A Caçadora - O Despertar escrita por Ketlenps


Capítulo 13
Capítulo 12 - Caçadores de Gárgulas


Notas iniciais do capítulo

Hey, gente! :D
Que saudade de vocês amores hehe Primeiramente, desculpem a minha demora, mas como eu disse no capítulo anterior, eu não sabia quando eu ia postar o próximo, but... Aqui estou eu!
Obrigada à: Duda, Hitoru e a Bru (ou pequena?), pelas recomendações! Eu ameeei! :D
Cap. Betado pela Anne.
Espero que gostem desse capítulo grandão (compensando a minha demora também, né?) ♥



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Par Dieu, o que é isto?

François rodeou a mesa da sala de reuniões da mansão estarrecido, enquanto olhava para a "gárgula" depositada ali em cima. Eram cinco horas da manhã e François já se encontrava de terno. Ele e sua incrível habilidade de estar pronto para qualquer situação - se é que precisa de terno nesta situação.

Sangue negro pingava da mesa e caía no chão de mármore, produzindo um som bizarro no silêncio que se seguiu depois do pronunciamento de François, clássico de filmes de terror; um cheiro de podridão e uma mistura de carne queimada pairava no ar e todos na sala franziam o nariz. A gárgula parecia ter diminuído de tamanho; ela não era mais gigante com asas de dois metros cada uma, era como se ela tivesse murchado um pouco. Sua cabeça decapitada estava ao lado de seu corpo, a boca estava entreaberta e dos dentes afiados e podres uma baba nojenta escorria, caindo na mesa. Os olhos do tamanho de bolas de baseball não eram mais duas bolas de fogo; agora eram dois buracos negros sem vida.

– Ninguém me respondeu ainda - disse François, friamente, ainda encarando a gárgula. - O que é isso?

– Não percebeu? - eu disse e ele me lançou um olhar cortante. - É um corvo gigante, criado pela Umbrella Corporation, conhece, não? Soube que eles abandonaram os zumbis e agora resolveram modificar pássaros. Interessante, não acha? Imagina só: "Apocalipse Pássaro".

Henry ao meu lado riu levemente, e eu sabia o motivo, ele se lembrava das palavras que eu disse a ele: "Sou sarcástica com todo mundo que odeio, Connelly." E eu odiava François Chevalier.

Antes que François pudesse me responder, Maria do outro lado da sala, se pronunciou. Ela era a única ali na sala de pijamas, com uma camisa branca e calça azul bebe. Como sempre ela não se importava com a situação e do mesmo jeito que acordou veio para cá.

– Essa é a coisa que atacou Camille e Henry hoje mais cedo. - disse Maria, calmamente. Eu sempre me perguntava como ela conseguia ter calma com François.

Depois que Henry decapitara e matara a gárgula, nós resolvemos traze-la para a mansão, dar uma pesquisada nela e mostrar para os outros. Se essa não era a gárgula que me atacara na primeira vez quando eu caçava com Katrina, então quer dizer que existe muitas outras e seria bom que todos estivéssemos preparados para as próximas que virão; se vier. Eu tive de ligar para Dan pedindo que ele voltasse com o carro da tia de Mandy e buscar eu e Henry, para podermos levar a gárgula.

Kelly terá de desinfetar o porta-malas.

– Ela é a mesma que te atacou quando caçava com sua responsável pela primeira vez? - perguntou o homem grandalhão que estava ao lado de Maria, aproximando-se da mesa para ver a gárgula mais de perto. Josh Borali era o seu nome, mas todos os chamavam apenas de Borali. Ele participava do grupo de Jack que em algumas noites iam caçar por Las Vegas. Ele era um afro-americano com ombros largos, tinha braços e pernas imensas e era calvo.

– Não, não é. - respondi. - Há mais destas coisas por aí. A que me atacou quando estava com Katrina teve a garra arrancada. - apontei para uma das asas dobradas da gárgula. - Esta daí está com a garra inteira.

– Talvez ela pudesse se regenerar. - olhei para trás e Jack adentrava a sala. Ele não estava na mansão quando eu cheguei com Henry e chamamos os outros para a reunião, então eu pedi apenas para Maria ligar para ele para que viesse.

– Pensei que não fosse chegar. - disse, lhe dando um sorriso. Jack estava péssimo, eu tinha de admitir. Ele não parecia dormir a dias, usava as roupas pretas de caçar, e foi aí que conclui: Ele passara a noite caçando.

– Você está bem? - ele perguntou quando se aproximou, fixando aqueles olhos âmbares em mim com uma preocupação talvez até exagerada.

– Sim, Henry me ajudou. - disse e só agora Jack pareceu perceber a presença de Henry ao meu lado. Ele ergueu os olhos e sorriu em agradecimento, Henry apenas assentiu com a cabeça.

Merda.

Estou sentindo um clima de confiança aqui, e isso não é legal, por mais que Henry tivesse salvado a minha vida eu não confiava nele de modo algum. Mas olhando de relance para Henry, ele parecia estar ele mesmo; bem, parecia apenas.

Quem estava na sala eram apenas as pessoas, digamos, mais importantes da Casa dos Caçadores, ou talvez apenas os amigos mais próximos de mim e Jack. François, que ainda rodeava a mesa analisando a gárgula; Victor (que só estava ali por causa do pai) estava encostado na parede de braços cruzados e tinha uma feição enojada na face; Josh, que também estava ao redor da mesa olhando a gárgula, porém discretamente; Kate estava do outro lado da sala, perto da mesa; Abigail, a mãe de Dan, também estava aqui. Ela não mora aqui na mansão, alguns Caçadores têm sua própria casa - como ela -, porém agora ela estava trabalhando no laboratório da mansão e seria de muita ajuda. Dan não estava aqui, pois depois que ele me trouxe com Henry, foi direto para o seu quarto dormir. Eu não podia culpa-lo, o coitado estava morrendo de sono.

E a última pessoa na sala era Dominic, o homem que estava na parede ao meu lado apenas observando em silêncio. Ele era o braço direito de François, fazia tudo que ele mandava e claro, o protegia. Isso é tão...! Ah, chato. Não tenho muitos argumentos sobre o que eu acho.

– Não acho que isso possa se regenerar, Jack. - disse François, cutucando a gárgula com uma caneta.

– Foi apenas uma suposição, François. - Jack chegou perto da gárgula e a avaliou. Maria se aproximou dele e sussurrou algo em seu ouvido e Jack ergueu o rosto trocando olhares inexpressivos com sua irmã.

– Conte-nos o que aconteceu, Carter. - pediu François, e ele sabia muito bem que eu odiava quando ele me chamava pelo sobrenome.

Tentei ignorar e contei toda a estória, desde a parte em que saí do Cassino com uma Mandy bêbada, até a parte em que Henry decapitou a coisa. Todos fizeram silêncio, às vezes franzindo o rosto com algumas partes da estória, ou chocados quando disse que a gárgula falava.

– E o que ela disse? - perguntou Kate, interessada e fascinada ao mesmo tempo.

– Disse que me queria. - respondi e mesmo que tenha sido bem rápido, consegui ver François fuzilar Jack e Maria com os olhos. - Disse que... Ela me chamou de filha do mestre.

– Filha do mestre? - Kate indagou, franzindo as sobrancelhas. Ela se virou para Jack. - O que você acha Jack? - Eu sabia que Kate estava na verdade querendo dizer: "Poxa, cara, eu não estou invisível, olhe para mim!".

– Eu não sei, Kate. - respondeu ele, apenas.

– Pois acho que você deveria saber. - disse François, rudemente.

– Nunca vi nada parecido... - comentou Abigail inclinada na mesa. Era incrível como ela era parecida com Dan, tinha os mesmos traços fortes, olhos azuis sinceros, cabelos castanhos; a diferença era que seus cabelos eram longos e ondulados, e um pouco mais claros. - Como essa coisa poderia falar?

– Bem, se ela disse "mestre", quer dizer que alguém controla ela, e muitas outras. - disse Dominic coçando a barba do queixo.

– Curioso. - Foi apenas o que François disse.

Só eu estava sentindo um clima estranho ali na sala? Um clima estranho entre François e Jack? Aquela troca de olhares de um minuto atrás tinha um significado e eu sentia que eles sabiam e entendiam muito bem.

– Bem, se tem mais destas coisas, e se eles querem a Carter - disse François. - Isso quer dizer que estas coisas podem muito bem vir aqui na mansão. Se elas te acharam na rua, com certeza acharão aqui. Quem sabe esse tal de "mestre", não saiba onde você está, porém está apenas fazendo um joguinho? - prosseguiu François, sua voz tornando-se ameaçadora. - Quem sabe você não esteja sendo um perigo para a proteção dos Caçadores daqui?

Jack o interrompeu bruscamente, algo que me assustou, concluindo que ninguém interrompia François quando ele estava fazendo seu discurso e ainda mais grosseiramente.

– Ela não é um perigo. - retrucou Jack, ele sustentava o olhar firme que François usava nele.- Talvez essas coisas não queiram apenas Camille, talvez queiram alguns Caçadores.

– Ah, me poupe de suas suposições estúpidas, Jack. - François cuspiu as palavras nele.

– Mas é uma boa suposição, François. - disse Josh, François o encarou. - Se me permiti dizer.

– Jack está certo, François, pense um pouco. - disse Abigail. - Nas duas vezes em que Camille fora atacada, ela estava com Caçadores. Katrina e Henry. Talvez essas criaturas queiram Caçadores, isso é intrigante, por que... - ela parou por um momento, pensativa. - Qual a razão de quererem Caçadores?

Todos ficaram em um silêncio sepulcral. O pior era que me encaravam e eu apenas retribuía os olhares pensativos, o que eu não estava fazendo. Não estava pensando na suposição de Jack, eu estava me sentindo perdida naquela sala; perdida e sufocada, como se toda a pressão e culpa estivessem em cima de mim.

– Ótimo. - disse François. - Se vocês acham que eles querem Caçadores, acho melhor a Carter não caçar por algumas semanas.

– O quê? - disse eu. - Por quê?

– Porque - prosseguiu François. - se estas coisas querem Caçadores, não se importaram com que você tenha sumido. Não acha bom?

– Isso mesmo. - disse Jack, ele se aproximou de mim. - Você não vai caçar, nem que seja na companhia de Katrina, ou de Henry, tanto faz!

– Mas...

– Camille. - seu tom de voz assustou-me. Ele estava me repreendendo, como fazia quando eu era pequena e tinha mania de pegar as armas escondidas para treinar sozinha. - Eu não quero que você cace por algumas semanas até ver no que vai dar.

Suspirei frustrada. Todos na sala me olhavam esperando minha resposta para Jack.

– Tudo bem! - disse por fim. - Não vou fazer nada além de ficar mofando aqui por semanas.

Jack suavizou o olhar que sustentava em mim e desviou os olhos de volta para a gárgula.

– Vou leva-la para o laboratório. - anunciou Abigail, indicando a gárgula. - Dar uma examinada nela, será bom. Quando eu terminar digo o que encontrei.

– Para mim tanto faz. - disse François, indo em direção à porta. - Essas coisas não precisam de pesquisa para sabermos que são perigosas.

E abriu a porta saindo da sala, sendo seguido por Dominic e um Victor que parecia prestes a cair no chão de tanto sono. Abigail balançou a cabeça.

– Ele é sempre assim? - questionou Henry. - Quero dizer, mal-humorado?

– Olha! - disse eu ironicamente. - Você está começando a perceber as pessoas como elas realmente são!

Ele revirou os olhos, mas nada disse. Abigail chamou Josh gesticulando para que a ajudasse a pegar a gárgula, ambos não se importaram em ficarem sujos de sangue preto e gosmento e não tiveram dificuldades em levantar o bicho. Falando em sujeira, eu e Henry estávamos um caos. Minhas roupas estavam sujas do sangue da gárgula, que havia secado e no que deu em manchas e eu nem queria pensar em como estava meu cabelo. Henry ainda tinha respingos no rosto e o seu cabelo louro estava desgrenhado.

Logo que Abigail e Josh deixaram a sala, Kate e Maria fizeram o mesmo, nada disseram. E Jack, bem, ele também não fez nada. Passou pelo meu lado sem dizer uma palavra, mesmo que eu o estivesse encarando, ele simplesmente ignorou-me. Por mais que aquilo não fosse a primeira vez que acontecesse (claro que Jack já me ignorou muitas vezes), eu me senti mal.

– Já que acabou, preciso urgentemente de um banho. - disse me encaminhando para porta.

Henry me seguiu.

– Pela primeira vez concordo com você em alguma coisa.



***





Eu estava péssima, sim e meu cabelo nem se falava. Era triste olhar-me no espelho, por isso tratei logo de virar-me de costas e retirar minha roupa. Joguei minha jaqueta em qualquer canto e fiz o mesmo com minha regata. Eu não sou bagunceira, meu quarto não é dos melhores, mas também não é dos piores. De qualquer jeito, eu teria de pegar as roupas do chão depois.



Alguém bateu à porta, não tive tempo de responder e prestar atenção na voz que me chamou, a pessoa já havia aberto a mesma.

Droga, eu tinha de aprender a fechar a maldita porta ao invés de deixa-la encostada.

– Camille...

Henry estava na entrada, atônito, percebi em sua mão uma adaga. Oh, sim, minha lâmina. Lembrei-me que eu havia jogado ela no chão para ajudar carregar a gárgula até o carro e tinha me esquecido dela. Ah, que amor! Henry pegara ela para mim e agora veio trazê-la.

– Você esqueceu isso. - ele jogou a lâmina para mim, desviando os olhos de meu busto rapidamente. Que educado, não? Homens, todos iguais.

– Valeu. - disse, pegando a lâmina, e inclinado a cabeça para ele.

– Sutiã legal. - Foi a última coisa que ele disse antes de sair fechando à porta atrás de si.

Olhei para baixo e encarei meu sutiã. Não havia nada de legal nele, era um simples pano branco com bojo, não que eu usasse bojo para deixar os seios maiores. Ele disse isso apenas para mexer comigo e eu sentir-me envergonhada, creio eu com relação a homens metidos - como ele. Mas não senti nada.

– Idiota. - murmurei me encaminhando para o banheiro.

Logo eu já estava despida e debaixo do chuveiro, a água quente estava uma delicia, sentir aquela gosma preta da gárgula deixando o meu corpo e a sensação grudenta sumir, foi de alivio completo. Passei a mão abaixo de meu ombro e senti a marca que ainda estava em meu corpo, ela parecia mais sobressaltada e tudo aquilo indicava que ela tinha a ver com as gárgulas. Até porque, em todas às vezes que ambas apareceram, esta marca queimou. Mas eu estava pensando em outra coisa, talvez esta marca não tinha ligação com as gárgulas e sim com o mestre delas.

E uma das gárgulas disse que eu era filha dele.

O único pai que eu conhecia era Jack, no entanto, eu e todos sabíamos que ele não era o meu pai de sangue. Então, este tal de mestre poderia ser o meu real pai? O homem que Maria e Jack sempre ignoravam quando eu perguntava sobre meu pai verdadeiro, e o qual eles odiavam que eu fazia este tipo de pergunta? Se ele é o meu pai verdadeiro, porque me quereria? E, ainda por cima, porque estaria controlando criaturas que se pareciam com gárgulas?

Espera, eu estou acreditando no que uma estúpida e nojenta gárgula disse? Não, não posso. Camille Carter, não.

Depois que saí do banho, coloquei o melhor e mais infantil pijama que eu tinha, o tipo que eu uso quando estou de TPM depressiva. Uma camiseta branca e um short rosa, tudo bem folgado. Eu precisava de um descanso e por isso me joguei na cama para dormir, nem me importei em secar o cabelo, o deixei molhado mesmo. O dia estava amanhecendo bem quente pelo que eu podia ver da porta da sacada, mas não me importei e puxei minha coberta de lã e fechei os olhos, deixando que o sono me pegasse logo.

Pois o que eu mais queria, era um descanso de tudo o que estava acontecendo comigo.



***





Estou enlouquecendo.



Três semanas haviam se passado e eu não conseguia mais viver sem matar uma Criatura da Noite; havia três semanas que Jack me proibira de sair à noite para caçar, ou se quer para ir em alguma festa. Três semanas que eu estava mofando dentro dessa mansão que às vezes ficava sufocante. Já estava no final do mês de abril e por mais que Dan dissesse que os dias estavam passando rápidos demais (claro, ele podia caçar), eles estavam passando lentamente para mim. Eu só saía para ir na casa de Mandy, ver como ela, Kimberly e Kelly estavam, como andava seu emprego na Le Pain Quotidien. Ela disse que tudo estava ótimo e que estava adorando, havia dito também, há uma semana atrás, que tinha visto Henry na padaria.

Eu havia franzido o cenho, enquanto Mandy lavava a louça do jantar e eu as secava. Eu podia ouvir Kimberly na sala assistindo a um programa infantil.

– Ele estava tomando um café no balcão - disse Mandy. - Ele falou comigo quando eu perguntei se ele queria mais alguma coisa, bem, na verdade, flertou.

– Idiota. - eu murmurei dando uma leve risada, Mandy retribuiu.

– Eu disse que o conhecia, que ele era o homem que tentara matar a minha amiga, Camille. - continuou Mandy, dando-me um prato para secar. - Ele parou a xicara do café na metade do caminho até a boca e me encarou. Eu dei um sorrisinho irônico e lhe dei as costas, voltando ao meu trabalho. Ele não falou mais nada comigo, logo depois eu o vi saindo da padaria com um homem mais velho.

Este fora a única novidade que Mandy tinha para contar, e eu também nem liguei para quem fosse o homem que Henry saíra. Ele tinha sua própria vida e, além do mais, já fazia um tempo que eu não o via.

Ele sumira, simplesmente.

Meu plano de provar para Jack ou François quem realmente Henry era, fora para o buraco. Eu já nem me importava com isso. Se ele quisesse ter feito algum mal a mim, já teria feito nas três semanas que passei mofando aqui.

No mesmo dia em que Abigail levou a gárgula para seu laboratório, ela nos disse o que encontrou. E a resposta fora nada! Abigail tinha deixado a gárgula lá e saído para depois voltar, pois tinha coisas a fazer. Ao voltar para o laboratório, a gárgula havia sumido e o que sobrou fora um monte de meleca preta no chão. A gárgula simplesmente derreteu.

Agora sabíamos que depois de mortas elas simplesmente desaparecem.

Eu apertei as pequenas asas de anjo em meu pescoço e suspirei, enquanto caminhava pelos corredores da mansão em direção à biblioteca. Depois da noite em que quase morri com Henry, eu comecei a usar o colar logo no dia seguinte, ele me fazia sentir bem e também me fazia não ter pesadelos. Por mais surreal que seja. Quando fui dormir na madrugada em que quase morri por causa da gárgula e acordar só no outro dia, eu tive sonhos esquisitos.

Em um deles eu corria por corredores longos e escuros, com uma sensação terrível de claustrofobia; ouvia gemidos, choros, lamentações e gritos de dor. Eu usava um longo vestido branco que parecia ser minha única luz e cada vez que eu corria pelos corredores sem fim, eu sentia um calor aproximando-se cada vez mais.

Em outro sonho, eu era um anjo, bem, não um anjo bom, eu estava mais para um demônio com asas negras, chifres, dentes afiados e garras nas mãos. Eu voava pela cidade de Las Vegas, as pessoas nas ruas gritavam e corriam, enquanto eu as decapitava, salpicando sangue sobre mim. Eu simplesmente ria, deliciando-me com a dor dos outros e o medo. Cada vez que eu matava uma pessoa, uma voz ecoava em minha mente, dizendo-me "muito bem, continue, está fazendo corretamente o seu trabalho".

Devo ter pensado tanto na gárgula que acabei sonhando que eu era uma.

A biblioteca era um lugar aconchegante, era ampla com estantes repletas de livros novos e antigos. Eu ultimamente estava passando muito tempo na ali, me perdendo nos livros e tentando esquecer meus problemas. Eu entrei nela, indo em direção a primeira estante na minha frente, porém parei de erguer meu braço para pegar um livro ao ouvir vozes.

No centro da biblioteca, onde sofás ocupavam o espaço, Maria e Jack conversavam. Maria estava deitada num dos sofás de cor bege, encarando o teto e Jack sentava-se na mesa de mogno na frente do sofá.

– As coisas até agora parecem boas. - disse Maria.

– Até agora. - disse Jack, recostando na cadeira. - Fico pensando qual será a próxima coisa a acontecer; ele não é idiota assim, deve estar tramando algo. Não sabemos se ele está próximo.

Novamente eles falavam deste homem, que apenas se intitulava ‘ele’.

– Camille... - Maria suspirou, deitando-se de lado para encarar Jack. - Será que ela está preparada? Acho que você deveria dizer tudo a ela de uma vez Jack, é o melhor.

Eu saí de trás da estante e adentrei o centro da biblioteca, meus passos pesados contra o chão chamaram a atenção deles. Maria e Jack ergueram os olhos e me encararam sem reação. Eu levantei o rosto e olhei para eles questionadora, erguendo a sobrancelha.

– Na verdade, eu sempre estou pronta para tudo. - respondi, colocando a mão na cintura. - E Maria tem razão Jack, você deveria me contar tudo mesmo. Tem a ver com as gárgulas, não é? Você sabe sobre elas, ou não? E quem é esse "ele", que muitas vezes ouço vocês falarem?

Eles ficaram em silêncio e antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa furiosa, Maria o fez e calmamente.

– Jack, acho que você deveria contar uma certa estorinha para Cammie.

– Belo diminutivo. - disse, irônica, mas ela me ignorou.

Jack olhou para sua irmã e seu maxilar enrijeceu, a troca de olhares que ambos tinham, era a mais pura prova de que estavam me escondendo algo.

– O que vocês escondem tanto de mim? - disse eu, intercalando meu olhar entre Maria e Jack. - É sobre minha mãe? Ah, é claro, eu pensei que ela tivesse morrido eu meu parto, mas não. Ela fora assassinada, não é mesmo Jack? - ele não disse nada. - Mas que droga, vocês vão ficar como estatuas me encarando ou vão dizer alguma coisa?

Da primeira vez que eu havia ouvido Jack e Maria falando sobre mim, fora quando eu fui atacada pela primeira vez pela gárgula, quando François estava junto. Eu havia deixado para lá, não questionei para Jack sobre o que e qual o sentindo das coisas que eles estavam conversando. Mas agora eu necessitava de uma resposta para tudo. E eu tinha certeza que eles sabiam o porquê de eu ter sido atacada pelas gárgulas.

Maria levantou-se do sofá e caminhou até mim, bateu em meu ombro e me encarou.

– Não fique com ódio pelo que ele falará, tente entender pelo menos. - ela murmurou, dando-me um sorriso que eu não retribui.

Com um suspiro frustrado, Maria deixou a biblioteca e eu novamente me virei para Jack. Ele me olhava atônito, como se não tivesse reação para o que teria de fazer, sua face mesmo estando inexpressiva, era uma mascara que escondia o que tinha embaixo. Sua real feição que eu tinha certeza que era... Medo. Medo das palavras que ele diria e medo da minha reação, até mesmo eu estava com medo, porque todos sabemos que as palavras tem o poder de doer mais do que uma bala de doze em seu coração.

– Então? - disse eu, receosa, mas ainda assim, mantendo firmeza.

– É uma longa história. - respondeu Jack.

Peguei uma cadeira qualquer que estava ao lado de um dos sofás e a levei até a mesa de Jack, onde me sentei de frente para ele, convicta.

–Temos muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo segredos serão revelados! *0*
Não esqueçam de comentar, isso me motiva muito a continuar escrevendo a fanfic.

Até! ♥