Levantei cedo, como sempre e fui ao banheiro. Saindo de lá já fui até a cozinha tomar café e depois voltei ao banheiro. Então, finalmente fui à escola. Cheguei no horário de sempre, fui pra mesa de sempre, com as pessoas de sempre, falar sobre as coisas de sempre. Mas eu gostava dessa rotina. Sempre com os melhores amigos do mundo, falando as coisas mais idiotas que se pode imaginar. E depois disso ir pra aula mais chata do universo, me distrair falando com Paulo ou qualquer outra porcaria até a hora do intervalo. Dar risada igual um bando de cavalos e logo ficar com sono na sala de aula. Ir pra casa a pé ou, se estiver chovendo, de carro, e o resto depende do dia e do mês. Hoje, por exemplo, quinta-feira, tem vôlei, amanhã também, Segunda é livre. Terça tem vôlei de novo e quarta tem aula de dança. Sexta tem dança também. No vôlei somos eu, Lua e Miguel, e obviamente, mais um monte de gente. Na dança somos a Gio e eu, mas eu vou todos os dias e a Gio só vai na quarta.

O sinal me tirou de meus pensamentos e eu segui com Paulo até a sala de aula. Demos sorte e conseguimos sentar perto da janela outra vez. Aula de biologia. Só ficamos lendo durante 45 minutos. Não que eu não goste de ler, eu amo, mas não um livro de biologia. As próximas duas aulas eram de geografia. Tivemos que fazer uns resumos e uns desenhos de mapas. Tédio mortal. Mas finalmente chegou a hora do intervalo. Fomos direto pra "nossa mesa". Lá já estavam Lua, Gio, Miguel e Lucas. Lucas é um garoto de olhos azuis, que faz qualquer menina suspirar e babar, passar noites em claro, e mais um monte de drama queen. Eu posso dizer que ele não me afeta. Não que eu ache ele feio, só "não é o meu tipo". Nunca fui muito chegada nele. Já a Gio... Ela não admite, mas gosta. "Aquelas bolotas azuis no lugar dos olhos". Sentei entre Gio e Miguel e Paulo sentou entre Miguel e Lucas.

–Oi – falei e Paulo fez o mesmo que eu. Recebemos alguns "ois" em resposta, mas Laura e Lucas tinham uma conversa importante demais par ser atrapalhada por meros mortais como eu ou Paulo. Algo sobre mangás, eu acho. Eu não sou muito ligada nisso.

–Oi Laura?! Valeu pela moral! – hum, Paulo com ciúme.

–Ah! Oi Paulo! Oi Isa! – Ufa! Pensei que eu tinha ficado invisível. Cutuquei Gio por baixo da mesa e ela me olhou. Apontei para Paulo e Laura e insinuei que eles "se gostavam", esfregando os polegares com os punhos fechados. Ela afirmou com a cabeça. De repente me deu uma vontade de comer feijoada.

–Eu queria comer feijoada – falei – e milho enlatado. Todos me olharam com uma cara de espanto, tipo "hã?". Disfarcei e mordi meu pêssego. Sem malícia, eu tinha mesmo levado um pêssego de lanche. Todos voltaram a conversar e eu revelei meu lado séquice ao pêssego. Coitado. Do. Pêssego. Laura chutou minha canela e eu me engasguei com o pêssego.

–Laura, eu vou tomar água, vem comigo?

–Aham – fez uma cara de "aleluia" e me seguiu.

–Por que você me chutou? Minha canela vai ficar roxa, caralho!

–Foi mal... – ela disse. Parecia encabulada, insegura com alguma coisa. Ela vai confessar alguma merda, com certeza.

–Vai, desembucha – falei, já me aproximando do bebedouro.

–Eu acho que eu tô gostando do Paulo – enterrou o rosto nas mãos.

–Eu sabia! Eu sabia! – nem bebi a água, comecei a fazer uma dançinha ridícula – Ai, eu sou demais! – puxei a gola da camiseta, fingindo que estava me achando o máximo. Ou talvez nem estivesse fingindo.

–Tá Isa, já deu – Lua cortou a minha onda...

–Ok, mas isso é desde quando? – e eu pensava que ela gostava mais do Lucas. Mas aquela história dela ficar vermelha perto da Carol... Mwahahahaha.

–E eu vou saber! – ergueu as mãos em sinal de inocência.

–Quer ir lá em casa depois do vôlei? Daí você me explica isso direito.

–Pode ser, eu só tenho que ver com a minha mãe.

–Ok, agora eu vou beber água, me recuperar desse ataque e nós vamos voltar normalmente até a mesa, certo?

–Certíssimo.

Voltamos pra mesa e Lucas já conversava animadamente com Giovanna. Sentei onde estava antes e Laura sentou onde estava Lucas – ao lado de Paulo, hmmmm -, já que o mesmo ocupava ser lugar pra conversar com Gio. Olhei para Paulo e Laura e fiz uma careta maliciosa, mas só Laura percebeu. Ficou vermelha feito um tomate. Percebi que ela tentava alcançar meu pé, para chutá-lo, então, coloquei as pernas no colo de Miguel, que, graças a Deus, não reclamou.

–Laura, por que você me chutou? – Paulo falou e eu olhei para Miguel. Que me encarou com um sorriso cúmplice. Me virei pra Laura e mostrei a língua. Ela só revirou os olhos.

Uééééééééóóóóóóóu

Nos despedimos e fomos cada um para sua respectiva sala. Aula de arte. A professora apareceu na sala com uma bolsa térmica enorme e um ajudante carregando uma pilha de pratos. Largou tudo na mesa.

–Prestem atenção na chamada que depois eu explico o que é tudo isso.

Então tá, né. Ela fez a chamada num tempo consideravelmente rápido.

–Vocês vão pegar um pote de iogurte – Mostrou a bolsa térmica cheia de bandejas de iogurte de frutas - , um prato, um corante – tirou uma sacola da bolsa – e um palito. Derramem o iogurte no prato e coloquem um pouco de corante em cima. Desmanchem os pingos com o palito e façam uma "obra de arte"- fez aspas com os dedos – Vocês podem trocar a cor do corante com os colegas, tem azul, vermelho, amarelo e verde.

–Parece legal – Sussurrei pra Paulo.

–Aham.

Pegamos nossos "apetrechos" e pusemos nosso lado artístico pra funcionar. Eu fiz uma flor num iogurte de morango e Paulo fez um "carro" (se é que quilo pode ser chamado de carro) no iogurte de coco. Fotografamos nossas obras com o celular e depois as comemos. Literalmente. Tivemos que lavar nossos pratos e devolvê-los limpos. Conversamos durante o resto da aula.

Uééééééééóóóóóóóu

–Que aula é agora? – perguntei a Paulo na maior animação. Só que ao contrário.

–Educação física.