-Hum... – Me enforquem. Eu odeio educação física. O-D-E-I-O. Toda aquela gente suada, suja e fedida correndo atrás de uma bola igual idiotas. Menos quando a gente joga vôlei. Por quê? Porque eu gosto de vôlei. E eu não sei jogar futebol. Se for pra matar aula eu ainda prefiro ir pro laboratório de informática fazer (mas não fazer) alguma pesquisa (ver sites de fofoca, revirar todas as redes sociais possíveis e ler fanfics). Mas já que é aula de educação física o que eu posso fazer? Tenho que ir pra aula igual todo mundo. A professora Julie entrou na sala, fez a chamada e nos mandou pro campo. O colégio em que eu estudo é mais ou menos assim: tem um refeitório, um bloco pro ensino fundamental, um bloco pro ensino médio, outro bloco em que ficam biblioteca, laboratório de biologia, laboratório de informática, secretaria, apoio pedagógico, almocharifado e sala dos professores. Um campo de futebol mesmo, com grama de verdade, uma quadra fechada "multifuncional" e uma quadra de vôlei aberta. Pra minha alegria também tem bastante árvores. Não que eu seja ligada nessas paradas de preserve o meio ambiente e ecologia, é que, como eu não jogo futebol, eu sempre tenho um livro na mochila. Então eu subo numa das árvores perto do campo e leio. Como vou fazer hoje. O livro que eu trouxe é "Um homem de sorte". Eu estou gostando bastante dele. É sobre um soldado que encontra a fotografia de uma garota durante a guerra, no Vietnã. Ele guarda a foto e sobrevive, usando a foto como uma espécie de amuleto. Então, depois da guerra ele vai atrás dessa garota. Ele consegue encontrar ela e... Eu parei nessa parte. Como é a última aula de hoje, a gente pode levar a mochila, o que significa que os celulares e iPod's vão junto, e isso quer dizer que eu vou poder ler e ouvir música. E ainda por cima trepada numa árvore, na sombra. É o paraíso! Só os meninos vão jogar hoje, então é melhor ainda, senão eu ia ter que bolar uma desculpa pra poder ler, e, sinceramente, eu não tô com cabeça pra isso hoje. Guardei o material na mochila e fui com Paulo pro campo.

-Bom jogo!

-Valeu! Segura a minha mochila?

-Pode deixar.

Subi na árvore e carreguei as mochilas junto, pendurei elas num galho perto do "meu galho" e tirei da mochila o meu livro e meu iPod. Selecionei Bruno Mars e coloquei os fones. Fui pra outra dimensão. A paz reinava lá. Tão bom... Logan vai levar Nana na irmã dela e a Beth tá meio desconfiada... Hum, interessante. Consegui ler até a página 121, eu tava na 90, então posso considerar isso um ótimo avanço. Paulo me cutucou e eu quase caí da árvore. Tirei os fones e fechei o livro.

-A profe disse que a gente já pode ir pra casa. – Disse, todo suado e ofegante, por causa do jogo.

-Tá – Alcancei a mochila dele e guardei minhas coisas. Coloquei a mochila nas costas e fui pra casa. Não sem antes me despedir de Paulo, obviamente.

Almocei, escovei os dentes e coloquei um short de malha e uma regata azul pra ir no vôlei. Fui a pé, só levando o celular e uma garrafinha d'água. Passei pela praça e estava do mesmo jeito de ontem. Cheguei ao ginásio e não havia ninguém lá ainda, então fiquei mexendo no celular até alguém chegar e abrir. Assim que entrei fui à arquibancada, coloquei os pés calçados num velho all star cinza ao meu lado. Laura chegou e sentou ao meu lado.

-Oi.

-Oi Laura. Até que enfim alguém chegou! Já tava ficando com depressão sozinha aqui! – Coloquei a mão na testa, fazendo um drama meio que falso, afinal, sou muito cruel.

-Nem exagera essa cria, né? – Disse Laura, revirando os olhos. – Almoçou o quê?

-Arroz, feijão e bife. E você?

-Macarronada.

-Por que a gente tá falando disso mesmo? – Me olhou com as sombrancelhas  unidas.

-Sei lá – Na verdade eu sei: e porque a gente é idiota.

- Tua mãe deixou eu  ir lá hoje de tarde?

-Ela tá viajando, lembra? – Estalei os dedos acima da sua cabeça.

-Ah, é! Eu tinha esquecido!

-Jura? Eu nem tinha percebido! – Falei e ela mostrou a língua.

-E você cozinhou feijão? – Mexeu a cabeça num estilo "bitch, please".

-Não! Tá doida?! – Gritei – A mãe deixou congelado.

-Ah, tá. Porque, vamos combinar, Isabel Moura e cozinha não dá muito certo, né?

-Pelo menos eu sei fazer miojo, dona Laura. – Me exibi. Não me ache idiota só por me exibir falando que eu sei fazer miojo. É que a Laura não sabe. Burra.

-Eu não tenho culpa se a água derrama! – Ela coloca água demais, mas diz que só faz o que manda a receita. Ou o pacote. Tanto faz.

-Claro que não! É super normal colocar dois litros de água no microondas pra fazer um pacote só de miojo! – Ergui as mãos em falsa indignação.

-Nem é dois litros, besta! – Me empurrou pro lado. – Ó, o Miguel entrando – Disse e apontou na direção da entrada do ginásio. Dei um "tchauzinho" e ele deu um "tchauzinho" pra mim também. Chegou até nós e sentou ao lado de Lua.