Porque você era uma criança – Teito

Quando criança, em meio a uma terrível guerra, eu a vi. Como uma boneca sendo utilizada pelos adultos, seus poderes explorados contra sua vontade. Eu a vi. E quis salvá-la. Pois, nesse tempo, você esteve presa – presa em sua própria mente; chorava, desesperada por ajuda. Uma ajuda que não vinha. Um pedido que ninguém ouvia.

Mas, minhas memórias se foram. E você foi junto. Aquela doce criança presa. A doce garota que quis ajudar, mesmo em minha pouca idade.

Quando nos vimos novamente, não sabia quem era. Não tinha a mínima ideia de que era alguém que eu conhecia, ou que era a princesa, ou mesmo de que era a portadora de Raphael. Eu só me senti feliz. Porque você era como uma criança, com tal sorriso que me encantou.

Era apenas uma criança. Uma garota. Um anjo de asas.

Você me ajudou, e eu a ajudei. Foi uma ajuda mútua, pois estávamos presos juntos dessa vez. E durante esse tempo, eu tive que lutar contra o impulso de segurar suas mãos. Pois era tão fofa e doce que inevitavelmente pensei no Capella. Uma irmãzinha querida.

Até o próximo encontro.

Eu estava sem memórias, novamente. Não tinha a mínima ideia de quem era – só que era a princesa. Eu deveria ficar ao seu lado para protegê-la e nada mais. Proteger Raphael, proteger a herdeira. Mas para mim, era como uma estranha.

E mesmo assim, quando consegui me lembrar, a primeira coisa que me veio à mente foi que eu deveria salvá-la. Salvar aquele sorriso bonito que eu vi. Salvá-la das mãos dos adultos que lhe exploravam. Pois a pequena criança que chorava por ajuda ainda estava presa em sua mente, incapaz de fugir.

E, quando finalmente consegui salvá-la, notei a verdade. Não uma criança. Não mais. Talvez, quando eu também era criança, eu pudesse tê-la visto assim. Mas não após tanto tempo.

Você era alguém especial. Uma doce e sorridente pessoa que queria proteger com todo o meu ser. Era alguém cujo sorriso me fazia sorrir, alguém cuja presença me atordoava. Pois era tão especial que nem ao menos sabia como estar contigo sem parecer idiota.

Não uma criança. Não apenas um anjo. Era a pessoa que eu queria ter.

Era aquela que eu queria poder segurar entre os braços, saber que o sorriso que dava era só pra mim. Queria sentir seu calor, ouvir as batidas de seu coração.

Queria tê-la comigo para todo o sempre.

Pois, mesmo durante o tempo em que tentou me matar, eu só podia ouvir a voz daquela criança pedindo ajuda. Só podia ver o seu sorriso tão feliz. Só podia pensar em como você era uma prisioneira em sua própria mente, e como queria que fosse verdadeiramente livre.

Pois, para mim, você era de quem eu precisava.

Uma criança, um anjo, uma doce garota. Mas, acima de tudo, minha.

Minha Roseamanelle Ouka Barsburg. Só minha.

Para todo o sempre.