1942 escrita por GabanaF


Capítulo 2
Capítulo I — Sam Evans


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Espero que bem. Enfim, como eu prometi, aqui estou eu novamente, dessa vez para postar o primeiro capítulo da fic.
Apenas um aviso: a fic não começa em 1942, e sim alguns anos antes. Esses primeiros capítulos são apenas introdutórios, até chegarmos de fato na Segunda Guerra Mundial.
Agradeço aos comentários de vocês e a recepção de tive pela minha ideia e, bem, espero que gostem deste primeiro capítulo!



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Verão de 1936

— Você está linda, querida — Russell disse orgulhosamente ao entrar no quarto da filha.

Quinn agradeceu com um aceno de cabeça, ainda se olhando no espelho. Sua mãe estava a alguns metros de distância, admirando pai e filha com um olhar perdido porém afável. Frannie, sua irmã, estava na sala de estar ao lado de seu marido, provavelmente, ambos prontos para saírem.

Quinn iria completar vinte anos em quatro dias. O evento daquela noite era precisamente para arranjar-lhe um marido inteligente, muito comportado e que estivesse no exército alemão, a única exigência de seu pai. Por mais que Quinn não concordasse com a regra — ou com o fato de casar em si, já que sequer tinha começado direito a faculdade —, ela tinha que ceder. Viver embaixo do teto de uma das pessoas mais ativas no sistema nazista não era algo que ela prezava muito.

Ela tinha somente dezenove anos, mas sabia que Hitler declararia guerra em poucos anos e que as medidas tomadas contra o povo judeu eram completamente sem nexo e injustas. Mas ela não poderia sequer sonhar em falar isso em voz alta. Se não fossem as tropas de Hitler invadindo sua casa no momento em que fechasse a boca, seria seu pai dando-lhe uma bofetada na bochecha. Quinn sabia o que acontecia com as pessoas que discordavam de Hitler, e sua vida depois disso não era nenhum mar de rosas.

Quinn virou-se e sorriu para os pais. Eles retribuíram, acenando para que ela não se demorasse muito. Suspirou, lançando um último olhar ao seu reflexo e murmurou antes de sair:

— Me deseje sorte.


O pior de estar em uma confraternização do governo não era a comida ou o gramofone tocando jazz, e sim a conversa. Por todos os cantos, generais e empresários, soldados e cozinheiros, todos eles falavam sobre uma única coisa: nazismo. Quinn se afastara dos pais e da irmã à procura de um lugar calmo sem elogios à Hitler e ao governo, mas era simplesmente impossível.

Tentar argumentar com algum deles era tão terrível quanto ouvir sua adoração pelo Führer, por isso Quinn se mantinha distante, apenas acenando com a cabeça quando seu nome era chamado. Após o jantar ter sido servido, Quinn sentou-se na varanda da casa, admirando a bela Berlim lá embaixo.

A casa onde estava era de um general consideravelmente famoso que ela não decorara o nome. Ele morava na alta parte da cidade, nos subúrbios de Berlim, e possuía uma influência invejável — pelo menos para Russell — no governo. O pai de Quinn estava ali para estabelecer alguns negócios e cobrar de oficiais que se achavam espertos demais; ele trabalhava no ramo de consultoria financeira. Ah, e, claro, arranjar um marido para a filha.

Ela tinha visto alguns soldados bonitos e até conversara com eles, mas nenhum tinha lhe chamado à atenção. Quinn nunca gostava muito da companhia de garotos — eles eram convencidos demais e geralmente muito bobos. Ela tinha amigas na faculdade, naturalmente, que sempre reclamavam sobre querer um namorado e essas coisas, mas nessa parte da discussão ela somente ouvia e não opinava muito.

Obviamente, Quinn já beijara um ou outro garoto durante a adolescência, por brincadeira, mas nunca sentira a “chama” que suas amigas falavam tanto. Quinn se perguntava constantemente o que havia de errado com ela.

Estendeu a taça de champanhe para uma garçonete que vinha da cozinha, bem atrás da varanda. Olhou fundo em seus olhos castanhos, e, ao contrário das outras garçonetes, esta não abaixou o olhar. A garota parecia desafiá-la a fazer alguma brincadeira, como provavelmente acontecera durante toda a noite.

Quinn sabia que a menina era judia. Um simples olhar bastava para que ela soubesse disso; Hitler se encarregara de marcar as características dos judeus para que todos os conhecessem e os desprezassem. Quinn não era assim, mas a garçonete não sabia disso. Antes que pudesse dizer alguma coisa, a garota judia empinou o nariz e saiu do local, deixando uma Quinn surpresa para trás.

— Este lugar está vazio? — Uma voz masculina perguntou tímida. Quinn se sobressaltou e logo revirou os olhos. Deveria ser mais um dos alunos-soldados querendo levá-la para casa em busca de algo mais.

Porém, ao levantar os olhos, Quinn encontrou um sorriso afável e olhos ternos virados para ela. O garoto não deveria ser muito mais velho que ela, tinha olhos verdes brilhantes e um cabelo curto e loiro lustroso. Usava a farda do exército alemão, mas isso não fez o sorriso de Quinn diminuir. Ele era adorável com suas bochechas enormes.

— Está. — Quinn chegou mais para o lado para que ele sentasse. O garoto carregava um prato cheio de pudim de chocolate. — Sente-se.

Quinn não sabia por que estava sendo tão legal com o garoto. Geralmente ignorava todas as tentativas de aproximação. Alguma coisa nos olhos dele a fazia perceber que o garoto pertencia àquele lugar tanto quanto ela. Ele sorriu, se servindo de um pedaço de pudim.

— Meu nome é Quinn — disse, vendo que o garoto estava muito ocupado devorando o pudim para falar alguma coisa. — Quinn Fabray.

Ele engoliu o pedaço da sobremesa rapidamente para responder. Quando seus olhos encontraram os dela, estavam cheios de lágrimas.

— Sam — disse ele, tossindo. — Sam Evans.

Sam a analisou por inteiro antes de focar no pudim e comer outra fatia, mais calmamente dessa vez. A garota riu.

— É filha de Russell Fabray, certo? — Sam perguntou com a boca cheia. Quinn assentiu, ainda com o sorriso bobo. Sam era incrivelmente adorável. — Seu pai me pegou e me apresentou a várias pessoas que ele conhecia hoje. Só me livrei dele quando fui ao banheiro.

Então eles tinham algo em comum além dos cabelos loiros, Quinn pensou, deixando que Sam terminasse seu pudim silenciosamente. Ela franziu o cenho, pois não se lembrava de ter visto Sam durante o jantar, e ela andara com a família a sala do tal general dono da casa inteira um monte de vezes. Talvez ela estivesse ocupada demais fugindo dos outros garotos pra reparar em um só. Afinal, todos eram altos e loiros. Fugir de um significava fugir de todos.

— Você é um soldado? — indagou Quinn, tentando manter a conversa, uma vez que Sam terminara a sobremesa.

— Sim, eu sou. — Sam limpou a boca enorme com os dedos de modo bem indiscreto. Em qualquer outra pessoa, ela teria achado um ato nojento, mas em Sam era algo bonitinho. — Eu era da Juventude Hitlerista, me formei ano passado, e agora estou no exército. Seu pai é contador do meu. Eles concordaram que me trazer aqui seria a melhor forma de conseguir alguma promoção rápida.

Agora, Quinn vasculhava a mente em busca de algum momento em que encontrara um homem parecido com Sam Evans nas vezes em que fora ao escritório do pai. Infelizmente, ela não achou nenhum.

— Aparentemente, estou preso nessa profissão — Sam murmurou raivoso, encarando o chão.

Quinn arregalou os olhos. Nunca ela ouvira um jovem no exército dizer aquilo. Naturalmente, eles se concentravam em informá-la a quantidade de dinheiro que poderiam fazer. A maioria deles queria ir ao campo de batalha, lutar pela Alemanha. Fazer de tudo para que sejam notados não apenas pelas mulheres, mas também pelo Führer.

— Desculpe. — Sam pareceu perceber o que disse e olhou para os lados, assustado, esperando que uma bomba caísse sobre ele, ou que a Gestapo surgisse na sacada para prendê-lo. — Eu não deveria ter dito isso.

Ele é contra o sistema, Quinn pensou. Ela nunca encontrou uma pessoa que fosse contra Hitler — e, se tivesse encontrado, a pessoa não tinha lhe dito por medo. Em algum lugar daquela casa, seu pai deveria estar aos pulos, pois para Quinn Fabray, Sam Evans era o homem com quem deveria se casar.

— Não tem problema — disse, dando tapinhas de consolação no ombro dele. Era a primeira vez que tocava alguém desconhecido sem sua expressa permissão. Era uma sensação boa. Quinn se inclinou e sussurrou no ouvido do garoto: — Eu também não concordo.

Afastou-se, e Sam arregalou os olhos. Quinn provavelmente sabia o que ele deveria estar pensando: ela, filha de Russell Fabray, um dos empresários mais influentes no governo de Hitler, contra o Führer que o pai adorava, ou melhor, idolatrava? Parecia impossível, mas era a verdade.

Mas Quinn jamais contara aquilo para ninguém. Sempre ficava remoendo seus pensamentos enquanto seus pais riam dos judeus e dizendo que não era nada além do merecido o que estavam sofrendo. Sam era o primeiro a saber de sua posição política; ele era um cara bem importante agora.

— Bem incomum, tenho que admitir — Sam disse depois de um silêncio constrangedor. Quinn concordou com a cabeça. — Mas acho que é justo. Uma coisa compensa a outra, sabe?

Quinn riu da expressão seriamente risonha dele. Ela riu por uns bons minutos até Sam acompanhá-la. Deus, ela tinha que admitir que talvez nunca desse risada daquela maneira com as amigas da faculdade. Naquele momento, ela soube que Sam era o garoto certo.

— Quinn Fabray! — A voz de Russell fez a garota saltar do banco, se afastando alguns centímetros de Sam. Seu pai poderia adorá-lo, mas ser pega sozinha com um rapaz era quase um crime. — Está aí?

— Estou aqui, sim — Quinn respondeu, conferindo se a distância entre ela e Sam era segura. Como o garoto quase caía do banco, e ela também, tudo estava nos conformes.

Russell entrou na varanda, olhou para os lados e sorriu ao achar Quinn. Estreitou os olhos na direção de Sam, mas também sorriu ao vê-lo. Abriu os braços receptivamente para a filha, que se levantou tímida e caminhou para ele. Mas não queria deixar Sam sozinho.

— Vejo que conheceu Sam! — Russell trovejou animado, abraçando-a de lado. Quinn sentiu pena de Sam, que permanecia no banco, parado no mesmo lugar para onde ela o empurrara, corando furiosamente. — Olha só, o rapaz está ficando vermelho! — Russel riu.

Quinn quis enfiar a cabeça em um buraco e nunca mais sair.

— O que quer, papai? — Quinn mudou de assunto rapidamente, preocupada se Sam pudesse se transformar num molho de tomate por causa da vermelhidão que assumira seu rosto.

— Já vamos embora — o pai disse, agora mais sério. — Contratos estão fechados e outros estão sendo feitos. É claro, e alguns estão sendo promovidos. — Ele deu uma piscadela para Sam.

Quinn rolou os olhos, soltando-se do aperto de Russell. Uma ideia lhe ocorreu de repente. Ela precisava ouvir mais sobre Sam e as ideias que ele tinha. Precisava conhecê-lo melhor. Sam era mais misterioso e inteligente em uma conversa de meia hora que qualquer soldado que já conhecera.

Ela fez um sinal quase imperceptível para que Sam pudesse fazer alguma coisa, mover-se. Infelizmente, Sam parecia também ser o garoto mais lerdo que ela conhecera.

— Ah, sim! — ele exclamou, ficando de pé. Russell o encarou, curioso. — Senhor Fabray, se me permite, posso levar a senhorita Fabray até em casa?

Ela arqueou as sobrancelhas, fingindo surpresa. O pai pareceu considerar a ideia. Estava tarde e, mesmo com a polícia andando pelas ruas, era perigoso. Mas Sam era um soldado do exército alemão, o que deveria bastar para Russell, porque ele acenou animadamente com a cabeça e puxou Sam para um aperto de mão caloroso.

— Cuide bem dela, entendeu? — Quinn pôde ouvir o que Russell dissera a Sam e sufocou uma risada.

Russell largou um ainda perplexo Sam e se despediu dela com um beijo na bochecha.

— Vejo você mais tarde, Quinnie — ele falou, saindo da varanda.

Quinn aguardou que os passos de Russell fossem abafados pelo barulho vindo de dentro da casa para olhar para Sam, tentando segurar o riso.

— O que foi aquilo? — Sam indagou confuso, oferecendo o braço para que Quinn o acompanhasse.

— Minha forma de podermos conversar tranquilamente — respondeu Quinn, puxando o garoto para fora da sacada. — Agora vamos.


— Meu pai não é do exército, mas é bem favorável ao governo de Hitler — dizia Sam distraído, as mãos nos bolsos da calça, enquanto Quinn o observava atentamente. — O seu pai faz a contabilidade da confeitaria e, pelo que eu sei, os dois são bem amigos.

Quinn assentiu. Ela nunca vira o pai do garoto em nenhum dos inúmeros jantares que Russell dera ao longo dos anos. Ela sabia que Sam não poderia estar mentindo, por que seu rosto era a face da verdade; ele não conseguia esconder suas emoções muito bem.

— Eu estava na Juventude Hitlerista e entrei para o exército nesse ano — ele continuou, tropeçando em um ladrilho na rua. Quinn o segurou antes que pudesse cair. — É legal estar lá... mais ou menos. Eles dão comida e abrigo, e os garotos são divertidos.

Sam parou de chofre, fazendo com que Quinn quase se chocasse com ele. Sua expressão, antes calma e tranquila, tinha se transformado para uma séria demais para seu rosto infantil. Quinn franziu a testa, se perguntando o que acontecera.

— É horrível — disse, em um tom tão baixo que Quinn teve de se inclinar para poder ouvi-lo melhor. — Digo, o que os oficiais ensinam. Terrível. Os judeus são tratados como vermes, como se não fossem humanos. — Sam fez uma careta de desgosto. — Eu não acredito nisso, mas tenho que ficar de boca fechada. Outro dia, esse garoto apanhou somente por que disse que a avó era judia. Nunca mais o vi. Tem gente que diz que ele foi expulso.

Quinn engoliu em seco. As coisas eram piores do que imaginava. Como Russell era um fanático nazista, as informações que conseguia do pai eram sempre parciais ao partido de Hitler. Nunca era algo confiável. Mas com Sam ela podia ouvir, pela primeira vez, um lado não corrompido daquele país.

Sam voltou a andar, com Quinn quase correndo para acompanhá-lo. Ela conseguiu se postar ao lado dele, mas o garoto estava novamente calmo e aparentemente não queria falar mais nada. Ela entendia. Quinn sabia o que era ter medo de dizer algo e se arrepender.

— Viramos a esquerda agora — ela guiou quando Sam tentou ir à direção contrária. Quinn pegou seu braço e sentiu um arrepio percorrer o corpo. Sam era quente, mesmo por cima da farda pesada.

— Ah, sim — Sam murmurou envergonhado, deixando que ela o guiasse pela rua.

Do fim da rua, Quinn podia ver sua casa, relativamente menor que a do general que visitara essa noite. Estreitou os olhos para poder ver que apenas a luz da sala estava ligada. Imaginou o pai lendo pela milésima vez Mein Kampf na poltrona à sua espera.

Confiante de que Russell não a faria passar vergonha ou fazer seu novo amigo parecer um tomate maduro, ela caminhou mais perto de Sam. Nenhuma palavra foi dita durante o curto trajeto. Ela tirara umas boas informações de Sam, mas um segundo encontro pudesse dar a ele mais liberdade e segurança para falar mais.

— Bem, aqui nós estamos — Quinn disse timidamente, apontando para o portão bem adornado no final da rua.

Sam sorriu envergonhado, encarando o chão vivamente. Quinn agiu por impulso: puxou o garoto pela gravata e deu um beijo em sua bochecha, sem se importar se seu pai estivesse na janela da frente espiando. Sentia como se fosse uma recompensa por Sam ter sido tão gentil e adorável com ela.

— Boa noite — Sam disse, as orelhas vermelhas. — E-eu... Podemos nos ver novamente? É... Q-qualquer dia... eu não sei...

— Terça à noite — decidiu Quinn rapidamente. Ela sorriu e Sam retribuiu. Os olhos dele brilhavam mais que o luar em cima deles. — É meu aniversário, você deveria vir para celebrar comigo.

Eles permaneceram se fitando por mais alguns minutos sem dizer nada, até que Russell Fabray apareceu no batente da porta de entrada, pigarreando para chamar a atenção de Quinn.

— Vamos, Quinnie — ele disse.

Quinn finalmente desviou o olhar, pela primeira vez irritada com alguém que interrompia uma conversa sua com um garoto. Ela deu um beijo na bochecha de Sam novamente e saiu saltitando para entrar em casa. Entrou primeiro e deixou que o pai fechasse a porta. Ao olhar pela janela, Quinn viu um confuso Sam dar meia volta e sair da propriedade deles aos tropeços.

— Gostou dele, hein? — Russell indagou com um sorriso afável ao ver Quinn, ainda aos pulos, subir as escadas.

— Ele é um bom garoto — ela respondeu contente. — Vou vê-lo de novo na terça.

Sem esperar um comentário do pai, Quinn correu para seu quarto, pronta para escrever o que Sam lhe contara em seu caderno.


Quinn encontrou-se com Sam na festa de seu aniversário como prometido. Também o viu na quinta-feira, na sexta e passou uma tarde muito divertida com ele e seus irmãos no sábado. Ela sabia que não deveria vê-lo tanto em tão pouco tempo, mas simplesmente não conseguia evitar: Sam era um menino muito educado e timidamente charmoso.

Ela descobriu muitas coisas sobre o garoto. Por exemplo, a cidade natal dele era Frankfurt, mas mudara-se para Berlim aos doze anos de idade. Ele fora um dos primeiros a se alistarem na Juventude Hitlerista — não que o garoto soubesse o que estava fazendo à época. Ele gostava muito dos filmes americanos, embora a distribuição na Alemanha fosse bem escassa. Sam adorava seus irmãos mais novos, uma coisa que ela nunca fora capaz de entender, já que Frannie a tratava como um objeto de muito mau gosto comprado pelos pais.

O melhor de estar estabelecendo laços com Sam era que Russell o aprovava, ou seja, deixava Quinn ir para todos os lugares, contanto que Sam estivesse com ela, é claro. Assim, ela passou seu aniversário com o garoto, e três maravilhosas semanas de suas férias de verão. Sam não a forçava com nada — beijos, e seja lá o que as mulheres faziam com os homens por aqueles dias —, apenas se contentava em abraçar Quinn de lado e agarrar a sua mão como se sua vida dependesse disso.

As Olimpíadas seriam em uma semana, e Quinn estava animada, pela primeira vez. O evento mobilizara Berlim nos últimos meses e tudo o que ela queria fazer, como amante de artes e esportes, era presenciar a abertura. Talvez tenha sido o único momento em que ela pedira ao pai para que usasse sua influência no governo e conseguir alguns ingressos. Russell, como sempre, não decepcionou e trouxe para casa, alguns dias antes do primeiro dia, dois pares de ingressos para o camarote pessoal de Hitler.

— Uau, pai! — exclamou Quinn animada, considerando em dar ao pai um abraço. — Isso é incrível!

— O quinto ingresso é para Sam — Russell confidenciou quando a garota o abraçou. Quinn franziu o cenho; seu pai deveria gostar muito do garoto. — Mas não conte a Frannie, deixe que ela descubra no dia. Ela ainda está chateada por que seu marido irá trabalhar na abertura.

— Eu sei — Quinn comentou, se desgrudando do pai com os dois pares de ingressos na mão. Finalmente seria superior à irmã em alguma coisa, Quinn pensou sorrindo.

Sam não queria o ingresso primeiramente. Falou que era grande a honra de Russell tê-lo convidado, mas que não podia ir. Quando Quinn perguntou o porquê, o garoto se enrolou nas palavras, ficou vermelho feito um tomate e mexia as mãos ruidosamente. Foram muitos minutos cansativos para Quinn até que ela o convencesse plenamente que seria um evento divertido, que eles poderiam conhecer alguns americanos e o próprio Führer.

— Você não tem medo? — ele sussurrou de repente, os olhos fixos nas mãos de Quinn sobre as suas. — Digo, nós o odiamos.

— Ele não olha nos olhos da pessoa quando conversa — disse ela, displicente. — Ou talvez olhe, eu não sei. Mas eu sou uma ótima atriz, inclusive tomei aulas de teatro semestre passado na universidade.

Ela deu um sorriso sedutor, empurrando o garoto com o ombro, apenas para provocá-lo. Sam abaixou a cabeça e forçou um sorriso. No segundo seguinte, ele balançou a cabeça em concordância ao pedido de Quinn. A garota tirou as mãos das de Sam e jogou seus braços sobre ele, beijando sua bochecha. Algumas senhoras que passavam os encararam em tom de reprovação.

— A abertura é em uma semana — ela disse. — Mas como te verei amanhã, e nos próximos dias, eu vou te lembrar disso todos os dias.

Sam riu, ainda com a cabeça baixa, tentando limpar os restos do batom de Quinn em seu rosto. A garota levantou-se e despediu dele com mais outro beijo, na bochecha direita dessa vez. Tentou conter pulinhos enquanto ia para casa, mas não conseguiu.

Ela iria ver a abertura das Olimpíadas!


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam desse primeiro capítulo? Espero que eu tenha deixado claro o suficiente que a garçonete que serve Quinn na festa do general era a Rachel. A primeira vez em que ela vê Rachel e não dá muita importância, pois logo conhece Sam. Ainda estou em dúvida se colocarei algum capítulo contando a estória de Rachel, pois quando eu planejei a fic, tinha pensado apenas no lado da Quinn.
Enquanto eu penso no ponto de vista da Rachel, deixem seus comentários com elogios ou xingamentos e vejo vocês semana que vem com mais um capítulo!
Beijos e até lá :)