Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 39
Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

"O amor é louco
Garoto lindo
Aceite bem devagar
Meus sentimentos transparecem(...)
Desculpe-me por eu estar levando tanto tempo
Pra descobrir o que estou sentindo
Me pergunto se eu perceberei(...)
O que estou tentando dizer é que
Estou sentindo uma mudança"
—Feelings Show
Colbie Caillat



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Ponto de vista de Renesmee

_O que esteve falando com Edward?_ perguntei enquanto comia a omelete que Jake preparara.

_Não muito, foi quando deixei o Rabbit na casa branca, só tentando me atualizar sobre a nova Renesmee_ deu de ombros.

Então era assim mesmo? Não nos conhecíamos mais. Jacob também parecia diferente para mim, mas eu sabia que ele era o mesmo, ou não era?

_Você também parece diferente_ murmurei_ Então é verdade que quando algumas coisas são quebradas, jamais há concerto?

Jake me fitou com ferocidade, ponderando um instante com uma cautela que não condizia com ele.

_Você é tão importante quanto sempre foi_ falou, seus olhos se suavizando_ Mais ainda, até.

Baixei a cabeça e vooltei a comer, banindo suas palavras de minha mente, não era o que ele realmente estava dizendo, era o que eu queria que ele estivesse. As palavras por si só tinham outras possibilidades e possibilidades traziam esperança...

_Jacob, meu amigo, perguntaria qualquer coisa para mim_ reclamei dele ter ido falar com Edward. Ele fez careta e sorriu.

_Nessie, uma velha amiga, não tinha esse péssimo hábito de editar informações_ eu é que fiz careta, agora_ Mas não se preocupe, tenho tempo e muitas perguntas.

_Alguma razão especial para trazer o rabbit?_ mudei de assunto, ele riu percebendo.

_Estou levando Dulce para a reserva.

_Para sua casa?_ minha voz saiu mais alta do que devia. Um sorriso lento se espalhava por seu rosto enquanto respondia:

_Sim, Leah é muito territorialista, não ia dar certo deixá-la com Sue, os rapazes estão fora de cogitação por razões óbvias e, bem, Dulce confia em mim_ esclareceu.

_Não precisa me explicar, você sabe o que faz com sua vida_ falei depois que ele se explicou, sentindo-me amuada.

_Claro-claro_ ele riu_ Dulce é legal, você vai ver.

_E é mesmo bom que seja, afinal, vocês vão morar juntos_ dei de ombros, levantando e levando meu prato para a pia.

_É só até ela se estabilizar. Sabe, ela é enfermeira, talvez Sue consiga um emprego para ela, ou talvez a mãe de Embry precise de ajuda na loja, ou...

_Já mencionei que você não precisa me explicar nada?_ demandei irritada, ele riu, novamente.

**

Chegamos após uma corrida tranqüila, a casa estava silenciosa, exceto por Edward ao piano.

_Saíram, no hospital em Seattle e lá em cima com Alice e Bella_ Edward listou enquanto entravamos, provavelmente respondendo a mente de Jake, já que a minha estava em silêncio para ele. Sentei ao lado de meu pai, na banqueta do piano, não contendo um suspiro consternado ao ver Jacob sumir pelas escadas.

_Ela é uma boa garota_ sussurrou Edward.

Não respondi, eles todos desceram: Bella, Alice, Dulce e Jake, que carregava uma enorme bolsa que Alice devia ter recheado.

_Bom dia, Dulce_ era bobo, porém quis mostrar que sabia dela como ela sabia de mim. Dulce era modesta, não chamava atenção em nada, a não ser pelos traços indígenas, que ainda assim eram diferentes dos de Jacob, por exemplo. Mas o amor era uma questão de beleza?

Despedi-me de meus pais e saímos. Não falei nada por todo o caminho, sentia raiva e constrangimento, eu estava com ciúmes. Fitei a paisagem, a fim de não ver os olhares carinhosos e sorrisos amigáveis que Jake lançava pelo retrovisor para Dulce.

_Pai_ Jake chamou_ Ele dormia quando saí.

_Aqui, garoto_ disse Billy saindo de seu quarto, seu sorriso franco no rosto_ Renesmee_ sorri e acenei.

_Pai, esta é Dulce, e este é Billy, meu velho_ apresentou-os Jake.

_Fique a vontade_ Billy sorriu_ Vou fazer um café_ ele virou a cadeira em direção a pequena cozinha.

_Eu faço Billy_ apressei-me em chegar antes dele ao armário. Eu estava tendo sérios problemas ao imaginar Jacob e Dulce dividindo a pequena casa. Eles dividiriam o quarto? Jacob não falara nada sobre que tipo de “amizade” era a deles... Ele dormiria na sala? Jake era grande demais para o sofá...

_Você não gosta de café_ comentou Jacob.

_Vou fazer, não beber_ respondi sem olhá-lo, concentrando-me em meu trabalho.

_Dulce, pode arrumar suas coisas aqui_ disse ele, seus passos indo até seu quanto.

_Eu vou caber no sofá muito melhor que você_ disse ela, o que me encheu de alívio.

_Não se preocupe com nada. Mais tarde podemos ir até Sue_ ele avisou_ Você tem de conhecer a todos, de qualquer forma_ disse ele como se estivesse muito ocupado com algo.

Sentia como se Jacob estivesse tentando me compensar pelo tempo longe, pagar uma dívida. Ele tinha que acomodar a garota, devia ser muito difícil para ela, ter perdido tudo tão violentamente, estava longe de sua terra, de sua gente, com pessoas desconhecidas... Eu não me encaixava ali, não agora.

_Aqui está, Billy_ passei-lhe a xícara quente. Ele assoprou alguns instantes e bebericou.

_Que Rachel não me ouça, mas está melhor que o dela_ Billy riu, posicionando a cadeira próxima a TV. Perguntei-me ao acaso se Jake se pareceria muito com ele quando estivesse mais velho. Meu peito doeu com o pensamento de vê-lo envelhecer e um dia... Entretanto, ao mesmo tempo me enchi de admiração e orgulho sabendo o grande ancião que ele seria, o melhor líder que os quileutes já tiveram. Jake então cruzou a sala e veio até onde eu estava, escorada na mesa.

_Mais tarde podemos ir à praia, ou caçar_ enquanto falava ele enrolou uma mecha de meu cabelo no dedo_ Sinto falta dos cachos... Claro que você fica incrível de qualquer jeito_ Ele afastou minha franja, segurando meu rosto entre as mãos, podia ver meu reflexo em seus olhos.

_Caçar é boa idéia_ falei sentindo minha garganta arder como só seu cheiro fazia. Afastamo-nos e notei Dulce, parada, completamente perdida. Billy percebeu e convidou-a a sentar, puxando conversa. Logo os dois falavam sobre seus costumes, sobre ervas... Eu divaguei da conversa, me perdendo na mão de Jake na minha, nós dois sentados nas cadeiras da pequena mesa, no formato dos lábios, na textura da pele, quente e resistente, nos cabelos sobre os olhos... O amava mesmo?

_Verdade garota, não se incomode_ disse Billy pouco mais alto, o que chamou minha atenção, movendo sua cadeira atrás de Dulce que vinha em direção a cozinha.

_Não é incômodo, na verdade, eu gosto_ respondeu ela, com um sorriso tímido. Jacob parecia entender tanto quanto eu_ Vou fazer o almoço, Jacob, só preciso que me mostre tudo...

_Não Dulce, Carlisle disse que você precisa descansar, é melhor... _ tentou ele.

_Eu estou bem, cozinhar não vai me enfadar tanto assim_ disse ela com certa impaciência o sotaque forte deixando a frase engraçada_ Por favor.

_Tudo bem_ Jake cedeu, levantando para lhe mostrar as coisas.

Ajudei a preparar a comida. Enquanto trabalhávamos fui ficando um tanto deprimida, ao perceber que ela se movia graciosamente para uma humana, seu sorriso, tímido e triste, era muito bonito, dentes perfeitos. Enquanto ela esperava a ebulição de uma panela, ela escorou-se na mesa, soltando os longos fios negros de sua trança, e demorou-se distraída desembaraçando, o fazia como uma ave zelando suas penas... Parecia um hábito antigo.

**

_Que tal caçar?_ Jake perguntou após olhar meu prato quase intocado. Ele acabara de terminar seu almoço, Billy se retirara para um cochilo e Dulce via TV. Concordei.

_Com licença_ era a voz Sue, ela estava entrando com Margareth, a avó de Jade, logo atrás dela.

_Entrem_ disse Jake contente. Ele as apresentou a Dulce, e logo elas conversavam como se já se conhecessem.

Eu começava a ficar inquieta. Jake estava ao meu lado emitindo lufadas úmidas de calor, além dos outros quatro humanos presentes na casa pequena e subitamente mais aquecida. Talvez não fosse tanto a sede quanto o fato de que eu queria Jake só para mim...

_Importam-se de fazer companhia a Dulce?_ Jake disse então como que lendo minha mente_ Nessie e eu estávamos de saída.

_Porque ela não vem conosco?_ sugeriu Margareth.

_Claro, estamos indo à casa de Emily, você vai gostar_ Sue disse a Dulce.

_Eu adoraria. _aquiesceu ela.

 Na floresta eu parti correndo, dando espaço para que Jake mudasse de forma, entrando em venatione modum, procurando algum aroma que me agradasse, quando então senti o melhor que poderia existir, minha mente já muito mais instintiva que racional. Tão atraente, parecia oferecer uma saciedade muito além de qualquer outra que já tivesse experimentado. Automaticamente mudei o rumo, rastreando, caçando. Algo numa parte semi-adormecida de minha mente dizia-me que parasse, mas naquele estágio da caça apenas uma coisa me faria parar: instinto de preservação, porém não era eu quem estava em perigo ali. Não via minha presa, mas a ouvia, e sentia seu cheiro, inebriada pelo desejo por seu sangue, ela fugia. Rosnei, irritada com o animal que parecia muito consciente do perigo ao mudar de direção.

Jacob surgiu, segurando-me pelos ombros, prensando-me na árvore mais próxima, que tremeu com o baque, enquanto com o susto eu deixava a parte mais animalesca de minha mente, a racionalidade ganhando espaço. Ele me encarava com o rosto confuso, assustado, seu peito subia e descia, me tocando com a respiração ofegante. Seu aperto no alto de meus braços quase machucava, se eu não estivesse apreciando a proximidade. Mas, afinal...

_Porque fez isso?_ minha voz soou mais baixa do que pretendi. Ele me fitou, buscando algo em meus olhos, e então respondeu.

_Não quis atrapalhá-la, é que demorei um pouco para perceber que eu é que seria a presa.

_Ah!_ apoiei em seus braços e seu aperto afrouxou, enquanto eu entendia, minha cabeça tombando lentamente, meus olhos percorrendo o peito de Jake, compreendi tudo, erguendo os olhos de supetão, antes que chegassem aonde não deviam. Eu o caçara enquanto lobo e ele simplesmente transformara-se de volta, me impedindo, parando-me. Agora estávamos ali... Próximos demais.

Meu rosto esquentou violentamente, Jake virou-se de costas escondendo sua nudez, eu fiz o mesmo, abraçando a árvore atrás de mim.

_Tudo bem_ disse ele constrangido_ Desculpe-me por isso, tive de ser rápido. _ virei-me a tempo de ver seu rosto escurecer em bordô por baixo da pele de cobre. Ele estava vestido agora.

_Melhor eu caçar sozinha_ murmurei_ Espere-me aqui_ e corri.

Rapidamente alimentei-me de dois alces, desgostosa, pois estava longe de ser o sabor sublime que o aroma anterior me prometia, ainda melhor que o humano. Estava aturdida que fosse Jake... Era macabro, mesmo que eu quisesse_ maldosa e egoistamente_ magoá-lo por ter me deixado, eu não o faria mal assim. Larguei enojada o segundo alce, tentando apagar de minha mente a imagem de Jake no lugar dos homens que matei, aquilo me nauseou. Tratei de voltar logo para ele.

Timidamente caminhei por entre as árvores para o lugar onde Jacob estava. Encontrava-se imóvel sentado no galho de uma árvore, acima dele um pardal fazia ninho. Senti um sorriso involuntário em meu rosto.

_Eu adorava isso_ falei lembrando de que ficávamos assim por muito tempo, quando eu era criança, Jacob querendo me mostrar tudo do mundo. Ele sorriu, deixando-se cair e pousando suavemente no chão úmido.

_Era mais fácil, não era? Estar perto de mim naquele tempo?_ comentei.

_Sim_ assentiu_ Mais fácil_ ele pareceu triste dizendo isso.

_Desculpe-me por antes. Não sei o que houve, devia ter percebido que era você.

_Eu meio que... Bom, isso de te dar sede... Não achei que fosse tanto, acho.

_Há muito não caço com companhia, ainda mais com alguém que tenha sangue_ expliquei tentando ignorar a parte sobre a companhia ser lobo, um amigo, ou seja, alguém que realmente não deveria me despertar sede.

_Não gosto que fique sofrendo com isso, a sede, quero dizer_ ele pegou minha mão, acariciando meu rosto com a mão livre.

_Está tudo bem, agora_ falei ouvindo a aproximação de um lobo.

Era Seth. Ele empurrou Jake com a cabeça e me deu um sorriso de lobo.

_Algum problema?_ perguntou Jacob e Seth negou balançando a enorme cabeça.

_Vamos_ chamei-os, lembrando que nossos planos incluíam a praia.

Andávamos sem pressa, Jacob, agora também como lobo, eu entre os dois. Eles se encaravam vez e outra, provavelmente conversando. Apesar de serem animais, eu entendia muito bem suas expressões, e fiquei curiosa quando eles me pareceram muito sérios. De repente, Jake soltou um ganido como se estivesse engasgado, e  o chão tremeu conforme ele batia mais e mais as patas dianteiras no chão. Seus olhos conscientemente demorando-se em mim, chorosos. Seth, atrás de mim, uivou baixo e longamente, um lamento, confirmei pela disposição de seus olhos.

_O que está havendo?_eu quis saber. No entanto Jake apenas rosnou, agachando-se, os pelos em seu ombro se eriçando ameaçadoramente para Seth. Não que ele fosse uma ameaça para mim, mas me afastei por instinto, deixando Seth de frente para ele. O lobo cor de areia ainda ronronava, em meio a latidos curtos e baixos, quase como se desse uma longa explicação. Perguntei-me se estaria acontecendo algo, e o que seria? Então me dei conta de que Jake estava se colocando a par de tudo, ele estivera comigo desde que voltara e talvez fosse a primeira vez que ele estava na mente de alguém do bando tempo o bastante para se informar. O que Seth haveria feito de errado?

 Jake continuou andando, pisando duro, com raiva, Seth o seguiu e os acompanhei. Os dois continuavam em sua conversa irritadiça, a cauda de Jake chicoteando o ar.

_Parem já com isso_ falei inquieta.

 Seth bufou, os olhos escuros do lobo ferrugem vieram de novo pousar em mim, irritados e tristes. Seth me olhou, me empurrou pela lateral e correu entre as árvores, esperei que ele voltasse, porém sua corrida só se afastou. Ergui as sobrancelhas encarando Jacob, que latiu baixo e partiu trotando, fazendo-me correr atrás dele.

O lobo desapareceu e voltou vestindo a camisa, para logo depois enfiar as mãos nos bolsos e chutar uma pedra, que irrompeu pelas árvores e pude ouvi-la cair na areia, cabisbaixo. O parei, com a mão em seu peito, ele então ergueu a cabeça e me olhou parecendo cansado.

_Pode, por favor, me explicar?_ disse eu imperiosa.

_Seth! Seth e aquela bocarra! Eu devia dar uns bons chutes naquele traseiro peludo_ falou mal-humorado.

O problema era Seth ter falado? Ok, ele me contou um segredo da tribo, falou sobre imprinting, o tão secreto que nem eu poderia saber. Fitei Jake ceticamente, antes de suspirar e tentar interceder por Seth.

_Olhe, não fique tão chateado, certo. _ peguei sua mão o puxando adiante_ Seth meio que pensou em voz alta, e provavelmente tentava me distrair, bom, você viu como foi. Mas francamente, porque eu não poderia saber? Até meu pai sabia, ele me explicou.

_Agora você sabe_ murmurou ele, quando chegamos à praia, os olhos no horizonte_ O que acha da história?_ pensei um instante fitando o mar escuro.

_Não consigo imaginar. A história de Sam me chocou_ e mais uma vez me imaginei na situação de Leah.

_Você me prometeu todos os seus pensamentos, lembra?_ disse, e eu sorri. Ele pegou minha mão. _Você ainda tem problemas com controle?_ perguntou em voz baixa. Edward devia mesmo tê-lo atualizado... _ Eu penso, penso, eu não sei se entendo como as coisas chegaram a este ponto.

_Eu... Simplesmente não quis mais reprimir, resistir à sede. Queria desistir. Sentia culpa por querer tirar vidas, mas não via mais razão para negar minha natureza. Você nunca vai descobrir, é horrível, mas há prazer em matar_ disse eu engasgada, olhando para como meus pés deslocavam minimamente a areia quando eu andava. Tive medo de olhá-lo, mas sentia seus olhos em mim.

_Queria poder melhorar isso. Tudo isso. Mudar as coisas que aconteceram_ disse angustiado.

_Às vezes é preciso estar triste para valorizar a felicidade_ murmurei.

_Desde quando você é filósofa?_ perguntou risonho.

_ Filosofia... São só questões existenciais... Acho que desde que viver deixou de significar um coração batendo e ar em meus pulmões. _ Eu tinha que calar a boca. Olhei-o de soslaio e seu rosto era de pura dor. Sem pensar agarrei-me a sua cintura, tentando reconfortá-lo, sem saber ao certo o que o afligia.

_Eu vi... _sua voz ainda mais rouca_ Você não sabe como isso dói e como vai me atormentar sempre.

_Do que está falando?_ murmurei contra seu peito, agora estávamos parados.

_Do que fiz. Eu vi. Rosalie tinha razão_ ele me apertou em seus braços.

_Estamos aqui agora_ sussurrei, concentrando-me neste fato, mergulhando na sensação de estar entre seus braços, e perdi-me no tempo, até que começou a chover. Eu não queria me mover.

_Vem, vamos para casa_ disse Jacob.

A casa estava vazia. Assim que entramos a chuva transformou-se em uma tempestade. O vento fazendo as paredes tremerem. Eu esperava no quarto enquanto Jake tomava banho. Ele voltou vestido, enxugando os cabelos.

_Então, esteve namorando, hein?_ disse ele se deitando na cama ao meu lado.

_Não exatamente_ falei timidamente, ele bufou_ Não sei como explicar.

_Mostre-me.

_Não há o que mostrar. Ele gostava de mim.

_E não gosta mais? Porque terminaram?_ Jake parecia muito concentrado em algo no teto.

_Espero que não. E, porque era errado, não era bom para ele.

_Vocês... Quero dizer, com seu controle duvidoso, vocês se beijavam? Era um namoro normal?_ sua voz era baixa e controlada. Eu realmente não queria falar sobre isto com ele, não quando eu achava que o amava, era constrangedor, mesmo que ele não soubesse.

_Sim, para a primeira pergunta. Não acho que possa chamar de namoro. Namoro implica alguma dedicação, não acha?_ dei de ombros_ Eu só... Gostava que ele estivesse ali.

_É aquele de quem você não quis falar, não é?_ parecia mais uma afirmação.

_Sim, Christopher. Ele sabe, Jake. _ confessei.

_O que?_ toquei seu rosto deixando que ele assistisse todo o episódio com o urso_ Nessie...

_Ele sabe que não pode falar, sabe que não poderei fazer nada por ele se disser. Eu confio nele.

_Confia em mim?_ perguntou vertendo a conversa para outro rumo, ou assim eu entendi. Queria dizer a ele que confiava com a força de minha vida, entretanto essa dependência não deveria existir, um dia alguém o completaria e já não haveria “nós”, eu estaria sem qualquer parte dele.

_Sabe que confio_ respondi certa de que ele percebera minha hesitação.

_Entenderia se não confiasse.

_O cacei, e você ainda parece confiar em mim_ eu ri tentando dissipar a tensão, ele fez o mesmo e me aproximei, me aninhando a lateral de seu corpo. Era mais que confortável, nosso encaixe parecia a coisa mais exata do mundo, perfeito. Ficamos uns minutos assim.

_Porque você quis desistir? Honestamente_ disse ele, e não sei porque, mas não me surpreendi que estivesse pensando nisso. No entanto, honestamente...?

_Eu mudei, Jake_ falei como se fosse óbvio_ Tenho medo disso às vezes... De como as coisas dentro de mim parecem estar no lugar errado, de... _ eu me calei, minha mente vagando.

_De...?_ insistiu.

_De ter me perdido de mim mesma. Tudo que sempre pensei que fosse correto desapareceu, não há mais certeza. Como se eu não tivesse mais lugar no mundo. _ eu não diria que a maior certeza que eu tinha agora era a única que eu não poderia ter e também o lugar onde eu mais queria estar: Jacob.

_Acho que não tenho direito de pedir... Mas tenha certeza de mim_ ele se moveu de modo a colar os lábios em minha bochecha, num beijo longo e doloroso_ Vai ficar tudo bem_ sussurrou.

_Vamos mudar de assunto, você está minando minha alegria_ disse eu.

_Desculpe-me, estou tentando assimilar as coisas_ ele sorriu de um jeito que fez meu coração titubear, Jake ergueu uma sobrancelha e me virei em seus braços, encarando o teto.

_Dulce e Billy ficaram presos onde estão com toda essa chuva_ falei casualmente_ Onde vai dormir, já que este quarto agora é de Dulce?

_Não sei_ deu de ombros, despreocupado_ Eu ficaria com Rachel e Paul se meus ouvidos não fossem tão sensíveis. É nojento, quero dizer, ela é minha irmã!_ queixou-se, fazendo-me rir. _ Prefiro o chão da sala.

_Bobo_ eu ria_ Eles são casados, nada mais normal.

_Claro-claro. Normal.

_Então você e Dulce são amigos desde o início?_ demandei.

_Não é isso que você quer saber, é?_ rebateu ele para minha surpresa. Dei de ombros.

_Você é tão bonito, ela pode gostar de você_ murmurei _E, admita, ela tem seu charme.

_Não há possibilidades_ disse ele seguramente. _ Acha que beleza é a chave?

_Acho que não, mas qual será a fórmula do amor, afinal?_ olhei-o a tempo de ver seu lábio inferior se projetando e então ele sorriu  e  me olhou.

_Então eu sou bonito, hã?_ seus dentes brancos brilhando no sorriso que enlarguecia.

 Pensei no que acontecera mais cedo, quando ele me impediu que o atacasse, minhas mãos de repente ansiaram por sua pele, e eu hesitei, embora soubesse que a única diferença entre um afago antes e um afago agora, era a forma como eu encarava, e Jake não sabia e nem saberia disso.

_Sim, você é muito bonito_ disse eu, sem me mover.

O telefone então tocou e Jacob gemeu antes de se levantar e ir até a sala. Lembrei-me que não estava com o celular. Ouvi-o atender, mas não pude ouvir a voz do outro lado.

_Na praia_ disse Jake_ Não sei, mas eu a levo. Até logo_ desligou e seus passos apressados vibraram pela casa_ Era Bella, dizendo para irmos até a casa de seus avós, por causa de seus visitantes.  _aquiesci.

_Aquele Nahuel é seu amigo?_ perguntou tornando a deitar ao meu lado.

_Bom, é a primeira vez que o vejo desde a campina. Por quê?

_Nada_ disse ele pensativo.

 Quando a chuva passou, Billy e Dulce retornaram, Jake me levou para casa. Um clima muito agradável pairava no ambiente, quando entramos. As Amazonas e Nahuel cumprimentara-me, Rosalie soltou-me um beijo e saiu pelos fundos, seguida por Emmett que me deu uma piscadela antes de sair. Nem meus avós nem Huilen estavam a vista.

_Se divertiu?_ indagou-me Bella.

_Foi um bom dia_ imediatamente meus olhos foram a Jake, reverti minha mente com meu escudo então.

Notei que Jasper olhava Jacob como quem procura algo, e o percebi trocando olhares com meu pai.

Sentei puxando Jake para meu lado e me aconchegando em seu ombro, ele apoiou a cabeça no alto da minha. Zafrina perguntou sobre quando eu iria novamente ao seu lar.

_Não sei, não tenho certeza sobre quais são os planos agora_ Já que meus anteriores eram ir atrás de Jake...

_Edward contou sobre as viagens que fizeram_ disse Nahuel, iniciando uma conversa sobre os lugares por onde passamos, às vezes alguém intervia sobre os lugares de sua preferência, apenas Jake permaneceu calado.

_Adoro as luzes de Paris_ Disse o híbrido_ Não sei se teve a oportunidade de vê-las de cima da Torre Eiffel? Ou mesmo de cima do Arco do Triunfo, embora a visão da torre seja melhor...

_Sim, eu vi algumas vezes, é lindo_ concordei.

_É muito romântico_ disse ele especulando.

_Ou melancólico_ desvencilhei-me.

Houve alguns segundos de um silêncio tenso nos olhares entre Jake e Nahuel, onde Jazz aproveitou para propor um jogo de pôquer.

_Apostas a mesa_ disse Edward animado.

_O que quer fazer amanhã?_ perguntou Jake, só para mim, enquanto os outros se levantavam seguindo para a mesa de jantar onde jogariam. Sorri.

_Qualquer coisa.

_Tenho de arrumar minha garagem, e bom...  O Rabbit e as motocicletas passaram muito tempo em desuso.

_Ajudo com a garagem e adoraria que me ensinasse a andar de moto_ disse em expectativa.

_Fechado_ disse ele com um sorriso enorme, despedindo-se.

Temia que Jacob percebesse como me sentia sobre ele, temia que o tempo não mudasse este sentimento. Temia que ele tivesse um imprinting. Morria de ciúmes ao imaginar Dulce e ele sobre o mesmo teto, ao pensar nele e minha mãe... E de raiva por querê-lo assim.

E, ainda assim, eu só queria estar com ele.

_Vai passear na floresta enquanto o lobo não vem?_indagou Nahuel, quando nos encontramos na entrada da garagem.

_Vou passear com o próprio lobo_ eu ri.

_Vocês são bons amigos, não é?_ perguntou, um olhar misterioso e um sorriso malicioso moldando o rosto bonito.

_Sim_ foi só o que disse_ Por quê?

_Por nada_ ele sorriu_ Isso é bom_ então acenou e partiu andando tranquilamente, e eu fui buscar meu carro.

Era óbvio que desde a festa Nahuel tentava flertar comigo. Não era mesmo maravilhoso que eu fosse a única fêmea de sua espécie que não era sua irmã? E eu simplesmente não correspondia, por mais atraente que ele pudesse ser para qualquer um que tenha olhos.

Suspirei, deixando os pensamentos vagarem sem rumo enquanto as primeiras casinhas da reserva surgiam. Sentimentos...


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Notas finais do capítulo

Explicando: eles levaram um tempo se reconhecendo e acontecerão umas coisas importantes para a continuação de Reveille, Second Sun, portanto e de acordo com os sentimentos e situações que eu construí por toda a história eles não serão um casal imediatamente, mas caminham pra isso e teremos um beijo, se isso as consola... Se tiverem alguma dúvida voltem a ler o prólogo e imaginem em que ponto da história estamos.
Comentários?
Ah, eles serão um casal ainda em Reveille, mas não agora.