–Oi , pessoas – Disse. Essa hora o ginásio já estava todo aberto e todos os "atletas" já tinham chegado. Há treinos de manhã, de tarde e à noite. Nossa "turma" tem doze "alunos" Exatamente dois times.

–Oi – Respondemos, eu e Laura, ao mesmo tempo. Conhece aquela brincadeira que quando a gente fala ao mesmo tempo tem que encostar no verde? Pois é, a gente (ainda) brinca disso. Quem vê diz que fugimos do hospício. Mas é só bobeira (ou a revelação da nossa verdadeira idade mental). Eu e Lua procuramos alguma coisa verde em nossa volta. Eu vi um cartaz, levantei e saí correndo. Laura disparou atrás de mim e puxou meus cabelos, desmanchando meu rabo.

–Verde! Roubei tua sorte! – Deu uma reboladinha enquanto batia as mãos em comemoração.

–Como? Meu cabelo nem é verde! – Falei olhando-a como se ela fosse uma maluca. E é mesmo.

–Teu rabicó é verde, anta! – Tirou os cabelos que tinham grudado em sua mão. Meus preciosos cabelos que ela arrancou. Me abaixei e encostei em sua meia. Era preta.

–Preto é mais forte, roubei TODA a tua sorte! Toma! – Fiz "banana" pra ela.

–Merda.

O treinador/professor David chegou e chamou todo mundo pra lá. Corremos um pouco pra aquecer e fizemos uns exercícios. Depois, o professor separou os times e Lua ficou no outro time, já eu, fiquei no mesmo time que Miguel. Nós estávamos ganhando quando eu fiquei na rede e Laura também, uma em frente à outra. Ela me lançou um olhar matador. Eu, como a boa pessoa que sou, não podia perder a oportunidade de provocar ela. Olhei pra ela com desdém e sorri debochadamente. Pensei um pouco, olhei pra quem ia sacar, pra não dormir no ponto. Voltei a olhar pra garota à minha frente e sussurrei:

–Créééu! – Fiz uma "dancinha da vitória".

–Tá de brincadeira comigo, né? – Falou e ergueu as sombrancelhas. Nessa hora o jogador às minhas costas sacou. Eu percebi. Laura não. Continuamos nos encarando e eu mostrei a língua.

–Vai Laura! – Alguém do time dela falou e ela me deu as costas. Como ela não estava preparada, tentou pegar com uma manchete, mas não conseguiu. A bola foi pra fora. Até tentaram salvar, mas não deu tempo e a bola caiu no chão. Virei para Miguel e pisquei um olho só, que me devolveu um sorriso cúmplice, como se fosse tudo planejado. Continuamos nas mesmas posições até o fim do set. Meu time ganhou, obviamente, pois não erramos mais nenhum ponto. Assim que terminamos o set fomos liberados e Laura e eu fomos pra minha casa. Já que nós tínhamos combinado tudo antes, ela levou uma muda de roupas limpas pra podermos tomar banho. Eu tomaria mesmo que ela não quisesse. Não sei se sou a única, mas eu não consigo ficar suada. A pele fica toda grudenta, sem falar do cheiro de cêcê (pra quem não sabe, cêcê é, como diz Lua, cheiro de "carniça catinguenta").

Abri a porta de casa com a chave que ficou escondida entre os pingo-d'ouros. Fomos até o meu quarto e eu a entreguei uma toalha de banho.

–Você fica com o banheiro aqui do quarto e eu uso o do corredor, pode ser? – Falei, enquanto soltava os cabelos.

–Aham – Lua disse e entrou no banheiro. Escolhi um pijama e fui pro banheiro do corredor/de visitas. Me despi rapidamente e entrei em baixo da água gelada do chuveiro. Quando saí do banho já eram 4:30. Laura ainda estava no banho. Fui pra cozinha e peguei um pacote de pipoca de microondas e coloquei pra estourar. Peguei uma garrafa de coca-cola na geladeira e dois copos grandes. Levei um tapete e umas almofadas pra sacado do meu quarto. Voltei pra cozinha pegar o rango. Quando entrei no quarto, Laura já estava lá fora, com o meu notebook no colo. Provavelmente no facebook. Aquela guria é viciada. Mas eu não ligo. Desde de que ela não esteja no MEU twitter...

*Flashback

1 ano atrás, minha casa*

–Eu vou ali na cozinha pegar comida, já volto – Disse, deixando Lua na sala, sozinha, com o meu notebook.

–Vou entrar no teu twitter! – Gritou lá da sala.

–Olha, olha, menina... – Falei, desconfiada. A Laura é muito maluca. Parece eu. Voltei pra sala com um pacotão de ruffles e Laura já tava desligando o computador, com um sorriso sacana no rosto. Nem dei bola, às vezes a Laura parece retardada. Ou melhor, a Laura É retardada.

***

*4 horas depois, minha casa*

Laura foi embora e eu fui tomar um banho. Saí de banheiro já devidamente vestida e enrolei os cabelos na toalha, pegando o notebook no colo. Entrei no meu perfil do twitter.

"Gostúh di pintoh, possúh xupár u cèu?" 4 horas atrás.

*Fim do Flashback*

–Tá vendo o que aí? – Perguntei, largando as comidas no tapete.

–E-mail – Respondeu, sem ao menos desviar os olhos da tela. O sol era fraco, mas não chegava a nos atingir. O vento fraco demais não movia um único fio de cabelos molhado pra fora do lugar. Servi os copos com coca-cola e abri o pacote de pipoca, oferecendo à Laura. Ela desligou a máquina e a largou ao seu lado. Pegou um punhado de pipoca e seu copo de refrigerante. A conversa vai ser longa...

–Agora pode começar a se explicar, dona moçinha – Falei como se fosse a mãe dela – desde quando você gosta dele? – Laura bebeu um gole de refrigerante e disse:

–Sabe quando eu e ele fomos no mercado ontem, comprar a comida? – Confirmei com a cabeça, por estar com a boca cheia de mais pra poder falar uma palavra sequer – A gente meio que se beijou – disse e abaixou a cabeça, encarando os pés. Eu quase cuspi a coca-cola.

–Quê? – Meus olhos deviam estar brilhando, tamanha era minha curiosidade – Agora vai ter que falar tudo! E não me poupe dos detalhes sórdidos! – cheguei a me sentir cruel, mas logo passou. Mentira, eu sei que sou cruel e não me arrependo.

–Eu – Apontou pra ela mesma – escorreguei e caí no chão, lá dentro do mercado. Daí o Paulo foi me ajudar a levantar e o meu cabelo enroscou no relógio dele – gesticulou e mexeu nos cabelos -, aí eu fui tirar o cabelo de lá e rolou um clima, né, e o resto você já sabe.

–Ai meu Deus do céu! – Cobri a boca com as mãos – Eu tô CHO-CA-DA!

–Deu pra perceber! – Laura disse. Levantei e comecei a dançar.

–Conga, la conga! Conga, conga, conga! – Eu odeio a Gretchen, é que às vezes me dá um piripaque e eu falo qualquer merda que vem na minha cabeça – Conga, la conga! Conga, conga, conga! – Laura pegou a almofada em sua frente e começou a se bater na cara com ela – Conga, la conga! Conga, conga, conga!

–Dá pra calar a boca PELAMORDEDEUS? – Gritou Laura.

–Não! Mas pode escolher outra música se quiser...

–NÃÃÃO! – Enfiou a cabeça na almofada e tampou os ouvidos.

–Ok, então lá vai – Pigarreei - E ASSIM ELA SE FOI! NEM DE MIM SE DESPEDIU! – Chutei a perna da Laura que ainda tinha a cara enfiada na almofada – A CHALANA VAI SUMINDO, LÁ NA CURVA DO RIO! – Me apoiei no parapeito e vi uma figura me observando do quintal do vizinho. LUCAS! Parei de cantar, arregalei os olhos com dificuldade, pois o sol entrava em meus olhos. Acenei. Olhei para Laura, que já tinha levantado a cabeça e se encontrava ajoelhada e com as mãos erguidas gritando um sonoro "ALELUIA!". Olhei para Lucas novamente e ele me fitava de um jeito curioso. Corri pra dentro do quarto, puxando Laura junto. Fechei a porta e as cortinas da sacada e sentei no chão. Respirei fundo.