A Caçadora - O Despertar escrita por Ketlenps


Capítulo 11
Capítulo 10 - Souvenirs et Mémoires


Notas iniciais do capítulo

GENTE, desculpem a demora, sério mesmo! Eu não desisti da fanfic, okay? Se é o que vocês pensaram, eu apenas demorei para escrever.
Sabrina Pierre sua diva! Obrigada pela recomendação, você não faz ideia do quanto me deixou feliz xD Esse capítulo é especialmente para você, só que claro, para os outros leitores também kkkk ^^
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/338518/chapter/11

Logo depois que Jack me deu o colar, eu corri para o meu quarto. O dia ainda estava no começo e pela porta da sacada que tinha em meu quarto eu podia ver o céu nublado e morto, como se estivesse prestes a chover. Entediada com aquela visão, fechei as cortinas brancas, mas deixei à porta aberta apenas para entrar ar. Fiquei na frente do espelho de corpo que ficava ao lado de minha penteadeira de madeira escura e encarei a fina corrente em meu pescoço pálido.

Eram tão pequenas as asas de anjo abertas, eram tão delicadas e como eu pensara quando Jack a colocou em mim: tão angelical e ao mesmo tempo infantil. Eu não conseguia entender, mas está fina corrente de ouro me passava uma imensa tranquilidade e eu tinha acabado de ganha-la.

Meu celular tocou em cima de minha cama e parei de me encarar no espelho. Joguei-me na cama e atendi o celular depois de ver que era Mandy que estava ligando.

– Oooi. - disse eu.

– Faz algo de interessante? - ela perguntou, sua voz alegre demais.

– Ainda não.

– Alguém ai está planejando uma festa para você, o que te impossibilita de sair hoje à noite?

Franzi as sobrancelhas.

– Está me chamando para sair hoje à noite? - Fui direta com sua pergunta.

– Sim. - Mandy respondeu. - Eu imaginava que ninguém iria fazer nem uma festinha para você, então eu resolvi que seria legal se saímos hoje para nos divertimos um pouco, sabe? Sei que é terça-feira, mas poxa, é o seu aniversário e eu disse que ainda lhe daria uma coisa.

Ponderei sua resposta um tanto relutante em querer sair à noite para se divertir. Não sei se estava com ânimo para aquilo, eu estava confusa demais com muitas coisas. Então por que você não sai um pouco e tenta esquecer por pelo menos uma noite os problemas? Meu subconsciente sempre me questionando.

– Vai ser legal. - Mandy prosseguiu dizendo, confiante. - Já até falei com o Dan, ele concordou e disse que seria bom ver você novamente bêbada. - Ela riu do outro lado.

Um sorriso escapou pelos meus lábios por me lembrar daquele constrangimento. Eu sempre gostei de sair sozinha para me divertir em algumas noites; eu ia para algum bar, boate e arranjava qualquer homem que quisesse um pouco de diversão. Quando eu brigava com Jack, ou com qualquer outra pessoa e está briga me afetasse sentimentalmente, eu sempre saía por ai. Encher a cara, fazer qualquer coisa que me fizesse esquecer o que aconteceu. Um hábito que ninguém gosta muito em mim.

Jack quase me matou depois que eu voltei bêbada - ou quase, talvez eu estivesse sóbria -, Jack brigou comigo, como um pai faz quando sua filha sai escondida de casa para encontrar o namorado e a pega no flagra entrando pela janela do quarto no meio da noite. Não que eu já tenha feito isto. Nós conversamos no dia seguinte e ele, mais calmo sentando ao meu lado em minha cama, pediu que eu não fizesse mais aquilo para o meu próprio bem e saúde. Ele disse que eu estava correta em querer sair para esfriar minha cabeça, mas eu estava errada em sair por ai para estragar minha vida ficando bêbada.

– Tudo bem, eu saio está noite. - disse. - Mas só não prometo ficar bêbada novamente.

Depois que falei com Mandy resolvi sair do meu quarto e fazer uma coisa que eu amava e estava necessitando: treinar. Tirei a calça jeans preta que usava e optei por uma legging azul escura. Continuei com a blusa fina de mangas compridas. Calcei meus chinelos (eu preferia treinar descalça) e amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo alto e sai do quarto.

Peguei o elevador para o subsolo sozinha. A porta de aço inoxidável pesada se abriu e eu sai, enquanto ela se fechava atrás de mim. A sala de treinamento estava vazia, não havia nada além de armas e bonecos para servirem de brinquedo para os treinamentos.

– Vamos lá, Camille. - murmurei comigo mesma, enquanto passeava com os olhos a parede de armas. - O que eu devo treinar hoje?

Espadas.

Meus olhos captaram a bainha pendurada na parede, eu puxei a espada da bainha, revelando - a. Era uma katana samurai, o cabo era longo e preto, a lâmina da espada chegava a emitir luz própria de tão límpida e prata - e claro, afiada. Eu sorri involuntariamente lembrando-me de Maria. Ela sempre caçou com espadas, era o que ela mais sabia usar e me ensinou alguns truques sobre elas.

– Sabe, eu adoro esgrima medieval. - A voz masculina atrás de mim me fez revirar os olhos.

– Que bom para você, Connelly. - eu rebati, sem vontade alguma de conversar com ele.

Ele apareceu ao meu lado, olhou para a katana em minhas mãos, depois seus olhos subiram até o meu rosto. Eu me virei ficando de frente para ele com impaciência.

– O que faz aqui? - eu perguntei, colocando uma mão na cintura.

Henry arqueou uma sobrancelha.

– Acho que está meio óbvio. - ele disse. - Eu moro nessa casa. Tenho o direito de vir treinar.

Porque eu tinha a sensação de que tudo que Henry falava era mentira? Por mais que ele estivesse certo, ele realmente estava morando aqui agora, mas era como se simplesmente a mentira transbordasse dele como uma onda gigante, que depois se chocava contra mim. Eu não havia esquecido seu rosto na noite em que ele tentou me matar; em que me jogou contra a parede e me puxou pelo cabelo até me levantar, depois tentara me enforcar. Agora eu perguntou-me: por quê? Se ele era um Caçador porque queria a morte de outra Caçadora naquela noite? Eram perguntas que não adiantariam eu lhe fazer, pois ele ignoraria e falaria que eu estava blefando.

Dei as costas para Henry e caminhei até o centro da sala de treinamento, tirei os chinelos que calçava e os joguei em um canto. Alonguei-me um pouco, esticando os braços e tocando os pés com as mãos, sentindo os tendões das pernas repuxarem.

– Que tal fazermos isto juntos? - Propôs Henry, eu pude ouvi-lo ir até a parede de armas e pegar outra espada.

Se você não resolver me matar neste momento, pensei virando para olha-lo se aproximar com um olhar indagador. Eu cerrei os olhos enquanto o observava. Ele arregaçou as mangas da blusa azul e se posicionou na minha frente, firmando os pés no chão e erguendo sua espada; eu fiz o mesmo. Separei os pés e os firmei no chão, dobrei estrategicamente os joelhos e focalizei minha atenção em Henry.

Ele sorriu e aquele foi o sinal.

Nossas espadas se chocaram, Henry se defendia também com bastante força. Ele era realmente muito bom com a espada, seus movimentos eram cautelosos e ágeis, como alguém que sabia fazer isto há séculos.

Ele era uma cobra lutando contra sua presa; era isso que ele me lembrava.

A palavra "imortal" e "vampiro" surgiram em minha mente. Sabe, eu adoro esgrima medieval, ele dissera a um minuto atrás. Ele nascera no século quinze? Talvez. Não, ele não era um vampiro, nunca fora. Por que eu continuava insistindo nisso, sendo que ele já provara que não era um?

Enquanto nós duelávamos, reparei em sua aparência. A pele não era pálida como a de uma Criatura da Noite, ela era levemente bronzeada; os olhos verdes me eram familiares, eles me lembravam de alguém. O único problema é que eu não sabia que 'alguém' era esse. Sua boca parecia ser desenhada perfeitamente por um pintor famoso - Pablo Picasso -, internamente eu dei risada. Definitivamente a boca de Henry não era torta e estranha como das pessoas nos quadros de Pablo. Ele tinha o rosto anguloso com feições fortes, porém ao mesmo tempo suaves; Henry tinha os cabelos dourados, um loiro que qualquer "loira falsa" gostaria de ter.

Com força e agilidade, bati na espada dele e a prendi colocando a minha por cima. As pontas das espadas estavam no chão e Henry logo ergueu os olhos para mim sob os cílios grandes e loiros.

– Só que não, cabelo de neve. - disse ele e com incrível rapidez levantou sua espada me forçando a tirar minha katana de cima da dele.

Henry soltou o cabo da espada e a pegou pela lâmina, com cuidado para não se cortar e com uma incrível habilidade. Ele girou tão depressa que fiquei meia perdida e quando tentei erguer minha katana para lhe deferir um golpe, ele foi mais rápido. Senti uma forte pancada na minha panturrilha esquerda e eu cai no chão de lado; ainda atenta e segurando forte o cabo da minha samurai, me virei para cima, todavia já era tarde demais.

Henry estava em pé diante de mim, a ponta da lâmina raspando em minha garganta. Ele arqueou a sobrancelha e me analisou espichada no chão. Senti-me humilhada, por mais que aquilo fosse apenas um treinamento com duas pessoas que simplesmente se odeiam.

Nós nos odiamos, certo?

– Primeiro de tudo - disse suavemente, a cabeça caída para o lado com uma feição séria. - Conheça a si mesmo, sua arma e já ouviu falar que: Um guerreiro cuja mente está preparada fica em vantagem?

Eu me senti uma estúpida, era como se o modo dele de falar me fizesse se sentir assim. Lembrei-me das palavras de Maria: "Ataque por baixo, assim, seu oponente cairá e você estará em vantagem." Fora o que Henry acabara de fazer comigo. Usou o cabo de sua espada para me fazer cair e ele ficou em vantagem. Agora ele estava debochando de mim, dizendo-me que eu não pensava antes de atacar e que não conhecia minha própria arma.

Isto era uma ofensa para um Caçador.

– É assim, é? - eu indaguei soltando minha katana samurai e me erguendo com o impulso dos braços; aproveitei e lhe passei uma rasteira.

Henry, surpreso, caiu no chão. Eu abaixei-me para pegar a katana, mas Henry chutou minha mão e a katana desabou no tapete azul de judô. Henry - já em pé - veio em minha direção e eu me defendi de sua tentativa de me dar um soco na mandíbula, bloqueando sua mão e com minha outra mão livre, acertei sua cabeça ao lado fortemente e ele ficou zonzo; assim lhe dei um chute no estômago, e olha que não é um simples chute, anos de prática e treinamento lhe dão força máxima (isso se adequada mais a um Caçador do que a uma pessoa normal com uma vida mundana).

Henry cambaleou para trás com os ombros encolhidos e os braços na barriga; aproveitando seu momento de distração por causa da dor aguda, lhe dei as costas e fui novamente em direção a katana samurai. Ela estava a centímetros de mim e eu logo agarrei seu cabo, precisava terminar aquele treinamento com chave de ouro - que seria eu o matando, mas como é tudo de mentira, era apenas uma cena de como seria numa real luta.

Mas dar das às costas foi, com certeza, a pior escolha.

A katana desabou de minhas mãos e eu fui empurrada para longe, indo de encontro com a parede de concreto da sala. Eu demorei um instante antes de perceber que Henry estava me pressionando contra a parede, eu focalizei em seus olhos e eles ardiam de fúria.

Jamais, em hipótese alguma, de as costas ao seu inimigo. - As palavras saiam venenosas, e nesse momento, com nossos rostos próximos um do outro foi que percebi que Henry era claramente mais jovem do que eu pensei. Eu lhe daria menos de dezoito anos de idade, mesmo com a feição dura de ódio que o fazia parecer autoritário. - Nem que seja por um segundo, nunca faça isso - ele prosseguiu dizendo. - Seu oponente não te dará tempo para pegar sua arma e voltar saltitante para lhe decapitar. Tenha em mente seu ataque e sua defesa preparada para a situação em que estiver.

Repito: senti-me uma estúpida.

Ele parecia estar dando aula a uma criança mimada que não presta atenção nas lições e toda hora tende chamar a atenção. A questão nisso era que eu era a criança mimada. Eu já havia ouvido essa lição de Maria e qualquer outro Caçador, a regra básica de nunca dar as costas ao seu inimigo e ouvir Henry repetir aquilo fora irritante. Poxa! As pessoas às vezes esquecem-se de algumas coisas e baixam a guarda.

– Quantos anos você tem? - Me surpreendi comigo mesma por estar fazendo este tipo de pergunta para ele, que aqui nesta sala, não tinha anda a ver com o treinamento. Mas as palavras simplesmente jorraram de minha boca como água saindo de uma mangueira.

Henry contraiu as sobrancelhas.

– Como? - inquiriu ele, confuso, porém sua confusão logo se foi e ele pareceu entediado. - Posso saber esse interesse súbito em minha idade?

– Porque tenho a impressão de que sou mais velha que você...

Peguei seu braço que estava apoiado na parede ao meu lado e o torci de modo que Henry se contorcesse e eu o virasse de costas, e com isto o joguei com força no chão. Ele caiu de bruços enquanto eu segurava seu braço em suas costas, ele murmurou algo que não entendi muito bem, mas fora um resmungo irritado. Subi com um dos joelhos em suas costas, ficando no meio de sua espinha; ele gemeu com a cara no tapete de judô.

– Lembre-se - disse eu, ele estava totalmente imobilizado: eu agora segurava seus dois braços e com um joelho em cima dele, forçando enquanto colocava mais peso. - Jamais, em hipótese alguma, converse com o seu inimigo. - Abaixei minha cabeça, ficando perto de seu rosto e sussurrei. - Ele pode estar fazendo apenas uma armadilha para te distrair e assim, no final, ele irá ganhar te debochando. - eu sorri quando Henry bufou, causando a reação que eu queria. - Lembre-se disso, Connelly.

E sai de cima dele, o soltando. Agora acho que ele sabia o que é se sentir um estúpido, por mais que o que eu tivesse lhe dito não fizesse tanto sentindo, a questão é que eu brinquei com ele do mesmo modo que ele brincou comigo.

Tu colhes o que plantas; como diz o provérbio.


***



As noites em Las Vegas são sempre agitadas e badaladas, não importa se é segunda-feira ou domingo, as ruas sempre estarão cheias de pessoas conversando, tirando fotos e aproveitando a cidade dos cassinos. E era assim que estava o Cassino em que eu estava passando meu aniversário de vinte anos, ideia da Mandy de sair à noite para se divertir. Eu fiquei quase o dia todo na sala de treinamento, depois que eu derrubei Henry ele ainda ficou lá. Disse que podíamos treinar de vez em quando, porque seria muito bom eu ensinar as minhas táticas a ele, e Henry me ensinar as suas.


Sim, achei muito estranho, mas apenas dei de ombros em resposta e retomei meu treinamento só que desta vez com os bonecos na sala. Henry fez o mesmo e nós dois não trocamos mais palavras.

Quando anoiteceu eu logo me arrumei e encontrei com Mandy. Eu pensara que ia ser apenas eu, ela e Dan que sairiam, mas eu estava enganada.

Ali no Cassino, sentada no banco do pequeno e elegante bar, eu tinha a visão de Katrina e Victor jogando numa maquina. Ela estava sentada no colo de Victor e ambos riam de algo. Daniel havia os chamado para saírem também e o que mais me assustou quando descobri foi que eles aceitaram o pedido. Katrina me desejou um feliz aniversário com um abraço rápido e nada afetivo, e Victor com um aceno de mão discreto.

Mandy estava com Dan jogando roleta com várias outras pessoas, aparentemente alegre demais; ela vestia um simples vestido claro de alças. Ninguém havia se arrumado demais, eu por exemplo vestia uma calça legging de couro preta, uma camisa branca e por cima uma jaqueta de couro e nos pés ankle boots. Sim, eu não estava muito arrumada comparando-me à Katrina. Ela usava um vestido vermelho tão chamativo que se você olhasse demais poderia ficar cega, e era bem justo ao seu corpo magro. Os cachos ruivos (que eram mais escuro que o vermelho de seu vestido) estavam em um rabo de cavalo.

Resumindo: ela era um tomate no meio de uma salada de alface.

Ri comigo mesma enquanto dava um gole na bebida que eu havia pedido ao balconista. Uma sensação de tontura e desconforto me dominou subitamente e eu fechei os olhos massageando as têmporas, me senti zonza e fraca. Respirei fundo quando a dor começou a sessar e eu abri os olhos; deveria parar de beber era agora. Quando meus olhos novamente se acostumaram às luzes do ambiente, as coisas mudaram drasticamente. As luzes do enorme lustre de cristais do bar viraram um borrão, o balcão se distanciou de mim e bruscamente eu cai no chão, aterrissando a bunda no chão sólido.

– Mas o que... - Deixei a fala no ar quando olhei ao redor.

A rua era larga e escura, havia apenas dois postes para ilumina-la e o que consequentemente não adiantava muito, pois cada um estava a mais de nove metros de mim. Girando a cabeça, na calçada à minha esquerda, havia um prédio largo de apenas três andares, sua estrutura e estilo eram antigos, o que me fez lembrar a era vitoriana. O chão sob minhas nádegas era úmido e eu me levantei rapidamente com a sensação gelada naquela região.

Passos escoaram ali na rua e eu me encolhi. Uma figura esguia e alta vinha em minha direção, andava apressadamente, quase correndo. A pessoa nem sequer pareceu me ver, simplesmente parou de andar quando chegou num prédio que era de frente para mim, ele estava de costas e usava um capuz sobre a cabeça, não pude identifica-lo.

Era um prédio como o que estava atrás de mim, quase no estilo vitoriano, só que este era feito de pedras escuras e lisas. Janelas médias com vidraças coloridas, como de igrejas góticas, cobriam metade do segundo andar. Apenas havia uma porta de madeira escura onde a figura sombria estava. Uma barra de bronze estava sendo seguradas por correntes do mesmo material na parede, pouco acima da porta e nelas estavam gravadas as seguintes palavras:

Chapelle de la Lumière.

Era francês, disto eu sabia, e como eu não era muito boa na língua natal de Jack, Maria e François, só soube traduzir Lumière: luz.

A figura na minha frente ergueu a mão e bateu na porta com a aldrava pesada. Após um instante a porta se abriu e uma luz fraca se estendeu sobre a figura, que agora, mais iluminada, percebi ser masculina pelo porte atlético.

– Então? - Uma voz rouca e extremante idosa, soou rude e ríspida para o homem na entrada do prédio.

– Ela está grávida. - respondeu ele. - Ly...

Tudo sumiu num borrão rápido e bagunçado, fiquei tonta novamente por causa disto e quando me vi estável novamente, eu estava no corredor de uma casa. Era longo e estava escuro, ouvia vozes e caminhei em direção ao som delas. Eu já não me importava com o que estava acontecendo, já não tinha noção do que era real e irreal.

– Você irá gostar, é um ótimo lugar. - Era a mesma voz masculina que eu ouvi conversar. Mas desta vez ela estava adorável e gentil. - Lá as senhoras cuidaram de você, é o melhor lugar para você ficar já que como está gravida, não pode ficar na Casa dos Caçadores e como você não tem outro lugar para ir...

– Claro, tudo bem. - A voz era feminina e demonstrava tristeza. Continuei caminhando, até estar na porta de um quarto e este se encontrava fechado. - Mas, Jack...

– Esqueça-o. - disse o homem. Eu segurei na maçaneta gelada da porta e a abri; o quarto era pequeno e me lembrava os da mansão dos Caçadores de Las Vegas, havia uma porta que saia para a sacada do quarto e ali duas pessoas conversavam entre si sobre a negritude da noite; a imagem da Torre Effiel atrás deles ofuscou em meus olhos. Eu estava na França?– Jack está apenas com raiva e arrisco dizer ciúmes da melhor amiga dele por não ser o responsável em lhe dar um lar enquanto está gravida. Gerando nosso filho...

Soltei o ar pela boca; era gelado. Eles estavam falando de Jack? Jack Carter, o meu pai? Então, a mulher era...

Não pude ver, ambos sumiram, o quarto sumiu, a vista da Torre Eiffel se foi. Cambaleei para o lado, a tontura tinha me tomado novamente, mas logo se desfez de mim.

– COMO PÔDE?! - O grito me fez dar um pulo e eu me virei para trás.

Eu estava em um beco escuro e fétido, lixos se espalhavam por ele. Uma porta de um dos prédios estava aberta e ao lado da porta duas pessoas gritavam entre si, ou melhor apenas a mulher gritava.

– VOCÊ É LOUCO! - sua voz era trêmula, apavorada e chocada.

– Ei, fique calma, eu posso explicar, venha cá, me dê sua mão. - Novamente a mesma voz masculina. Como a mulher estava de costas para mim, ela tampava o homem. Mas eu pude ter um vislumbre de sua cabeça: cabelos platinados quase brancos e curtos.

– FIQUE LONGE DE MIM! - A mulher deu um passo para trás e depois outro... Então se virou e caminhou em minha direção.

Eu prendi a respiração. A surpresa foi um choque, o quão tudo aquilo parecia real foi ainda mais chocante. Mas ela como se ela não me visse, era como se eu fosse um fantasma. A garota jovem estava grávida, eu supus que ela estivesse com nove meses. Os cabelos dourados caiam sobre o seu rosto, enquanto tentava correr para longe do homem. Ela ergueu os olhos e por um instante pareceu me ver, mas eu sabia que ela estava vendo através de mim.

Era minha mãe Lyssandra, eu sabia, tinha uma única foto sua guardada dentro de uma caixa no meu armário, Jack me dera ela. Ela me atravessou e eu soltei o ar com um arquejo. Segui com os olhos para o homem à frente, mas ele não se moveu, permanecia parado como uma estátua. E agora sim ele parecia me ver. Contudo, eu não podia vê-lo, as sombras escondiam seu rosto.

Está na hora de você sair do mundo da fantasia, Camille. E entrar para a realidade a qual pertence.

A voz disse em minha cabeça e aquilo doeu tão forte como uma pancada. Cai de joelhos no chão, ouvi passos, sabia que era o homem se aproximando de mim. Tentei erguer minha cabeça, mas o que fiz foi cair no chão; minha visão embaçada, minha respiração falhando. Todavia, mesmo com a visão horrível, pude vislumbrar a figura do homem agachando-se ao meu lado; pude sentir dedos frios sobre minha testa, retirando meu cabelo de meu rosto...

Ele podia me tocar, não me atravessava; eu não era um fantasma para ele.

Minhas pálpebras se fecharam e o reino das sombras me consumiu, sugando-me para o inconsciente.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguma dúvida de quem seja esse homem? Acho que não ^.^
Espero que vocês tenham gostado! Eu amei escrever o próximo capítulo e digo, ação é o que não faltará nele.
Spoilers:

"Henry se levantou de mim e eu rolei para o lado, respirando fundo, puxando o ar gelado da noite. Levantei-me ainda segurando minha lâmina. Henry puxou meu antebraço, para que ficássemos um ao lado do outro."

COMENTEM
Até!