou ficando sem saída. De repente, ela se viu entre a parede e o corpo de Bruno.

–Para, para, por favor! –Ela suplicou entre risadas.

O moreno, cansado, cedeu e ficou observando a loira se recompor. Fatinha, ao olhar para cima, se deparou com olhos castanhos analisando-a. Ela desviou o olhar mas acabou encarando a boca tentadora que estava a sua frente. Foi quando ela percebeu o quão próximos eles estavam.

Aos poucos essa proximidade foi aumentando. Inconscientemente, Fatinha passou a língua pelos lábios, movimento que Bruno acompanhou ávido. Ele sentia a respiração quente dela contra a própria pele.

Sim, eles iriam se beijar.


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Notas finais do capítulo

Por favor não me matem. Foi maldoso terminar o capítulo assim, eu sei. Prometo tentar soltar o próximo o mais rápido possível.
Ei, deixa um comentário?



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