1942 escrita por GabanaF


Capítulo 3
Capítulo II — Olimpíadas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Espero que bem. O capítulo de hoje foi simplesmente uma das coisas mais divertidas que eu já escrevi, e logo vocês entenderão por que. Agradeço aos reviews e bem, espero que gostem!



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Agosto de 1936

A bicicleta de Sam parou na porta da casa de Quinn três horas antes da abertura começar. Ela sorriu de seu quarto quando ele se atrapalhou com as cordas que prendiam a bicicleta nas grades do portão e tocou na campainha, balançando-se nos pés timidamente.

— Eu atendo! — ela gritou do andar de cima, se perguntando se o garoto poderia ouvir aquilo. Quinn passou correndo pelo quarto da mãe, onde ela e sua irmã estavam e pôde escutar risadas debochadas. Quinn as ignorou, apressando o passo.

— Sam! — A voz de Russell ecoou por toda a sala, e Quinn xingou a si por não ter chegado a tempo. Agora, Russell usaria Sam para obter as informações que queria sobre a filha, além de envergonhá-lo. — E o senhor, como está?

— Bem, senhor Fabray — Sam respondeu, a voz saindo como um fiapo.

Observando dos degraus da escada principal, Quinn balançava a cabeça negativamente, tentando controlar o riso diante da expressão de completo medo de Sam. Quantas vezes Quinn já tinha pensado, desde o momento em que o conhecera, o quão adorável Sam era? Provavelmente muitas.

— Russell para você, meu filho — o pai de Quinn disse, puxando Sam para dentro de casa e acenando para que a filha descesse de onde estava escondida. Quinn ajeitou a barra de seu vestido florido e sorriu a Sam.

Infelizmente, Sam tinha medo de fazer qualquer movimento perto de Russell ou que causasse alguma aproximação dele; por isso, Quinn teve de se aproximar e tirá-lo do aperto de ombros que o pai lhe dava e estender seus braços para um abraço caloroso. Ciente de que Russell os observava com um sorriso maníaco no rosto, Quinn somente ficou entre os braços de Sam, acariciando suas costas.

— Alguma coisa? — sussurrou ela quando Russell finalmente percebeu que sua presença não era mais importante no hall da casa e se juntou à mulher e à outra filha para ouvir o noticiário do meio-dia no rádio da cozinha.

— Não — Sam respondeu abatido, puxado pela garota e sentando ao lado dela no sofá confortável dos Fabray. — Todo mundo anda muito animado com as Olimpíadas, no entanto. Levantou os ânimos deles, eu acho. Foi bom.

Quinn assentiu, apertando as mãos de Sam contra as suas, como sempre fazia quando ele mencionava alguma coisa que tinha relação ao exército. Sam nunca contara, mas Quinn sabia que o fazia sentir mais relaxado e apto a dizer qualquer coisa.

As notícias de Sam não tinham mudado na última semana. Elas geralmente envolviam as Olimpíadas e sobre o trabalho dos militares na cerimônia, que o garoto descrevia como “cansativas e difíceis”. Sam não deveria nem estar de folga naquele dia — ele só tinha conseguido pois o pai de Quinn falara com seu comandante.

— Eu nunca vi você de terno — ela disse de repente, sabendo que o que acabara de falar viera do nada.

Sam franziu a testa para ela, provavelmente pensando que Quinn era maluca. Depois, olhou para o próprio corpo; ela o seguiu. O terno de Sam era num tom cinza-claro; ele também usava um colete cinza e uma gravata preta. Os sapatos de Sam eram os mesmos dos dias normais de farda, mas tinham um brilho excepcional, pelo menos na cabeça dela. Quinn notou também que o garoto carregava um chapéu-coco, deixado na beirada do sofá quando Sam pegou sua mão.

Os encontros de Quinn e Sam usualmente aconteciam durante o crepúsculo, logo após a saída do garoto do quartel. Quinn o vira com as duas fardas que ele tinha, e gostava muito da tranquilidade que Sam a passava ao usá-las, ao contrário dos outros garotos do exército, cujo objetivo maior impressionar as pessoas com seus “poderes” militares.

— Você está ótimo — disse Quinn, o que fez Sam corar fortemente.

— Você está bonita também — disse o garoto em voz baixa, mas olhou profundamente nos olhos de Quinn.

A garota fraquejou. Sam nunca tinha a olhado daquela forma. Ela sentiu o coração palpitar exageradamente mais rápido, apertando ainda mais a mão de Sam nas suas. Quinn sabia que deveria beijá-lo, em sua sala de estar, mas de repente pareceu errado. Os seus pais e sua irmã estavam no outro cômodo ouvindo o noticiário, o que pensariam dela se a encontrasse com Sam aos beijos?

Russell provavelmente colaria os dois com fita isolante, para que ficassem grudados para sempre, ela pensou. Frannie a olharia com uma inveja detestável, pois seu marido ariano e perfeito estava trabalhando nas Olimpíadas. E Judy... Bem, Quinn suspeitava que ela fosse pegar a fita isolante para seu pai.

Tudo isso passou pela sua cabeça como um borrão. Quinn ainda fitava Sam profusamente, sentindo a respiração e o hálito de menta dele cada vez mais próximo do seu rosto. Ela podia inclusive ver as sardas das bochechas do garoto. Quinn queria beijá-lo, muito.

— E-eu não acho que deveríamos fazer isso. — Sam se afastou de Quinn abruptamente, e a garota se xingou mentalmente.

— Por que não? — ela perguntou, sinceramente curiosa. O rosto de Sam voltava a ficar vermelho.

— Não... — Sam murmurou, confuso. Depois, balançou a cabeça e falou mais claramente: — Quero dizer, não agora. Você é linda, Quinn, maravilhosa. Mas não acha muito cedo?

Muito cedo? Sam era mesmo o garoto mais adorável do mundo, ela pensou com um sorriso. Quinn tinha amigas na faculdade que tinham começado a namorar muito antes do terceiro encontro — o que era uma ofensa para toda a sociedade alemã.

— E seu pai está a menos de dez metros daqui — ele acrescentou num sussurro apavorado. Quinn percebeu naquele momento que Sam temia Russell tanto quanto temia as tropas da Gestapo.

— Ótimo — Quinn disse a contragosto, deixando que sua cabeça pendesse no ombro dele. — Você é, de longe, o garoto mais educado que já conheci.

Quinn sentiu o rosto quente de Sam quando o garoto agradeceu o comentário com um beijo delicado em sua testa.


— Isso é incrível! — Frannie exclamou animada na entrada do estádio, o que traduzia muito bem os sentimentos de Quinn.

Pessoas zanzavam para lá e para cá no estacionamento, algumas carregando bandeirolas de outros países, outras sacudindo a bandeira antiga da Alemanha; para qualquer lugar que Quinn olhava, porém, ela via a suástica tremeluzindo diante da brisa leve. Apontou isso para Sam, mas o garoto apenas deu de ombros. Assim como ela, estava animado demais com o evento para poder falar mal de Hitler por aí.

Russell os guiou para os fundos do estádio, onde ficavam as entradas para a parte mais alta das arquibancadas. Os civis começaram a rarear e os militares aumentaram consideravelmente. Quinn perdeu a conta de quantas vezes teve de se desgrudar do braço de Sam para levantá-lo em uma saudação aos oficiais que encontravam no caminho. Ela esqueceu-se de Hitler e seus planos e tramoias quando deu o primeiro passo para dentro do estádio Reichssportfeld.

Seu queixo caiu ao observar, lá de cima, vários pontinhos pretos ocupando as arquibancadas mais baixas; outros maiores, do outro lado do estádio; e os de tamanho natural, ao lado do camarote presidencial, que olhavam para a família Fabray desapontados por eles não serem os Hitler.

Aquilo tudo era espantoso. Quinn não conseguia falar nada; seu rosto demonstrava muito bem o que seu coração estava sentindo. Sam apertou sua mão de leve e ela retribuiu, agradecida. Ela poderia xingar Hitler e pensar que o ditador iria destruir a Europa com uma segunda Grande Guerra, mas tinha que admitir que ele talvez fosse um gênio.

Um dominador das palavras. Era o que Hitler era, um orador nato.

— O estádio está enchendo — Sam disse em seu ouvido enquanto eles sentavam nos lugares marcados. — Daqui a pouco.

Quinn mal podia esperar. Também teria início às competições de atletismo, a maior razão para Sam estar com ela. Sam idolatrava Jesse Owens, o grande corredor americano. Para falar a verdade, ela pensava que o garoto gostava de qualquer pessoa vinda dos Estados Unidos. Ele não era muito bom em inglês, no entanto, e pediria a ajuda à Quinn se por acaso Jesse ganhasse e fosse até o camarote receber sua medalha.

O camarote se enchia gradualmente, assim como o estádio. Judy e Frannie conversavam entre si enquanto Russell se esquecia da família e falava sobre negócios com os outros homens que chegavam. Quinn e Sam cumprimentavam com sorrisos cada pessoa que entrava, falando sobre as bandeiras do partido nazista que algumas pessoas balançavam contra o vento aos cochichos.

Quinn olhou no relógio e viu que faltava menos de cinco minutos para a abertura. Hitler ainda não estava entre eles. Ela se perguntou se algum nacionalista inglês o tinha matado.

As pessoas lá embaixo começaram a apontar para o camarote. Ela franziu a testa, mas Sam a cutucou no braço, os olhos fixos num ponto acima de seu ombro. Quinn abriu um sorriso diante da expressão dele, e virou-se para descobrir o que ele tanto encarava.

Hitler acenava para algumas pessoas da beirada do camarote; os olhos de sua tropa pessoal aparentavam colocados em cada ser humano que estava no estádio. O Führer sorriu e cumprimentou alguns de seus convidados — Quinn percebeu os olhos de seu pai marejados quando o ditador apertou sua mão — e sentou no lugar mais inapropriado que ele deveria sentar.

Ao lado dela.

O corpo de Quinn congelou. Engoliu em seco, apavorada. Sam apertou sua mão com mais força, mas Quinn não sentiu no momento. A tropa pessoal de Hitler se acomodou nos lugares faltantes do camarote enquanto o Führer continuava sorrindo e acenando para a plateia.

Hitler virou-se para Quinn, surpreso por vê-la ali e acenou com a cabeça para ela. Quinn tentou forçar um sorriso, mas o que acabou saindo foi uma careta estranha. Sam cumprimentou o Führer com mais naturalidade que ela, o que a garota achou uma afronta à suas aulas de teatro.

— Espero que você não continue as aulas de teatro — murmurou Sam divertidamente em seu ouvido, fazendo Quinn dar-lhe um soco em seu ombro.

Ele não entendia. Quinn estava ao lado do homem que odiara por três anos, desde que ele entrara no poder. Seus pensamentos voavam a momentos em que ela passara xingando-o mentalmente, ou nos últimos dias xingando-o com Sam clandestinamente. Quinn sabia que Hitler era a pessoa mais influente da Alemanha no momento, e rumores falavam por aí que ele tinha poderes ou algo do tipo. Ela só esperava que ele não pudesse ler mentes.

Uma voz preencheu todo o estádio e Quinn se esqueceu do Führer ao seu lado. Era o narrador, anunciando os primeiros participantes dos países que estariam nas Olimpíadas. A garota se inclinou para frente a fim de ver os atletas lá embaixo, observando os estandartes dos países tremularem ao vento fraco do dia.

Sam agarrou o seu braço assim que a bandeira americana entrou no estádio, apontando freneticamente para o grupo de atletas que iam à frente. A maioria deles era negra, e um mais alto e mais forte parecia os comandar. Quinn sabia quem ele era antes mesmo de Sam sussurrar o nome dele, impressionado.

— Jesse Owens. Aquele é o Jesse Owens!

Hitler mudou a atenção do campo para Sam ao ouvir o nome dele, levantando as sobrancelhas curiosamente. Quinn engoliu em seco. Sam, por outro lado, não viu a reação do Führer, e continuou aplaudindo os atletas americanos freneticamente.

— Ele não vai gostar muito quando nossa seleção ganhar de todos, não é? — Hitler disse comicamente, sorrindo afavelmente para ela.

Quinn abriu um sorriso forçado e concordou com o homem. Ela observava Hitler atentamente, e percebeu que seu sorriso não chegava a seus olhos frios. Ela pegou a mão de Sam displicentemente, esperando que Hitler não mandasse o garoto para a prisão assim que saíssem do estádio por causa de seu entusiasmo.

O desfile com as nações durou pouco mais de uma hora. Quando terminou, Quinn estava cansada de gritar e ouvir os gritos da multidão. Os atletas alemães foram os últimos a entrar, levando o povo do estádio à loucura. O Führer bateu palmas de forma educada, aprontando para subir ao palco em sua frente.

A voz do narrador ecoou por todo o estádio de novo, anunciando o discurso de Hitler. O homem acenou novamente para a população dali e postou no palco, pigarreando. Sam parou de esticar o pescoço a fim de ver melhor a seleção americana e estreitou os olhos, assim como Quinn. Todos estavam esperando as palavras do Führer.

Quinn sempre ficava impressionada com os discursos de Hitler. O homem era um gênio, ela sabia. Um gênio do mal, mas ainda um gênio. Ali, no estádio, não foi diferente. Hitler tinha cada pessoa ali dentro nas mãos, somente com suas palavras. Até Sam estava de boca aberta.

Ele e Quinn escutavam atentamente as promessas e os trabalhos feitos pelo governo nos últimos anos e tinham que admitir: o que Hitler tinha feito era impressionante. A Alemanha tinha se levantado de uma perda terrível da Primeira Guerra e a crise de poucos anos antes. Países do mundo inteiro se perguntavam o que o país tinha feito.

Hitler tinha a resposta na língua: o fascismo. Derrotar as pessoas socialistas; fazer do mundo um lugar organizado e pacífico à medida de uma coisa: o medo. E, embora achasse um erro, Quinn admirava isso.

O Führer parou de falar, levantando o braço na famosa saudação do partido nazista. O que aconteceu no Reichssportfeld depois a deixou de boca aberta. Cem mil mãos direitas ergueram como se fosse uma só. Quinn também foi obrigada a fazer a saudação, mas a garota estava tão impressionada com o feito das pessoas do estádio que nem se importou em ser mais uma na massa.

Quando desceu do palco, Hitler sorriu amigavelmente a ela. Sam a encarou curioso mas logo esqueceu quando o narrador anunciou as competições de atletismo para dali a meia hora.

— Jesse Owens vai acabar com essa pista — disse Sam animado. Quinn olhou para Hitler, apenas por precaução. Para sua sorte, ele não tinha escutado.

Internamente, Quinn esperava que Sam estivesse certo.


A face do Führer ficava vermelha à medida que os minutos passavam. O homem apertava o assento de sua poltrona com firmeza, os olhos fixos no corredor negro na pista. Quinn entendia por que ele não estava feliz: os atletas alemães haviam perdido todas as corridas até ali. Sam estava certo, Jesse Owens liderava as pistas.

Do lado direito de Quinn, Sam não estava mais sentado. Apoiava-se na grade do camarote, gritando em incentivo à Jesse. Quinn adoraria pedi-lo para diminuir o entusiasmo, mas permanecia encarando Hitler, que de vez em quando voltava o olhar da pista para Sam irritadamente.

No banco de trás, Quinn podia ouvir Judy e Frannie reclamando dos lugares onde estavam e reprovando o comportamento de Sam. Mas os gritos do estádio sobrepunham tudo o que os outros diziam duas ou três cadeiras para os fundos do camarote.

O estádio rugiu mais uma vez quando o revólver foi escutado, que dava início a outra corrida. Sam quase pulou para fora do camarote ao ver Jesse pegar a dianteira novamente e, segundos mais tarde, alcançar a linha de chegada em primeiro.

Quinn não sabia dizer se os gritos das pessoas no Reichssportfeld eram de apoio ou puro descontentamento, mas estava feliz por essa ser a última corrida do dia. Ao seu lado, a expressão de Hitler era lívida. Ele não acreditava que os “bem treinados” atletas alemães haviam perdido, e, sinceramente, nem ela. Pelo o que soubera, ninguém seria páreo para os soldados alemães.

E agora, os três primeiros colocados subirão ao camarote para receber suas medalhas! — o locutor disse.

Sam virou o rosto para Quinn, parecendo um filhote animado. Ela não resistiu e sorriu ao garoto. Hitler, por outro lado, lançou a Sam um olhar enfurecido. Quinn se preocupou com o que poderia acontecer com ele.

Os três medalhistas chegaram ao camarote minutos mais tarde, Jesse os liderando com um sorriso enorme no rosto. Sam saltou de seu lugar antes mesmo do locutor anunciar novamente os ganhadores. Quinn, enquanto puxava Sam de volta ao assento, se simpatizou com Jesse; ele tinha um porte de causar inveja em qualquer alemão e também possuía uma aura que inspirava felicidade. Quinn adoraria conhecê-lo melhor.

Jesse passou pelas fileiras cumprimentando os militares, políticos e empresários que estavam ali — ou pelo menos tentou, já que metade dos homens o ignorou. Ao chegar à primeira fileira, um oficial de Hitler também lhe virou o rosto para apertar a mão do segundo colocado mais alegremente.

Hitler levantou, agradeceu ao homem que carregava as medalhas e pôs a de bronze no garoto à sua esquerda, apertando a sua mão. Sam, ainda em choque pelo aperto de mão com o atleta, se agarrava ao braço de Quinn tão forte que chegava a doer. O Führer também apertou a mão do segundo colocado e parou na frente de Jesse, olhando-o friamente.

Jesse se inclinou para receber a medalha de ouro e Hitler a pôs ao redor do pescoço dele, sem expressão. Quinn prendeu a respiração quando ele estendeu a mão e Hitler virou as costas, saindo do camarote prontamente.

Aparentemente, as pessoas do camarote foram as únicas a verem tal feito do Führer, pois o estádio explodiu em vivas e gritos animados quando o locutor terminou sua transmissão após dizer a programação do dia seguinte. Sam correu para o primeiro colocado, que não parecia ter sido afetado pelo ocorrido e continuava com um sorriso no rosto. Ela o acompanhou, pois sabia que, mesmo se Sam conhecesse a língua dos EUA, não conseguiria falar muita coisa com nexo.

— Você é o máximo! — dizia Sam em alemão a Jesse quando ela o alcançou. Quinn lançou um olhar ao pai, mas ele estava se despedindo dos amigos nazistas, então eles teriam um tempo a mais com Jesse.

— Sam está dizendo que você foi muito bem durante a corrida — ela disse em inglês para tentar desfazer a expressão confusa de Jesse.

Sam acenou afirmativamente para o que Quinn dizia.

— Ah! — Jesse exclamou, sorrindo novamente. — Muito obrigado. Sabe, têm sido muito complicado por aqui. A língua de vocês é terrível!

Quinn concordou, sorrindo amigavelmente. Sam dava pulinhos ao seu lado, provavelmente querendo saber o que os dois conversavam. Ela, para falar a verdade, estava louca para perguntar o que Jesse sentira ao ver o Führer dando-lhe as costas, mas se conteve. Pela forma que Jesse agia, parecia que tinha levado coisa pior que aquilo. Quinn não sabia de quem sentir mais vergonha, Jesse ou Hitler.

— Quinn, pergunta se eu posso tocar na medalha! — sussurrou o garoto animado no ouvido dela, fazendo os pelos da sua nuca eriçar.

Quinn traduziu o que Sam dissera a Jesse e ele riu. Rapidamente, o rosto de Sam se tornou vermelho vivo. Jesse tirou a medalha em torno do pescoço e a entregou a Sam, que parecia maravilhado ao tocá-la.

Ela olhou ao redor e reparou que eles eram os únicos falando com Jesse ou querendo falar com ele. A maioria das pessoas já estava saindo — o seu pai, porém, permanecia conversando com o mesmo homem há minutos. Os que continuavam no camarote pediam para os segundo e terceiro colocados que assinassem seu caderno de autógrafos.

Quinn perguntou aonde seu país chegaria com tanto preconceito — e se Sam tinha trazido algo para Jesse assinar.

Respondendo pelo menos uma de suas perguntas, o garoto tirou uma folha amassada e uma caneta de dentro de seu terno e estendeu-as a Jesse. Ele abriu outro sorriso enorme e perguntou a Sam qual era seu nome em um alemão quase perfeito.

— Sam Evans — o garoto respondeu, espiando Jesse escrever seu nome e mais outras palavras na folha. Sam ainda segurava a medalha com firmeza.

— Aqui. — Ele estendeu a folha autografada e a caneta, em troca da medalha; Sam as pegou com as mãos trêmulas. — Foi bom conhecer você, garoto.

Quinn traduziu e Sam sorriu, apertando a mão de Jesse de novo e orgulhosamente. O atleta também a cumprimentou antes de ir, com um olhar diferente no rosto. Nem ela ou Sam sabiam naquela época, mas os dois tinham mudado a vida de alguém.


— Foi um passeio ótimo, pai — Frannie disse, seguindo os pais de perto, deixando Sam e Quinn um pouco para trás. Eles saíam do camarote, acompanhados por alguns oficiais e soldados que os escoltavam.

— Kurt! — exclamou Sam, ignorando Russell e os comandantes e cumprimentando um garoto franzino de bochechas rosadas no final da fila de soldados. — E... Finn! Não sabia que vocês estariam trabalhando hoje.

Sam abraçou um perplexo Kurt e o garoto alto ao seu lado, que a garota supôs ser Finn. Russell parou alguns metros à frente, notando o sumiço de Quinn; ela fez um pequeno sinal, pedindo para ele aguardá-los. Quinn viu Frannie revirar os olhos.

— Pois é — respondeu Kurt dando de ombros, ajeitando a pistola que carregava em um coldre na cintura. — Todo o pelotão foi escalado.

Quinn achara Kurt frágil demais para estar em uma das tropas especiais das Olimpíadas. Se não usasse o uniforme do exército alemão, poderia jurar que o garoto não passava dos doze anos. Finn, o mais alto, também tinha a cara de bebê — o que seria fofo se ele não tivesse quase dois metros de altura.

— Você assistiu à cerimônia? — perguntou Finn, a voz grossa.

— Os Fabray me convidaram, então eu vim... — O rosto do garoto ficou gradualmente vermelho. Sam abaixou os olhos, provavelmente se sentindo culpado, quando Quinn resolveu intervir:

— Sam é um grande fã de Jesse. Não poderia deixá-lo de fora.

Finn abriu um sorriso maroto. Sam corou ainda mais.

— Espero que ninguém saiba disso no quartel, Sam — Kurt disse com uma risadinha nervosa. Quinn franziu a testa, percebendo que não ajudara nada em Sam falando aquilo. Para uma garota inteligente como ela, definitivamente hoje não estava agindo como tal.

— É... Nós precisamos ir — Quinn falou após pigarrear, puxando Sam para longe de Kurt e Finn, que acenaram animadamente. — Quinn Fabray. Meu nome é Quinn — ela se apresentou, imaginando que era o necessário a se fazer.

— Vamos, meu bom oficial! — exclamou Russell, englobando Sam em um abraço paternal assim que ele e Quinn se aproximaram.

Ele abriu a boca para tentar falar algo, mas não conseguiu. Quinn estava igualmente chocada. Oficial...? Isso significava que seu pai...

— Você poderá começar seu treinamento a partir de segunda — o pai de Quinn disse, dando tapinhas orgulhosos nas costas de Sam.

Sam abriu e fechou a boca várias vezes, a voz presa na garganta. Quinn abriu um sorriso incrédulo enquanto seu pai os empurrava para dentro do carro. Quinn sentou ao lado da irmã, que tinha um olhar de pura inveja no rosto. À sua direita, o garoto ainda não conseguia dizer nenhuma palavra.

Sam conseguira uma promoção. Russell poderia ser um nazista e um maníaco, mas era o melhor pai do mundo. Bem, não para o marido de Frannie, mas... Quinn abraçou Sam de lado, não se importando em estar no carro com o pai, e o beijou. Na boca, para sua surpresa e a do garoto. Sam fora promovido! De soldado diretamente a segundo-tenente. Que honra.

Embora ele estivesse cada vez mais perto de Hitler, Quinn não se preocupou com isso no momento.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Hitler é uma das figuras históricas que eu mais admiro (lembrando que eu concordo plenamente com a Quinn, ele era um gênio maligno, mas ainda assim um gênio) e, bem, a maior razão de eu ter colocado esse capítulo foi para ver uma interação da Quinn com ele :D
No próximo capítulo... ainda estaremos em 1936, mas tenho uma pequena surpresa (((Faberry))) para vocês! Então, comentem o que acharam desse capítulo, com seus elogios e/ou xingamentos e até semana que vem.
Beijos e até lá!