Rizzoli And Isles - Don't Leave Me escrita por Bruna Cezario


Capítulo 9
Capítulo 9 - Em uma Fria


Notas iniciais do capítulo

Capítulo inspirado em um episódio de Castle e também aproveitando a ideia de umas ai Rizzles... Muitas discussões sobre coisas que deveriam acontecer na série que só lendo em fic mesmo hahahahahahaha

Ótima leitura =)



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Cada fase de luto tem seu tempo e a raiva agora estava tomando todo tempo de Maura. Não era uma raiva completa de “vou me livrar de tudo que me lembra dela, começando com meu celular e Jo Friday”. Estava mesmo na raiva de se livrar das coisas de Jane, mas isso valia só para objetos, roupas e porta-retratos.

Angela entrou na casa de Maura e encontrou tudo uma bagunça, eram caixas espalhadas pela sala, várias roupas dentro das caixas, alguns DVDs, CDs e porta-retratos. Estranhou a falta do sofá na sala, quando tinha deixado a casa na noite anterior o sofá ainda estava lá e Maura não tinha falado de nenhuma mudança. Encontrou Maura em cima de uma escada tirando um quadro que tinha uma pintura dela e de Jane, ela amava aquela pintura, mesmo Jane tendo odiado a ideia de fazê-la e ainda pendurar na sala.

- Maura o que você está fazendo?

- Uma mudança. – Maura desceu da escada com o quadro. – Vai querer ou eu posso doar?

- O que está acontecendo Maura? Você ama esse quadro. E essas coisas? – Apontou para as caixas – Pretende doar também? Quer tanto esquecer a Jane assim? E por Deus... Cadê o sofá?

- Doei o sofá para caridade e comprei um novo.

- Por que está se desfazendo de todas essas coisas?

Maura nada respondeu. Começou a fechar uma das caixas que guardava algumas recordações de Jane. Não queria mais lembrar dela, mesmo sendo quase impossível já que ela fez parte de uma grande parcela de sua vida, foi o grande amor de sua vida e grandes amores não esquecemos assim da noite para o dia, por mais que estejamos bravos, por mais que fazemos de tudo para esquecer, mas não custava a tentativa.

Jane tinha a enganado, disse que nunca a deixaria, que não viraria uma doida obsecada que acabaria se matando, mas no final das contas acabou morrendo, mesmo dizendo que não o faria. Sabia que tudo se tratava da medicina, da gravidade dos ferimentos, o que o tiro havia acertado, entendia, mas não compreendia, nunca foi uma mulher de religião, sempre acreditou mais na ciência, mas se existia um Deus e esse tirava a vida das pessoas, talvez ficasse com raiva dele também por ter feito Jane quebrar a promessa de que voltaria, de que não a deixaria.

Angela sabia que alguma coisa estava errada, Maura jamais se livraria das coisas da Jane, poderia guardar no porão, uma coisa ou outra doar para caridade, mas trocar os móveis? Doar para caridade CDs e DVDs que fizeram parte da vida das duas? Não mesmo. Pegou as mãos de Maura fazendo com que ela parasse de fechar a caixa e a encarasse. A legista baixou os olhos. Angela com a mão em seu queixou levantou o rosto fazendo com que ela a encarasse.

- Eu preciso esquecê-la. – Disse com a voz embargada. Seis meses e ainda doía tanto a ausência dela. – Mas eu não consigo. Tudo me faz lembrar dela, tudo. – Uma lágrima fininha escorreu em seu rosto. Angela a secou. – Ele foi condenado.

- Ele quem? – Angela perguntou sem entender. – Quem Maura?

- Ethan Mathews. O louco que prendeu eu e a Jane no frigorifico.

Tinha ouvido a noticia na televisão. No começo ficou feliz em saber que o bandido ia pagar por quase tê-las matado congeladas, mas segundos depois veio a tristeza. Até a televisão a lembraria de Jane? Se a ldetetive não tivesse decidido morrer estariam comemorando a condenação de Ethan tomando uma cerveja e uma taça de vinho, mas não, Jane tinha que ter morrido.

Resolveu que estava na hora de se livrar de – quase – tudo que lembrava Jane, por que ela não merecia ficar em suas lembranças, tinha quebrado a promessa de que não a deixaria, não podia lembrar de alguém que não cumpria sua palavra, tinha que superá-la, mas estava difícil.

Jane sentiu que estava deitada em algo gelado e não se lembrava de ter ido deitar em nada gelado, sua cabeça doía, parecia que tinha levado uma pancada, aos poucos foi recobrando a consciência e abrindo lentamente os olhos, com a mão na nuca com a esperança que a dor fosse embora e se sentando. Quando os olhos estavam finalmente abertos passou o olhar pelo local.

- Ô droga! – Viu Maura deitada em seu lado ainda desacordada. – Maura... – Disse sacudindo de leve a legista. – Maura acorda! – Continuou sacudindo a legista. – Maura!

A legista aos poucos foi recobrando a consciência. Foi abrindo os olhos lentamente atordoada. O que tinha acontecido? Onde estava? Ao conseguir abrir completamente os olhos se sentou e finalmente se deu conta de onde estavam.

- Ele nos pegou?

Jane fez um afirmativo com a cabeça.

O “ele” que Maura dizia era Ethan Mathews. Um assassino que Jane estava atrás por ele ter matado duas mulheres, as duas ex-namoradas que tinham o largado, uma delas ele matou, cortou em pedaços e congelou a outra conseguiram encontrar antes que ele a cortasse em pedaços, mas até então ninguém tinha prova concreta nenhuma de que ele era o assassino, mas Jane tinha uma intuição e aparentemente essa intuição estava certa.

Jane se levantou do chão e caminhou até a porta de aço que as prendiam dentro do frigorifico e começou a bater nela entre gritos.

- SEU FILHO DA MÃE! TE PEGAMOS! ABRE ESSA PORCARIA E VENHA ME ENCARAR! – Deu um chute na porta. – IMBECIL! COVARDE!

- Parece que ele não vai abrir a porta.

- Sério Maura?

- Se tivesse pedido reforços nada disso teria acontecido.

Que Deus desse paciência para Jane. Por que com toda certeza, ela sozinha, dentro de um frigorifico com Maura, se a temperatura não a matasse, ela acabaria a matando.

- Hoje antes de sermos capturadas você perguntou para onde eu estava indo, que por sinal não era da sua conta, eu respondi que estava indo atrás do Ethan que achava que ele era o culpado, mas que ninguém colocava fé em mim por que eu não tinha provas, só um palpite... POR ISSO QUE NÃO PEDI REFORÇOS! Agora estamos aqui, prestes a morrer congeladas.

- Na realidade não morremos congelados. – Jane revirou os olhos. Estava demorando para a boca de Google começar. – Morremos de hipotermia, que é quando a temperatura do nosso corpo baixa por ficarmos em lugares muito frios sem as devidas vestimentas. No momento a temperatura desse frigorifico está regular, mas se ela diminuir para por exemplo -5° e ficarmos por horas nessa temperatura podemos ter uma hipotermia subaguda. Ninguém morre congelado, o corpo pode se congelar depois da pessoa morrer de hipotermia devido a temperatura.

- Todos usam essa expressão Wikipédia. – Maura fechou a cara. Wikipédia? Sério? – Só você que quer colocar nome chato para tudo.

Maura só fez careta. Não colocava nome chato em tudo, dizia o nome que aprendeu nos livros e na faculdade que era o correto, ensinava para que assim o erro não fosse cometido novamente. Mas era com Jane que ela estava conversando, claro que o erro ia acontecer novamente, como acontecia toda vez que era chamada de Wikipédia, ela sabia que Maura odiava ser chamada assim, mas mesmo assim insistia em chamá-la.

Passaram algum tempo em silêncio e quando Jane cansava dele ia bater mais um pouco na porta de aço onde ninguém dava a mínima para ela. Irritada sentou no canto do frigorifico e ficou lá vendo Maura andando de um lado para outro.

- Por que você não senta? Já estou ficando inquieta com você andando de um lado para o outro.

- Não sei quanto tempo faz que esse frigorifico não é limpo, acha mesmo que eu vou sentar nesse chão com meu Christian Dior? Modelo único.

- Se você não se recorda você estava deitada no chão desse frigorifico.

- Mas não por vontade própria.

Jane balançou a cabeça em negativo, não sabia nem por que tentava. Se Maura queria ficar andando de um lado para o outro que andasse, ela era que ia ficar com os pés doloridos mesmo.

Mais silêncio no frigorifico. Mais Maura andando de um lado para o outro. Mais Jane odiando tudo. Nem pareciam que estavam presas em um frigorifico provavelmente com uma sentença de morte, pareciam mais duas crianças birrentas que foram obrigadas a ficar presas em um lugar para fazerem as passes.

No trabalho era o mesmo silêncio quando se encontravam, mas começou por parte de Maura, depois da discussão que tiveram sobre serem ou não um casal Maura resolveu dar continuidade ao seu “seguir em frente” e tratar com Jane de assuntos estritamente profissionais. A detetive tentou puxar um assunto, conversar, mas a legista estava relutante e não queria conversa, o que deixou Jane muito brava e como parecia que ela não sabia lhe dar com rejeição resolveu canalizar sua raiva em Maura e ser mais insuportável do que quando elas se conheceram. As provocações conseguiam ser piores do que quando Jane tinha atirado em Paddy e foram acusadas de estarem em “uma briga de gatos”. Mas só foi começarem a cogitar que iam colocar Maura para trabalhar com outro detetive e Jane voltaria a contar com os serviços do doutor Parker que elas maneiraram. Ainda se provocavam, mas nada que fossem cair no ouvido de seus chefes. A verdade era que elas queriam fazer as pazes, mas nenhuma das duas tinha peito para deixar o orgulho de lado e dar uma trégua.

- É impressão minha ou acabou de diminuir a temperatura? – Jane perguntou após sentir uma corrente de ar gelado. – Ele quer mesmo nos matar congeladas?

Maura a olhou com um olhar de desaprovação. Já tinha ensinado o termo certo.

Silêncio no frigorifico novamente. Maura continuava a andar de um lado para o outro, mas dessa vez Jane percebeu que não era só por que ela não queria sentar no chão para sujar seu Dior, mas sim por que estava com frio, percebeu as vezes que a legista passou as mãos nos braços com a tentativa de se aquecer, mas não era para menos, estava começando a ficar realmente muito frio no frigorifico.

Ou Ethan tinha esquecido de ligar o frigorifico ou no começo estava só brincando com a cara delas as fazendo pensar que teria uma possibilidade de saírem do frigorifico sem serem em sacos pretos por estarem mortas de hipotermia.

Não tinha obrigação, não tinha motivo para que fizesse aquilo, mas seu coração mole do jeito que era fez com que Jane tirasse seu casaco e fosse até Maura e jogá-los sobre seus ombros. A legista de começo recusou, estava muito bem tentando se aquecer esfregando os braços, mas logo se rendeu, estava realmente sentindo muito frio. Jane a pegou pelo braço e praticamente a obrigou sentar no chão, mesmo a contra gosto sentou, era melhor, poderia se encolher para ver se assim melhoraria do frio.

- Se usasse roupas com mais panos não estaria sentindo tanto frio. – Provocou Jane.

- Ficou um tempo agradável o dia inteiro, não tinha motivo para eu vestir um casaco.

- Eu já imaginava que seriamos trancadas em um frigorifico para morrermos congelada, por isso trouxe o casaco.

- Você sabia? – Maura perguntou realmente surpresa com a afirmação da detetive. Ainda não conseguia entender o sarcasmo. – E mesmo assim não pediu reforços? – Jane soltou um riso. Adorava a inocência de Maura. – Ah... Sarcasmo.

Jane fez um afirmativo com a cabeça concordando. Maura soltou um riso que a fez rir também. Por mais que convivesse com a detetive ainda conseguia acreditar. Já conseguia descobrir a maioria, mas uma hora ou outra sempre acabava caindo.

Ficaram em silêncio novamente. Mesmo prestes a morrerem eram duas cabeças duras, normalmente são nesses momentos que as pessoas dizem tudo que sentem, pedem desculpas, se arrependem, mas se dependessem delas morreriam guardando tudo o que sentia. Alias, Maura se deu conta daquilo, já estava ficando mais frio do que pudessem aguentar, por que mesmo com o casaco de Jane ainda tremia um pouco. Poderia não dizer tudo que sentia, mas podia começar.

- Hoje completa seis meses que nos conhecemos.

Jane a encarou surpresa? Ela lembrava da data em que se conheceram? Ela era péssima com isso, se fosse para lembrar teria que colocar lembrete no celular ou marcar no calendário. Tinham que dar graças a Deus que ela lembrava as datas de aniversário... A maioria delas.

Mesmo surpresa nada disse e nem esboçou nenhuma expressão. Era completamente incompreensível, Maura tinha todos os motivos para não trocar uma palavra com Jane, para estar brava com ela, por que ela foi a rejeitada, por duas vezes, teve seus sentimentos diminuídos e quando pensou que não podia ser pior teve uma amizade de anos terminada. Não era ela que deveria estar tentando puxar assunto, pelo contrário, Jane que deveria puxar assunto e no mínimo ser ignorada pela legista, mas parecia que Maura era superior a qualquer briga ou pelo menos mostrava ser só por que estavam condenadas a morte, mas já era um começo.

- Sei que essa data não significa nada para você. – Maura levantou do chão. Estava ficando inquieta por ficar sentada ao lado de Jane. – Por você nem teria me conhecido.

Até onde o orgulho iria? Por que não dizer logo que Maura estava totalmente errada? A temperatura baixava a cada minuto, daqui a pouco não estariam conseguindo nem falar, por que não falar enquanto ainda era tempo? Jane simplesmente não podia, não era por que não queria, era por que ainda tinha fé de que a qualquer momento Frost e Korsak entraria por aquela porta de aço e as salvaria, não podia dizer o que não devia para depois ter que encarar Maura.

- Eu recebi uma proposta de emprego do meu ex-chefe de Londres. Ele pretende escrever um artigo sobre as mortes mais raras que ele já viu e quer que eu o ajude.

Maura pensou que ia ser ignorada mais uma vez, mas para sua surpresa, Jane se pronunciou.

- Você aceitou?

- Pedi alguns dias para pensar em uma resposta.

- Tem certeza que voltar para Londres é o que você quer? Quero dizer, você saiu de lá procurando uma recomeço.

- Eu já analisei os prós e contras... Eu suportava mais ser culpada pela morte do meu ex-namorado do que ficar brigada com você. Eles eu simplesmente ignorava, você eu não consigo, por mais que eu tente, eu não consigo.

Parecia que alguém tinha dado um soco no estômago de Jane. Estava sendo tão idiota a ponto de Maura cogitar a voltar para Londres onde era vista como o motivo de suicídio de seu namorado? Precisava dizer alguma coisa, mas simplesmente não conseguia. Queria ser tão boa como Maura a ponto de expor seus sentimentos, mesmo que isso lhe causasse dor.

Ao que aparentava a conversa tinha sido encerrado por ali, por que Jane não disse uma palavra, tentou disfarçar se encolhendo e esfregando os braços com sinal de que estava com frio e o que ganhou foi uma Maura sentando ao seu lado e a abraçando para ver se assim se aqueciam, por que ela também estava com muito frio.

Ficaram assim por um bom tempo, mas logo Jane teve que trocar a posição do abraço e ela começar a abraçar Maura para ver se assim a esquentava, por que a legista batia os dentes, mesmo encolhida ainda tremia. Jane começou a perceber os lábios da legista ficando roxos. Já faziam horas que estavam dentro daquele frigorifico, nessa altura não era possível que Korsak e Frost não tivessem percebido a ausência das duas. Só era ir ao local que ela tinha mencionada que pegariam Ethan e as tirariam de lá. Isso era, se Ethan não as tivesse levado para outro lugar que ela não fazia a mínima ideia que existia fazendo com que assim Frost e Korsak perdessem mais tempo as procurando as deixando sem tempo.

Suas mãos já estavam dormentes, não sentia mais seus pés, o corpo tremia involuntariamente, não podia ver, mas imaginava que seus lábios também já estavam ficando roxos. Começou a perder as esperanças, iam morrer congeladas.

- Significa muito eu ter conhecido você. – Jane disse entre batidas de dente e em um tom mais baixo, era o máximo que conseguiria, mas o suficiente para Maura ouvir. A voz estava mais rouca que o normal. – Não poderia ter acontecido coisa melhor no meu dia do que eu te chamando de cafetina. – Maura soltou um pequeno riso. Ainda tinha forças para isso. – Se tivessem contratado outra pessoa no cargo de legista eu acredito que não teria sido tão feliz.

- Não... Não precisa dizer isso só por que estamos prestes... Prestes a morrer de hipotermina. A temperatura do nosso... Do nosso corpo deve estar em... Em uns... Uns... Uns 33 graus.

- Não estou dizendo isso por que vamos morrer congeladas, mas sim por que eu queria que você soubesse. Eu sou uma idiota Maura.

- Você... Você não é uma idiota... Só... Só não consegue lhe... Lhe... Lhe dar com seus sentimentos.

- Eu não sei é lhe dar com os seus sentimentos Maura. Você tinha mesmo que se apaixonar por mim? Quero dizer... O que você viu em mim? Eu não faço seu tipo, começando que eu achei que seu tipo eram os homens.

- Eu costumo... Costumo... Costumo arranjar respostas para... Para tudo... Mas não consigo... Não consigo encontrar... O... O motivo de ter me apaixonado por você. Por que... Definitivamente... Você... Você não faz meu tipo.

Jane soltou um riso que fez com que Maura, mesmo quase não tendo forças risse também. Sabia que a legista estava se esgotando, que estava sofrendo mais com o frio do que ela, por que Jane ainda estava conseguindo falar direito, mas Maura parecia que ia apagar antes de conseguir terminar uma frase.

- Eu... Eu... Eu preciso ficar... Lo-longe de vo-você Jane.

Com toda certeza não era dessa forma que deveria acontecer e Jane sabia disso. Se declarar para Maura deveria ser no mínimo no Dirty Robber quando estivessem tomando uma cerveja, não em um frigorifico quando estavam prestes a morrer congelada. Sim, faziam 5 meses que Casey tinha morrido e mesmo tendo optado por ficar com raiva de Maura por ela estar a ignorando, ficar com raiva de si mesma por não se declarar, imaginava como que seria se ela dissesse que sentia o mesmo por Maura, o quanto as coisas podiam ser diferentes, como estariam agora, se dariam certo, se estariam dando certo, mas agora parecia que não ia ter mais essas respostas, mas também sabia que Maura merecia saber a verdade. Seus sentimentos eram correspondidos.

- Não Maura, não precisa. Eu já disse que sou uma idiota. Eu deveria ter dito isso desde o dia que você se declarou para mim, mas eu fui covarde. O problema nunca foram os seus sentimentos e sim os meus. Eu não sabia lhe dar com os meus sentimentos, então afastei você de mim, então eu pedi o Casey em casamento, então eu estraguei tudo. Tudo isso por que não conseguia admitir que...

E parecia que Jane não ia conseguir contar para Maura que seus sentimentos eram correspondidos, por que antes de dizer percebeu que Maura não estava a escutando, por que tinha desmaiado.

- Maura? – Jane sacudiu de leve a legista. – Maura, por favor, acorda. – Sacudiu mais uma vez. – Maura, não Maura, por favor, por favor, não me deixe. – A voz saiu embargada. – Não me deixe Maura, nós precisamos conversar, precisamos nos acertar e para isso eu preciso de você viva. Me ouviu? Eu preciso de você viva. – Deu um beijo na cabeça de Maura. – Por favor Maura...

Por dentro Jane chorava, mas por fora não conseguia, queria chorar, mas não tinha forças o frio já estava tomando toda sua força, não conseguia mais nem se mover. Mas o tempo que conseguiu foi pedindo para que Maura acordasse, ficou assim por meia hora, até que suas forças se esgotaram por completo. O tempo de Frost e Korsak de encontrá-las tinha se esgotado. Ethan Mathews tinha vencido. Tinha matado as duas congeladas. A visão já estava embaçada, a audição não estava lá aquelas coisas e antes de apagar não conseguia distinguir se estava delirando ou se viu Korsak entrando com mais alguns policiais no frigorifico para salvá-las.

***

Tinha passado mais de 15 horas que Jane estava dormindo no hospital. Mas nada que fosse assustar Angela, o médico disse que seria normal, que o corpo demoraria um pouco para se recuperar depois de tanto tempo que ficou presa no frigorifico, o corpo precisa descansar.

Jane acordou atordoada. Ao abrir os olhos examinou o lugar onde se encontrava, viu sua mãe deitava na poltrona ao lado da cama. Angela dormia. Viu seu braço com uma agulha que era por onde estava recendo soro, aos poucos foi lembrando de tudo que tinha acontecido, de tudo que tinha passado.

- CADÊ A MAURA? – Perguntou assim que percebeu que a legista não dividia o mesmo quarto que ela. – Onde está a Maura? - Angela levantou no susto com os gritos da filha procurando pela legista. – Onde está a Maura?

Jane tentou se levantar da cama, mas se sentiu um pouco tonta, Angela foi até a filha ajudá-la a deitá-la novamente.

- Cuidado Jane! – Angela tentou colocar Jane de volta deitada na cama, mas a detetive estava decidida a levantar. – Jane!

- Onde está a Maura, mãe? Me diz que está tudo bem com ela... Eu quero vê-la! – Jane levantou da cama. Angela baixou os olhos. – A Maura está viva, não está? – Silêncio por parte de Angela. – NÃO ESTÁ?! - Finalmente Angela conseguiu com que Jane sentasse de volta na cama. – Mãe?

- Maura está na UTI. Não conseguiram fazer com que a temperatura do corpo dela se estabilizasse, ela está com pneumonia, está em observação.

- Eu quero vê-la! Eu... Eu... Eu... Eu preciso vê-la.

Angela sabia que nada que dissesse faria com que Jane mudasse de ideia sobre ver Maura. Conversou com o doutor e foi autorizada a levar Jane para ver a loira.

Ao ver Maura naquela situação Jane não sabia nem o que dizer. Maura toda cheia de vida, toda cheia de conhecimento, toda cheia de vontade de viver ligada em várias máquinas, com diversos aparelhos. Só conseguia se culpar.

- O que vai ser da minha vida se ela morrer Ma? – Jane pegou na mão de Maura. Estava fria, se não soubesse que ela estava viva, diria que ela estava morta. – E ela nem sabe como eu me sinto.

- Claro que ela sabe Jane.

- Não, não sabe... Por que eu nunca disse. Só a afastei como fiz com o Alfredo na escola. Só a magoei, só a fiz sofrer. Nem o amor dela eu mereço.

- Ela vai acordar e você vai poder dizer tudo que sente Jane.

- E se ela não acordar? E se eu estraguei tudo? – Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Jane. – Eu não consigo imaginar minha vida sem ela. – Jane respirou fundo, nunca tinha dito aquilo em voz alta e para ninguém, mas estava prestes a dizer. – Eu a amo Ma. Não posso perdê-la. Eu a amo. – Jane deu um beijo na mão de Maura. – Por favor, Maura, lute, não desista. Eu posso nunca ter dito isso, mas preciso de você. Eu te amo Maura, por favor, não me deixe.

Ás vezes quando resolvemos falar, quando resolvemos expor nossos sentimentos pode ser tarde demais. Mas existe aquela sabia frase “Antes tarde do que nunca”. O problema seria se, mesmo sendo tarde demais, mesmo não deixando para o nunca, se valeria de alguma coisa.

- Maura... – Angela pegou na mão da legista. – Eu sei que você está brava, eu também fiquei, por que Jane não era assim, ela teria lutado até o último segundo de vida. Ela se deu um tiro uma vez e sobreviveu, por que não sobreviveu dessa vez? Mas eu percebi que raiva não ajudava, que ela continuaria sendo minha filha e eu a amaria do mesmo jeito. Que eu teria que aprender a conviver com as lembranças dela e eu estou aprendendo a cada dia. A cada dia que chego na cantina e não tenho que preparar as panquecas dela por que ela não vai vir tomar o café da manhã. A cada domingo que faço o nhoque Rizzoli e não vou ver Jane sentada na mesa ou inventando uma desculpa do por que chegou atrasada. A cada dia que não preciso mais me preocupar com ela sendo morta por assassinos por que eu lembro que ela já está morta. Não é escondendo um porta-retratos dela que eu vou esquecer que ela foi parte da minha vida. Por que ela vai estar aqui... – Angela apontou para sua cabeça. – E aqui... – Angela levou a mão de Maura até seu coração. – Por mais que eu quisesse eu não ia conseguir esquecê-la. E sinto dizer isso, mas você também não vai, pode trocar quantos móveis você quiser, pode esconder até os morangos de Bass que fazem você lembrar dela, você não vai conseguir, por que Jane fez parte de sua vida e uma parte bem importante, além de sua melhor amiga, ela era sua namorada, seu grande amor e não esquecemos grandes amores assim, por mais que doam, por mais que nos faça sofrer, nós aprendemos a conviver com a dor, até que não dói mais, nós sofremos, até não sofrermos mais, nós seguimos em frente e aprendemos a conviver com as lembranças.

Maura estava completamente emocionada com as palavras de Angela. A única pessoa que conseguia fazer esse efeito nela com palavras era sua psicóloga, mas entendia que esse era o trabalho dela e que Angela estava fazendo muito bem. Abraçou a sogra.

- Eu ainda a amo tanto.

- Eu sei querida. Eu sei. – Angela se separou do abraço e limpou as lágrimas que caiam do rosto de Maura. – Foi ela que saiu perdendo por te deixar livre assim no mercado.

- Eu não estou no mercado Angela, eu estou na minha casa. – Angela soltou um riso.

- Modo de dizer. – Maura fez um afirmativo com a cabeça dizendo que tinha entendido. – Então... O que vai ser? Vamos doar tudo isso para caridade mesmo?

Maura fez um negativo com a cabeça com um sorriso no rosto. Como que pensou que conseguiria se livrar de todas aquelas coisas?

- Será que consigo cancelar a compra da cama nova? Não vieram buscar a velha ainda.

Angela riu. Tinha esperanças que depois dessa conversa Maura se recuperaria.


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Notas finais do capítulo

Será que agora vai? Será que agora Maura fica bem? Chega de sofrimento né?