A Caçadora - O Despertar escrita por Ketlenps


Capítulo 12
Capítulo 11 - Anjos e Demônios Vivem ao Lado


Notas iniciais do capítulo

Oooi! ^^
Nem demorei, não é mesmo? Esse capítulo está bem grande, talvez o maior que eu já fiz, demorei dois bilhões de anos para escreve-lo (temos que fazer as coisas com calma para que fiquem boas, não acham? ) E eu amei ele, meu favorito até agora e eu espero que vocês gostem dele. A partir de agora os capítulos voltarão a ser grandes, então acostumem-se ;)
Capítulo betado pela Anne.

Aproveitem!



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- Se era para dormir, você deveria ter ficado em casa, inteligência.

A voz ecoava dentro de minha mente, estava distante e era fina; feminina e irritante. Eu estava num buraco negro, sentia-me vazia e perdida. Eu tentava achar a saída daquele lugar, mas era como um labirinto. Cada vez que eu virava numa esquina encontrava outra parede. Minha cabeça parecia estar bloqueando a realidade de mim, querendo me deixar presa em meu subconsciente para sempre.

- Sério mesmo que você está dormindo? - Dessa vez a voz estava mais debochada; e mais perto de mim.

Podia sentir a luz próxima de mim e o buraco negro se desfazendo, se despedaçando como um copo de vidro indo ao encontro do chão sólido. Eu só precisava resistir e ter força. Algo queimou atrás de mim e eu me virei naquela escuridão e meus olhos foram cegados por uma luz branca forte; e eu os abri alarmada.

Arfei erguendo a cabeça quando senti um imenso gelo tomar conta de meu corpo. Fora como receber um balde de água na cabeça, o gelo infiltrando-se por entre minhas roupas e me arrepiando de forma tão grande que perdi o ar. Eu estava novamente sentada no banco do balcão do bar no Lotus Cassino, desorientada e estarrecida, olhei ao redor me certificando de que eu estava mesmo ali. Até dei um tapa no balcão para ter certeza de que ele estava bem sólido e de que não iria sumir como fumaça de minhas mãos. Uma mulher sentada logo ao meu lado me olhou com o cenho franzido, mas logo desviou o olhar de mim.

- Camille, vou te dar um conselho de amiga para amiga: não misture bebida alcóolica com maconha, não dá muito certo.

A voz feminina continuava a me atormentar e foi aí que percebi que ela vinha da pessoa ao meu lado direito. Virei o rosto e Katrina estava com uma mão no quadril e a cabeça caída para o lado, enquanto me olhava intrigada, mas com um leve toque de deboche. Ela usava uma maquiagem leve nos olhos, mas na boca um batom vermelho chamava a atenção.

Então tudo foi apenas um sonho? Um simples e idiota de um sonho?

- Katrina - disse eu, ainda aturdida.

- Sim, sou eu. Por quê?

Franzi as sobrancelhas e a encarei.

- Esquece. Nem sei por que estou falando com você.

- Ótimo. - respondeu ela. - Só vim aqui porque Dan pediu com educação, algo que estranhamente você não tem, para te chamar. E não é elegante uma mulher ficar dormindo debruçada sobre o balcão. Isso passa uma imagem de que você...

Lyssandra, o homem dos cabelos claros, a voz em minha mente... Tudo fora um sonho, ou melhor dizendo, pesadelo? Ignorei a tagarelice de Katrina; eu tinha mais com o que me preocupar do que saber que imagem passava aos outros sobre uma mulher dormindo no balcão de um bar. Eu ainda estava confusa, fora tudo tão real que eu até pensara que o homem iria me pegar ali naquele beco - onde eu desmaiei, ao que tudo indica minha lembrança - e me levar para sabe onde.

Instintivamente levei minha mão até meu pescoço, mas a corrente de anjo que Jack me dera não estava ali. Acho que quando eu fui tomar um banho a retirei e me esqueci de colocá-la novamente. Eu mal tinha ficado com ela por muito tempo, e agora, eu me sentia nua sem o pequeno colar de ouro.

- Está bem, Katrina. - resmunguei por causa da sua tagarelice e me levantei do banco lhe dando as costas sem esperar por uma resposta ácida dela.

Fui em direção à mesa da roleta onde ainda tinha muitas pessoas, mas não as que eu queria. Dan e Mandy não estavam lá. Franzi as sobrancelhas enquanto vasculhava com os olhos o Cassino. Porém, logo vi Dan mais a frente erguendo a mão para indicar a mim onde estava e eu fui em sua direção.

Meus olhos logo se fixaram em Mandy, que estava sentada numa cadeira com a cabeça enterrada nas mãos e não parecia muito bem.

- O que ela tem? - perguntei para Dan, ele me deu um sorriso de lado.

- Bebeu de mais. - murmurou colocando a mão na boca, de forma que Mandy não ouvisse.

- Não bebi demais, ainda estou sóbria Sr. Solomon. - disse Mandy com voz débil, tirando a mão do rosto e encarando Dan com um sorriso abobalhado de quem não sabia muito bem o que falava.

Ela não parecia muito sóbria, os olhos estavam um pouco vermelhos, a face estava lívida e franzida. Parecia prestes a vomitar. Não era costume de Mandy beber, por isso achei estranho ela estar alegre demais.

- O que você sugere? - perguntou Dan, levemente entretido com a situação de Mandy.

Olhei em meu relógio de pulso, estávamos no Cassino à uma hora e meia e acho que já estava na hora de ir embora, por mais que eu não tivesse feito absolutamente nada além de dormir. E os planos de Mandy de me fazerem divertir se converteram para ela.

- Bem, é melhor irmos embora então...

- Não! - Mandy balançou a cabeça, os cabelos escuros esvoaçando ao redor de seu rosto pálido. - Não estraguem a noite por causa de mim, eu estou bem, só senti uma tontura e um enjoo, nada demais.

- Ah, claro. - disse eu. Ela se levantou da cadeira desajeitadamente.

- É sério, Cammie! Se você quiser podemos ir para outro lugar, já que aqui está realmente um tédio. - Ela bufou e depois apontou para Daniel. - Ele perdeu o jogo na roleta e também perdeu dinheiro nas maquinas. Enquanto Victor e Katrina estão quase bilionários.

- Você não fazia nada para conseguir dinheiro e ainda está reclamando? - disse Dan.

Subitamente, Mandy cambaleou para frente e eu a segurei nos braços, impedindo-a de cair e passar vergonha na frente de tantas pessoas, apesar de que ela já estava passando um pouco. Olhares de curiosos eram dirigidos para mim enquanto a sustentava.

- Você tem razão - observou Mandy, o rosto em meu ombro o que fazia sua voz sair abafada. - É melhor irmos embora.

- Avise para Katrina e Victor que nós já vamos, por favor Dan. - pedi, e ele assentiu e virou as costas para ir ao encontro do casal.

Caminhei com Mandy para a saída do Cassino, segurando-a pela cintura. A lâmina dentro de minha jaqueta ficava me incomodando por causa do peso de Mandy ao meu lado, o que apertava a única arma que eu havia trago - nunca sabemos se acontecerá um imprevisto, não é mesmo?

- Ufa, ar fresco. - Mandy se soltou de mim e caminhou para a rua com a cabeça levantada, sentindo o vento sobre o rosto.

Fiquei de olho nela pra que não caísse e quebrasse um dente, não seria muito elegante, como diria Katrina. Andei em direção ao Mustang preto que era de Kelly - tia de Mandy -, ele estava estacionado do outro lado da rua e eu a atravessei. Pensando bem, era meu aniversário, não estava "bêbada" como Mandy e a noite estava bela. Virei-me de costas para o Mustang e olhei para o alto pensativa. Precisava de um tempo só para mim, quem sabe matar algumas Criaturas para descontrair?

Logo vi Dan saindo apressado do Cassino, estava sozinho, ele nem precisava explicar; já sabia que Victor e Katrina iam ficar e estavam pouco se mordendo para o estado de Mandy. Dan, surpreendendo e assustando Mandy, lhe pegou no colo a colocando em seu ombro. Ela começou a gritar e xingar, dizendo que estava de vestido e os outros iriam ver sua calcinha ou ameaçando que ia vomitar em sua cabeça. A cena foi cômica; as pessoas encaravam enquanto Dan atravessava a rua com uma Mandy emburrada.

Ah, eu ia lembrar disto para o resto de minha vida.

- Daniel Solomon, me ponha no chão agora! - ela disse, quando ambos chegaram onde eu estava. - É sério, eu estou ficando enjoada.

- Garota fresca. - disse ele e com isto, a tirou do ombro aterrissando-a no chão, que ficou por um momento desorientada e com a mão na cabeça enquanto piscava os olhos.

- Mandy me dê à chave do Mustang. - disse eu.

Ela indicou com a mão o bolso do vestido rosa claro de alças. Ela parecia mesmo enjoada e que a qualquer momento fosse vomitar. Enfiei minha mão em seu bolso e encontrei as chaves, as peguei e entreguei para Daniel, que franziu as sobrancelhas confuso.

- Eu não vou agora. - expliquei. - Leve Mandy para casa, ficarei aqui mais um pouco.

- Tem certeza?

Fiz que sim com a cabeça e ele assentiu. Chamou Mandy, que ainda estava massageando as têmporas, cansada e tonta. Ela o seguiu depois que ele abriu as portas do carro e entrou no banco do passageiro.

- Mas já estão indo? - disse uma voz masculina ao meu lado.

Girei meu rosto enquanto via Henry se aproximar com as mãos no bolso do casaco escuro e longo que usava. O olhei incrédula.

- Dá para você parar de me seguir? - disse irritada.

- Não estou te seguindo, foi Victor quem me chamou, só que eu só estou chegando agora. - ele respondeu e sorriu com os lábios fechados. Aquele sorriso que eu desconfiava. - Não podia perder a festa.

- Pois já perdeu. - respondi friamente, querendo cortar qualquer clima de amizade ali.

- Olá, Henry, estou vendo que você e Camille são grandes amigos. - Dan disse dentro do carro, eu o fuzilei com os olhos, mas ele deu de ombros e ligou o Mustang. - Na verdade, só eu e nossa coleguinha bêbada aqui, vamos embora.

- Oh - disse Henry e me lançou um olhar rápido. -, que pena.

- Não suma a noite inteira, Cammie. Jack não ficaria muito feliz. - avisou Dan.

Ele nos deu um aceno com a mão e depois arrancou com o Mustang da tia de Mandy. Eu não esperava que Kelly fosse dar uma bronca em Mandy, ela não era tão durona quanto sua mãe Margaret, mas lhe lembraria que ela era mãe e que deveria dar um exemplo para sua filha de apenas quatro anos. No entanto, Kelly iria gargalhar do estado de Mandy.

- Então? - Henry cortou o silêncio.

Cerrei os olhos para ele.

- Então nada. - disse dando as costas e caminhando em direção contrária a ele.

Enfiei as mãos no bolso da jaqueta e continuei andando, sem olhar para trás para saber se Henry estava me seguindo, mas eu não precisava, já podia ouvir seus passos calmos e claramente decididos.

- Se você tentar me enforcar novamente, eu juro que desta vez enfiou uma lâmina em seu crânio e não em seu estomago. - ameacei, ressabiada com sua caminhada ao meu lado.

- Ainda bem que tocou nesse assunto. - disse ele, a voz agradável de barítono, o que me fez o olhar de canto. Ele arqueou uma sobrancelha, indagador. - Aquela noite, na casa das Criaturas eu pensei que você fosse um vampiro.

- Então você admite que estava lá. - disse, o fitando com um olhar acusatório. - Nenhum Caçador que se preze acha que um humano é uma Criatura da Noite. De longe sabemos distinguir um vampiro recém-nascido, novato e velho de um humano; ainda mais um Caçador.

- Ah, é? - disse Henry, a voz com uma pitada de diversão. - Pois eu ponderei que você pensou que eu fosse um vampiro naquela noite, e enfiou uma estaca de madeira em meu abdômen achando que eu ficaria tempo o suficiente espichado no chão até a casa explodir e eu virar pó.

- Mas você tinha todas as características para ser um vampiro. - retruquei, ainda com a voz firme. - O que estava fazendo lá então? Por que tentou me matar? Achou que eu fosse uma vampira? Por favor, eu estava com armas o suficiente para saber que era um Caçador. Isso é uma desculpa muito esfarrapada, você tinha outro propósito.

- Quer mesmo saber? - ele perguntou e eu assenti. - Eu estava lá pelo mesmo propósito que você e Katrina. Estava caçando aquele grupo de novatos e recém-nascidos que estavam ultimamente causando muitas vitimas pelos bairros próximos. Quando eu estava lá, vocês chegaram, não pensei em muita coisa. Estava tudo uma baderna e aí vocês apareceram. Pensei que iriam me atacar, pensei que tivessem me visto. Então, empurrei Katrina para longe. - Cerrei os olhos para ele, desconfiada, mas ele ignorou e prosseguiu – Então, você tentou me atacar e eu simplesmente me defendi. Sim, eu iria te matar, mas aí eu percebi que você não era uma vampira. Eu ia te soltar, mas você enfiou uma estaca em mim e eu não tive tempo. - ele fez uma careta, possivelmente se lembrando. - E aquilo doeu, admito.

- E como conseguiu sair de lá? - Eu não estava acreditando em sua história, não mesmo.

- Sou um Caçador, Cammie. - ele dizendo o meu apelido foi extremamente desgostoso para mim, mas não disse nada. - Tenho treinamento. Uma estaca enfiada em meu estômago não era o suficiente para me parar.

- Claro - disse, desviando das pessoas na calçada enquanto andávamos. Estávamos saindo da famosa Las Vegas Strip e virando numa rua menos movimentada.

- Não acredita, não é mesmo?

- Quer sinceridade? - questionei, ele revirou os olhos, mas assentiu afirmando. - Não.

- Porque é tão sarcástica comigo? - ele me surpreendeu com sua pergunta, enquanto viramos em outra esquina.

Um leve sorriso surgiu em meus lábios e eu suspirei.

- Sou sarcástica com todo mundo que odeio, Connelly.

- Uau, você já tem um sentimento formado por mim. - ele disse, um largo sorriso estampado nos lábios. - Isso já é um bom começo.

Caí na gargalhada, tão alto que as poucas pessoas que passavam pela rua me lançaram certos olhares. Henry, no entanto, apenas ergueu a sobrancelha loira e olhou-me de lado. Dei uma leve batida em seu ombro, ainda rindo.

- Se você acha que algo pode acontecer entre nós dois, está extremamente errado.

- Não acho que algo possa acontecer, mas isso já pode ser o começo de uma grande amizade. - ele me deu uma piscadela, e eu larguei seu ombro com uma careta enojada. - Sua malícia que é demais.

- Amizade entre nós dois está longe de acontecer.

- Não, já está acontecendo.

Eu parei de andar e me virei para ele, Henry fez o mesmo e me fitou. Estava longe de eu ter uma amizade verdadeira com ele. Em primeiro lugar: eu não confiava nele e tinha certeza absoluta de que eu ainda iria descobrir coisas nada agradáveis a seu respeito. Mas agora, neste instante, o olhando com atenção; vendo sua feição descontraída e um pequeno sorriso no canto de seus lábios muito bem desenhados por um pintor famoso - não me esqueci de Pablo Picasso -, percebi que ele estava sendo ele mesmo.

Sua mão se ergueu e eu senti seu dedos quentes - por terem ficando dentro do bolso do casaco - em meu rosto, tirando uma mecha de meu cabelo da minha têmpora e colocando-a atrás de minha orelha. Vendo minha face incrédula, ele riu.

- Pensei que você fosse me enforcar. - disse eu.

- Foi só um gesto automático. Seu cabelo não parava quieto e estava me impossibilitando de ver seu rosto.

- Se isso foi uma cantada, acredite, foi péssima.- comentei voltando a caminhar com ele ao meu lado.

Já nem sabia onde estava, havíamos andando tanto que as luzes dos cassinos e prédios de Las Vegas, tinham ficado para trás. Agora não passavam de pequenos vagalumes sobre o céu escuro e opaco da noite. Um estranho som chegou aos meus ouvidos e eu girei o rosto, olhando ao redor com o cenho franzido. O som foi fraco, distante, mas o suficiente para eu o achar familiar. Era como o som de uma unha arranhando um quadro negro.

- O que foi? - Henry perguntou, confuso com meu comportamento.

- Ouviu isso?

- Não, eu não tenho uma audição aguda como você. - Ele riu, mas parou subitamente ficando sério quando novamente o som chegou, agora a nós dois. Foi desta vez mais perto, o som de um rugido, e o estranho som de asas batendo contra o vento. - Agora eu ouvi.

Asas batendo; rugido alto e áspero; asas, rugido... Eu conhecia aquilo. Ah, merda, eu conhecia.

Peguei na manga do casaco de Henry o puxando.

- Henry, acho melhor irmos...

Não pude terminar, por cima de um prédio comercial fechado, ele apareceu voando.

Os mesmos olhos do tamanho de bolas de beisebol; profundos e com fogo ardendo dentro deles. A boca imensa salivava, presas e dentes enegrecidos saindo para fora, rosnando para eu e Henry. As asas gigantes batendo rapidamente, enquanto ele voava em nossa direção. Era como a criatura que me atacara na outra noite, eu sabia que não era a mesma, pois essa tinha as duas garras no final das asas, enquanto que a outra, Katrina a cortara com o chicote o que a fez ir embora.

- Ah, de novo não. - murmurei, tropeçando para trás.

Enfiei minha mão dentro da jaqueta e retirei a lâmina que eu tinha trazido. Ela era média, pequena comparando ao tamanho da criatura. Jamais conseguiria arrancar sua garra. Mas para minha surpresa, Henry, em minha frente agora, estava empenhando uma enorme espada prata que tinha uma pedra vermelha - rubi - no cabo. Franzi o rosto imaginando de onde ele havia tirado ela, mas não me importei. Tinha de me preocupar com a gárgula ali na frente.

- Henry, cuidado! - gritei, quando a criatura voou para baixo apontando as garras na direção dele, mas Henry rapidamente agachou-se, o que me enfureceu, pois a criatura veio em minha direção.

Fui jogada para trás, batendo as costas na calçada com Henry em cima de mim. Quando a criatura passou por ali, tendo de subir novamente para não se chocar com a parede atrás de nós, um fedor podre instalou-se no ar. 

Henry se levantou de mim e eu rolei para o lado, respirando fundo, puxando o ar gelado da noite. Levantei-me ainda segurando minha lâmina. Henry puxou meu antebraço, para que ficássemos um ao lado do outro.

- É a mesma criatura que tentou me matar naquela noite, na casa dos vampiros! - disse para ele, vendo a criatura dar um giro no céu e voltar descendo.

- Eu sei, eu a vi te atacando quando sai da casa.

A gárgula pousou no meio da rua, suas garras fazendo um buraco no asfalto. Ela olhou para Henry com aqueles olhos de fogo, depois seus olhos seguiram para mim lentamente; ela rosnou mostrando os dentes enormes. Um frio subiu em minha espinha quando ela falou.

- Você - ela sibilou, a voz era grave e pesada, era tão horrível. Parecia que arranhava sua "garganta" toda vez que falava. - A garota. Você.

Henry me olhou de soslaio inexpressivo. Eu apertei o cabo da lâmina, sentindo minhas juntas embranquecendo.

- A menina. - A gárgula continuou sibilando, levantando a garra preta e nojenta para me indicar. Ela deu um passo para frente, Henry deu um para trás empurrando-me. - Ele me mandou para pega-la; meu mestre. Mas ele não disse nada sobre o garoto. - A coisa pareceu sorrir e eu quase vomitei. Henry ao meu lado retesou os ombros.

Henry olhou para trás furtivamente. Ele sussurrou algo para mim, porém eu não entendi já que a criatura avançou para nós dois. Henry rosnou irritado e puxou meu pulso com força para trás. Havia um portão na nossa frente, o qual estava trancado com correntes e um grande cadeado, todavia, Henry usou sua espada para cortar as correntes que caíram no chão aos meus pés.

- Corre! - gritou ele, me empurrando para dentro do espaço. - Entre no depósito, só vou distrair a coisa. Vá!

Assenti e saí correndo, passando ao lado de caminhões que estavam estacionados ali na frente. O comercial na lateral delas dizia que eram uma marca de pneus de motos. Havia um grande depósito com um portão de aço. Na pequena porta ao lado do grande portão - por onde entravam e saiam caminhões - tinha apenas uma fechadura.

Dei um chute na porta; dei o segundo chute na porta; dei o terceiro chute; o quarto...

- Vamos! - resmunguei, e com força, lembrando-me do treinamento que tive com Henry, quando lhe dei um chute. Bati novamente na porta. Ela se abriu, escancarando-se.

Olhei para trás e vi Henry desferindo um golpe na gárgula, cortando-lhe o rosto enquanto ela berrava num rugido áspero. Henry teve tempo de correr até a porta do depósito, correndo em ziguezague pelos caminhões para confundir a coisa, que ainda balançava a cabeça aturdida pelo golpe que recebeu na face horrenda. Entrei no depósito logo quando Henry surgiu.

- Me ajude a colocar aquele caixote aqui. - pediu ao entrar no depósito.

Nós dois empurramos o caixote - provavelmente com pneus dentro - para frente da porta, a fechando.

Nossas respirações ofegantes quebravam o silêncio dentro do depósito. Estava tudo um breu, eu não conseguia enxergar nada além de escuridão. Meu coração batia irregular como um metrônomo quebrado por causa da adrenalina que corria pelas minhas veias; por causa do susto ao ver novamente a criatura; o suor causado pelo pavor fazendo meu cabelo grudar-se a testa. Eu não deveria estar assim, suando, com o coração a mil. Nós Caçadores éramos treinados não só para saber lutar e manejar lâminas e armas, mas para preparar o corpo. Saber controlá-lo. Se fosse em uma simples Caçada e eu tivesse corrido de vampiros, não estaria ofegando como agora.

- Você está bem? - senti a mão de Henry em meu ombro.

Fiz que sim com a cabeça, até lembrar que estávamos no escuro e que ele não podia me ver.

- Ah, estou.

Bum. Bum. Bum.

A criatura começou a bater no portão de aço, o amassando. As luzes da rua começaram a se infiltrar por baixo quando o portão começou a virar-se para cima.

Ela enfiou a cabeça por um buraco que conseguiu abrir no portão.

Os olhos de fogo brilhando sobre a escuridão do depósito, agora iluminado pelas duas bolas de beisebol. Senti uma queimação logo abaixo de meu ombro. A marca. Estava queimando como queimou da primeira vez que vi a gárgula.

O portão se despedaçou e aço voou para os lados, coloquei os braços na frente do rosto num ato automático de proteção.

- A garota. - sibilava a coisa. - Você. A filha do mestre.

Um borrão negro passou na minha frente e notei que era Henry correndo para as caixas perto da entrada. Ele subiu em um, depois em outro, até estar no alto, na altura da cabeça da coisa. Ela viu Henry e rugiu mostrando os dentes podres e afiados. Veloz, Henry saltou da caixa em direção à criatura. Sua espada reluzindo vermelho, a cor dos olhos da gárgula. O rubi brilhando em meus olhos...

O resto foi em questão de segundos. Sangue negro voou pelo ar, a cabeça da coisa caiu no chão, quicando até parar perto das caixas na entrada. Henry estava a alguns metros do corpo da gárgula, que estava flácido, deitado sobre uma poça de sangue escuro e decepado. Henry segurava a espada com as duas mãos, sangue pingando da mesma; seu peito subia e descia rapidamente. Ele apertou o rubi no cabo da espada - apertou como se aperta um botão num elevador - e a lâmina da espada diminuiu, até ficar do tamanhão da que eu ainda segurava nas mãos.

- Acho que agora - disse ele, passando a mão pela testa suada e erguendo o rosto para me olhar. - podemos ter uma amizade confiável, não?

Caminhei até ele intercalando meu olhar entre a criatura morta e ele.

- Connelly - disse eu, ainda estarrecida com toda acena que aconteceu ali a segundos atrás. - Não é só porque salvou minha vida, que quer dizer que podemos ser amigos verdadeiros, que contam segredos um para os outros. Eu ainda não confio em você.

Ele me encarou, o rosto suado e sujo com respingos do sangue da criatura. Agora eu entendia, só o sangue da garra era venenoso. Henry riu e eu consequentemente, mesmo com toda a situação em estávamos, mesmo por quase termos sido assassinados, retribui sua risada.


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Notas finais do capítulo

Gostaram??
Bem, não sei quando vou postar o próximo, mas pretendo não demorar ^.^
Não esquecem de COMENTAR!

Até!