-Que vergonha! – Enterrei o rosto nas mãos.

-Por quê? – Me olhou como quem diz "Eu não fiz nada! Eu sou inocente!"

-O Lucas tá ali no vizinho e me viu. Provavelmente também ouviu teu "aleluia" – Fiz aspas com os dedos.

-Ah, não dá nada! – Abanou o ar com a mão. Levantei e acendi o abajur. Não estava totalmente escuro, mas o abajur bastava.

-Tomara mesmo! – Juntei as mãos acima da cabeça como se estivesse rezando – Que horas são? – Olhei para o lustre/luminária apagada que ganhei de Lua no meu último aniversário.

-Quinze pras seis! – Arregalou os olhos olhando a tela do celular. –Que rápido!

-Me ajuda ajeitar essas coisas aqui? – Falei abrindo a porta da sacada.

-Aham. É tudo lá de baixo, né?

-É. Leva as coisas da cozinha que eu levo esse da sala – Apontei pro tapete e para as almofadas.

-Tá – Pegou a coca e os copos. Abraçou o pacote vazio da pipoca e desceu a escada, indo pra cozinha. Fiz o mesmo que ela, abraçando as almofadas e arrastando o tapete com os pés escada a baixo. Joguei as almofadas no sofá e larguei o tapete no chão. Fui pra cozinha e Laura tinha começado a lavar a louça. Era muita louça, sabe? Dois copos sujos de coca-cola. Só. Sequei e guardei os copos enquanto Lua cantarolava alguma musica da Bridgit Mendler e batia as mãos no pano. Enxuguei a pia e fomos pra garagem, que estava vazia, já que Austin não dormiu em casa de novo e meus pais estão viajando. Penduramos a rede e Laura deitou. Abri as janelas e acendi a luz. Como já estava escuro não abri a porta. É perigoso. As pessoas da rua podem se assustar de ver duas macacas na casa dos vizinhos.

-Eu vou lá em cima pegar o computador, tá? – Falei, já subindo e Lua ficou mexendo no celular. Entrei no quarto e vi a tela do celular piscando.

"Nova mensagem"

Abri a mensagem na maior expectativa, e qual não foi minha decepção ao ler isso:

"Seu saldo está se esgotando, faça uma recarga o mais breve possível."

Excluí a mensagem e peguei o notebook, indo de volta pra garagem, Peguei uma cadeira de balanço velha que estava lá. Era de uma tia. Mas ela se mudou e comprou uma mobília nova. Eu sempre amei aquela cadeira, então, ela me deu. Sentei e coloquei o notebook no colo. Pus Oasis pra tocar no último volume e entrei no skype/MSN.

-Que horas são, vagaba? – Lua falou, agora se balançando numa empolgação desconhecida por minha parte. – Hein, que horas são?

-Agora que você pediu direito eu vou responder, já que de vagaba aqui só tem você – A olhei com desdém – São sete horas, por quê?

-É que meu pai bem me buscar daqui a... meia hora – Disse sem parar de se balançar.

-Já? – Ela fez que sim com a cabeça – Então não era melhor você tirar o pijama?

-Não precisa. A gente vai direto pra casa.

-Hum. – Fechei o MSN/skype e deixei a música tocando. Conversamos mais um pouco e logo o pai dela chegou. Fui até lá fora me despedir, de pijama mesmo. Me apoiei no muro e observei o carro preto sumindo no fim da rua. Esfreguei as mãos nos braços para espantar o frio.

-O que esta moça faz fora de sua morada? E de pijama? – Ouvi uma voz masculina conhecida falar próxima a mim. Virei para trás e vi Lucas apoiado no muro, como eu, só que no outro lado. Mas que diabos tem essa criatura que só me vê nos momentos mais inoportunos?

-Ahn, oi Lucas – Cocei a cabeça, nervosa – O que você tá fazendo aqui?

-Meu primo mora aqui – Disse apontando para a casa atrás de si mesmo – e eu tô visitando ele...

-Ah... Vai passar a noite aí?

-Sim, por...? – Se desencostou do muro e veio pra mais perto de mim.

-É que daí a gente podia ir junto pra escola, já que é pertinho – Abaixei a cabeça e encarei meus pés por alguns instantes. Eita visão do inferno! No meio das unhas tinha uma meleca de esmalte claro, quase branco, o qual eu havia pintado há umas duas ou três semanas. Nem lembro. Sujos de terra por sair descalço pra fora de casa e cheio calos causados pelos tênis e calçados apertados.

-Pode ser – Disse ele e eu olhei pra cima novamente, encarando "as bolotas azuis no lugar dos olhos" - , que horas você sai de casa?

-Sete e dez – Disse convicta.

-Ok, então te encontro aqui às sete e dez?

-É – Pus uma mecha de cabelos atrás da orelha e fui em direção de casa -, até amanhã – Acenei.

-Até – Disse ele e se encaminhou para a casa do dito primo.

Entrei em casa e tranquei a porta. Fui pra sala e liguei a televisão na FX. Tava passando De Volta Pro Futuro. Eu gosto muito daquele filme, então resolvi deixar ali mesmo. Levantei e fui pra cozinha pegar alguma coisa pra comer. Achei uns bolinhos de chuva e os levei pra sala dentro de um prato. Comi um monte. Quando o filme terminou já eram 22:00. Desliguei a televisão e fui pegar o que eu tinha deixado na garagem. Apaguei todas as luzes do andar de baixo e tranquei as portas do mesmo. A não ser pelo barulho do Sr. Fofinho roncando e os ruídos que eu acabava fazendo, mesmo sem querer, estava tudo silencioso. Odeio esse silêncio. Qualquer barulho me assusta, ainda mais sendo tarde da noite. Isso faz com que eu tente me distrair ouvindo música alta pra caramba, cantando junto e dançando loucamente OU tente dormir ouvindo música nos fones de ouvido OU leia até cair de sono (literalmente). Subi a escada carregando meu celular e meu notebook comigo. Entrei no meu tumblr. Costumo entrar todo dia (lê-se: viciada). Fiquei um tempinho rindo feito uma idiota – falo como se não fosse uma – das besteiras do tumblr e falando sozinha. Peguei meu livro na mochila e retomei a leitura. Nem percebi quando peguei no sono.