— Não... acho que não conheço. – respondeu Carly, pensativa. Consegui perceber em seu olhar e sua feição que estava com receio de alguma coisa.

Fiquei apenas olhando para ela. Acho que forçar a barra não ia adiantar muita coisa. O que preciso agora é me aproximar de Carly, manter o contato quando as aulas voltarem e tentar desvendar alguma coisa.

— Ah, tudo bem. Vamos mudar de assunto então! – dei uma risada para descontrair a conversa, que já estava ficando num tom muito sério.

A tarde passou voando. Carly me contou mais sobre ela.... Veio de Denver para Califórnia esse ano. O pai dela conseguiu abrir um escritório de advogacia aqui na Califórnia no começo do ano e desde então, estão morando aqui. É filha única, desde criança aprendeu a tocar teclado, e seu sonho é se tornar uma profissional.

Também contei um pouco sobre mim: sempre moramos aqui na cidade litorânea, tenho uma paixão e um apego que acho que nunca vou querer sair da Califórnia. Claro, quem sabe depois que se formar... Enfim, também disse que tenho um irmão, o Felipe, e contei várias histórias minhas com o Jonathan.

Após horas e horas conversando, olhei para o relógio acima da TV.

— Nossa! Já são 19 horas! – disse.

— A conversa estava tão boa que as horas passaram rápido, não? – Carly soltou uma risadinha – Eu preciso ir embora, senão meus pais já começam a me ligar aqui.

— Tudo bem! Bem, a gente vai se ver na escola semana que vem, né? Qualquer coisa pode me chamar, viu? – tentei criar mais uma aproximação com Carly. Sei que posso estar forçando a barra por causa do tráfico e tudo mais. Mas vi que ela é uma pessoa bem legal e talvez podemos nos tornar amigas com o tempo.

— Vamos nos ver sim! Estou ansiosa para conhecer a nova escola e novas pessoas. – Carly respondeu com um sorriso.

Levantamos sofá e me despedi dela, fechando a porta e soltando um suspiro. Pensei em contar para o Jo sobre Carly, mas queria esperar mais um pouco até ter certeza das coisas. Decidi colocar esses pensamentos de lado, por enquanto, e fui para a cozinhar preparar o jantar. É uma noite de sexta-feira, e o céu fica tão lindo.

Adoro cozinhar olhando para a janela. Daqui de longe, consigo ver o mar e o luar batendo contra ele. Estava preparando um macarrão com carne moída: um dos meus pratos preferidos. Sempre antes de preparar uma refeição, eu gosto de me organizar: coloco as panelas em um canto, temperos em outro, assim como as colheres e os ingredientes principais.

Estava tão distraída nos meus pensamentos que nem percebi quando Felipe entrou na cozinha.

— Ei, chata, tá fazendo o que?

— O que você acha? – respondi ironicamente, soltando uma risada.

— Eu estou com fome!! Me chama quando ficar pronto? – perguntou, resmungando.

— Tá bom... pode deixar. Daqui a pouco a mãe chega e aí jantamos juntos. – respondi, olhando para o relógio. Em meia hora a comida já fica pronta, pensei comigo mesma.

Felipe subiu as escadas e ouvi a porta do quarto ser fechada. Liguei a minha caixinha de som na cozinha e coloquei para tocar, no aleatório, a minha playlist do celular “Minha nostalgia anos ‘90/’00”. Eu amo essa playlist! Sabe aquelas músicas que você ouve e dão nostalgia, um sentimento tão bom que você começa a relembrar os velhos tempos? Me sinto assim, quando começou a tocar “The Reason”, no maior volume.

Estava já arrumando a mesa, quando tive uma ideia.

*Quer vir jantar em casa?*, envio uma mensagem para o Jonathan.

Em segundos depois, ele já me responde: *Agora em cima da hora? Que preguiça!*

*Deixa de ser preguiçoso, hoje é sexta-feira! Não quero ficar sozinha. Adivinha que música to ouvindo...* Gravo um áudio e envio.

*Fala sério!!!! A playlist da nostalgia? To indo aí agora hahahaha”*

O que eu mais gosto no Jo é que ele topa tudo e a qualquer hora. Estudamos juntos desde o primário, ou seja, ele sabe tudo sobre mim e eu sei tudo sobre ele. Como ele mora a uma quadra daqui, logo deve estar chegando.

Minha mãe chegou em casa, e logo em seguida o Jonathan também. Servi quatro pratos, já esperando que o Jo ia jantar aqui. Como estávamos todos com fome, devoramos o prato de macarrão com carne moída em poucos minutos. Após conversas sobre o dia, coloquei os pratos na lava louças e subi com o Jonathan para o quarto.

— Bruna, precisa dar uma arrumada nesse quarto, ein? – Jo tirou sarro quando entrou no quarto, dando uma olhada nas minhas roupas jogadas na cama.

— Ah, para com isso chato! Hoje é sexta, dá um desconto – solto uma risada e dobro as roupas para colocar em cima da cômoda, em frente à cama.

— E aí, está preparada para as aulas segunda? – pergunta, sentando na cama e encostando o corpo na cabeceira.

Sentei no meu pufe em frente ao Jonathan. – Não sei... Falando nisso, soube da festa que a Nicole vai dar no outro final de semana, de boas-vindas e bla bla bla?

— Claro que soube! Ela postou em todas as redes convidando todos do ensino médio, né?

A Nicole é aquela típica garota patricinha da escola, talvez seja a mais popular. Sempre dá uma festa de boas vindas na sua casa, que é mais uma mansão do que uma casa. Ela estuda com a gente desde o ensino fundamental, porém sempre anda com seu grupo de “riquinhas”, nunca tivemos muito contato.

— Blé... – respondi com uma careta de nojo – Vai querer ir? – perguntei, já pensando em convidar Carly. Com certeza ela vai se sentir enturmada na sua primeira semana de aula.

— Vou se você for, afinal, precisamos aproveitar o ensino médio. – respondeu Jonathan, olhando para o teto, de um jeito pensativo.

— Então você vai no shopping comigo durante a semana para comprar alguma roupa nova, ein? Estou sem roupas novas! – exclamei, lembrando que não saio a um bom tempo, e estou sem roupas para ir em festas do tipo.

— Tá bom, tá bom... – desviou o olhar do teto para mim – Bru, hoje é sexta, vamos fazer alguma coisa diferente?

— Ah Jô, sinceramente, estou sem saco pra sair hoje. Vamos ficar por aqui e amanhã podemos fazer alguma coisa. Noite de boliche? – pergunto, já sabendo que ele vai concordar, já que nossas noites de boliche são clássicas e sempre fazemos competição do tipo: quem perder vai pagar o jantar, ou quem perder vai levar o outro para a escola no próximo dia.

— Com certeza! – respondeu de um jeito totalmente animado, levantando da cama. – Preciso ir, vamos descansar então, já está passando das 23.

Acompanho Jonathan até a porta de casa, me despedindo dele com um beijo na bochecha. Eu o amo. Não como vocês estão pensando, claro. Amo de amizade, ele é a pessoa que sempre esteve comigo em todos os tempos.

Subo para meu quarto, tomo um banho de corpo e visto meu pijama para dormir. Antes de fechar os olhos, mando uma mensagem para Carly: *Ei! Obrigada pela companhia hoje. Vamos nos ver segunda na escola ein? E tenho uma novidade: fomos convidadas para uma festa no outro final de semana!!!* Envio a mensagem, fecho os olhos e caio no sono, sem esperar a resposta de Carly.