I Can't Feel You escrita por Nihaxy


Capítulo 6
VI. Sleepless


Notas iniciais do capítulo

Sorry a demora, psé. Eu só ficava escrevendo e apagando e escrevendo e apagando e escrevendo e apagando e nada ficava bom. Não reli esse capítulo (se fizesse isso, acabaria achando ainda mais horrível e demorando mais pra postar), então desculpem pelos erros.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/339373/chapter/6

Mais uma noite sem dormir e Jane começaria a virar um zumbi.

Ela ainda se lembrava em perfeitos detalhes de quando perguntara a Maura quanto tempo exatamente uma pessoa conseguiria ficar sem dormir. Naquela ocasião, a detetive estava sendo novamente assombrada pelo seu pior pesadelo, encarnado na forma de Charles Hoyt, e fora à casa da outra, supostamente, porque Angela a estava deixando ainda mais preocupada. Mas a verdade é que, mesmo elas ainda não sendo tão amigas à época, Maura tinha uma espécie de... aura, uma presença tranquilizante, que passava a Jane uma sensação de calma completamente desconhecida, mas completamente revigorante e preciosa.

Ela poderia recitar, com precisão, todos os segundos daquela noite, e não era porque estava extremamente alerta por ter um serial killer obsessivo em seu encalço. Não, Jane conseguia lembrar tudo porque, para ela pelo menos, aquele fora o primeiro passo definitivo em direção ao estabelecimento da relação que era, de longe, a mais importante da sua vida. Naquela noite, Maura havia dito que, a partir do quarto dia sem sono, começariam as alucinações, enquanto retirava as almofadas e arrumava a cama em que Jane ficaria.

A pergunta fatídica – que ficou, desde sempre, sem resposta, apesar do fato ser inerentemente conhecido por ambas -, mais uma tentativa de Jane de divergir do assunto com humor, na verdade, foi o mais próximo de uma confissão que ela chegaria. Sim, ela estava atraída pela legista – quem não estaria? -, e sim, ela queria que a resposta tivesse sido dita em voz alta. O sorriso de Maura fora mal interpretado – era para ter sido a afirmação à pergunta, a qual a loira não tinha coragem de dizer em voz alta – e, depois de então, ambas ficaram completamente perdidas na ilusão e na negação.

A detetive, nas últimas semanas, estava dormindo ainda menos que o habitual. Não bastassem homicídios a torto e a direito, ainda havia o fator Casey na equação. E, nos últimos dois dias, o fator Maura. A morena iria para a cama à noite, às vezes cansada demais até para tirar os sapatos. Cansada demais para levar Jo Friday para dar uma volta. Cansada demais para fazer qualquer outra coisa que não respirar.

Ela desabaria no colchão e seria imediatamente empurrada para um sono inquieto e agitado, permeado por pesadelos e viradas de um lado para outro do colchão. Se tivesse sorte, conseguiria permanecer no limbo por pouco mais de uma hora, até ser despertada por motivo nenhum e não conseguir mais voltar a dormir – pensamentos na sua cabeça nu turbilhão infinito e confuso, impossíveis de ser parados por mais que ela quisesse - até o sol nascer e o despertador apitar.

Ela estava cansada demais para dormir.

#&#

Não havia outro adjetivo mais pertinente para definir o clima na delegacia inteira do que tenso.

Não bastasse um serial killer e o FBI, ainda havia o cansaço acumulado das últimas semanas. Não havia existido tempo de recuperação do triplo homicídio para o caso atual, e todo o departamento estava nas suas reservas de energia. Como se não bastasse, mal começara o expediente – para aqueles que realmente foram para casa, pois muitos simplesmente passaram a noite lá fechando ou investigando um caso ou outro -, Jane, Frost e Korsak foram chamados para outra cena de crime. Em alerta com o caso das loiras encontradas em becos, logo foram informados que a chamada em questão não tinha nada a ver com isso.

Ótimo. Jane pensava, enquanto manobrava habilmente o carro, apesar do trânsito infernal e do cansaço e estupor. Mais um caso para me preocupar.

E Maura ainda estaria lá, para abrilhantar ainda mais a situação.

Dessa vez, a vítima ela um homem, asiático, entre 40 e 50 anos. Causa da morte, tiro com um calibre .38, direto na cabeça. Achado no chão de sua própria sala de estar quando a faxineira entrara para começar seu serviço. A mulher, abalada, estava sendo questionada por Korsak num dos outros cômodos da casa. Frost estava mandando o smartphone e o notebook do morto – Gary Hatsumoto, não foi difícil achar a informação – para a delegacia a fim de serem analisados. Enquanto isso, Jane procurava por evidências na cena do crime, o tempo inteiro se perguntando por que Maura havia mandado um legista substituto em seu lugar.

#&#

Voltar para a delegacia, começar a investigar o homicídio novo, acostumar-se ao fato de que, agora, o já escasso espaço disponível tinha sido ocupado pelo equipamento federal e manter a sanidade. Essa foi a pequena lista de coisas que Jane mentalmente guardou, uma espécie de guia de como sobreviver a mais algumas horas rodeada de pessoas, barulho e problemas.

Assim que voltou da sua pequena incursão matutina à cena do crime, a detetive foi buscar mais informações dobre o morto, como uma possível ficha criminal, qual era seu trabalho, as faturas do cartão de crédito, qualquer coisa útil que pudesse estar no banco de dados. Frost teria feito tudo isso muito mais rápido, mas estava ocupado fazendo sua mágica nos eletrônicos.

A morena estava no meio da leitura da última fatura de cartão recebida quando seu telefone tocou.

Ela quase caiu da cadeira quando o identificador de chamadas exibiu Casey Jones.

Levantou estabanada da cadeira e saiu da sala comum quase tropeçando nos próprios pés, praticamente correndo para achar um lugar que não estivesse cheio de gente. Acabou indo parar num dos corredores da parte de trás do prédio, e finalmente atendeu afobada a ligação. Era sua chance de fazer tudo dar certo com Casey.

Pelo menos, foi o que Jane pensou no segundo que levou para pôr o celular no ouvido. Ela queria que tudo desse certo, não era?

–Casey?

Jane. – o tom da resposta dele era seco e frio, distante.

–Como você...

A pergunta da detetive foi cortada ao meio pela voz do outro lado da linha.

Olhe, Jane, eu tenho uma razão para ligar para você, e quero que você me escute dessa vez. Eu não posso ficar com você, não enquanto não estiver apto para isso. Então, por favor, pare de me ligar.

–Mas Casey...

Ou eu vou bloquear o seu número, Jane. Falo sério. Se tudo correr bem, eu volto a entrar em contato. Mas não antes disso.

–Só me diga quando é a cirurgia. Por favor. Eu quero estar...

O som rítmico da ligação sendo terminada encheu os ouvidos da detetive antes que ela sequer tivesse tempo para terminar a frase.

Ainda segurando o telefone nas mãos, Jane apoiou as costas contra a parede fria, ao mesmo tempo revoltada, com raiva e confusa. Ela só queria socar alguma coisa com muita força, talvez quebrar algum objeto.

Bufou antes de olhar para o relógio e decidir que seria inútil fazendo seu trabalho enquanto não comesse alguma coisa e tomasse mais café. Mandou uma mensagem para Frost avisando que iria sair mais cedo para o almoço e voltava em uma hora, e começou a se dirigir em direção à saída, o andar confiante a máscara perfeita para o caos que sentia dentro de si.

No meio do caminho, parou por frações de segundo, pensando ter escutado o som característico de saltos em algum lugar ao seu redor, mas olhou em volta e não viu absolutamente nada.

Quando voltou, não havia ninguém na sala – provavelmente todos estavam no refeitório ou num restaurantezinho próximo.

Ao se jogar na cadeira intentando voltar ao homicídio de mais cedo, ela notou um post-it amarelo pregado no seu monitor. Seu inconsciente reconheceu a caligrafia, e a morena sentiu um nó no estômago.

Lá, naquela escrita concisa e caligráfica que ela reconheceria a metros de distância, estavam menos de uma dúzia de palavras, que foram mais do que suficientes para piorar a situação.

Boston General. 25 de março. 9 da manhã. Dr.Winston Salt.

#&#

Aconteceu de novo no final da tarde. Jane estava prestes a interrogar um dos suspeitos do caso Hatsumoto, quando a agente Connors entrou como um furacão na sala de entrevistas.

O olhar dela fora suficiente para a detetive saber do que se tratava.

Mais um corpo, encontrado em mais um beco. Este, porém, estava um pouco mais escondido do que o anterior, e provavelmente não teria sido achado em muito tempo se o dono de um dos estabelecimentos vizinhos não tivesse resolvido retirar as caixas empilhadas no fundo do lugar em questão. Ele acabara achando o corpo da vítima, outra mulher de 20 a 30 anos, com cabelos loiros e vestida exatamente como todas as outras, na mesma posição.

Maura já iniciara seu trabalho, e se encontrava agachada examinando alguma coisa no cadáver. Jane e a agente “responsável pelo caso” ainda procuraram alguma evidência no beco, mesmo sabendo que não achariam nenhuma. O assassino era muito metódico para acontecer tal coisa, o que o tornava exponencialmente mais perigoso. Ambas, detetive e agente, odiavam casos como esses pelo simples fato de que, para resolvê-los, dependiam de uma pista externa ou um descuido do criminoso.

–Jane? – a voz da legista fez a morena se voltar em sua direção, e a expressão preocupada de Maura imediatamente criou um instinto de luta em Jane, que viu a outra segurando o que parecia um pedaço de papel na mão.

Os poucos passos que a distanciavam do corpo estavam quase no fim quando a detetive foi parada, seu braço puxado. Se virou, impaciente, para a agente Connors.

–Se isso for o que eu estou pensando, – começou Connors – é aqui que o pesadelo começa.

Jane estendeu a mão e recebeu um papel branco dobrado duas vezes. Ao abrí-lo, percebeu o que a agente tinha querido dizer.

Era uma folha simples de ofício, daquelas achadas em qualquer livraria. Exatamente no meio, algumas palavras escritas em letra de forma. Sem dúvidas um recado do assassino.

Bem vinda ao meu pequeno jogo, detetive Rizzoli. Espero que aprecie minha estada em Boston.

Diga alô à Kate por mim.

Eu tenho planos maravilhosos para vocês.

O sadismo escorria pelo papel, e, com o tom daquelas palavras – ameaças, avisos, o que quer que fossem -, Jane não pôde evitar se lembrar de Hoyt.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I Can't Feel You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.