A Caçadora - O Despertar escrita por Ketlenps


Capítulo 2
Capítulo 1 - Caçando a Morte


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente!
Quero muito agradecer pelos reviews que ganhei, obrigado por terem comentando =)
Aqui está o primeiro capítulo, agora vocês irão conhecer um pouco da Camille, que era apenas um bebê no prólogo.
Espero que gostem e aproveitem!



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"Deus com sua infinita sabedoria, escondeu o Inferno no meio do Paraíso para que nós sempre estivéssemos atentos."

Paulo Coelho


Agora - Las Vegas, 2018

Os sons estalados de meu salto alto contra o chão eram os únicos audíveis nas escadas enquanto descia para o metrô



Tão monótono.

Era minha rotina na verdade, às vezes no metrô, às vezes pelas ruas imundas onde prostitutas serviam de alimento para as Criaturas da Noite. Às vezes por casas abandonadas, locais subterrâneos como esgotos. Não era um dos lugares que eu mais gostava de caçar, mas era preciso, e também é onde eles mais ficam.

Respirei fundo, dando pequenos e lentos passos, apertando minha querida companheira debaixo de minha jaqueta. Era minha arma. Um revólver diferente. Eu tenho duas, mas hoje estava usando apenas uma. Ao invés de atirar balas, ela atira estacas. Jack havia me dado ela quando eu ainda tinha apenas sete anos de idade. Eu havia ficado tão feliz e surpresa com o presente, que corri até ele e pulei em cima do mesmo o abraçando fortemente, ele me levantou do chão retribuindo o abraço caloroso de urso.

– Obrigada, Jack! - Eu o agradeci sorridente pulando de volta para o chão.

Como sempre, ele deu seu grande sorriso, os olhos cor âmbares sempre passando alegria para mim, como seu sorriso.

– Faça um bom aproveito dela pequena. - Ele havia dito, e eu assenti agitada com o meu mais novo brinquedo. - Maria irá lhe ensinar usar isto muito bem.

Horror ou não? Uma criança de apenas sete anos ganhando uma arma fatal como se fosse um brinquedo? Para mim não. Aquele fora meu aniversário e ganhar presentes em meus aniversários não era normal. Ninguém nunca fazia muita festa por causa dele, as pessoas na verdade sempre pareciam desconfortáveis com a data 3 de abril. Pessoas eu quero dizer, Jack, Maria e François. Não era todo aniversário que eu percebia isto, até porque uma criança de sete anos não iria perceber que certas pessoas se sentiam desconfortáveis com sua data de nascimento.

Porém, aquele foi o mais normal dos presentes que já ganhei. Para uma Caçadora ganhar uma Barbie que é anormal. Eu cresci, fui criada para um propósito, fui treinada para matar. O que? Vampiros. Seres que apenas andam de noite sobre este planeta incorrupto e covarde. Eles podem ser fortes, rápidos, mas são tão estúpidos que me deixam abobada.

Certa vez eu estava a caçar pelas ruas mesmo. Num ponto de ônibus, eu me encontrava com os ombros encolhidos, os braços cruzados e uma feição assustada. Eu estava completamente sozinha. Não demorou muito para que um deles aparecesse. Os novatos sempre foram e sempre serão, os mais idiotas. A sede de sangue é tanta, que não conseguem pensar em absolutamente nada e não ter outra reação a não ser voar para cima de suas vitimas e as mutilarem completamente. Claro, eles não fazem isto na frente de milhares de pessoas, pelo menos eles são espertos em ser o mais invisível possível. Mas de vez em quando não são.

Ele se aproximara de mim, o rosto sério, com olhos arregalados e grandes. Olhou para mim, depois para a rua deserta de um domingo.

– Está sozinha? - Sua voz grave questionou virando novamente o rosto jovial para mim. Tão jovem e bonito, mas um ser repugnante. Tão jovem e tão tolo.

Eu como uma boa atriz o respondi.

– Sim, estou esperando o ônibus. - Eu sorri amedrontada.

Como podia ser tão estúpido Deus? Os mais velhos vampiros, que conseguiram pelo menos passar dos 80 anos de vida, saberiam na hora, eu creio, que aquilo era uma armadilha astuta de um Caçador.

Eu fiquei impressionada com a calma que aquele novato teve, pois o que eu esperava, era um vampiro descontrolado vindo em minha direção sem perguntar nem falar nada.

Contudo, este apenas me encarara por um instante, antes de vir ao meu encontro com as garras para fora e os dentes afiados em direção ao meu belo pescoço. Eu dei uma graça gargalha antes de fazer um rápido movimento retirando uma estaca de minha jaqueta e cravando em seu peito.

Fora tão fácil.

Ele caiu em minha frente como uma pedra no chão. A boca entreaberta num grito silencioso, os olhos perdidos num último olhar de incredulidade, o corpo secou-se deixando a pele, que outrora era como porcelana, fina como papel, enrugada e velha. Aquele não tinha mais do que uns vinte anos como vampiro. Como sei disto? Os vampiros mais velhos, quando mortos por estaca, secam mais a ponto de a pele nem enrugar, ela se rasga e os ossos ficam muito mais expostos.

Abaixei-me sobre o corpo daquele rapaz, arrancado minha estaca de seu peito. Peguei seu corpo e o joguei sobre meus ombros, era tão leve quanto uma pena, depois o depositei deitado na calçada. Como se fosse mais um de muitos pobres mendigos sem teto, dormindo nas ruas de Las Vegas. Quando o dia amanhecesse ele viraria cinzas, nem tempo de queimar teria.

Ainda repito, eles são tão estúpidos.

O metrô encontrava-se vazio, tirando apenas uma mulher que estava com o que aparentava ser sua filha, num banco, sentadas esperando o metrô chegar. A garotinha dava risadas, enquanto sua mãe contava algo para ela, acariciando-lhe os cachos louros. Ainda olhando a cena delas, encostei-me numa coluna a alguns metros delas. Minha querida Beth ainda continuava escondida por minha jaqueta de couro, minha mão segurava seu cabo fortemente. Talvez meus dedos já estivessem dormentes. Não me importei.

Beth era o nome que eu dei ao revólver. Crianças normais colocam nomes como este em suas bonecas, eu não. Eu nomeei meu revólver com este nome, por causa de uma mulher. Ela era uma vizinha de nós Caçadores. Claro que não sabia que a grande mansão a alguns metros de sua casa, era na verdade um local de treinamento e Casa dos Caçadores de Las Vegas. Eu não gostava dela, nunca gostei.

Quando eu tinha dez anos, eu estava voltando para a casa junto com Dan. Nós vínhamos de uma quadra, onde estávamos jogando voleibol. Era verão de 2009, Dan - outro Caçador amigo meu - brincava com a bola. Num momento eu me distanciei e pedi que ele a jogasse para mim; ele jogou, porém muito forte. A bola passou voando por mim e adentrou a casa da Sra. Bethany, quebrando o vidro de sua janela.

Pensamos em correr, mas nossa bola estava lá.

– Suas crianças do capeta! - Ela gritara, aparecendo na varanda, com a nossa bola nas mãos. Os cabelos grisalhos estavam amarrados num coque, o rosto desgastado pelos anos, estava furioso.

– Nos desculpe Beth! - Eu pedi. - Mas devolva a nossa bola, juramos que não iramos mais atrapalhar a senhora!

– De jeito nenhum! - Ela gritou de volta. Ela entrou em sua casa, depois saiu novamente com a nossa bola em mãos, mas com uma faca. E então, ela furou a bola de vôlei, a rasgando. - Pronto aí está!

E jogou de volta para eu e Dan.

Depois do que acontecera aquele dia, eu e Dan fazíamos questão de atormentar a Sra. Bethany. Todavia, um dia, eu e Dan nunca mais mexemos com ela. Em 2011, Sra. Bethany morreu de câncer. Por um tempo, aquele bairro ficou tão mórbido sem ela que não havia mais graça. Dan e eu sempre passávamos de cabeça baixa pela casa daquela senhora. Em homenagem a Sra. Bethany que me divertiu muito e irritou com seu jeito coroca, dei seu nome ao revólver. Poderia não ser das melhores homenagens, mas toda vez que eu via uma arma pensava nela.

A Sra. Bethany era literalmente um revólver que não tinha pena em atirar suas balas nas crianças.

Na plataforma, eu podia ouvi-los se aproximando. Eu estava de costas para o lado do qual o metrô deveria vir, porém eu ouvi outra coisa. Vampiros andavam sobre os trilhos, rápidos, apressados. Minha cabeça estava baixa, apenas captando o som. Então eles surgiram, mesmo que eu não tivesse vendo nada, eu já sabia que eles haviam saído dos trilhos e estavam na plataforma, atrás de mim. Pelos passos, deveriam ser três deles. Todavia, os passos sumiram, e novamente o silêncio reinou o local. A mãe e a garotinha dos cabelos cor ouro, continuavam dando risadas. Mal sabiam que os demônios já estavam ali.

– Com licença... - Uma mão tocou meu ombro por trás de mim.

Apertei Beth e virei-me para trás. Era um homem alto, cabelos castanhos, ombros largos, pela branca e um sorriso irônico na face.

– Sim? - Eu sorri, engatinhando minha amada Beth.

E como eu imaginava, ele veio para cima de mim com seus dentes. Mas para sua infelicidade, eu já havia atirado nele. Três estacas acertaram seu peito, com um berro ele caiu nos trilhos. Pude ouvir o grito da garotinha assustada e o de sua mãe.

– Caçadores... - Sibilou um dos vampiros empoleirado na parede.

Porém, o outro segundo já estava do meu lado, pronto para o bote. Coloquei minha arma no meu cinto, e arranquei duas pequenas lâminas que ficavam na lateral de minha bota, joguei uma em sua direção. Mas ele desviou, e vou para cima de mim. Idiota. Eles podiam ser rápidos, mas nós Caçadores também eramos. Eu por exemplo sou muito.

Desviei - me dele ficando atrás do mesmo e sem preâmbulos cortei seu pescoço com uma das lâminas ainda em minhas mãos. A lâmina entrou lentamente em sua garganta, pude ouvir sua pele se rasgando, e num último urro sua cabeça rolou trilho abaixo, e o corpo caiu no chão. Vermelho escuro e sem vida, espalhou-se sobre o local.

Um berro desesperado foi solto atrás de mim, ao virar-me o último vampiro segurava a garotinha pelos cachos louros, a levantando do chão. Sua mãe gritava desesperada, e em vão tentou pegar sua filha, mas o vampiro desgraçado a empurrou, fazendo com que ela batesse as costas numa parede e caísse no chão, contorcendo-se de dor e gemendo.

– Diga adeus a Caçadora, criança humana. - O vampiro riu, levando seus finos caninos em direção ao pescoço branco da menina.

Sem pensar, joguei a mesma lâmina que eu havia usado para cortar a cabeça do outro vampiro. Ela acertou diretamente sua testa, provocando um grave ferimento. Ele gritou, soltado a garotinha que desabou no chão e depois correu ao encontro da mãe.

O vampiro grunhiu furioso. Peguei minha Beth de meu cinto e caminhei até ele, já sem a lâmina na testa, pois ele havia retirado.

– Sua vadia... - Ele correu até mim, e eu atirei nele.

Uma estaca certeira em seu peito, diretamente em seu coração que já não batia a uns bons anos. Ele parou a centímetros de mim, os olhos azuis chocados e arregalados. Eu o empurrei, ele caiu no chão silenciosamente, a pele rasgada e os ossos mais visíveis. Aquele era um vampiro velho, mas estúpido por ter uma sede incansável pelo elixir deles; o sangue.

Retirei a estaca de seu peito, e suspirei feliz comigo mesmo por mais um trabalho completo. Por mais três Criaturas da Noite terem ido direto para o inferno. Por menos três destas pragas para infestar o mundo.

Contudo, ainda havia um problema. A mãe e a garotinha haviam visto absolutamente tudo. Caminhei até as duas, a mãe levantou-se desajeitada, ajudada pela pequena menina. Ao me ver por perto, a mãe puxou a filha para si, num ato protetor.

– Você está bem? - Eu perguntei para a mulher mais velha.

Ela assentiu nervosamente.

– E- Eu estou bem. - Gaguejou, depois sorriu assustada. - Obrigada...

Eu nada disse, não podia dizer nada além de perguntar como ela estava. Virei as costas para as duas, peguei as estacas que eu havia usado para matar os vampiros, descendo nos trilhos para pegar as três que eu havia usado para matar o primeiro. E fui embora, mas antes de sumir da vista das duas pessoas que me encaravam eu aconselhei:

– Podem ligar para a polícia. Eles vão limpar esta bagunça.

Mais um caso anormal para o CSI de Las Vegas. Porém, eles nem se importarão. Eles sabem de nós Caçadores. Sabem, quem somos e o que fazemos, por isso, nem se importam. Como na lei estabelecida em 1960: eles não se metem com as coisas que fazemos, que nós não nos meteremos no que eles fazem. Bem, apenas o CSI e a CIA que sabem sobre os seres sobrenaturais, mas eles não gostam de falar sobre isto, e muito menos gostam de nós Caçadores.

Então, a mãe e a garotinha contaram tudo o que viram para a policia, contudo o caso vai para o CSI, que nada fará. Claro, além de limpar os corpos dos vampiros do metrô. Mas, François que não gostará nada de saber que eu novamente deixei a bagunça que fiz para a polícia de Las Vegas limpar.

Não tenho culpa, está sou eu. Uma Caçadora.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, logo postarei o próximo, porfavor comentem ok?
Obrigado por lerem!