I Can't Feel You escrita por Nihaxy


Capítulo 7
VII. Irritability


Notas iniciais do capítulo

Maratona de Grey's Anatomy=capítulo super-hiper-atrasado. Sorry .-.



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Por frações de segundo, Jane sentiu as pernas bambearem e tudo ficar turvo, exceto para a saída do beco. A resposta instintiva, subconsciente, comandando-a a se estabilizar e correr para longe da ameaça. Cenas de crime normais não engatilhavam esse tipo de reação. Ela era mais específica, mais importante, um indicador preciso do perigo que ia contra qualquer lógica ou pensamento racional.

Ela já sentira a mesma coisa, mais de uma vez. Sempre que era obrigada a, de algum modo, encarar Hoyt.

O sarcasmo sádico desse serial killer trazia à tona lembranças dolorosas, instintos de sobrevivência que ela esperava não ter que usar mais.

Mas mesmo assim, aqui estava ela de novo. E alguma coisa dentro de si – a mesma coisa que a possibilitava organizar pistas, interrogar suspeitos e entender pessoas como uma segunda natureza, uma coisa automática – insistia em gritar que aquilo, ali, ainda era só o começo. Que tudo ainda ia ficar, de algum jeito, pior.

Maura diria que esse tipo de pensamento não podia ser corroborado, e depois listaria uma infinidade de razões. Mas Jane sabia mais. Jane sabia que, por mais que não fizesse sentido, esse tipo de coisa não podia ser ignorada.

Afinal de contas, já salvara sua vida mais de uma vez.

Mas nesse momento, em que mais uma jovem inocente acabava de ser adicionada à lista de vítimas do serial killer – ela ainda não se dera ao trabalho de procurar nos jornais o apelido para o da vez -, Jane apoiou a mão na parede e contou até dez, calma e compassadamente, fazendo questão de respirar fundo a cada novo número. Seria contraproducente e completamente inaceitável estar menos que completamente focada em tentar resolver o crime em questão.

Depois desse pequeno tempo que permitiu a si mesma, a detetive voltou a focar no que fazia melhor: seu trabalho. Prometeu a si mesma que ia esquecer de qualquer outra preocupação, se abster de qualquer emoção, empregar tudo o que tinha em si para solucionar essa onda de assassinatos. Era o único jeito que ela achava para que tudo desse certo. Não exatamente tudo, na verdade, uma vez que, sempre que chegava a esse ponto, de se concentrar total e completamente no trabalho, sua vida pessoal sofria graves danos. Mas, no momento, não havia muito o que pudesse ficar pior. Ela já se afastara de todos os outros que considerava próximos, Casey já repetira que não queria mais nada, e Maura... Maura parecia estar cada vez mais distante, desaparecendo ao ponto de elas não terem trocado uma palavra significativa que não envolvesse o caso desde que a legista saíra de seu apartamento, no que pareciam séculos atrás.

Afinal de contas, Jane realmente não tinha mais nenhuma coisa importante o suficiente para se ater a, exceto esses homicídios.

Depois que a cena foi processada e praticamente nenhum detalhe útil encontrado pela perícia, o corpo foi liberado por Maura e encaminhado ao necrotério. Jane ainda vagueou pelo beco por alguns minutos enquanto as pessoas e os próprios detetives se dispersavam, numa última tentativa de bater o olho em alguma coisa que fornecesse algum tipo de luz para o breu em que se encontravam. Nada, porém, apareceu, como se subitamente tudo em sua vida estivesse decidindo dar errado da maneira que pudesse causar mais estragos, incluindo o trabalho.

Quando voltou para a delegacia, Frost estava mergulhado de cabeça no outro homicídio do dia anterior, e Korsak havia saído para um depoimento no tribunal. Jane, então, sentou-se à mesa, ligou o computador e começou a juntar toda a informação que conseguisse achar referente às duas vítimas de Boston. O FBI havia disponibilizado os dados referentes a esse caso, e um dos agentes – de quem ela saberia o nome se tivesse prestado um mínimo de atenção à reunião de apresentação –adicionava as fotos do último crime ao quadro em que já se encontravam as imagens das outras 13 garotas assassinadas.

À medida em que continuava a juntar informações sobre a vida da última garota (Sarah Wenzel, 18), a frustração começava a chegar e se instalar com cada vez mais força. Não parecia haver nenhuma – absolutamente nenhuma – conexão entre as duas. Levavam vidas tão diferentes que quase pareciam não morar no mesmo planeta, vinham de dois bairros distantes ente si, não frequentavam os mesmos lugares nem tinham amigos em comum.

Isso era uma das coisas que mais a irritava. A detetive sabia, mais por experiência do que por qualquer outra coisa, que tinha sim de existir alguma conexão entre elas, alguma coisa, por menor que fosse, em comum, para que o assassino tivesse ‘escolhido’ – no seu pensamento mórbido e sádico - as duas. E saber que existia alguma coisa, alguma conexão que ela ainda não descobrira era o que fazia Jane andar à beira do precipício, prestes a perder o controle. Como se fosse culpa dela não conseguir acessar algum tipo de informação, não elaborar as teorias mais mirabolantes, não achar logo de início aquele ponto em que as vidas se entrelaçavam.

Não tinha certeza de quanto tempo tinha passado ali, sentada quase sem se mexer, os únicos movimentos sendo o clique ocasional no mouse e o digitar, mas não parecia ter sido muito, de modo que ela se surpreendeu um pouco ao receber um telefonema informando que a autópsia havia sido concluída. As horas haviam passado muito rápido, o que só serviu para frustrá-la ainda mais, uma vez que tudo parecia estar indo do nada para o lugar nenhum.

Ao chegar ao necrotério, a primeira coisa que notou foi o corpo, a influência das luzes e do ambiente apenas contribuindo para aumentar o aspecto cadavérico.

A segunda coisa foi tão inesperada que literalmente a fez estancar.

Maura. Rindo. Não um daqueles sorrisos abertos, escancarados, da mais pura alegria. Um sorriso pequeno, disfarçado, de canto de lábio. Daqueles que ela mostra quando está escutando ou vendo alguma coisa extremamente interessante. Lindo. Adorável. Sexy.

Só então Jane nota que elas não estão sozinhas, como muitas vezes acontece quando Maura a chama para entregar os resultados da autópsia e explicar e mostrar os detalhes no corpo.

Katherine Connors, agente premiada do FBI, também estava lá. Ela seria o tipo de pessoa que Jane admiraria em qualquer outra ocasião – sim, a detetive se dera ao trabalho de baixar a ficha da outra, e vira a quantidade de casos resolvidos com a mais pura eficiência e o histórico da agente federal -, mas, desde que a encontrara pela primeira vez, havia alguma coisa que simplesmente não batia. Claro, fora estranha a conversa de que o FBI não queria roubar o caso, e que iria se unir à polícia local na busca pelo assassino. Jane ouvia esse mesmo discurso praticamente todas as vezes que os federais assumiam uma investigação, e ele nunca significava nada. Exceto dessa vez.

A agente Connors realmente parecia prezar a ajuda da força policial de Boston. E era por isso que Jane não entendia, até o momento, por que simplesmente não conseguia gostar um pouco que fosse dela, ou aturar sua presença, ou o que quer que fosse. Não havia explicação racional para isso. Pelo menos até o momento.

Até o momento em que Jane percebeu que o sorriso de Maura era direcionado à outra, que a legista estava achando interessante o que quer que Connors estivesse falando.

A morena, claro, sabia que era um motivo irracional. Ela não devia estar com... ciúmes? Ela não devia não gostar do fato de Maura estar conversando com outra pessoa, mas, por mais que dissesse a si mesma que estava agindo de uma forma ridícula, não havia como não sentir a raiva dentro de si borbulhar. Pelo simples motivo de Maura, apesar de estar evitando a todo custo a melhor amiga, estar tendo uma conversa simpática com a agente.

Jane continuaria pensando e repensando nisso indefinidamente, parada como uma estátua ali no necrotério, se as outras duas mulheres não tivessem notado sua presença e chamado sua atenção.

Cumprimentou Maura com um aceno de cabeça, mas não se deu ao trabalho de responder ao “detetive” usado como saudação por Connors.

–Causa mortis comprovada novamente como asfixia. – Maura começou, no tom distante e frio que voltara a se tornar habitual – A marca achada no pescoço corresponde ao MO já conhecido, e o diâmetro é compatível com o de um fio de náilon. Cortes e escoriações distribuídos pela extensão do corpo, mas, novamente, nenhum grave o suficiente para ser considerado fatal. Examinando os ferimentos, posso constatar que foram utilizados vários instrumentos para fazê-los, sendo os mais recorrentes uma lâmina fina, algum instrumento pesado com extremidade circular e outro com algum tipo de garra que arranha e arranca pedaços da epiderme. A listagem detalhada de cada ferimento e provável forma do instrumento causador está na pasta junto com os resultados da autópsia.

–Então, basicamente, as conclusões que se tiram desse assassinato são as mesmas do anterior. – Jane disse, ácida, ao que Maura educadamente concordou com a cabeça. – Então não há realmente necessidade de eu ter descido aqui, você podia simplesmente ter me informado isso por telefone.

A expressão da legista endureceu.

–Há um fato novo, na verdade. Mas pode deixar, de uma próxima vez eu vou me lembrar de não incomodá-la chamando-a aqui para uma coisa tão trivial como os resultados de uma autópsia. – retrucou a loira, no mesmo tom usado pela detetive.

–Qual a novidade, Maura? – interrompeu a agente Connors, sentindo a tensão no ar.

O uso do primeiro nome não passou despercebido por Jane, que fechou a cara ainda mais.

–Eu pude notar um sangramento incomum na área da genitália, então investiguei a área com um pouco mais de cuidado e fiz um teste de estupro.

–E...? – perguntou a detetive, impaciente por aparentemente motivo nenhum.

–Há um vestígio de sangramento recente nas paredes vaginais, o que sugere rompimento do hímen. Mas não foi encontrado nenhum vestígio de fluidos ou esperma, o que pode indicar o uso de um preservativo, talvez. Também não há pelos desconhecidos no local, então, fora saber que o ato realmente aconteceu – a legista concluiu com um suspiro pesaroso – contra a vontade dela, não há muito mais que eu possa afirmar.

–Só isso? – perguntou Jane, já se virando para sair.

–Por favor, pegue a pasta com as informações que está em cima da mesa antes de sair, detetive. Não queremos mais que seu tempo seja desperdiçado descendo até aqui, não é mesmo? – falou a loira, antes de contornar a mesa de autópsia e entrar em seu escritório.

Bufando, Jane recolheu o arquivo e se dirigiu com passos pesados até o elevador, seu humor exponencialmente pior do que estava antes de descer até o necrotério.

Ao chegar ao elevador, notou a figura da agente segurando a porta, como se a esperasse para subirem juntas. A carranca no rosto da morena apenas aumentou.

As portas se fecharam e o elevador começou a subir, no que pareceu levar duas vezes o tempo habitual. Jane não esboçou palavra, e sequer se deu ao trabalho de olhar na direção da outra.

–Esse é o tipo de reação que ele espera, você sabe. – escutou a voz de Connors preencher o pequeno ambiente. – Ele faz esses joguinhos psicológicos para nos deixar irritadiças e vulneráveis.

Como Jane não respondesse e apenas encarasse os números aumentando no painel, a agente continuou:

–Talvez você devesse tentar se afastar um pouco. Sair mais cedo, descansar um pouco mais. Esse tipo de coisa pode...

–Não me diga o que fazer, ok? Pode deixar que eu me viro muito bem sozinha, obrigada. – interrompeu a morena, saindo quase correndo do elevador assim que ele parou. De todas as pessoas com quem não queria falar, a agente Connors era definitivamente a primeira da lista.


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