Ághata escrita por Ivan Pavlov


Capítulo 4
Foice e dentes - parte 1


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO!!!! Eu sem querer cortei um prarágrafo desse capítulo, e hoje que fui ver, mas já coloquei denovo! É o que começa com o "quando" em negrito.


YAAAAYY o/ o/

Eu dividi esse capítulo em duas partes por motivos de
1)Como sempre, perdi a linha na mão
2)Eu queria MUITO postar e não ia aguentar esperar ficar pronto
3)dar mais suspense :0



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Ouvi uma flecha quebrar ao beijar uma árvore que passava correndo na direção oposta. Minha consciência estava inteiramente voltada para o que ocorria atrás de mim, e sob olhar da presença feroz dos homens que me perseguiam, senti em meu dorso um calor que me envolvia como um sudário em brasa, envenenando-me de medo.

O ardor de todo aquele quadro obliterava de meu corpo o inverno que castigava cruelmente qualquer um que se aventurava expor-se ao ar livre, fazendo-me transpirar por cada um de meus poros e encharcar minhas roupas de suor.

Já levemente longe de Monte Harmstroff, o caminho foi ficando mais denso, e eu dava cada vez mais tropicadas para desviar de árvores e eventuais pedras e troncos caídos.

Como eu fui burra! Se eu não tivesse corrido pra casa eles nunca me pegariam!

E deixar sua mãe morrer no incêndio? Não se culpe, Ághata, você fez o que foi necessário.

Ela não ia morrer se eu não intervisse. Alguém a teria salvo.

Por um breve instante, virei minha cabeça para trás e vi Waltridge à frente do grupo que me perseguia.

Tem certeza?

Continuei a correr por um ou dois minutos, mas aparentemente só eu estava me cansando. Meus músculos estavam pesados como chumbo, meu peito queimava, e meu pulmão estava a ponto de sair pela boca, ardendo devido à exposição ao incêndio. Atrás de mim, porém, a matilha incansável aproximava-se cada vez mais.

Vi de longe, um pouco à minha direita, a base de uma montanha surgir. Eu corria, mas isso, pelo visto, era inútil: eles não se cansariam antes de mim, muito menos desistiriam. Então, comecei a gradualmente desviar a rota naquela direção. Alguma coisa tinha que ser feita, alguma distração, uma mudança qualquer que abrisse as portas para uma oportunidade de escapar de vez daquela perseguição era essencial pra mim. Talvez a subida aumentasse minha desvantagem, mas descartar a possibilidade de conseguir alguma coisa que me ajudasse era impensável, e eu estava desesperada.

Mantive meus passos ritmados o máximo que consegui, e a montanha ficava mais perto, assim como os insultos que meus caçadores bradavam aos sete ventos.

O que você está fazendo?

Não sei.

Depois de percorridos mais algumas numerosas e mortíferas dezenas de metros, finalmente iniciei a escalada, que fez a fatiga em minha perna triplicar.

A uma curta distância de sua base, o relevo do morro tornava-se menos íngreme, aplainando-se parcialmente, o que criava uma espécie de plataforma em sua lateral, como se uma enorme fatia de rocha tivesse sido tirada dele.

Vi, então, que entre as árvores que estavam à minha frente havia um vazio peculiar.

–Você vai morrer hoje, garota! – gritou um dos homens. Olhei para trás e vi o grupo a menos de dez metros de mim, fazendo uma onda de gelo percorrer todo meu corpo.

Com uma careta de pânico, voltei-me, então, de volta para a frente, e vi o vácuo na vegetação revelar uma clareira.

Nela não havia vegetação rasteira, e a terra do chão era acinzentada, como se poeira tivesse sido misturada ao solo do local; na extremidade oposta à em que eu me encontrava, o relevo inclinava-se gradualmente e retomava a subida da montanha; à minha esquerda, pequenas toras podres cortadas ao meio estavam espalhadas em volta de uma estreita faixa do que um dia fora a base de uma árvore.

Ao fundo, próxima às toras mortas, estava erguida uma estreita construção de madeira, do tamanho de um pequeno cômodo de uma casa comum. Suas paredes estavam escurecidas e cobertas de fungos, não havia janela alguma nelas. A fachada do casebre também era lisa de detalhes, com exceção de uma porta surrada que mais parecia uma tábua improvisada, e sua parte posterior estava oculta pelo resto da floresta que contornava a elevação.

Em completo desespero, ignorei qualquer traço de raciocínio que ainda houvesse em minha mente, e encurvei minha trilha alucinada em direção à visivelmente podre porta que dava entrada à edificação. Não havia motivo para eu fazê-lo, mas a visão de um elemento díspar na fuga que, até agora mostrava-se completamente eficiente, soava como esperança.

Se isso vai ajudar, eu não sei, mas ficar como está com certeza não vai.

O chão parecia ficar mais duro a cada passada que eu dava, eu sentia meu corpo apertado contra si mesmo, esvaziando-se, como se estivesse desistindo de mim.

Com o coração latejando sob minhas costelas, ousei olhar para trás como último ato antes de adentrar a casa.

Com o rosto embebido de lágrimas e a imagem de meus carrascos a não mais que quatro passos de mim, voltei-me para frente e, no mesmo movimento, dei um pulo e atirei-me com o peso de uma rocha sobre a porta, que cedeu com o impacto.

Num instante impreciso entre a iminência de impacto com o chão e a própria colisão, dobrei os joelhos e finquei as mãos em qualquer espaço que encontrei e, com uma agilidade que nunca imaginei possuir, lancei-me para a frente num ato desesperado de manter a fuga. Depois, ainda no ar -mas não de pé- e sob o impulso do bote que havia dado, arrisquei mais uma passada pesada, tentando equilibrar-me sem interromper a corrida.

Levantei tropeçando em mim mesma quando dei de cara com uma parede.

Minha mente cedeu, entrei em pânico, e o mundo reduziu-se a movimentos lentos e emoções explodindo. Fui virando meu corpo aos poucos, senti cada centímetro de minhas costas tocando a parede.

Quando vi meu padrastro ali, na minha frente, com as mãos lentamente vindo em minha direção, dois ou três homens atrás dele- dos quais um, voando em um salto, entrava na sala ainda- senti algo diferente.

Mato você primeiro, pensei. Depois você. E você.

Naquele momento, senti um desejo inédito em minha vida, um desejo que ia contra todos os valores nos quais havia me construindo.

Eu não era mais Ághata.

Eu era eu. Alguém diferente do que jamais já se foi, alguém alheio à natureza humana e suas civilizadas organizações morais. Não precisava de uma personalidade, de um nome, uma imagem, um destino, muito menos de uma razão pra viver. Eu precisava viver, nada mais. Custasse o que custasse.

Eu quis matar todos. Eu quis matá-los, e se fugissem, os caçaria até os confis da terra. Olhei nos olhos de meu padrasto e imaginei-o bem morto, caído à minha frente, chorando de desculpas. Perdôe! Não o faças!, clamaria. E eu o faria. Denovo e denovo. Mataria Waltridge uma, duas, três vezes se fosse necessário.

Seus olhos, ali, em frente aos meus, permaneceram inalterados, mas pude ver, lá no fundo, compreender meu anseio. Talvez ele mesmo não tenha reparado, meu eu vi que ele o sentia.

Quis sorrir pra ele.

No instante que as mãos do velho Walter tocaram meus ombros, o mundo deu um tranco e voltou à sua velociade usual, mas dessa vez, havia um violento frenesi de dor e tontura.

O peso de uma mulher adulta, dois ou três homens agudos, um velho gordo, e anos de madeira podre haviam levado a parede atrás de mim ceder. Levando consigo o chão oco, jogou-nos todos em alguma espécie de barranco- ou buraco- escuro e de paredes duras, que pareciam não acabar nunca.

Enquanto caíamos, houve momentos em que não sei dizer se eu estava consciente, ou mesmo viva. Senti todas as partes do meu corpo se chocar contra paredes, braços e pernas nos mais diversos ângulos, e, em alguns momentos, pude ver o clarão de luz que vinha da superfície.

Rolamos por, no máximo, uma centena de metros, e assim que paramos, deixei escapar um grito, e levantei-me apressada pra continuar a fuga, como se nada tivesse acontecido.

Antes que eu desse meu primeiro passo, entretanto, minha perna cedeu, e fui novamente de encontro ao solo.

Droga!

Devagar, tornei a levantar-me.

Estávamos em uma câmara rochosa iluminada apenas pelo rombo no teto próximo a uma de suas extremidades, onde ficava a parede inclinada por onde havíamos rolado. Ao longo dela, estava o que sobrara das grandes estacas podres que haviam falhado em evitar que a caverna desmoronasse sobre seu interior.

Enquanto o chão e as paredes eram irregulares, o teto do lugar parecia perfeitamente polido, respeitando rigorosamente o contorno da superfície da montanha.


Por isso desabou, observou sapo, o teto é fino demais.




Levantei-me de novo, e, mancando, afastei-me dos homens, que estavam aparentemente inconscientes.




O ar da caverna ainda estava translúcido pela nuvem de poeira levantada pelo desabamento quando aproximei-me da parte não iluminada dela.


Continuei mancando até julgar que estava fundo o bastante na escuridão para não mais ser vista. Então, ainda arfando, tateei o vazio até encontrar uma superfície na qual eu pudesse me apoiar. Depois, sentindo minha pele fervilhando quase em toda sua extensão, fui lentamente abaixando até, enfim, sentar no chão, recostada na pedra(ou parede) que eu havia encontrado.

Após um tempo indeterminado imóvel, finalmente virei minha cabeça para onde jaziam desmaiados meus caçadores, e entreguei-me ao pranto.

Ouvi a vozinha de sapo comentar algo sobre o ar do lugar, mas não quis entender o que ele dizia. Meus ossos deviam estar todos quebrados, minha pele rasgada em inúmeros pontos, minha carne era um conjunto de hematomas e minha morte estava ali, a alguns metros, dormindo.

Comecei a devanear sobre o que se passou naqueles últimos minutos e o que viria depois dele quando veio à minha mente o momento quando pensei em matar aqueles homens.

Meu desespero tinha despertado em mim instintos de ódio e selvageria, eu havia imaginado e desejado crueldades atrozes àquelas pessoas. Eu sei que era pra me salvar mas... daquela forma?

Por mais que meus objetivos fossem de sobrevivência, eu tencionara impor-lhes dor e violência, eu quia vê-los sofrer, e o pior: eu vi diversão em tal pensamento. Aquilo me assustava, toda aquela violência não era minha... Não era eu...

Piscaram, então, em minhas lembranças, os últimos meses.

Não seja ridícula, Ághata. Está louca?

O que quer dizer?

Você está cedendo aos murmúrios? Esqueceu-se de suas conclusões?

Que conclusões? E quem garante que elas estão certas?

Por enquanto, ninguém. Descubra quem está tentando te matar e, aí sim, haverá quem garanta.

Eu sei quem está tentando me matar, respondi apontando pro lado, todos estão.

Não finja que não entendeu. Livrando-me de possibilidades absurdas, retomei a ponderação sobre os homens. E se eu os matasse?

Continuei sentada, chorando baixinho até pegar no sono.



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Notas finais do capítulo

Galera, vocês não sabem como seus reviews ajudam, sério. Se eu postei esse capítulo hoje foi porque abri meu email e li "comentaram em sua história!", e isso me deixou tão empolgado que na mesma hora abri o arquivo da fic e comecei a escrever. Obrigado a todos que favoritam e comentam, e por favor, não deixem de fazê-lo!!

Parte 2 com aparição bombástica!!!! quem será hein? ou melhor... o que será?
~comem soon~