A Caçadora - O Despertar escrita por Ketlenps


Capítulo 3
Capítulo 2 - A Responsável


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente bonita que lê a minha fic ^^
Aqui está mais um capítulo, espero que vocês gostem. Aqui vocês irão conhecer alguns personagens que no capítulo passado eu só disse o nome.
Aproveitem =)



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Ah, como eu amo torta de limão.

Torta de limão feita pelas mãos de Jack.

Dei mais uma mordida na torta sentindo o leve gosto azedo do limão, fazendo-me ficar com um bigode por causa do chantilly. Lambi os lábios tirando o tosco bigode de minha boca, Dan sentado em minha frente na mesa da cozinha, gargalhou alto, aquela risada gostosa de se ouvir que só ele continha.

Oh, sim, Dan, ou melhor, Daniel. Dan era apenas um apelido que pessoas próximas a ele - como eu - o chamavam. Era mais velho que eu um ano, nascera em 98 e tem vinte anos. Ele era da Casa dos Caçadores de Londres, porém aos doze anos ele veio para Las Vegas depois que seu pai fora morto por cinco vampiros numa noite de Caçada.

Como sua mãe me disse num dia em que conversávamos anos atrás, Carlos havia se separado do grupo num mísero segundo, e foi nesse mísero segundo que os vampiros aproveitaram e arrancaram - lhe o coração juntamente com suas costelas. Seu coração e costelas foram encontrados metros de seu corpo.

Dan ficara arrasado, e Abigail veio para Las Vegas, pois não conseguia ver seu filho sofrendo toda vez que saia porta fora da Casa de lá. Então, ela pediu para Katherine, comandante da Casa de Londres, para se transferirem para Las Vegas e assim ela fez. Desde então eu e Dan somos amigos.

– Porque dá próxima vez você não faz uma torta de coco Jack? - sugeriu Dan ao Jack, que se encontrava junto conosco sentado na grande mesa. Mesmo depois de anos, Dan ainda continha o forte sotaque britânico.

– Coco é ruim. - disse eu, e dei mais uma mordida em meu pedaço de torta.

– Concordo. - disse Jack, sentado na minha frente.

Jack sempre fora um ótimo cozinheiro, sempre fizera ótimos pratos que deixavam todos com inveja, principalmente eu. A única coisa que eu sabia fazer era miojo e fritar um ovo. Já posso casar não? Jack já me ensinou alguns pratos, mas eu nunca tive a coragem de entrar na cozinha e preparar algo, pois eu poderia deixar tudo pelos ares.

– Se você quiser Dan, eu faço um torta de coco especialmente para você. - disse eu, piscando para ele.

Jack ergueu os olhos caramelados para mim e arqueou a sobrancelha duvidoso. Seus cabelos escuros se encontravam mais curtos do que antes, graças a mim. Numa noite em que ele voltou de uma Caçada com seu grupo, eu percebi o tamanho de seus cabelos sedosos e lisos: estavam na altura de sua garganta, eu o obriguei que cortasse, pois eu disse para ele que cabelos grandes o deixavam velho e também que ele ficaria menos atraente para Kate. Kate era uma outra Caçadora que, creio eu e todo mundo, tinha uma queda por Jack.

– Não, tudo bem Camille. - respondeu Dan, esbugalhando os olhos azuis e balançando a cabeça negativamente.

Jack riu abaixando o rosto. Jack era como um pai para mim, na verdade ele era meu pai. Podia não ser o mesmo sangue que eu, mas fora ele que me criou. Desde pequena ele me fez chamá-lo de Jack, ele dizia que chamá-lo de pai daria impressão de que ele estava ficando velho ou já era. Velho ele poderia até estar ficando, mas não parecia então. Jack tinha maravilhosos trinta e seis anos de vida, ainda era um Deus grego e se eu não fosse sua filha - mesmo que de criação - eu dava uns beijos nele. Até mesmo Mandy, uma vez, lhe deu uma cantada boba que claro, Jack retribuiu dizendo uma outra.

Levantei-me da cadeira levando meu prato já sem torta para a pia, a deixei ali mesmo e virei-me ficando de costas para a mesma. A cozinha havia ganhado cara nova. Estava moderna com armários de vidros, uma grande geladeira de portas duplas cinza, um grande fogão e por ai vai. A haviam reformado depois que um vampiro, uns tempos atrás, fugiu da prisão no subsolo e acabou passando pela cozinha onde outros Caçadores estavam jantando, e bem rolou uma bela briga que destruiu tudo, no fim o vampiro foi morto.

Uma figura esguia surgiu na porta da cozinha, ela tinha a feição séria, os lábios contraídos e os olhos âmbares me encaravam, reprendendo-me mentalmente. Os braços estavam cruzados sobre a regata preta, os longos cabelos pretos estavam amarrados num rabo de cavalo.

Maria estava apoiada na porta me olhando feio.

Dan e Jack giraram às cabeças para verem Maria, depois olharam para mim em silêncio. Jack suspirou passando a mão pelos cabelos sedosos. Ele já sabia o que o olhar de sua irmã Maria significava, e eu também.

– Camille, - A voz de Maria era dura como pedra. - François quer falar com você.

Eu bufei revirando os olhos para cima. Eu não gostava de François. Ele é o comandante da Casa dos Caçadores de Las Vegas, e eu não sou tola, sei que ele também não gosta de mim, contudo parecia que François amava me atormentar com suas advertências sobre mim. Eu não podia fazer isto, não podia fazer aquilo, que ele reclamava e me ameaçava diversas vezes dizendo que se eu não melhorasse, só caçaria na companhia de um adulto. O que eu detestaria, pois gosto apenas de Caçar sozinha, nem nas noites de Caçadas que toda semana, em dias diferentes, um grupo se junta para caçar, eu não ia.

Gosto de trabalhar sozinha.

– Camille, o que você fez desta vez? - perguntou Jack, os olhos sérios em mim.

Já fazia alguns anos que Jack já não era aquele cara alegre e sempre sorridente comigo. Talvez porque eu já estava praticamente uma adulta (dezenove anos não é adulto para nós Caçadores). Ele não era mais o mesmo, às vezes estava cabisbaixo, sempre preocupado com algo, que quando eu perguntava o que era ele negava dizendo que não era nada. Por favor, isso é papo para boi dormir.

– Eu não fiz nada. - respondi, virando as costas, para caminhar até a geladeira. Ao abrir ela, peguei uma garrafa de água gelada. - Nada que comprometesse algo.

– Nada que comprometesse? - Maria jogou os braços para o alto, exasperada. - Você sabe...

Eu a interrompi batendo o copo com a água que eu beberia na pia.

– Ele quer falar comigo? - Coloquei a garrafa de volta na geladeira e me virei para ela. - Então é com ele que eu falarei.

Passei por ela pisando fundo no chão de mármore branco. Eu sei que Maria estava correta, mas eu não estava com vontade de ouvir bronca dela, de Jack e depois de François.

Outros passos do meu lado também estalavam-se no chão, era Maria acompanhando-me.

– Você sabe o que ele irá falar. - disse ela, virando comigo no corredor a direita. - Sei que sabe.

Eu suspirei cansada, estava mesmo precisando descansar. Meu pescoço de um lado estava começando a mostrar dor, meus braços provavelmente não aguentariam mais uma noite de Caçada àquelas criaturas filhas de demônios. É difícil, eu particularmente, ficar dolorida, ou cansada depois de uma noite de trabalho, porém quando se trabalha toda noite por um mês é bem provável que você ficará cansado no final.

Mas eu sempre fui diferente, sempre tive maior desempenho nos treinamentos, que por acaso fora Maria que me ensinara. Sempre tive a audição mais aguçada, capaz de ouvir vampiros e qualquer outro ser se aproximando, isto é uma ótima arma que eu tenho e dela uso muito bem. Eu já perguntei para Maria porque sou assim, diferente dos outros Caçadores, mas ela sempre respondia desconfortável que ser diferente era normal.

– Tudo bem, Maria. - falei parando de andar para encara-lá. - Eu resolvo com François.

Ela ficou um instante atônita, depois sorriu no canto dos lábios carnudos. Ela afirmou com a cabeça e saiu virando as costas para mim pelo longo corredor. Voltei minha caminhada para a sala de François, encontrando-me de vez em quando com outro Caçador se aprontando para ir trabalhar nesta noite.

Cheguei na grande porta de mogno da sala dele, fiquei a fita-lá por um instante. Meu estômago embrulhou-se, fechei meus olhos respirando fundo três vezes. Fiquei receosa em bater na porta quando ergui minha mão, eu bem que poderia o ignorá-lo e correr dali para meu quarto e pedir para Dan dizer a ele que eu havia ido Caçar. Todavia, no momento que minha mão voltou para a lateral de meu corpo, eu ouvi alguém chegando por trás de mim.

– Pode entrar, Carter. - A voz grossa de François foi a que falou. Fria e incrivelmente calma, o que me assustou.

Eu não olhei para trás, apenas abri uma das portas duplas e entrei. A sala de François era grande e simples, as paredes escuras não tinham nada, nenhum quadro. Sua mesa retangular de madeira maciça estava no centro, sua cadeira acolchoada com um tom verde atrás da mesa. Em cima de mesa uns papéis e uma luminária, nada mais.

– Sabe que não precisa me chamar de Carter. - lembrei ele, desta vez virando-me para olhá-lo enquanto passava por mim até estar atrás de sua mesa. - Me chame de Camille.

– Carter. - repetiu ele com a voz firme. Os cabelos escuros pareciam estar mais grisalhos, a barba dele como sempre para fazer. Ele me encarou seriamente, os olhos cinzentos semicerrados. - Você caçou ontem a noite, não foi?

Eu fiz que sim com a cabeça.

– Foi no metrô os últimos que matou, não? - ele continuou dizendo, questionando-me, eu apenas assentia. - Três. Você matou três Criaturas da Noite.

– Sim François, eu matei três deles. - confirmei, como se François estivesse dizendo alguma idiotice. - Algum problema?

– Problema? - Ele deu uma risada sarcástica, apoiando as mãos em punhos na mesa e inclinando-se para a frente. - Você matou três deles na frente de duas pessoas...

– Eu sei muito bem o que fiz. - respondi rapidamente. - Não tenho culpa se elas estavam lá e...

– Não me interrompa. - disse rude, fazendo-me fechar a boca. - Sei que a regra diz que quando as pessoas estão em alguma situação em que elas estejam no meio da Caça, podemos matar na frente delas. Mas a questão é que você deixou os corpos lá. - explicou François, fuzilando-me com aqueles olhos cinzentos, onde as rugas já eram visíveis debaixo dos mesmos. Ele parecia esgotado. - Eu recebi um recado do CSI dizendo que tiveram que se livrar de três corpos que na verdade deveriam pertencer aos Caçadores.

Eu rolei os olhos para cima.

– Sabe que eles não gostam de nada que tenha a ver com nós. - ele dizia. - E sabe também que nós não gostamos. Pelo amor de Deus, como você diz: "Podem ligar para a polícia. Eles vão limpar esta bagunça"?

Ele me encarou, os olhos eram como se estivesse soltando faíscas para que tudo pudesse incendiar depois. Eu nada disse, caso eu questionasse seria pior.

– Eu já disse que não é para deixar nada para a polícia, sabe que poucos sabem da nossa Organização. Por quê? Oras, porque ela é Secreta! - Ele disse, tirando as mãos da mesa e balançando a cabeça. - Não é a primeira vez que pego no seu pé. Já lhe disse que da próxima vez eu seria obrigado à tomar certas atitudes...

– O que? - eu inquiri chocada, aumentando meu tom de voz antes mesmo que ele terminasse sua fala, pois eu já sabia o que ele falaria.

– Eu não terminei. - Ele aumentou sua voz, e continuou encarando-me firme. - Todos sabem que você é uma ótima Caçadora Camille. Sempre foi. Mas eu quero que você faça dupla com outro Caçador responsável.

– Está me dizendo que sou irresponsável?

Ele me encarou com as sobrancelhas arqueadas, como se estivesse debochando-se de mim. Tudo bem, eu podia não ser lá uma pessoa muito responsável, mas eu não precisava de um Caçador dizendo-me como devo matar um vampiro, como devo dar fim ao seu corpo e etc.

– Se você quiser achar isso, não irei discordar. Você irá fazer dupla com um ótimo Caçador. - Eu engoli em seco, ele sorriu cruzando os braços. - Não se preocupe.

– Não estou preocupada. - Neguei colocando as mãos nos quadris. - Só não quero fazer dupla com alguém como... - Fiquei pensativa por um instante, depois apontei o dedo para ele. - Como você.

– Novamente digo para não se preocupar. - Ele continuava sorrindo, cínico. - Não será o Victor.

– Isso eu tenho que te agradecer. - Eu soltei um suspiro.

Victor era filho de François, era pior que o pai. Era um Caçador metido que amava chegar depois de uma noite de Caçada e dizer os duzentos vampiros novatos que matou a todo mundo. Seguia até demais as regras, sempre foi muito bem sucedido nos treinamentos, tinha uma imensa habilidade em fazer armadilhas para pegar os vampiros mais velhos. Algo difícil, considerando que os mais velhos eram inteligentes e sabiam o que era uma armadilha.

– Será Katrina. - Ele queria rir, sua voz e feição denunciavam isto.

– O que? - Eu praticamente gritei, enfurecida, balançando a cabeça repetidas vezes. - Você só pode estar brincando François? Diga que está brincando?!

– Não precisa gritar. - Ele disse, placidamente.

– Não é o Victor, mas tinha de ser a namorada dele?

Katrina era mais velha que eu cinco anos, era uma cópia de Victor só que na forma feminina. Nós duas tínhamos uma antipatia uma pela outra, já até brigamos uma vez.

– Acho que nossa conversa já se encerrou por hoje, Carter. - François saiu de trás de sua mesa e caminhou até a porta. - Acho também que você já pode ir.

Eu o encarei. Estou dizendo que ele faz isso para me atormentar, porque ele não gosta de mim. Agora eu me pergunto: porque ele não gosta de mim? O que eu fiz a ele? François abriu a porta e gesticulou com as mãos para que eu saísse.

– Ela já sabe disto, claro. Ela está caçando nesta noite, mas amanhã você pode falar com ela.

Eu passei por François sem desgrudar meus olhos dele.

– Até. - Então ele fechou a porta, enquanto eu cerrava os punhos na lateral de meu corpo.

Pude ainda ouvir sua risada do outro lado. Acalme-se Camille, acalme-se, acalme-se... Eu fui dizendo isto para mim mesma até chegar no segundo andar, em meu quarto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, mesmo que neste capítulo não tenha acontecido nenhuma morte e luta hihi
Vocês viram a capa nova? Curtiram? Eu sim ^^
Comentem ok?
Beijos, Ketty! =*