Tordos, muitos deles.

Cada um com uma característica diferente.

Um grande tordo avermelhado e com olhos verdes parece muito com Finnick. Outro menor e castanho com Rue. Outro mais claro e menor, Prim. Outros foram surgindo e cada um se parecia com uma pessoa diferente, Cinna, Boggs, Mags, Cato, Coin...

E quando me dei conta, eu era um tordo também. Um tordo dourado e médio e sobrevoava todos com maestria. Era divertido voar com todos aqueles tordos/amigos. De repente flechas atravessam todos os tordos menos eu. Mãos me cercam e me deparo com os olhos de serpente de Snow e o terrível hálito de rosas tóxicas, ele ri e espirra sangue em mim e diz:

“Daria um belo broche.”

Acordo, gritando e chutando qualquer coisa perto de mim. Inclusive, Peeta. Peeta. Ele está junto de mim, me abraçando e falando palavras doces. Ele me abraça e pergunta:

“Oque houve?”

“Pesadelo.”

“Mas oque houve no pesadelo?”

“Snow matou todos os meus amigos.”

“Eu estava lá?”

“Não.”

“Quem estava lá?”

“Finnick, Rue, Prim, Cinna, Boggs, Mags, Cato, Coin.”

“Como eles estavam?”

“Eram tordos, eu era também.”

“Como o do seu broche?”

“É.”

“Tente dormir mais um pouco.”

“Certo.”

Finjo que durmo enquanto Peeta adormece novamente. Não quero acorda-lo novamente, só preciso ficar um tempo sozinha. Me levanto de fininho sem o acordar e desço as escadas e saio da casa, ainda de pijama mas dane-se. Vou para a casa de Haymitch, e encontro-o no melhor estado: dormindo e bêbado. Taco um baldo de água fria na cabeça dele e ela levanta a faca pra mim, mas ao perceber que sou eu diz:

“Você adora jogar água fria em mim né?”

“Quero conversar.”

“O Peeta não é um príncipe encantado, queridinha.”

“Não é sobre ele.”

“É sobre oque?”

“Meu sonho.”

“Oque você sonhou, docinho?”

“Que todos os meus amigos mortos eram tordos.”

“Irônico pois você é o Tordo.”

“Não sou mais essa droga de Tordo.”

“Como assim?”

“Eu nunca quis realmente ser isso, e agora acabou a era do Tordo.”

“Será Katniss? Você será quem decidirá o destino das pobres crianças da Capital este ano, lembra?”

“Pela Prim.”

“Sim, pela garota.”

“Mas não gosto realmente desta idéia.”

“Elas sentiram exatamente oque você sentiu.”

“Ninguém da família ou amigos delas morreram por sua causa.” – eu digo furioso atacando a mesa com uma faca.

“Calma, queridinha. Eles vão morrer, e o único que sobrar vai simplesmente ser considerado sortudo. A Capital nunca mais vai entrar na sua vida de novo, Katniss. Snow está morto.”

“Eu sei que ele está morto, mas ainda me sinto entre suas garras.”

“Sabe oque você faz Katniss?”

“Oque?”

“Faça que você sabe fazer melhor: fique viva e vá dormir.”

“Sim, antes que Peeta sinta minha falta.”

“É ele iria ficar maluco, docinho.”

“Tá, tchau.”

“Tchau.”

Sai pela porta de Haymitch e fui correndo de volta á minha casa, entrei no quarto e Peeta ainda dormia. Me deito ao seu lado sem fazer ruído algum, e tento me acalmar, tentar pensar que estou no meu lar e não na arena. Que não há nenhum bestante que possa me matar agora, que eu estou sã e salva. Tenho um sono sem sonhos, pois já chega de pesadelos por hoje.

“Acorda, Katniss” – diz Peeta com a mesma voz doce de sempre.

“Estou acordada.” – digo sonolenta.

“Dormiu bem depois do pesadelo?”

“Sim.”

“Que bom, estava ficando preocupado.”

“Não fique.” – digo me aproximando dele e o beijando rapidamente.

“Eu te amo, garota em chamas.”

“Eu também te amo, padeiro.”