Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 41
Rapto




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Ponto de vista de Renesmee

_ Você sabe como tudo pode ser, não sabe? Sabe que a quero_ a voz de Jake era quase inaudível para mim_ Mas eu realmente não vou forçá-la se prefere ignorar isso, vou esperar o quanto for, não me importo.

 Com minha cabeça leve e parecendo desconectada do corpo, eu me perguntava se meus pais haviam saído, pois se estavam em casa certamente ouviam Jake. Eles não estavam, concluí, deviam ter acompanhado Carlisle... Balancei a cabeça infinitesimalmente, meu estômago se agitou, o efeito dos remédios chegava ao seu auge. Delicadamente Jake me recostou nos travesseiros e dessa vez eu deixei, ele puxou os cobertores sobre mim, os olhos demorando-se em minhas pernas e um risinho idiota me escapou.

_Issu... Issu é tãão injusstuu_ a letargia minguava meus sentidos e consciência, eu mal entendia as palavras que proferia.

_Durma bem, meu amor_ um zumbido distorcido na voz mais bonita do mundo, tão forte e calorosa, como um raio cortando a escuridão de um céu. Eu nem pude saber o que o som dizia, apenas absorvi as notas graves, repetindo-as aleatoriamente enquanto era levada ao lugar vazio do sono profundo, onde até a angústia descansa.

 Foi um pouco atordoante acordar tão alerta sem o efeito dos analgésicos, e o cotovelo incomodava...

_Acho que devíamos montar guarda_ dizia Emmett durante a discussão sobre os nômades.

_ Poderíamos tentar uma varredura, somos muitos, eles só dois_ sugeriu Jasper.

_Não acho que teríamos sucesso_ disse Edward_ Não encontramos nada além de rastros. Eles sabem que há um clã e também os lobos, que eles evitam a todo custo, nossos cheiros estão por toda parte.

_Evitam os lobos sabiamente_ assinalou Carlisle.

_Estão procurando algo_ Concluiu Jasper_ Do contrário porque voltariam sabendo do perigo?

_Mas o quê?_ Carlisle voltou a questão inicial.

_Devíamos nos preocupar com quem eles são, só então com o que querem_ comentou Rosalie se aconchegando a Emmett no sofá.

_Alice?_ interpelou Bella.

_São decisões aleatórias, impulsivas. Tive alguns vislumbres_ ela franziu os lábios.

_Isso é no Canadá_ Edward viu em sua mente.

_O caso é que decidem vir e não os vejo, não sei quem são, não sei por quem procurar, os lobos estão emaranhados por toda parte, me cegam_ ela expirou irritada.

_Coincidência? _ o tom de Emmett deixava claro que ele não acreditava nisso.

_Conhecimento_ corrigiu Jasper_ Experiência, no mínimo.

_Sim, eles nunca estão próximos o bastante para que eu os ouça, ou para que os vejamos, estão sempre à frente, fora do alcance de todos_ falou Edward.

_ Quem conhece os exatos limites de Alice e Edward é Aro_ Esme se pronunciou pela primeira vez. Houve um silêncio agourento por menos que um segundo.

_O tenho vigiado, é um hábito_ descartou Alice, convicta_ E porque seria?

É claro que todos tinham idéia dos porquês de Aro, mas... Não, Alice saberia.

_Não são jovens curiosos, então_ resumiu Bella.

 Não havia mortes ou desaparecimentos, o que realmente confirmava o que Jasper e minha mãe disseram. Eu não conseguia imaginar o que poderia ser, poderia ser qualquer coisa, ou nada importante.

Todos estavam em alerta em todo o caso. Suspirei voltando-me para o piano e continuei dedilhando-o com uma só mão. Com o braço na tala, não fui a La Push; era melhor mesmo, não que fosse bom, mas é que não queria encarar Jake. Não havia muito que dizer, e eu não achava que poderia agir normalmente depois do que houve, entretanto eu sentia sua falta. O que me fez imaginar, admirada, como Jacob escondeu seus pensamentos de Edward, era uma questão retórica.

Bem talvez aquele beijo não ficasse na mente dele como ficava na minha... Eu quase podia senti-lo quando pensava. O fato é que eu era prisioneira, as circunstâncias enjaulavam minha vontade. Levantei quietamente indo até a vidraça que embaçou com minha respiração, olhei ao longe, para as árvores, não havia nenhum movimento, não o que eu esperava... Atrás de mim, minha família aos poucos começava a se envolver com suas próprias coisas.

_O que a incomoda?_ a voz suave de Jasper flutuou até mim. Balancei a cabeça_ Sinto sua ansiedade... Euforia... Oscilando de forma quase nauseante _ele riu e tocou meu ombro.

_Seus sensores não estão muito bem_ bufei, debochando de mim mesma, como se não fosse ruim o bastante que meu pai lesse mentes, eu tinha um tio que sentia tudo que eu.

_Não se irrite_ disse ele paciente_ Só tenho mais experiência e, acredite, maior parte das complicações de nossa existência somos nós quem inventamos.

_Jazz_ chamou Alice, surgindo, ela sorriu e ele a seguiu.

Podia ouvir meus pais na varanda dos fundos, meus avós no gabinete, e Emm e Rose estavam no sofá vendo TV.

Jake não apareceu o dia todo.

No dia seguinte eu já estava de saco cheio da tala e de não ter o que fazer e principalmente me perguntando por que Jacob não apareceu, embora eu não soubesse o que fazer quando ele aparecesse.

Desisti do enorme quebra-cabeça de Alice e Rose embaixo da escada e sentei-me na sala, junto de Carlisle e meus pais que viam a um jogo de baseball na TV. De repente a porta se abriu e Jake entrou, minha mente foi silenciada numa reação automática. Ele passava as mangas da camisa pelos braços, gotas de chuva cintilavam azuladas pelos fios de cabelo negro. Ele cumprimentou a todos como sempre, deixando-me por último:

_Hey, Nessie_ inclinou-se beijando  alto de minha cabeça e sentando-se ao meu lado_ Como vai o braço?

_Bem_ foi só o que disse. Ele sorriu e olhou para Carlisle querendo mais informações.

_No fim do dia vamos tirar a tala e verificar_ falou meu avô.

_Não vejo a hora de me livrar disso_ falei um tanto rabugenta.

_Não seja mimada, Nessie_ Jake riu, querendo me provocar, tive de sorrir, era impossível não reagir a ele.

_Olha quem fala_ bufou Edward_ Tem sorte de não ter ficado torto há alguns anos, sei que não usou suas muletas por tempo o bastante_ Bella riu. Jake fez um muxoxo entediado se espalhando pelo sofá, murmurando:

_Ah, qual é, sanguessuga?!

_Jake e quatro muletas_ Bella riu.

_Hahaha, quer saber Bells, devia parar, você não tem muito talento para piadas_ rebateu Jake.

 Enquanto Jake falava, meu pai estreitou os braços em volta de Bella e sussurrou: “Eu te amo”. É claro, que como eu, Jake ouviu e não reagiu de forma alguma. Mas o que eu esperava? Se ele reagisse, mesmo em pensamento, nunca estaria aqui, não porque ele não se propusesse, teimoso como era, mas porque Edward, certamente, não permitiria. Assim isso era algo que eu nunca entenderia, havia um hiato aí, e eu não sabia que peça se encaixava.

Os dias passaram, livrei-me da tala, embora o braço ainda doesse dependendo do esforço, mas esta parte eu eufemizava. Eu havia me afastado de Bella, sentia mágoa dela, e não importava que ela não tivesse culpa e que eu soubesse como foram as coisas: eu tinha ciúmes. Eu privatizava cada vez mais minha mente, assim de certa forma, também estava mais distante de Edward. Quanto a Jacob, nossos silêncios pareciam sempre cheios de significados, e embora eu não cogitasse mudar de idéia, ter qualquer parte dele se mostrava cada vez mais difícil, entretanto estar com ele tinha conforto, ainda que também um sabor amargo. Era perverso, mas mostrar-lhe como me senti com sua ausência proporcionava-me o mesmo falso alívio que causar uma dor para esquecer de outra. Eu fazia porque me irritava a forma como ele ficava triste se ele ficara fora por tanto tempo. Entretanto não era como se causar-lhe dor me fizesse feliz.

Jake queria saber sobre o dia em que nos falamos por telefone, na verdade o dia em que não nos falamos... Estávamos na praia, andando muito devagar, mal nos movíamos, com as mãos nos bolsos.

_Tentei retornar a ligação_ murmurei.

_E depois?

_Depois_ estremeci com a lembrança muito vívida do depois... Projetei então a memória exata em sua mente: o medo que chacoalhava meu corpo, a sensação de não conseguir respirar, o chão girando até meu rosto, Rosalie caindo comigo, meu sangue congelando e a escuridão... Jake cambaleou e se deixou cair em um tronco baixo cor de osso, o rosto com um estranho tom esverdeado por baixo da pele vermelha. Preocupada ajoelhei-me diante dele, que tinha um punho pressionado contra os olhos, antes que eu soubesse o que dizer seu punho desceu, socando o tronco ao seu lado que se partiu em pedaços, tornando-se dois. Com o susto do movimento brusco caí sentada na areia fria e úmida. Girei escorando no tronco.

Encaramos o oceano em silêncio por alguns minutos, apenas o som das ondas cortava o ar.

_Não entendo_ falei baixinho, por fim_ Você foi e não voltou, me fez essa falta descomunal, mas e daí? Está feito, não está?_ eu falei sem querer pesar minhas palavras, tinha a impressão de que aquela altura nada seria demais para mim ou para ele.

_Sim, está. Sabe, eu devia ser expulso da tribo como o pior alfa da história e você devia me odiar. Mas estamos aqui, somos os mesmos e ainda assim diferentes, esperando o castigo por nossos erros.

Minha mente divagou, enquanto eu olhava o mar... De certa forma ele tinha razão, aquilo era auto-flagelo em conjunto e não mudava os fatos.

_As coisas mudam, não é? Até para os imutáveis. _ percebi.

Ainda sem olhá-lo alcancei sua mão, deixando meus pensamentos irradiarem para ele num jorro, pensando em como as coisas costumavam ser fáceis para nós, antes, há mais de dois anos quando eu era criança e ele, de alguma maneira, também. Quando existia um mundo particular, completo e inabalável. Antes que eu quisesse mais, ver mais, saber mais...

_Ainda podem ser. Fáceis, quero dizer_ sussurrou. Eu queria, entretanto não podiam, não. Não para mim. Jacob se sentou no chão ao meu lado, o olhei de soslaio, um sorriso débil brincava nos cantos da boca.

_Você costumava ter um brilho nos olhos. Quente, puro e doce. _ ele colocou uma mão em meu rosto fazendo-me olhá-lo nos olhos_ Ainda é quente, mas arde, é um brilho de aço, nem sempre é doce. Parece saber demais.

Fechei os olhos virando a cabeça, olhando a areia embaixo de mim, imaginando se alguém no mundo me conhecia tão bem quanto ele, afora Edward, é claro, e que agora tinha mais limitações que Jacob.

_Mais do que gostaria. _ as lembranças se agitaram em minha mente, muitas, muitas coisas. Coisas que foram eclipsadas por descobertas e desesperos...

_Jake_ o encarei_ Lembra que pouco antes de irmos para Seattle você me pediu para deixar de lado a tal conversa com meus pais? Não consegui descobrir nada por mim mesma, como você disse que seria.

Ele desviou os olhos para o mar e voltou a me olhar, então houve um uivo, perto o bastante para que ouvíssemos. Em alguns segundos Embry e Quil saíram pelas árvores em nossa direção.

_Havia um rastro de umas duas horas_ disse Quil antes de tudo_ Só um deles.

Jake fez um muxoxo e disse:

_Não podemos deixar brechas... Temos que aumentar e redividir o perímetro com Sam_ os dois assentiram.

_Hey, Nessie, Claire tem sentido sua falta_ disse-me Quil.

_Diga que amanhã venho só para vê-la, vamos tomar um sorvete_ ele sorriu_ Como está Jade? Não a tenho visto muito_ dirigi-me a Embry, que sorriu a simples menção do nome dela.

_Bem, muito bem_ respondeu, notei que Quil fez cara de nojo e Jake sorriu torto, ainda afetado por nossa estranha conversa, então decidi que era melhor não pensar em suas reações.

_Bom, eu vou indo_ Acenei para os garotos e levantei, Jake me seguindo de perto até o estacionamento.

_Vou vê-la amanhã, ou virá só por Claire?_ ele sorriu lindamente, mas os olhos eram apreensivos. Não estávamos nos vendo sempre, ele andava ocupado com os visitantes anônimos e eu tentava evitá-lo. Não ajudava que ele parecesse tão ansioso por me ver.

_Sim, acho que sim_ respondi. Jake tocou meu rosto com a ponta dos dedos, eu odiava quando ele fazia isso me olhando daquela forma, porque na verdade eu adorava... E então me abraçou, e não havia como não resistir, nós dois relaxamos.

_Que tal um piquenique na praia? As garotas vão gostar, e os rapazes precisam de uma folga_ disse quando nos soltamos. Eu sorri assentindo e parti.

Edward me esperava na garagem quando cheguei, minha mente estava em silêncio desde que julguei que meu pai já pudesse ouvir. Ele parecia calmo, fosse lá o que quisesse.

_Nessie, não vou pressioná-la a dar explicações, embora você saiba que eu gostaria de saber_ disse ele_ Não entendo porque está tratando sua mãe assim, não com certeza. Mas não acho que eu precise citar todas as razões para isso ser injusto. Realmente não posso entender, o que ela pode ter feito? Imagino que não seja sua intenção magoá-la, mas é o que está fazendo_ falou tranqüilamente.

_Não, não é minha intenção, desculpe-me_ foi só o que pude dizer.

_Não é a mim que deve isso, filha. Bella é que está ferindo quando prefere sair com Rose ao ficar com ela, ou ficar com Esme ao caçar com sua mãe. Sabe que pode me dizer qualquer coisa, não sabe?_ percebi em seus olhos dourados que ele sabia muito mais do que mostrava. Talvez Jake continuasse péssimo em dissimular os pensamentos.

Aquiesci para meu pai, mantendo-me como um túmulo e ele me abraçou.

Aquela noite eu simplesmente me aconcheguei no colo de Bella deixando que ela me ninasse, afinal, era ela meu primeiro e mais concreto amor.

Bella me levou a La Push no dia seguinte, disse que queria ver Charlie, mas acabou ficando comigo na casa de Emily enquanto Claire e eu esperávamos Jake e Quil, até que Jade chegou, afim de esperar Embry.

_E as admissões para a faculdade?_ perguntou Emily a certa altura.

_Fui admitida na Califórnia e no Canadá, mas ainda tenho esperanças de poder ir para Seattle_ disse ela pensativa.

_Isso é ótimo_ disseram Bella e Emily juntas.

_Não quero ter de deixar minha avó só, nem quero ficar sem Embry_ explicou ela e corou levemente. Ela não entrara para faculdade logo depois da formatura pela mesma razão, e eu me perguntei novamente sobre a ligação entre ela e Embry.

_Os garotos estão demorando_ disse Claire enfadada_ Vamos logo para a praia.

_Deixei a cesta de lanches na loja da mãe de Embry_ disse Jade.

_Quando Quil chegar pega_ respondeu Claire de pé nos esperando.

Bella e Emily trocaram olhares preocupados, então Emily disse:

_Não acho boa idéia_ a expressão no rosto de Bella dava apoio às palavras de Emily.

_Tudo bem, sei por onde eles vão sair da floresta, estaremos na praia, lá perto_ disse Jade.

Elas não pareceram menos preocupadas, mas concordaram.

_Eu cuido delas_ falei sendo a última a sair.

Eu queria fazer mil perguntas sobre o tal imprinting, imaginar o que esperava Jake, no entanto me parecia íntimo demais. Ao invés disso mantivemos uma conversa banal enquanto andávamos pela areia úmida, o dia estava muito escuro e úmido para piqueniques, o que era normal para outubro.

_Quil disse que havia um cavalo marinho azul preso nas piscinas naturais ontem, vamos lá, quero vê-lo antes que saia. _ disse Claire.

_Acho melhor não_ retaliou Jade. _ A floresta é perigosa

_É um trecho curto da floresta até lá_ disse eu.

 Fomos e Claire teve azar: seu cavalo marinho azul não estava mais em lugar nenhum e começamos a voltar. Embora eu tentasse me distrair com a conversa animada das garotas o assunto imprinting martelava em minha cabeça sempre espaçosa.

_Jade se importa que eu faça uma pergunta... Intima?_ a garota enrubesceu por baixo da pele bege escuro, e então eu soube a razão da reação dos garotos outro dia, mas a pergunta não era assim, tão intima.

_Como... Foi para você o tal imprinting? Quero dizer... Não entendo, você e Jake... _ Falei hesitante enquanto andávamos por entre as árvores, Claire ficara pouco atrás, ainda fora das sombras da floresta, catando seixos coloridos, não nos ouvia.

Os olhos verdes de Jade fitaram-me alguns segundos, primeiro aliviados, depois pareceram maduros, fazendo-me sentir uma criança ingênua por alguns instantes.

_Estranho, e quanto ao Jake, bom, como diria minha avó: “Existem coisas que nunca entenderemos”. Jake é um amigo. Mas não é isso que você quer saber... _ a frase soou como uma pergunta, eu assenti. _ Além de estranho e também um alivio foi assustadoramente maravilhoso, sabe, ter alguém para cuidar de você...

 Então Claire nos alcançou abraçando nossas cinturas. Ambas retribuímos o sorriso da menina.

Neste milésimo de segundo aconteceu algo natural, comum, automático, que eu não teria registrado se não tivesse encontrado algo. Um mecanismo natural de defesa fora acionado, meus sentidos esquadrinharam ao redor e captaram na brisa o perigo, perto demais para atender o instinto de correr, letal demais para deixar as humanas ali. Girei na ponta dos pés, abrindo os braços, prendendo Claire e Jade contra a árvore mais próxima.

O que eu faria? Dizer que corressem não era a melhor opção.

_ Até que enfim_ um sussurro melodioso ecoou com o vento frio, baixo demais para que alguém além de mim ouvisse. Não conheci a voz. Houve também um riso baixo, e eles surgiram. Atrás de mim duas respirações falharam, diante de mim, vestidos de modo simples com roupas que pareciam resistentes, andando de modo muito elegante, um loiro monumental e um moreno que parecia muito jovem, sorriam de forma ameaçadora.

Seus olhos vermelhos-vivo quase me fizeram sentir alívio pelas duas atrás de mim: sede eles não tinham. Porém isso não significava muito na verdade. Eu sabia lutar, era até boa nisso, mas era incontestavelmente mais fraca que qualquer vampiro, eu não venceria luta alguma e senti meu estômago afundar com a constatação: eu imploraria pela vida delas.

Os vampiros avançaram, não como se quisessem uma luta, mas como se estivessem provocando um filhotinho bravo de cão, como se divertissem com isso. Deslizei para frente e para o lado, dando espaços para as garotas fugirem. O que mais eu poderia fazer? Um deles parou observando, enquanto o outro falhou, surpreendentemente, na investida em mim quando quase com um balancéeu desviei, girando no ar, e caindo instintivamente em posição de ataque.

Claire chorava e Jade não respirava enquanto segurava a menina protetoramente atrás de si, as duas meio abraçadas. Desviei de um par de mãos com uma espécie distorcida de cambré, mas não pude escapar do outro, que pareceu cansar de olhar apenas.

Ele me segurou rispidamente e senti meu pescoço ser forçado pela mão fria em minha nuca, ele estalou com uma dor gélida e senti como se meu corpo estivesse sendo apagado, deixasse de existir, não consegui me mover, e senti que aquele estranho torpor me faria apagar. Desesperada pelas vidas que não poderia salvar olhei uma vez mais para Jade e a pequena Claire, e então tudo se tornou nada.

Ponto de vista de Jacob

 Esses sanguessugas estavam me irritando mesmo, não via a hora de colocar meus dentes neles. Como eles podiam passar por nós? Por todos nós? Incluindo o bando de Sam. Éramos assim tão incompetentes?! Rastros e rastros... Foi só o que encontramos depois que estivemos perto no dia em que o idiota do Paul quase matou Renesmee, meus pelos se eriçam de pavor só em imaginar o desastre que poderia ter acontecido. Teria sido uma reação em cadeia, a pior que poderia haver: ele fere Nessie, eu o mato, toda a alcatéia entraria em conflito, além de minha irmã louca comigo... Seria terrível, todos sabíamos disso, passou tão perto... A própria Renesmee não tinha idéia da sorte que tinha de apenas Leah poder ser mais rápida que eu.

Frustrados com o resultado de hoje e dos últimos dias, agora íamos em direção a casa de Emily, onde nossas garotas esperavam Embry, Quil e eu.

_ O que estão fazendo aqui?_ indagou Bella enquanto entrávamos.

_As garotas já saíram_ disse Emily.

_Não gosto delas sozinhas_ resmungou Embry já voltando pela porta, Quil e eu o seguindo.

Seguimos os cheiros delas, descendo a rua e seguindo pela praia, iam em direção ao lugar onde se formam piscinas com a baixa da maré, não estávamos gostando disso, corríamos o mais rápido que podíamos sem correr o risco de sermos vistos, mas antes de entrarmos na floresta vimos, ainda longe, Jade e Claire cambalearem para fora do verde escuro que era a mata. Embry e Quil correram sem se importar com nada mais, enquanto eu me sentia frio de nervosismo buscando atrás delas a imagem que não veio, Renesmee não estava com elas, perceber isso me fez olhar para o rosto das duas garotas que eram entre outras coisas apavorados.

_Calma, criança_ Quil tranqüilizava Claire quando rapidamente os alcancei.

_O que houve?_ quis saber Embry confortando Jade, que soluçava em seu peito.

_Levaram Renesmee_ respondeu ela sufocada_ Tinham olhos vermelhos, eram dois.

Não ouvi mais nada mergulhando na floresta em uma caça desesperada, um uivo que quem ouvisse saberia se tratar de uma emergência irrompendo feroz por minha garganta, o rastro devia ter pouco mais de cinco minutos. Cinco minutos era tempo demais.

“Cara, eu já ia me transformar quando ouvi você. Não vai acreditar! Acabei de cruzar com um rastro, senti o cheiro da Nessie”, Seth mergulhou na minha cabeça se atualizando dos últimos segundos, ele estava cerca de um quilômetro a minha frente, seguindo o rastro também em linha reta. Embry então se uniu a nós, bem atrás de mim.

“Ouvi o chamado, Quil disse que vem assim que Claire se acalmar e largar do pescoço dele”, a última parte sobre Quil era uma observação da própria Leah.

“A partir da sua direita, em arco, Leah, pegue o rastro, ainda podemos pegá-los”, ela obedeceu assim que percebeu minhas palavras. De onde ela estava contornaria uma meia lua maior em torno de Seth, quem sabe os alcançando primeiro. Embry analisando a situação partiu à minha esquerda num arco paralelo a mim, fechando o arco em torno de Seth, de encontro a Leah. Eu já alcançava Seth.

“Um rastro ainda mais fresco”, disse Embry há pouco mais de quatro quilômetros de mim.

“Daqui começa a voltar, fazendo uma curva”, disse Leah no momento em que percebi seus sentidos, ela já estava à frente de Seth. Ela fez a curva seguindo o rastro e Embry voltou do lugar onde estava cobrindo o rastro também.

“A praia? É só o que há nessa direção”, refletiu Seth incrédulo, absorvendo os sentidos de Embry. Eu já voltava, ele e a irmã agora ficaram para trás, apenas Embry na minha frente. “Os penhascos!”, falei no momento em que ultrapassara Embry. “O que eu perdi?”, surgiu Quil afoito, absorvendo tudo de todos, ele estava mais perto da praia que eu e seguiu para lá, em direção aos penhascos, não o de onde saltávamos, um mais a oeste, onde havia pedras demais para ser seguro para qualquer um.

Eu tinha medo do que ia encontrar, uma vez que não fazíamos idéia de quem era ou o que queriam. Também não sabia se era pior a idéia de não encontrar nada. “O rastro deles e Nessie some na água”, Quil disse subindo de volta no momento em que alcancei a borda do desfiladeiro. Seth encontrara Bella na floresta e ia se transformar de volta para lhe explicar o que estava havendo. Senti sua consciência sumir junto de tudo a minha volta. Cravei as garras na terra rasa até doerem, alcançando a rocha abaixo de mim, só me dei conta da fúria de meus rosnados e uivos de agonia porque a matilha ecoou minha dor, e o som lacerante de tantos uivos ricocheteou pela floresta densa de diferentes direções até mim.

 Eu não sabia quem, mas quem quer que a tenha levado, não importando por que... Eu buscaria no inferno e o faria em pedaços, ou eu não me chamava Jacob Black.

*balancé:  no balé, um passo ao lado com uma perna, trazendo a outra para trás desta, com o joelho meio dobrado e a meia ponta no chão; em seguida, transfere o peso do corpo para a perna de trás e logo em seguida para a da frente, sem mudar a posição de ambas.


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Notas finais do capítulo

Gi,acho que esse capítulo deu uma clareada em como a Nessie se sente...
Espero que tenham gostado.
comentários?