A Guerra Dos Seis Mundos - A Batalha dos Magos escrita por VítorXimenes


Capítulo 5
Capítulo Dois - Frio do Norte


Notas iniciais do capítulo

Demorei muito pra postar esse, mas não estava conseguindo escrever por causa das provas.



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CAPÍTULO DOIS

                                                              Frio do Norte

             Quando o despertador do relógio tocou às seis horas encima da mesa de cabeceira, Robbie abriu os olhos quase que instantaneamente. Havia tido uma noite repleta de sonhos que não conseguia lembrar-se agora, mas apesar da inquietação havia dormido bem. Por um segundo estivera esperançoso de que a chuva desse alguma trégua ao sol, pelo menos pela manha, mas o som da água batendo com força no telhado logo chegou aos seus ouvidos para desaponta-lo.

            Limpando os olhos, ele levantou-se e cambaleou até a janela. Quando abriu a cortina, viu o mesmo cenário que via há semanas. A chuva caía por toda parte, forte e densa, fustigando o vidro da janela e alagando a maior parte das ruas atrás da casa. O céu continuava negro, coberto pelas nuvens carregadas que vinham do norte. Pelo menos quase não havia mais névoa, Robbie pensou positivamente. O que ontem fora um mundo escuro de cinza, hoje era apenas uma cortina que cobria o calçamento, se muito cobrindo os tornozelos de quem andava por ali. Mas o frio apenas aumentara. O quarto era inteiramente isolado com uma madeira grossa antiga, mas isso não impedira o ar gélido de entrar. Mesmo ali dentro o ar congelava os pulmões de Robbie a cada respiração.

            Ele calçou os chinelos e andou até o guarda-roupa. Pegou a roupa mais quente que conseguiu encontrar guardada ao fundo da gaveta. Tirou de lá um casaco ainda maior e mais grosso que o que usara ontem, pegou o resto da roupa e foi até o banheiro. O banho quente aliviou um pouco do frio, mas o que sentiu depois que fechou o chuveiro quase o fez abri-lo novamente sobre sua cabeça. Vestiu a roupa o mais rápido que pode e pôs o casaco por cima antes de correr escada abaixo.

            A sala de estar parecia ser o lugar mais aquecido da casa agora. Não era muito comum que sua mãe acendesse a lareira pela manhã, mas ela estava fazendo exceções para essas últimas semanas. Robbie a encontrou na cozinha, preparando seu café da manhã. Algumas torradas haviam acabado de sair do forno, pelo cheiro que havia no aposento, e os ovos fritavam na frigideira enquanto Kharla os mexia.

            — Bom dia — Cumprimentou ela sorrindo quando o filho entrou.

            — Bom dia.

            Robbie sentou-se e esperou os ovos. Depois de algum tempo, Kharla apagou o fogo e virou-se para dividir os ovos para os dois. Robbie apressou-se em comê-los com as torradas, enquanto estavam quentes, depois se levantou em silêncio e correu para cima para escovar os dentes. Alguns minutos depois, desceu novamente trazendo a mochila nas costas.

            Sua mãe estava terminando de tirar os pratos da mesa para transporta-los para a pia.

            — Pegou tudo? — Ela perguntou, encostando-se ao balcão.

            Robbie assentiu, aproximando-se.

            — Todos os livros?

            — Eu não acho que vou precisar de tudo hoje, mas sim — Ele respondeu.

            — Então venha aqui.

            Kharla o abraçou e deu um beijo de despedida que o fez cócegas.

            — Melhor ir andando — Ela recomendou. — Não vai querer chegar atrasado logo hoje, não é.

            — Não.

            Contorcendo-se, Robbie conseguiu se desvencilhar dos braços da mãe e deixou a cozinha com um aceno. Calçou os sapados molhados da noite passada e vestiu a capa por sobre o corpo antes de sair para o jardim encharcado. A névoa não mais cobria a rua como o fizera antes. Espalhava-se apenas como um cobertor cinza sobre o calçamento, cobrindo os pés e os tornozelos de Robbie.

            As pessoas começavam a sair de suas casas. As crianças saíam escoltadas pelos pais em direção a escola. Robbie atravessou a rua até a praça, acenando para um simpático senhor que morava do outro lado. Ele resmungava para si, olhando de cara feia para o jardim lamacento. Quando viu o sinal do garoto, mudou a expressão e acenou de volta, sorrindo, antes de entrar de volta na casa.

            Um único menino se balançava no balanço enferrujado do parquinho quando Robbie passou, antes de atravessar a rua mais uma vez para virar à direita. Durante o resto do trajeto, não viu mais ninguém até chegar a uma quadra antes da escola. A chuva tamborilava forte em sua cabeça, atravessando o capuz molhado da capa e molhando seus cabelos.

            O pátio da escola estava deserto, exceto pelo porteiro, um senhor calvo que distribuía bom dia a qualquer um que atravessasse o portão. Robbie resmungou uma resposta quando passou por ele, depois atravessou o pátio de concreto, desviando das poças, até chegar ao prédio. Se lá fora estava completamente deserto, lá dentro havia a maior quantidade de gente reunida que Robbie já vira. As crianças gritavam e corriam pelos corredores, batendo nas pessoas e tropeçando uma nas outras. Os mais velhos se contentavam em encostar-se às paredes para conversar alto em grandes grupos.

            Fora difícil tentar atravessar o primeiro corredor e o pátio interno, mas quando chegou à biblioteca, os corredores começaram a esvaziar. No meio da confusão, não conseguira identificar nenhum conhecido, exceto por alguns meninos pequenos que moravam perto da sua casa. Robbie andou olhando para as paredes, esperando identificar a nova sala de aula onde iria passar o resto do ano. Caminhava desatento e quando voltou a olhar para frente, não conseguiu evitar o choque. Sentiu uma cabeça bater em seu queixo e alguma coisa pesada cair com estrondo sobre um de seus pés. O grito só não saiu, por que na hora levou a mão à boca para ver se ela sangrava, mas ouviu um gemido vindo de baixo. 

            A menina cambaleara de costas e caíra sentada, coçando a parte de cima da cabeça. Robbie lembrou-se dela quando tirou a mão do rosto. Ela tinha os cabelos negros caindo soltos pelas costas e para frente em uma franja, além de ter a pele mais branca que ele já vira em alguma pessoa. Mas agora pode ver seus olhos, eram em um tom forte de azul. Rapidamente, ele abaixou para recuperar os livros que haviam caído sobre seu pé.

            — Desculpa! — Ele apressou-se a pedir, estendendo a mão livre para ajudá-la a levantar.

            — Não... Não foi nada. Tudo bem — Respondeu ela, ainda um pouco atordoada. Pegou os livros das mãos de Robbie e esboçou um sorriso.  

            — Tudo bem mesmo? Eu estava distraído — Explicou Robbie.

            — Não! Tudo bem mesmo, sério.

            Robbie sorriu desajeitado, depois se seguiu um pequeno silêncio constrangedor.

            — Você é nova aqui, não é? — Ele perguntou. Sabia que ela não era da cidade. Nem mesmo era da Terra Livre. Podia facilmente dizer isso pela aparência dela, mas tinha certeza porque a havia visto desembarcar de um grande navio, com uma grande comitiva atrás dela. Mas não queria ser grosseiro. — Eu nunca vi você aqui.

            — Não. Eu me mudei há pouco tempo — Ela falava calma e educadamente, com um sorriso no canto do rosto e os olhos bem abertos. — Eu estava procurando a minha sala. Se você pudesse...

            — Claro! — Robbie respondeu imediatamente, pondo-se ao lado dela para guiá-la. — Você...

            O sinal ressoou pelas paredes da escola, tornando inaudível a pergunta dele. A menina o olhou, agitando os cabelos negros.

            — Desculpe, não entendi — Falou ela, confusa.

            Robbie abriu a boca para responder, mas as palavras não saíram da sua boca. Alguma coisa bateu em suas costas e o fez engasgar. Ainda tossindo as palavras presas na garganta, ele foi arrastado para longe da menina por uma multidão de risadas e conversas altas. Contorceu-se para conseguir se desvencilhar do aperto de Fred e deu uma última olhada para a menina de cabelos negros antes de virar à direita no corredor e ser empurrado para dentro da primeira sala de aula. Ela ficara lá, paralisada pelo repentino fim da conversa, apenas olhando para o grupo que acabara de passar. 

            — Quem era aquela? — Perguntou Allan. Era um colega de classe de Robbie, baixo e roliço.

            — Não sei — Ele respondeu com indiferença, jogando a mochila sobre uma carteira no canto da sala.

            Fred passou lado e sentou-se uma cadeira atrás, enquanto todos os outros se arrumavam nas carteiras ao seu redor. Ele atuava como um líder para o grupo, e gostava disso.

            — Ela é meio estranha — Comentou Raffael, cumprimentando Robbie com um tapinha nas costas. — Nunca vi ninguém tão branco.

            — Ela não é daqui — Replicou Robbie, olhando para a porta da sala de aula.

            A menina acabara de entrar na sala, segurando os livros entre os braços. Eles se olharam, e ele esboçou um sorriso de desculpas. Ela sorriu de volta, passando por eles até as carteiras da frente. Eram da mesma classe, afinal.

            — Deve ser do norte — Sugeriu Allan, olhando-a. — Lá no Vale Arruda quase não tem sol, dizem.

            Fred sorriu maliciosamente.

            — E ainda dizem que as nortenhas são bonitas...

            O grupo explodiu em uma gargalhada e segundos depois toda a sala de aula estava rindo, alguns sem ao menos saber o motivo. Robbie não os acompanhou. Olhou para ela, sentada na carteira da frente, olhando desconfiada de tempos em tempos para a porta. Ele não sabia se a garota havia ouvido o que Fred dissera, mas ela também não ria. A gargalhada coletiva cessou quando o professor de matemática adentrou a sala e sentou-se atrás de sua mesa. Depois disso, a menina não olhou mais para trás.

Robbie tentou fortemente prestar atenção à aula, mas os cálculos na lousa não chamavam sua atenção. Alguns dos alunos tentaram persuadir o professor a não passar conteúdo nesse primeiro dia de aula do ano, mas ele não os deu ouvidos e começou a falar sobre alguns cálculos geométricos. Robbie não entendeu uma palavra, apenas copiou no caderno o que fora escrito pelo professor, alguns símbolos e números que não faziam sentido algum para ele. Fred estava ainda pior, Robbie pode ver, segurando uma risada. Dormia com a cabeça encostada à parede, subindo e descendo a cada longa respiração.

Raffael sempre fora um grande estudante. Copiava com convicção e parecia entender tudo o que era dito. Era uma boa coisa. Dias antes das provas, era sempre ele que os ajudava a estudar. Se Raffael não soubesse bem o assunto, todos estavam perdidos. Mas não era comum ele decepcionar, Robbie e os outros eram agradecidos por isso.

As pálpebras de Robbie começaram a fechar involuntariamente quando o sinal tocou alto para despertá-lo. Um sentimento de alivio subiu até sua cabeça, fazendo-o levantar animado da carteira. Os outros alunos levantaram também e começaram a deixar a sala de aula para o intervalo. Vários deles passaram cumprimentando Robbie antes de sair para o corredor.

— Oi Robbie, Fred — Falou Amanda, uma menina baixinha de cabelos castanhos à altura do ombro, acenando para ele ao passar e cutucando Fred, que ainda estava um pouco atordoado de sono.

— Oi.

Ela sorriu e foi juntar-se às amigas que saíam entre risadas. Fred esboçou um sorriso ao canto da boca enquanto se levantava que fez Robbie corar e desviar o olhar. Os outros não sabiam, mas Fred era seu melhor amigo. Ele sabia que Amanda tinha uma queda por ele, mas apesar de não perder a oportunidade de embaraçá-lo por isso, nunca contara a ninguém.

— Eu não acredito que você teve coragem de dormir na aula do Sr. Hibbs! — Reclamou Raffael, quando eles estavam deixando a sala de aula.

— Eu não acredito que você conseguiu prestar atenção a tudo aquilo — Replicou o garoto, puxando risadas de Allan. — Além do que, temos você para as provas finais.

Raffael não conseguiu esconder o riso. O grupo seguiu pelo corredor até o pátio interno, abarrotado de estudantes refugiados da tempestade que caía ao lado de fora. Ficaram a um canto, onde estava menos apertado, falando sobre futebol e o torneio de cavalaria que começara há uma semana no Reino Arruda. A equipe de Veledares vencera sua primeira partida no norte, o que os dava uma grande vantagem para quando o torneio viesse ao sul.

— O final foi difícil, mas os cavaleiros de Veledares são melhores este ano — Comentou Raffael depois que Robbie tocou no assunto.

— Um dos cavaleiros é de Porto Kuki, eu ouvi — Falou Fred.

— Ele não participa das justas — Esclareceu Robbie. — É apenas um escudeiro.

— É um grande passo — Um trovão quebrou o som depois que Raffael terminou de falar. — Há muito tempo alguém desta cidade não participa de algum torneio pela Terra Livre. Qual é mesmo o nome dele?

Robbie pensou um pouco antes de conseguir lembrar o nome.

— Smiths... Arthuro Smiths.

— Há também aquele que ganhou dois anos seguidos pela equipe de Bhalls — Lembrou Allan.

Fred riu quando Robbie torceu o nariz.

— Sor Robbert é de Bhalls — Falou ele. — Ele só morou aqui por algum tempo, antes de se tornar cavaleiro. Era um mercador antes disso.

— Um mercador não muito bom — Complementou Raffael. Quando se tratava de esportes, ele e Robbie sempre tomavam a frente nas discussões, por serem os que mais sabiam. Todos olharam para ele, sem entender a conclusão que o amigo tivera. — Um bom mercador não abandona tudo para se tornar um lutador de justas. Como foi mesmo que ele ganhou o título de cavaleiro?

— Lutando contra os piratas que atacaram o próprio navio — Robbie falou e os outros riram. — Um mercador que navega o Mar Náutico e não consegue evitar os piratas do norte não deve ser lá mesmo um bom mercador.

Quando a conversa começara a ficar mais interessante, passando do torneio de justas que começara no norte há uma semana para as medidas que o príncipe de Dumed tomara contra os piratas do Mar Doce, o sinal ecoou pelo pátio interno do prédio para indicar o fim do intervalo.

— De quem temos aula agora? — Allan perguntou diretamente à Raffael.

— Sra. Phigg, eu acho.

Robbie gemeu desanimado. Se para ele a aula de matemática do Sr. Hibbs era difícil de ser assistida, a aula de literatura era simplesmente insuportável. A professora Phigg apenas falava sobre os livros que ela lera e recitava poemas com sentidos que apenas ela entendia.

Os estudantes começaram a se espremer pelos corredores apertados para voltar às salas de aula, enquanto Robbie, Fred, Raffael e Allan seguiam vagarosamente atrás da multidão. Quando o pátio começou a esvaziar, Robbie pode ver a garota nortenha de cabelos negros, sentada sozinha no canto, onde geralmente ficavam os alunos novos. Ficou-a observando com curiosidade, até ela levantar-se e perder-se na multidão que voltava para o corredor.

Nem mesmo Raffael conseguiu se manter totalmente acordado durante a aula da Sra. Phigg. Por alguns momentos, Robbie sentia a cabeça cair inconscientemente, então despertava por mais alguns minutos, antes de cair no sono novamente. Metade da classe tinha a cabeça abaixada às carteiras, alguns dormindo, outros apenas fingindo. Mas a professora não se importava. Continuava a recitar o mesmo poema repetidas vezes e tentava explicar para o ar alguma coisa a mais a cada repetição.

Robbie não sabia bem se realmente dormira ou ficara apenas inconsciente durante a segunda metade da aula, mas tomou um susto quando o sinal tocou para tirá-los da agonia. A professora Phigg falou alguma coisa antes de sair apressada da sala de aula, mas ele não conseguiu escutar. Bocejando, levantou-se para expulsar o sono e pegou a mochila para levá-la às costas.

Raffael levantou-se ao lado dele, apressado.

— Preciso ir agora — Anunciou. — A gente se vê amanhã.

— OK. Até amanhã — Despediu-se Robbie.

Raffael acenou para os outros e saiu correndo, desviando dos que estavam no caminho e pedindo desculpas para todos com que se chocava. Fred levantou-se esfregando os olhos. Estivera dormindo novamente. Eles saíram da sala de aula para o corredor abarrotado. Levaram um pouco de tempo para conseguir atravessar o pátio interno e chegar à porta de entrada do edifício, saindo para a área externa da escola. Para alívio de todos que saíam naquele momento a chuva parara, mas o céu continuava tão nublado e escuro como estivera durante toda a semana. A névoa começava a reaparecer agora por entre os jardins mortos da escola.

O grupo seguiu pelo pátio molhado, desviando das poças de água acumuladas nos sedimentos. As crianças saíam correndo de dentro do prédio da escola para disputar os balanços molhados no parquinho de areia batida. A névoa vinha do norte, cobrindo metade do casebre onde vivia o simpático porteiro da escola. Ao lado, havia uma grande e antiga árvore com um banco branco de ferro, quase invisível ao meio da névoa cinzenta.

— Vocês poder ir à frente — Falou Robbie aos outros, parecendo um pouco distraído olhando para a névoa que cobria o casebre. — Eu tenho algumas coisas para fazer antes.

Fred seguiu o seu olhar até o banco de ferro, mas não viu o que ele vira. Deu de ombros, então.

— Até depois, então — Falou Fred, desconfiado.

— Encontro você mais tarde — Respondeu Robbie, querendo despachá-los rapidamente.

— Até mais — Despediu-se Allan, seguindo Fred até o portão depois de acenar.

Robbie os viu saindo da propriedade da escola, depois de serem abordados com uma piada pelo porteiro. Esperou até que eles desaparecessem por trás das casas da esquina antes de virar-se e começar a caminhar determinado até o banco branco sob a árvore. A menina sentada ali lia um livro apoiado no colo. Olhou surpresa quando percebeu sua aproximação. Robbie sorriu, tentando parecer amigável.

— Oi — Cumprimentou.

— Oi.

— Eu queria pedir desculpas... Por mais cedo — Falou ele, sentando-se ao lado dela no banco.

A menina mexeu os cabelos escuros ao virar-se para olhá-lo.

— Não foi sua culpa.

— Então você escutou mesmo?

— Sim — Ela respondeu, fechando o livro sobre o colo. — Mas não me importei. Eu sei que se ele fosse para lá, falariam sobre ele do mesmo modo.

— Então você é mesmo do norte?

— Sou. Da cidade de Brasão — Contou. — Meu nome é Maryan, a propósito. Nome um pouco estranho por aqui, eu acho.

Robbie pensou um pouco. Nunca conhecera ninguém com o nome semelhante, nem mesmo quando viajara ao vale. Balançou a cabeça.

— Incomum — Falou com sinceridade. — Meu nome é Robbie.

Ele estendeu a mão para finalmente cumprimentá-la como conhecidos. Maryan olhou a ação por um segundo, depois sorriu e apertou sua mão.

— Robbie... — Ela ponderou, pensativa. — Como o rei Robbie Dumed.

— Um nome não muito comum por aqui também. Mas eu também não me importo — Um pequeno silêncio veio depois que Robbie terminou de falar. Tudo o que ouviam era a gritaria das crianças brincando no parque. — De qualquer forma, desculpe — Pediu ele, mais para quebrar o silêncio.

— Tudo bem — Concedeu Maryan, rindo.

Robbie levantou-se do banco, batendo a água que pingara da árvore para suas pernas.

— Onde você mora? Eu posso acompanhá-la, se quiser... Até você se acostumar com o caminho.

Maryan olhou para o livro sobra suas pernas para tentar esconder o rosto corado, mas era isso era impossível para ela fazê-lo. O contraste com sua pele clara era muito grande. Robbie corou também. Tentou falar, mas gaguejou.

— Eu não sei exatamente onde fica — Respondeu ela. — Não conseguiria explicar. Mas alguém virá me buscar hoje, não se preocupe com isso. Mesmo assim, obrigada.

Robbie assentiu com a cabeça.

— Eu preciso ir. Até amanhã, então.

— Certo.

Quando Robbie acenou uma despedida e começou a caminhar em direção ao portão, Maryan reabriu o livro na mesma página que lia antes O porteiro idoso o parou para perguntar-lhe sobre sua mãe. Depois de uma rápida conversa, Robbie seguiu seu caminho pela rua molhada. Levou pouco mais de dez minutos para avistar sua casa do inicio da rua, mesmo tendo ido a passos curtos e evitado duas ruas mais rápidas por estarem totalmente alagadas.

Depois de atravessar a praça oval no centro da rua, Robbie passou pelo caminho de pedra escorregadio que cortava o jardim destruído para alcançar a porta de entrada da casa. Sua mãe estava deitada sobre o sofá, dormindo frente a televisão. Ele tirou os tênis ao lado da porta e pendurou o casaco, agora desnecessário. Largou a mochila em cima da poltrona da sala de estar, tomando o máximo de cuidado para não acorda-la, e foi até a cozinha para ver o que havia para almoçar. Depois de comer, Robbie despejou o prato dentro da pia e subiu com o pensamento na atividade de férias de história da Terra Livre que tinha que terminar.

Sentou-se em frente à mesa de cabeceira do quarto e puxou para perto o dever de férias que deveria fazer. Como ocorreu a primeira conquista de Natty pelo rei Bruni Arruda? E como seu filho, Onilic Arruda, conseguiu mantê-la até a aliança com o rei dragão, apesar do bloqueio comercial imposto por Dumed a seus vassalos? Era a primeira pergunta do questionário. Robbie não conseguia compreender por que motivo estaria aprendendo como ocorreu a filiação de Natty ao Reino Arruda. Não entendia o motivo de ter que saber qualquer história nortenha. Para ele, tudo o que precisava saber era como as Terras Livres se tornaram livres.

Mas o dever devia ser feito. Não lembrava muito sobre o ataque Arruda abaixo do vale. Tudo o que conseguia lembrar era que o rei Bruni Arruda desembarcara com seu exercito de Oldder e fora para Natty. Depois, deixara a cidade para seu filho manter. Robbie tentou concentrar-se, mas não conseguia lembrar nada sobre nenhum bloqueio comercial de Dumed ou a aliança do rei dragão. Olhou para o livro sobre a cama, ao seu lado, sabendo que teria que consultá-lo. Voltou sua atenção à folha do exercício e começou a ler a segunda questão.

Explique como ocorreu a descoberta de Ultimas Ilhas e a distribuição de sua jurisdição. A quem pertenceu suas extrações durante a Guerra Cega? E Por que elas foram passadas ao Reino do Dragão? A resposta para essa pergunta Robbie conseguia lembrar. Durante a guerra, um navio arruda partindo de Porto Arruda do Sul para bater a área marítima e evitar ataques noturnos de Cazä à Cidade Vermelha, se perdera ao meio da nevoa e da tempestade e encalhara em terra dias depois. Os navegadores estavam certos de que haviam atracado na Ilha Morcego, mas a praia não parecia com nenhuma conhecida por perto de Cazä. Havia ouro e um material valioso nunca visto antes, que começou a ser extraído pelo Reino Arruda e vendido para Dumed. O rei dragão à época instalou sua base marítima na ilha mais extrema, sendo essencial para a vitória na guerra. Após o fim das batalhas, as ilhas haviam sido deixadas para o rei dragão cuidar, mas já não havia as riquezas de antes.

Robbie ponderou um pouco a resposta em sua mente. Depois de algum tempo, resolveu escrever exatamente o que pensara. Depois de escrever, pulou o olhar para a próxima pergunta depois de bocejar.

De que modo aconteceu o conclave que elegeu o primeiro Príncipe do Céu, eleito... O olhar de Robbie saiu de foco. Ele esfregou os olhos e continuou a ler. ...isso pressionou a Terra Livre a permitir...

Robbie sentiu o rosto ficar pesado, enquanto corria rapidamente por um campo aberto. Estava escuro; a lua parecia o seguir, sem nenhuma nuvem para bloqueá-la de observa-lo. Alguém corria atrás dele, rindo algo a cada passo, mas não conseguia perceber que era. Robbie olhou novamente para a lua que o observava com os olhos fixos. Tentou correr para a direita, mas lá havia um precipício. Ele tropeçou no próprio pé e tombou. Enquanto caía, podia ouvir mais claramente a risada da pessoa que o perseguia. Caiu, e sentiu as pedras no fim do precipício cutucar suas costas. Uma, duas, três vezes, como se o chamassem para baixo. Robbie levantou-se, limpando a poeira da roupa e olhando para cima. O precipício perdia-se de vista entre as nuvens negras da noite, mas aquela queda nunca poderia mata-lo. Isso fê-lo rir, mas parou imediatamente quando as cutucadas nas costas voltaram, agora dadas pelo próprio vento. Mais fortes e mais persistentes. “O que?!”, Robbie gritou, mas tudo o que conseguia ouvir era uma voz bem distante que crescia a cada forte cutucada e empurrão do vento...

Ele abriu os olhos assustadamente e levantou o tronco para arrumar-se na cama. Com uma das mãos, limpou a baba que escorria pelo queixo e fechou a folha de exercícios molhada de suor. Sua mãe tinha uma mistura de sorriso com irritação na face, mas Robbie sabia que ela não estava irritada de verdade.

— Você dormiu novamente sobre os livros — Reclamou Kharla, acendendo o abajur sobre a mesa de cabeceira para iluminar o quarto escuro.

A noite já caia e a chuva retornara, batendo com violência na janela do quarto e no telhado. Robbie levantou-se e esticou o corpo para tirar o efeito do sono. Seu pescoço e costas doíam por causa da posição que dormira.

— Eu prometo que termino o dever mais tarde — Prometeu ele, aborrecido com si mesmo. Conseguira apenas responder uma das vinte perguntas da atividade de férias. Teria que terminar tudo aquela noite, o que queria dizer que não poderia sair para encontrar Fred hoje. — Depois do jantar.

— Tudo bem, mas termine isso hoje — Advertiu ela. — Não quero vê-lo com dificuldades nas provas este ano, então trate de não dormir enquanto estuda.

Robbie resmungou alguma coisa enquanto cambaleava para fora do quarto. Foi diretamente para o banheiro e depois desceu para a cozinha, ainda meio sonolento. Sobre a mesa, esperavam por ele um prato de sopa e um pão fresco. Ele comeu rapidamente e em silêncio, sabendo que não haveria apelação para que sua mãe o deixasse sair para falar com Fred esta noite. Depois de tomar um longo banho, voltou ao quarto e trancou-se lá para terminar o dever que mal havia começado.

Levou boas três horas para responder todas as perguntas. Na maioria delas, teve que recorrer ao livro para encontrar as respostas certas. As últimas saíram rabiscadas e mal feitas, mas o que importava era que estava terminado. Robbie suspirou fundo e fechou os olhos para descansá-los, depois guardou o papel dentro da mochila e deitou-se novamente na cama. O relógio em cima da mesa de cabeceira já marcava mais de dez horas. Apesar de ter dormido um longo tempo com a cabeça sobre as questões do dever, pode perceber-se novamente com sono. Suas pálpebras fechavam violentamente em sincronia de tempo enquanto ele movia-se para apagar o abajur e voltar para o conforto quente da cama.

Ficou algum tempo deitado no escuro, fitando o teto, antes de perceber que não se dera o trabalho de trocar de roupa. Pensou por um segundo em levantar-se e vestir algo mais quente, mas o sono o venceu antes. Robbie dormiu pesadamente, sem sonhos para atordoar seus pensamentos.


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