1942 escrita por GabanaF


Capítulo 13
Capítulo XII — Cartas


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente, tudo bem? Eu espero que sim, e mais uma vez eu me desculpo antecipadamente por demorar tanto com esse capítulo. Como eu vinha falando, a faculdade consumia meu tempo todo, só que finalmente agora estou de férias e posso postar com mais frequência, tanto aqui quanto na minha outra fic.
Queria agradecer a vocês pelo carinho e por gostarem da fic e por comentarem. Graças a vocês, a fic chegou a 100 reviews e eu não podia estar mais feliz! É um belo presente de Natal, para falar a verdade. Agora, como uma retribuição, vou deixar vocês lerem esse capítulo, que tem boas e (um tanto) más surpresas... Vejo vocês lá embaixo e boa leitura!



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Outubro de 1942

Querida Brittany,

Há meses prometi enviar uma carta a você, mas devido às circunstâncias, que você muito bem conhece, não me foi permitido que fizesse isso.

Sinto sua falta, minha querida amiga. A guerra nos separou e temo que nunca mais possa vê-la — este simples pensamento me entristece. Sinto falta das nossas noites em que falávamos sobre tudo e o que nos dava na cabeça. Sinto falta dos seus abraços e da sua companhia.

No entanto, não é sobre isso que venho lhe falar. Lembra-se da noite antes do meu casamento? Lembra sobre o que conversamos naquela noite? Pois eu lembro vivamente do assunto que abordamos até hoje. Fico com o pensamento nas nuvens de vez em quando e me recordo daquela conversa que mudou minha vida.

O que falamos naquela noite? Aconteceu. De verdade. Eu ainda não consigo acreditar, mas sim, foi real e foi um dos melhores momentos da minha vida. Agradeço a você piamente por aquela conversa, mas ainda tenho minhas dúvidas e queria saber mais sobre esse acontecimento mágico.

Abraços da sua eterna amiga,

Quinn Fabray.

Quinn leu e releu a carta até seus olhos arderem. Parecia mais uma menininha de Ensino Médio do que uma mulher de 26 anos formada na faculdade, mas isso não importava. Se fosse outra pessoa, um comandante do exército procurando por cartas de espiões Aliados, daria para perceber que estava apaixonada por uma judia escondida em seu porão e que a beijara?

Ela até daria a carta para que uma de suas empregadas lesse, mas seria embaraçoso demais se elas perguntassem qual era o conteúdo da carta — se desse para Rachel, então, a garota ficaria louca ao saber que Quinn queria dar uma bandeira dessas para que os alemães fossem visitar sua casa de novo.
Não que ela não entendesse o perigo que estava se metendo ao enviar uma carta dessas para alguém na Suíça, mas Quinn precisava de uma segunda opinião naquela confusão toda que era seus sentimentos por Rachel Berry.

Uma semana tinha se passado desde o bombardeio Aliado. O foco dos ingleses agora era o sul da Alemanha, e por isso Strausberg poderia ser considerada segura por enquanto. O ataque danificara muitas casas em sua rua e na vizinhança, porém, por algum milagre, a casa de Quinn ficara intacta.

Ela queria poder dizer o mesmo da sua relação com Rachel.

Hans e Evelyn tinham voltado de Munique no dia seguinte ao bombardeio e perceberam na hora que o estrago que não tinha acontecido na casa dos Evans tinha feito no interior de Quinn e Rachel. A judia era intensa ao demonstrar seus sentimentos, e com a recusa de Quinn de ficar mais no porão durante as noites deixou claro que alguma coisa muito séria estava acontecendo. As empregadas não queriam interferir naquela confusa relação de amor e ódio que as duas compartilhavam, mas dava para ver em seus olhos que elas queriam ajudar sua patroa a recuperar o que tinha com Rachel.

Por esse motivo, Quinn estava escrevendo aquela carta. Ela nunca tinha ouvido falar de alguém homossexual até Brittany contar que gostava da filha da empregada. Russell sempre falava tão bem dos homossexuais quanto falava dos judeus, e mesmo ao crescer e criar uma visão política própria, ainda não sabia o que sentir em relação a eles. Será que Rachel tivera uma educação diferente da sua? Será que ela se aceitaria mais rapidamente que Quinn?

Bem, Quinn pensou ao selar a carta com o símbolo dos Fabray (uma coruja segurando um pergaminho que Russell jurava ser o documento que aprovava a Alemanha como um país unificado), Rachel não negara seu beijo nem a expulsara ou a jogara para longe. Havia alguma coisa boa nisso tudo, afinal de contas.

Uma semana depois e Rachel Berry ainda não acreditava que tinha beijado Quinn Fabray.

Noah iria rir da sua reação. Depois, perguntaria se ela estava falando sério e, por fim, a abraçaria e a chamaria de vencedora por finalmente admitir que estivesse apaixonada por Quinn. Rachel podia até ver o rosto sorridente do garoto na sua frente.

A memória fez seu coração doer. Ela nunca tinha reparado no quanto sentia falta de Noah, das suas palhaçadas, dos seus momentos sérios, do seu talento com o violão… Das suas dicas sobre como fazer garotas judias se apaixonar por você perdidamente. Cada lembrança doía mais que dias de trabalho árduo no campo de concentração.

Contudo, ao mesmo tempo em que sentia falta do melhor amigo, Rachel estava feliz por ele. Noah escapara.

Noah estava livre para viver sua vida na Inglaterra ou nos Estados Unidos ou qualquer lugar que ele desejava morar. Noah sairia dessa guerra vivo, sem ser um sobrevivente dos campos de concentração, da segregação, do preconceito doentio dos alemães para com os judeus. Noah era um garoto livre para ser o que bem entendesse, e Rachel estava feliz por ele, mesmo que talvez nunca mais fosse vê-lo de novo.

E então, Quinn invadia sua mente com aqueles olhos esverdeados e aquele cabelo lindo que fazia Rachel tremer de inveja, porque nunca mais conseguiria deixar o seu crescer daquela forma. Ela pensava na pele macia de Quinn, da forma como a mulher ainda se encolhia de medo toda vez que se tocavam, mesmo meses depois de estarem dormindo juntas no porão.

Fora ela que iniciara o beijo, Rachel se lembrava durante todos os dias na última semana. Rachel tinha isso em mente, beijar Quinn, desde que a vira pela primeira vez, mas decidira esperar. Esperou, literalmente, anos para que isso acontecesse e, na hora, ela sequer pensara em beijar Quinn — a mulher que fizera todo o trabalho, o que deixava Rachel com algumas questões na cabeça.

Estaria Quinn apaixonada por ela? Ou ela só sentia falta do marido? Quinn sabia que os sentimentos de Rachel eram recíprocos? Há quanto tempo Quinn sabia que gostava de Rachel (se a primeira pergunta tivesse um resultado positivo)? As incertezas faziam a cabeça de Rachel rodar e rodar durante a noite.

Se pelo menos Quinn tivesse a decência de aparecer no porão depois que lhe beijara, talvez Rachel pudesse ter essas questões respondidas com clareza.

Apenas Hans e Evelyn a visitavam agora, o que deixava ela muito irritava. Se pudesse pelo menos subir as escadas e ter uma conversa sincera com Quinn… Mas não podia. Era difícil de acreditar que com a confusão de sentimentos que era sua mente, ela ainda tinha que se esconder de um governo autoritário que não a mataria uma só vez, mas duas, ao descobrir que tinha desejos por uma mulher.

Viver com Quinn Fabray era a coisa mais complicada que fizera em sua vida toda, e olha que ela era judia. Não era para ser assim, Rachel se dizia todos os dias. Deveria estar morta ou na Inglaterra com Noah ou sofrendo em um campo de concentração. Ela teria vários problemas ao sair daquela casa, mas o maior com certeza seria como parar de pensar em Quinn.

Naquela manhã, Hans viera trazer seu café da manhã, junto com algumas notícias sobre a guerra e seu rádio, que quebrara durante o bombardeio. A comida estava gostosa como sempre, mas o fato de Quinn continuar lá em cima, dando ordens para que só suas empregadas fossem visitá-la, deixava ela menos apetitosa.

— Alexi disse que seu rádio levará um tempo para concertar — Hans falou em tom de desculpas. — Muitas coisas maiores foram quebradas, entende? Sra. Evans não está dividindo suas informações da situação de seu marido na França, então presumo que tudo esteja bem. O que nós escutamos no rádio, no entanto, não é nada animador. Hitler parece que está perdendo na Rússia, e feio.

Rachel assentiu sem realmente ouvir. Evelyn lhe contara sobre a Rússia no dia anterior, não era nenhuma novidade o que Hans lhe contava com tanto pesar. No entanto, Evelyn não dissera nada sobre Quinn em si, sobre o que ela estava fazendo, se haveria uma reunião do clube anti-Hitler, se sairia para alguma maluquice de socialização que Finn a enfiara, nadinha. Rachel sempre se perguntou o que Quinn fazia quando não tinha uma judia escondida no porão, sendo filha de quem era e mulher de quem era, mas parecia que a vida dela era muito parada, mesmo quando Sam morava ali.

Ela terminou sua refeição e entregou o prato educadamente para Hans. Olhou para a empregada de maneira significativa, o que fez as bochechas da mulher atingir um tom claro de cor de rosa.

— Sra. Evans pediu para que nós não falássemos sobre sua vida pessoal enquanto ela não descesse aqui — murmurou Hans, fitando seus sapatos.

Rachel bufou. Ela pensava que era a mulher mais irritante do planeta, até conhecer Quinn Fabray Evans.

— Por favor, Hans — Rachel implorou. — Fabray não vai nem desconfiar. Não é como se fosse sair daqui, de qualquer maneira.

Hans mexia nervosamente na barra da saia, olhando para todos os lados menos o de Rachel. Ela admirava a lealdade que as empregadas tinham com Quinn, mas às vezes ficava desapontada por elas serem tão leais a ponto de não lhe contarem nada que Quinn não desejasse que fosse dito.

— Por que você a chama de Fabray? — perguntou Hans subitamente.

— O que? — retrucou Rachel, surpresa.

— Você chama a Sra. Evans de Fabray, mas ela não é solteira mais. Você teria de chamá-la de Evans se quisesse usar seu sobrenome.

Rachel suspirou. Era a segunda vez que lhe perguntavam aquilo. Quinn enfiara na cabeça que era por que ainda não confiava nela, embora no começo, Rachel achasse que fosse isso também. Ela tinha pensado muito nisso, e agora tinha a resposta perfeita em mente.

— Pra mim ela sempre será aquela garota que ofereceu comida para mim em 1936. Aquela garota não tinha o sobrenome Evans.

A boca de Hans abriu e fechou várias vezes, procurando uma resposta ao nível da de Rachel. Ela ficou um tanto satisfeita por causar tal reação. Será que essa resposta deixava sua paixão por Quinn mais exposta?

— Hoje terá uma reunião das donas de casa — Hans disse baixinho.

Rachel abriu um sorriso enorme e num impulso abraçou Hans com força. A empregada ficou chocada por um segundo, mas também passou seus braços em torno de Rachel e soltou um suspiro feliz.

— Obrigada, Hans — disse Rachel, envergonhada. Então, teve uma ideia repentina e disse: — Assim que Fabray sair, você e Evelyn precisam vir para cá. Tenho algo a contar.

Quinn estava entediada. De novo.

Ela se perguntou pela milésima vez em menos de meia hora porque ainda se forçava a ir para aquelas reuniões com mulheres que a jogariam num campo de concentração sem nenhuma hesitação ao descobrir o que ela escondia em seu porão e sobre os seus ideais contra o amado Führer.

Por Finn, uma vozinha irritantemente parecida com a de Sam falou na sua cabeça. Era por Finn que Quinn estava ali, empenhando-se em fazer contato social com mulheres que desprezava. Por que ela passara tempo demais dentro de casa depois da partida de Sam. Por que Quinn estava começando a levantar suspeitas ao quase nunca ser vista na rua.

Ela precisava voltar a ser a Quinn de antes, a que não tinha uma judia escondida no porão. Só assim apagaria os rumores horríveis que provavelmente circulavam sobre ela pela vizinhança e na comunidade militar de Strausberg. Só assim ela não atrairia mais atenção para Rachel e sua casa.

A discussão de hoje era sobre como racionar alimentos quando e se os Aliados cercassem Berlim e região. Era um tópico bem interessante (e Quinn chegou a levar um bloquinho de notas para tentar absorver o máximo que podia das ideias de Grace), mas ficava difícil se concentrar nas conversas com Beatrice lançando olhares para ela regularmente.

Beatrice não era de nenhuma organização secreta hitleriana, Finn provou a ela algumas semanas depois da primeira reunião que participara. A mulher era uma jovem normal que casara cedo com um militar e tinha uma vida normal na região metropolitana de Berlim. Sem antecedentes, sem interesse pela vida do marido, apenas aproveitando o que podia com seus privilégios. Finn falou que a mulher fazia trabalho voluntário em orfanatos de Berlim, o que tirou ela da lista de Quinn de possíveis anticristos.

De fato, agora que Quinn participara de reuniões suficientes para formar opiniões sobre cada uma das mulheres que estavam no grupo, Beatrice parecia a perfeita mulher do Reich, sem a obsessão doentia por Hitler. Ela se tornou bem simpática a partir da terceira conversa que tiveram, convidando Quinn para uns jantares em sua casa e insinuando que adoraria visitar a casa dos Evans quando Chloë estivesse com a tia. Beatrice poderia não ser de organizações radicais, mas ela ainda despertava a curiosidade de Quinn com aquele tom educado.

Quinn devolveu o olhar de Beatrice com intensidade. Ela corou e voltou a prestar atenção em Grace, que agora falava sobre grãos e outros alimentos secos que poderiam durar meses nas condições mais variáveis. Quinn tomou nota do que a mulher do melhor amigo falava, ainda sentindo o olhar de Beatrice sobre si.

— Bom, senhoras, por hoje é só isso. — Grace apontou para o relógio, que dava quatro horas. A maioria das mulheres na sala começaram a se levantar, a exceção de Quinn, Beatrice e mais uma que Quinn não recordava o nome. — As ruas de Strausberg estão ficando perigosas nesses tempos. Se pudéssemos, sei que conversaríamos por horas a fio!

Ela riu e as outras a acompanharam educadamente. Quinn, no entanto, percebeu que Grace estava tão cansada quanto seu marido. Liderar um bando de mulheres desesperadas por notícias de seus maridos e irmãos nos fronts não deveria ser algo relaxante.

Quinn fechava seu bloquinho de notas, desejando ir embora junto com as outras mulheres ao invés de esperar por Finn para levá-la para casa, quando Beatrice sentou ao seu lado com seus olhos verdes brilhantes. A mulher parecia considerar Quinn sua melhor amiga no clube, algo que ela com certeza não se lembrava de ter se inscrito.

— Ela é solitária, Quinn! — exclamou Finn após de ouvir as preocupações de Quinn sobre Beatrice. — Assim como você. Deveria dar uma chance a ela. O que quer é só uma amiga.

Mas Quinn já tinha uma amiga — antes do beijo desastroso causado pelo bombardeio da semana anterior. Quinn tinha uma amiga que sabia o que estava acontecendo no mundo, que parecia genuinamente gentil, que não escondia o mal-humor. Bem, ela terminara se apaixonando por Rachel, mas os meses de amizade que tinham tido valiam por uma vida toda. Com Brittany longe talvez para sempre, Rachel era sua única amiga (embora Hans e Evelyn também eram consideradas, só que não da mesma maneira).

— Bem interessante essa reunião, certo? — disse Beatrice com um sorriso animado. — Não estava pensando muito em racionamento, temos muita comida em casa, mas agora que Grace colocou nessas condições... Estamos em guerra, afinal de contas.

Quinn assentiu, olhando em volta à procura de Grace. No entanto, a dona da casa permanecia fora, se despedindo das outras mulheres que participaram da reunião. Até a mulher que não iria embora às quatro horas tinha saído para ir ao banheiro. Grace era a única capaz de salvá-la das conversas de Beatrice com elegância.

— Essas reuniões tem sido esclarecedoras — continuou a mulher, embora Quinn pudesse ouvir um tom de deboche em sua voz. — Digo, algumas dicas são estúpidas, para falar a verdade, mas se consegue tirar muita coisa da estupidez dos outros, não acha?

Quinn abriu e fechou a boca, por fim fitando Beatrice. Ela tinha aquele sorriso tolo no rosto, desafiando-a a contrariá-la. Quinn conhecia muito bem aquele sorriso: Rachel o usava sempre; Sam às vezes. Por um instante, esqueceu de que não gostava daquela mulher e sentiu um pingo de admiração por ela.

— Ah, principalmente se a pessoa que estiver falando não perceber que dizia coisas estúpidas — retrucou Quinn no mesmo tom.

Beatrice olhou para Quinn de maneira cúmplice e as duas riram por um instante. Ela se sentiu culpada por algum motivo. Então, viu o rosto de Rachel na sua frente e entendeu por que: nunca poderia rir audivelmente com a judia se continuassem na Alemanha de Hitler ou no meio de uma guerra. Seriam sempre em sussurros e murmúrios.

— Quinn Evans, sei que são tempos tempestuosos e que a senhora talvez não goste de mim — Quinn sentiu o rosto ficar vermelho ao que Beatrice pegou sua mão e ria de sua reação —, mas eu preciso perguntar: iria a um jantar em minha casa daqui a duas noites? Meu marido estará fora e simplesmente preciso de uma companhia. Empregadas não me bastam, mas... Seria bom ter uma voz e um rosto diferente para variar.

O queixo de Quinn caiu. O pedido de Beatrice fora polido como a mulher sempre fora, e no entanto ao contrário dos outros, Quinn quereria aceitá-lo. O que faria mal passar a noite em uma mansão no alto de Strausberg? Ela poderia muito bem deixar Hans e Evelyn cuidando de Rachel. Seria mais uma maneira de evitar uma conversa sincera com a judia.

— C-claro — respondeu, sorrindo. Ela nem se importou em continuar de mãos dadas com Beatrice. — Será um prazer.

Assim que Quinn saiu de casa acompanhada por Finn, Hans e Evelyn desceram para o porão como o combinado. Elas pareciam ansiosas para descobrir o que Rachel planejara contar.

Rachel não se lembrava de Quinn dizendo que não deveria contar para as empregadas o que tinha acontecido durante o bombardeio, então se sentiu livre para isso. Talvez assim, ela pensou com um pequeno sentimento de vingança na mente, Quinn finalmente voltaria a falar com ela.

Ao contrário de Quinn, Rachel se sentia totalmente tranquila em relação ao beijo. Afinal de contas, as duas se gostavam muito e diante da situação que estavam, qualquer forma de carinho poderia ser vista como a última. Em sua opinião, não era nenhum problema. Rachel crescera ouvindo histórias de seus pais sobre os bares homossexuais da Berlim pré-Hitler. Parecia ser algo natural.

— Fabray provavelmente vai me matar se vocês descobrirem isso, então eu peço para que não contem a ela — disse Rachel para Hans e Evelyn.

Hans assentiu vigorosamente, mas Evelyn demonstrou desconfiança.

— Trair a confiança da Sra. Evans não estava nos meus planos de hoje — ela comentou de mansinho, fazendo Rachel dar uma gargalhada.

— Isso não é trair a confiança de... — O sorriso de Rachel diminuiu ao ver que Evelyn estava certa. Respirou fundo, sacudiu a cabeça e continuou: — Tudo bem, isso é algo que eu não faria nos dias normais, mas aposto que vocês estão curiosas para saber o que aconteceu, não é? E eu quero contar.

As empregadas se entreolharam por um instante. Rachel aguardou, com medo de que elas discordassem do plano e quando sua patroa voltasse, fossem correndo contar para ela o que Rachel estava planejando. De qualquer maneira, isso faria Quinn descer ao porão nem que fosse para discutir.

Rachel nunca reparou no seu problema de procurar chamar atenção até aquele momento.

— Pode nos contar o que quiser — disse Evelyn após vários minutos de discussão silenciosa com Hans. — Não falaremos nada para a Sra. Evans.

As três abriram um sorriso cúmplice. Rachel, que costumava não confiar naquelas mulheres, se sentiu feliz por finalmente conseguir fazer isso. Quinn Fabray não era a única pessoa com quem podia conversar naquela casa, e isso era algo bom. Em sua vida toda, Rachel só aprendera a confiar em três pessoas: seus pais e Noah. Com a morte de Hiram e Shelby e a fuga do melhor amigo, ela passou a confiar em Quinn. Sentir-se como se pudesse acreditar nas pessoas, em especial Hans e Evelyn, trazia esperança para Rachel.

— Tudo bem — ela disse com um suspiro pesado.

O problema agora seria como contar as duas o que acontecera durante o bombardeio. Hans e Evelyn eram tolerantes ao que acontecia na casa dos Evans, mas qual seria seu limite? Rachel estava prestes a descobrir.

— Durante o bombardeio, algo aconteceu — começou Rachel, evitando olhar para as duas mulheres, sentadas fitando-a pacientemente. — Fabray teve um surto com seus ideais e quase não conseguiu chegar ao porão por causa do pânico que se instaurou dentro de si. Eu decidi ver o que estava acontecendo e a encontrei encostada ao batente da porta, quase em lágrimas. Tentei conversar com ela, mas foi inútil. Fabray não respondia a mim, e isso me desesperou. O que acontece é o contrário, como vocês muito bem sabem.

Hans e Evelyn sorriram. Rachel também forçou um sorriso, embora se recordar daquele momento fez voltar o desespero que sentira na hora que vira Quinn imune ao que estava acontecendo ao seu redor. Ela nunca tinha visto ninguém agir de tal maneira. Fora uma das piores experiências que tivera em sua vida.

— Uma bomba caiu por perto e fez a casa tremer. Eu, que tentava puxar a Fabray para dentro do porão, rolei escada abaixo segurando seu braço. Ela caiu por cima de mim. Só assim ela pareceu acordar e entender o que acontecia ao seu redor. Nesse momento...

— Desculpe, Rachel — interrompeu Evelyn com a testa franzida —, mas a Sra. Evans já contou isso para gente.

Rachel arqueou as sobrancelhas, surpresa. Ela mordeu o lábio, sentindo-se profundamente irritada com Quinn Fabray.

— Nós sabemos o que aconteceu — falou Hans timidamente. — Nós só queremos saber o que houve para que ela parasse de descer aqui.

Rachel nunca pensou que seria tão fácil assim chegar ao assunto do beijo, mas na realidade foi. E ela odiou Quinn por isso. Será que Quinn pensara nisso? Em contar a história toda e deixar a parte mais importante para Rachel? Quinn era boa em manipular as pessoas, era uma Fabray.

Enquanto Rachel contasse sobre o beijo, Quinn poderia tirar mais tempo para pensar no assunto. Talvez ela nem tivesse uma reunião das donas de casa no dia, talvez ela só tivesse saído para colocar os pensamentos em ordem. Ficar em casa cuidando de uma judia escondida deveria ser exaustivo para ela, Rachel pensou amargurada.

— Tenho motivos para acreditar que Fabray está apaixonada por mim — Rachel falou claramente e sem rodeios.

Hans e Evelyn não pareciam surpresas com isso.

— Que motivos? — indagou Hans com naturalidade.

— No dia do bombardeio, depois que minha perna foi atingida, Fabray e eu ficamos encolhidas nessa cama, esperando a poeira baixar — explicou Rachel se recordando dos lábios de Quinn nos seus. — Em meio a uma bomba e outra, ela me beijou.

Rachel pode jurar que viu Hans esboçar um sorrisinho antes de falar:

— Isso é...

— Chocante — completou Evelyn, que sorria abertamente. — Meu Deus, uma mulher beijando outra? Isso é um insulto! Não é a toa que os ingleses nos atacaram naquele dia!

— Para cobrir os rastros de tal atrocidade — sussurrou Hans em tom de deboche.

Por um segundo, Rachel se viu na escola de novo, contando para amigas que gostava de alguém. A ironia nunca tinha fim e ela atormentada para sempre por confessar tal paixão. Hans e Evelyn fariam disso lema antes de acordarem e descerem para o porão e conversar com ela, Rachel tinha certeza.

E, por outro lado, ela se sentia feliz com isso. Desde Noah, ela não sabia o que era se divertir com outras pessoas, dar risadas e, basicamente, ser feliz. Ela agradeceria Quinn para sempre por lhe dar uma oportunidade dessas no meio da guerra quando o mundo estava em pânico.

— Como vocês descobriram? — ela perguntou. — Sobre o beijo, eu digo. E também a parte que Fabray está apaixonada por mim.

— Sra. Evans é sempre muito verdadeira em relação a seus sentimentos — respondeu Hans com simplicidade. — E também muito intensa. Não duvido que ela ame o Sr. Evans, mas... Você chegou e bagunçou tudo na cabeça dela. Sei que ela não faria o que fez por você todos esses meses.

— Hans é sempre tão perceptiva — bufou Evelyn, revirando os olhos. — É claro, eu notei também. Há algo em seus olhos quando ela olha para você, e esse sentimento parece recíproco.

— Então não diga que é só a Sra. Evans que está apaixonada por você — a outra completou. Rachel gostava da forma que elas terminavam os pensamentos uma da outra, como se estivessem conectadas. — Por que a gente também sabe que você está apaixonada por ela.

A verdade vinda da boca de outra pessoa não doeu exatamente como ela esperava. Foi mais como um soco no estômago — e Rachel sabia como isso doía. Ela amava mesmo Quinn Fabray, desde aquele Ano Novo de 1937. Rachel não precisava esconder isso mais de ninguém que conhecia, isso era um alívio. Se Quinn voltasse a visitá-la no porão, ela não precisava tomar cuidado com suas palavras ou seus gestos.

Quinn simplesmente saberia. Por que ela sentia o mesmo.

— Você veio! — exclamou Beatrice assim que abriu a porta de sua casa e deu de cara com Quinn.

Quinn sorriu, começando a se arrepender de não ter chamado os Hudson para lhe acompanhar nesse jantar. Beatrice estava animada demais para jantar com ela, e qualquer tipo de animação exaltada em tempos tão tempestuosos era considerado suspeito. Não importasse o número de empregados que ela tivesse na enorme mansão, Beatrice poderia dispensá-los a qualquer hora e ficar com Quinn sozinha. Ela temia que essa talvez pudesse ser sua última noite viva.

Que besteira, replicou Finn na sua cabeça. Ela é normal, Quinn! Pare de ser tão paranoica. Só porque espiões rondam a Alemanha e uma guerra esteja acontecendo, isso não significa que um deles seja uma mulher que quer ser sua amiga.

Vocês me deixaram paranoica, pensou Quinn irritada. Há algo que ela poderia querer saber sobre mim, algo que nenhum de vocês sabe. Você não se lembra da maneira hostil que ela me tratou quando nos vimos pela primeira vez?

É claro que não, interviu Sam. Nós não estávamos lá, somos produtos da sua imaginação, esqueceu?

Quinn respirou fundo e ignorou as vozes do marido e do melhor amigo na sua cabeça. Não adiantaria nada discutir com eles figurativamente. Ela apertou a mão de Beatrice e abriu outro sorriso, dessa vez mais amistosa. Se fosse jantar com aquela mulher suspeita, pelo menos poderia tirar proveito disso: descobrir o máximo de informação que ela tinha a oferecer.

— Onde está seu marido? — indagou Quinn quando entraram no hall da mansão. — Você disse que ele não estaria aqui hoje à noite.

— Em Hannover — Beatrice respondeu, puxando Quinn para o interior da casa. Já na sala de estar, um quadro enorme de Hitler estava pendurado em cima de um dos sofás. Quinn engoliu em seco ao sentar no sofá contrário e fitar a expressão convicta do Führer. — Tratando de negócios.

Beatrice não aprofundou na resposta, embora Quinn desejasse que ela o fizesse. As duas caíram em um silêncio desconfortável, onde Quinn não parava de encarar a pintura de Hitler. Ela o vira pessoalmente e conversara com ele há mais de seis anos, mas o Führer nunca pareceu tão real quanto naquele quadro.

— Lindo, não é? — elogiou Beatrice ao ver Quinn hipnotizada por Hitler. — Uma das nossas empregadas o pintou. Ela faz um trabalho divino com o rosto que o deixa bem real.

— É quase como se ele estivesse aqui — murmurou Quinn.

— Como eu disse: divino. — Beatrice sorriu ao ver uma das empregadas com uma bandeja que continha petiscos e duas taças que continuam um líquido transparente e borbulhante. — Ah, sim! Espero que beba um bom champanhe francês, Sra. Evans, enquanto esperamos que o jantar seja servido.

Quinn aceitou a taça de champanhe (presumia que iria precisar de muita bebida para conseguir vencer essa noite), tomou um gole e disse:

— Pode me chamar de Quinn.

Beatrice assentiu e bebeu mais de seu champanhe.

— E você, pode me chamar de Beatrice. Talvez Bia, assim que estivermos mais íntimas.

Elas riram diante da piada ruim de Beatrice, mesmo que Quinn sentisse um pouco de culpa. Ela não queria se tornar íntima de Beatrice, mas sentia que devia isso a si mesma por pensar mal daquela mulher e, principalmente, para os dois homens que mais se importavam com ela: Sam e Finn. Afinal, ela estava apaixonada por outra pessoa... O mínimo que podia fazer por Sam era dizer ao marido que arranjara uma amiga nova.

Pensando nisso, Quinn abriu um sorriso enorme e incitou conversas para cima de Beatrice como se fossem amigas de longa data. Ambas discutiram sobre os maridos enquanto esperavam o jantar, falaram das políticas expansionistas do Reich entre goles e mais goles de champanhe (mais tarde, Beatrice abriu um vinho delicioso de sua adega pessoal), elogiaram a comida servida e debateram estrelas do cinema hollywoodiano, algo que Quinn não fazia desde a partida de Sam.

A preocupação que assolava Quinn antes de sentar na sala de estar com o rosto de Hitler a encarando desapareceu à medida que ela bebia e achava mais coisas em comum com Beatrice. Coisas fúteis, opiniões importantes sobre onde moravam e um tiquinho de preocupação que a mulher tinha com os judeus nos campos de concentração (sendo mulher de militar, ela sabia que a propaganda hitlerista era uma falsidade).

— Eu faria — falou Beatrice depois de longas três horas de conversa com Quinn. — Digo, se eu não fosse morta ou torturada, eu com certeza abrigaria um judeu aqui.

Quinn tomou mais vinho, ignorando a tonteira que tomava seu corpo, e assentiu. Ela sentia seu rosto ficando mais quente e vermelho.

— O que eles fizeram para nós, eu pergunto — continuou Beatrice com a voz esganiçada. — Nada! Adolf precisava de um lugar para descontar toda raiva que tinha por não passar na escola de artes. Decidiu culpar todos eles. Aqueles que não eram brancos e dos olhos azuis.

Quinn continuou concordando com a cabeça, mas ela não sabia se era por que ouvia o que Beatrice dizia ou por que estava zonza demais para mantê-la parada.

Uma empregada entrou na sala para limpar a sujeira que as duas estavam causando, mas Beatrice mandou-a pegar outra garrafa de vinho e não permitir que ninguém pisasse na sala enquanto Quinn não fosse embora. Ela chegou a ouvir essa parte e algo a incomodou. O que Beatrice queria com ela? Que tipo de segredos ela contaria agora? Ou será que queria apenas assassinar Quinn com a garrafa vazia de vinho?

— E-eu p-preciso i-ir — gaguejou Quinn, tentando ficar de pé e falhando miseravelmente.

Beatrice a colocou de volta no sofá. Quinn foi descendo lentamente para o lado onde a dona da casa estava sentada e caiu em cima dela. De repente, Quinn não queria mais vinho. Ela queria ir para casa. Queria ver Rachel. Será que sua assassina a deixaria realizar um último desejo? Quinn queria dizer a Rachel que a amava, pelo menos uma única vez...

— Quinn, eu não vou matar você — disse Beatrice, colocando a mulher de volta a seu lugar e a fitando preocupadamente. — Talvez eu tenha lhe dado mais bebida que o necessário. Não sei se você me escutaria se estivesse sóbria, isso foi preciso, me desculpe.

Quinn piscou várias vezes, tentando compreender o que Beatrice dissera. A mulher tinha mesmo embebedado ela? Havia algo muito ruim acontecendo por ali. Seus instintos estavam certos. Quinn precisava sair dali antes que coisa pior ocorresse.

— Sem assassinatos, Quinn! — Beatrice exclamou quando a outra tentou de novo se levantar. Quinn não entendia como tinha bebido o mesmo tanto que Beatrice e estava mais bêbada que ela. — É algo sério. Acho melhor esperar que você se acalmar antes que eu diga o que tenho a dizer.

Beatrice ofereceu a Quinn um copo de água. A mulher o tomou, receosa. A empregada que fora buscar outra garrafa de vinho para as duas não apareceu. O tempo pareceu ficar mais lento. A cabeça de Quinn começou a doer. Ela nem sabia quantas horas eram. Será que Rachel, Hans e Evelyn estavam bem? Assim que chegasse em casa, iria direto para o porão, Quinn decidiu. Ela adiara aquela conversa com Rachel por tempo demais.

Meia hora mais tarde, quando a cabeça de Quinn parecia que ia explodir e o mundo ao seu redor não girava mais, Beatrice decidiu que era hora de falar.

— Eu chamei você aqui por que pensei que corresponderia aos requisitos. Não há como descobrir até tentar, mas... Há algo em você, Quinn, que faz meus sentidos irem à loucura.

Quinn abriu a boca e a fechou. Ela não tinha ideia aonde aquela conversa chegaria.

— Meu marido foi para Hannover, sim — Beatrice repetiu, olhando para um ponto acima de Quinn. — Porém, não era para tratar de negócios. De quatro em quatro meses, ele vai até lá para ver o... hm... outro marido dele.

Kurt é homossexual, Quinn! Ele seria preso se alguém soubesse disso! Preso, torturado e talvez levado para aqueles campos nojentos e morrer de tanto trabalhar!

A discussão, perdida há muito tempo dentro dos pensamentos de Quinn, voltou como um raio. Ela não se sentia tonta mais. Lembrou-se de Kurt, que tinha fugido com um homem para a Suíça, talvez mais longe. E só Sam sabia o motivo real da sua fuga — bem, Sam e ela. Quinn se lembrou do quanto sentia falta de Kurt. Sentiu-se arrependida por não pensar nele por tanto tempo.

No entanto, sentiu-se mais curiosa para saber por que Beatrice estava lhe contando que seu marido era homossexual.

— Pela sua reação, presumo que conheça alguém homossexual — disse a mulher. — Assim sendo, presumo que fingirá que essa conversa nunca existiu ao sair daqui. Certo?

— Certo — Quinn apressou-se a concordar.

— Ótimo — falou Beatrice, assentindo. — Por que eu também sou.

Quinn soltaria uma risada se o clima da sala não fosse tão pesado.

— Você também é o que? — A bebida tinha lhe influenciado mais do que aparentava. Seu cérebro continuava a demorar para processar o que lhe era dito.

— Nós nos conhecemos um pouco antes de Hitler ser eleito chanceler. Eu e ele éramos ainda crianças, mas sabíamos o que queríamos — Beatrice suspirou saudosamente. — Amávamos a Alemanha e não queríamos sair daqui quando as leis ficaram piores. Stephen e eu resolvemos nos casar. Já ouviu falar no termo “fachada”?

Quinn fez que não.

— É quando homossexuais de sexos diferentes se casam para encobrir o fato de que são homossexuais — explicou Beatrice rapidamente. — Foi o que eu e Stephen fizemos. Nós somos melhores amigos e nos amamos, quero que você entenda isso. Mesmo com todas as leis e o pânico que paira em nossas cabeças, nossa vida amorosa continua a mesma. Ele está namorando com esse homem lindo de Hannover desde 1940 e eu... Bem, eu ando por aí.

Beatrice deixou que as informações entrassem no cérebro lento de Quinn. Ela levantou e foi até a janela, observar a noite lá fora. Mais uma vez, Quinn se perguntou quantas horas eram. Ficou surpresa ao notar que não fazia nenhuma diferença se Beatrice e Stephen eram homossexuais ou não. Ela só queria ir para casa e dormir abraçada à Rachel como não fazia desde o bombardeio.

Quinn pensou na carta que escrevera no começo da semana. Era para sua melhor amiga, embora Brittany não lhe parecesse isso nos últimos meses. Era a sua única conexão com o mundo homossexual, mas agora sabia que não estava sozinha. Por um estranho momento, se viu discutindo o beijo que dera na judia em seu porão com Beatrice. Se ela era tão experiente como dizia, poderia ter uns conselhos para ajudá-la.

— Você e Sam me parecem um casal de fachada — disse Beatrice. — Peço que me perdoe se não são.

— Sam é apaixonado por mim desde que nos vimos — respondeu Quinn. — Eu sei disso. Eu também era apaixonada nele, contudo... Nós últimos meses, coisas vêm mudando.

Beatrice virou o rosto para Quinn imediatamente. Seus olhos brilhavam. Parecia estar ansiosa para ouvir o que Quinn tinha a dizer.

— É alguém daqui de Strausberg? — ela perguntou, curiosíssima. Quase pulou no sofá onde Quinn estava para fazer-lhe mais perguntas. — Não me diga que é alguém do clube das donas de casa, por que senão estarei desapontada por não ter dito a verdade sobre mim antes.

Quinn riu.

— Ela... — Quinn começou, contudo desistiu no último segundo. Beatrice falara que esconderia um judeu em sua mansão, mas daí para guardar o segredo de Quinn era um passo bem grande. Ela não podia contar sobre Rachel, porém, podia muito bem inventar uma personagem. Ou simplesmente usar o nome de Brittany. Tinha certeza que sua amiga não iria importar de tê-la beijado em uma história para Beatrice.

— Ela o quê? Quinn, eu nunca tive uma amiga homossexual antes, apenas amantes, então peço para que me conte absolutamente tudo o que está passando na sua cabeça nesse momento. Será bom colocar para fora, acredite em mim.

Ela sorriu e começou a contar como conhecera Rachel, alterando alguns detalhes para que Beatrice não percebesse que estava falando de uma judia. Ela usou o nome de uma garota qualquer para descrever a noite em que Brittany revelara que já tinha beijado outra garota. Contou sobre Kurt, Finn, sobre Sam e sua amizade com os dois garotos. Quinn falou sobre como Rachel aparecera em seu casamento, lamentando-se por não poder incluir sua reverência.

Quinn falou por horas seguidas, sem ser interrompida. Ao terminar, ela se sentiu aliviada e percebeu que jamais poderia discutir Rachel com Brittany através de cartas. Eram detalhes demais, histórias demais... O governo poderia inspecionar as cartas e entender o que ela estava falando. Brittany também não poderia responder às suas cartas.

Por isso ficou imensamente feliz por não ter ignorado Beatrice. Ela tinha uma amiga que não odiava Hitler ou estava escondida em seu porão.

Era um bom começo.

Quinn dormiu no quarto de hóspedes da mansão de Beatrice e foi levada por seu motorista particular até sua casa. A cabeça ainda doía por causa da quantidade de vinho e champanhe que tomara na noite anterior, mas estava feliz por estar de volta.

Era hora de ter aquela temida conversa com Rachel Berry.

Ela agradeceu o motorista de Beatrice e quase deu de cara com o carteiro da região. O homem entregou suas correspondências e partiu rapidamente. Ela olhou de soslaio para as cartas enquanto abria a porta de casa e quase as deixou cair quando viu o nome de Sam no remetente.

Esqueceu-se da porta por um instante e abriu a carta do marido. Sam não enviava cartas há pelo menos duas semanas. O combinado seria que os dois só se corresponderiam se algo de extrema importância acontecesse, a fim de cortar alguns gastos extras.

Quinn abriu a carta e leu os curtos três parágrafos em voz baixa:

Querida Quinn,

Terei de ser breve por que estamos no meio de uma batalha. Os franceses estão ganhando forças, contudo os alemães ainda não perderam o espírito. Eles escutam notícias de Stalingrado, mas ignoram. Ainda acham que vamos ganhar a guerra. Por um momento, cheguei a pensar dessa forma.

Schuester me deixou nos afazeres fora do front devido à minha perna — eu peço desculpas por não ter enviado uma carta explicando o acidente; nosso médico disse que eu não deveria me preocupar. Hoje a batalha está tão barulhenta que posso ouvi-la daqui, e estou a mais ou menos dez quilômetros do front.

Escrevo-lhe com boas notícias, porém. Pretendo voltar para casa. Talvez não antes de novembro, presumindo que essa carta chegue a você em meados de outubro. Mas voltarei. Poderemos passar o Natal juntos, Quinn. Então, eu irei voltar para qualquer front que apareça pela frente (não quero tirar a liderança da Juventude de Finn).

Espero ver você em breve,

Sam Evans.

PS: Eu amo você.

Quinn entendeu duas coisas do que acabara de ler.

Primeira: seu marido iria voltar para Strausberg.

Segunda: ela precisava tirar Rachel o mais rápido possível do seu porão.


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Notas finais do capítulo

Então, o que vocês acharam? Eu queria fazer algo diferente, menos angst, e para isso eu tive que separar Rachel e Quinn um pouco. Achei divertidíssimo escrever a Rachel com Hans e Evelyn, tanto quanto foi escrever Beatrice e a Quinn com medo dela KKKKK O final já dá uma ideia de que a fic vai acabar logo (talvez daqui uns quatro ou cinco capítulos, não tenho certeza), mas eu prometo fazer as duas ter mais interações nesses últimos capítulos KKKKK
Se vocês gostaram do capítulo, deixem seus reviews falando o que acharam, elogiando e/ou xingando qualquer coisa que não gostaram. Um feliz Natal e um belo Ano Novo, e vejo vocês no próximo capítulo :)



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