Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 38
Reajustes


Notas iniciais do capítulo

"Astúcia e renuncia (amor impossível)
Nossos corpos e almas (amor impossível)
Magia e beleza (amor impossível)
silêncio em palavras (amor impossível)"
—Amor Impossível
Ira!



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Ponto de vista de Renesmee

_ Ela ficará bem, como está dormirá bastante_ falava Carlisle na sala, provavelmente sobre a amiga de Jake. Todos vestiam roupas de caça.

_Jake a levará para casa, estaremos com o celular_ Bella me beijou no rosto quando eu desci e saímos.

_Isso é estranho_ disse Jake quando nos separamos de minha família, na floresta. “O que?”, eu quis saber. _ Duas pernas, roupas, cheiro de sabonete_ ele cheirou as mãos_ polegares opositores_ balançou as mão na minha frente. Eu ri.

Ele desapareceu atrás de um grande abeto e quando voltou era um lobo. Fitei-o sentindo o ar ficar rarefeito, fascinada. Minha memória perfeita ainda não parecia fazer jus aquela cena. O animal se agachou, nivelando-se a mim, minhas mãos por instinto o afagaram, e abracei a enorme cabeça lupina, seu focinho úmido emitindo lufadas de ar em meus cabelos. Jake então deitou e fez sinal para que eu subisse. Sorri e obedeci. Logo corríamos pela escuridão. Aproveitei cada segundo  do cheiro quente emanando dele, a pelagem grossa e macia, o vento frio e úmido em meu rosto, meu coração batendo forte contra as costelas. Apesar de o púrpura dominar, a noite me parecia muito colorida e viva. Como não lembrava ser possível, eu estava feliz.

Cedo demais ele parou, estávamos no chalé. Entrei, dando-lhe espaço para se vestir. Eu estava euforicamente desperta, mas meu corpo pedia por uma cama quente.

_Você vai para casa?_ perguntei resignada, um pouco hesitante.

_Acho que tenho permissão para ficar_ respondeu, sorri automaticamente indo para meu quarto, Jake me seguindo.

_Só um minuto_ falei indo para o banheiro, me preparando para deitar, sem deixar de notar como estávamos sendo formais, distantes.

 Fechei a porta sem acreditar que Jacob estava do lado de fora. Soltei o cabelo, que caiu em ondas até o quadril, lavei o rosto e enquanto deslizava uma de minhas habituais camisolas de seda até o meio da coxa, ruborizei violentamente com o pensamento que me ocorreu: Jake era uma das pessoas mais íntegras que eu conhecia, eu era como sua irmã mais nova, era como, mas não era realmente. Jake era antes de tudo, homem. Virei para o espelho, ele reagiria ao corpo da mulher refletida ali? Eu não era lá muito dada à auto-apreciação, mas qualquer homem reagiria... A idéia encheu meu estômago de farpas de gelo e meu peito de calor... Respirei devagar e fundo uma vez e lavei o rosto novamente, afastando a sensação de ter gostado da idéia. Jake tinha por mim a mesma paixão que eu tinha por minha família, e eu estava sendo idiota ao pensar nisso.

Saí do banheiro e me deparei com ele de pé em frente a minha cama, admirando a tela do lobo cor-ferrugem na parede.

_ Ficou boa nisso_ murmurou ele.

_Obrigada_ Jake virou-se para mim, o ar escapando com um silvo audível de sua boca, fingi não perceber, porém intimamente lisonjeada e levemente corada, eu sentia pelo calor em meu rosto.

_Que houve com os antigos pijamas, as calças de moletom?_ sua voz soou engasgada.

_Acho que Alice ateou fogo_ respondi deitando-me. Ele se estendeu ao meu lado.

 Embora Jacob fosse grande, parecia haver muito espaço entre nós...

_Você cresceu_ sussurrou ele, o rosto franzido, uma mão estendida tocando meu rosto. Ele não gostava disso, eu fui  sua garotinha, e agora não parecia uma.

_Já não cresço há um tempo_ comentei, percebendo ao fundo de minha mente alguns desejos conflitantes: eu estava com sede, eu queria tocá-lo, nunca mais queria me afastar dele.

Não era, afinal, como se eu nunca houvesse dormido abraçada a ele, a distância entre nós é que não devia ser normal, que devia ser estranha. Porém era o contrário. Não precisava ter o dom de Jasper para perceber a tensão entre nós. Até que ele quebrou o silêncio.

_O que esteve fazendo?_ sussurrou. Comecei do início, ou do fim, não tenho certeza.

_Terminei aquele semestre e viajei_ disse hesitante_ Conheci lugares muito bonitos_ embora não precisasse, usei isso como pretexto: aproximei-me tocando seu rosto e lhe mostrando lugares por onde passei. Ele se virou para mim, como eu, e ficamos os dois de lado na cama, um de frente para o outro.

_Você está diferente. Vou me acostumar com a nova Renesmee?_ era inacreditável. Sim, eu estava diferente, ele tinha razão e mesmo assim não fazia idéia do que exatamente ele estava falando.

_Espero que sim_ falei em voz alta.

_E depois, o que mais fez? Como... Como vai Willian?_ senti vontade de bater em Jacob. Suspirei.

_Na faculdade. A última vez que falei com Ive, os dois estavam usando anéis de compromisso.

_Ive, a antipática? Os dois juntos? Espera, você falando com ela?_ pela primeira vez na noite Jacob demonstrou uma emoção clara: surpresa.

_Sim. Quando... _ eu não queria fazer daquilo uma acusação, então: _Eu voltei à escola, não me preocupei muito com as aparências e Ive foi quem pareceu se importar com como eu me sentia, nos aproximamos, então. Trocamos e-mails às vezes.

_Desculpe-me... _ ele começou, porém não permiti, eu estava protelando, com medo do que ele tinha a dizer.

_Você quis saber o que andei fazendo. Morei um tempo sozinha em Paris, antes disso fiquei um tempo com meus pais numa ilha, Ilha Bella.

_ Bella? Deixe-me adivinhar... Presente de Edward?_ Jake deu uma risada fraca_ Paris, hein, sozinha?

_É. Estudei um semestre na École Superiore de Beax Artes, morei num apartamento de Alice.

_Imagino como deve ser um apartamento de Alice. Escola de artes, compras em Paris_ ele sorriu de leve, mas me pareceu o sorriso mais verdadeiro até ali_ Isso é bom.

_Teria trocado qualquer coisa, todo o conforto do apartamento de Alice e todo o dinheiro do mundo por uma forma de trazê-lo de volta na manhã em que acordei e você não estava_ demandei. _ Eu... Foi a forma que encontrei de evitar que eles enlouquecessem por mim.

 Jacob moveu-se rápido, segurando meu rosto, seus lábios em minha testa, então murmurou ali:

_Não se desculpe por viver_ o hálito quente era embriagante, enchia minha boca de saliva. O calor me envolvia deliciosamente, de uma forma que eu não me lembrava de acontecer. A queimação em minha garganta irradiando por meu peito e concentrando-se em meu estômago, não como um reflexo da sede, mas de forma inédita, me impelindo quase instintivamente.

O envolvi com minhas pernas e braços. Ao contrário do que parte de mim temia, ele me abraçou também. Ficamos assim, por alguns minutos. Jake passou a mão ao longo de meu cabelo, chegando quase até o quadril, e eu o percebi rígido, nervoso. Isso me fez dar conta de que a forma como eu o agarrava não era nada descente, e embora eu realmente não desse a mínima, ele não estava à vontade. Eu não era mais criança. Devagar eu me soltei dele, que me encasulou em um cobertor como se eu sentisse frio, voltando a me abraçar logo depois, mais apropriadamente.

_Perdoe-me, fui um covarde.

_Ou nos perdoamos ambos ou não há nada que perdoar_ disse eu_ Eu fui uma tola, imatura.

_Claro-claro. Não importa mais, vou compensá-la por tudo. _ suspirei, me aconchegando mais.

_Gostou de Paris?_ perguntou casualmente. Hesitei, sem saber como responder, não queria mentir. Não sabia se havia gostado, mas nunca esqueceria dali. A maioria das lembranças eram sombrias, as mais fortes pelo menos, ainda restavam os bons momentos com Chris, que ali abraçada a Jacob pareciam tão distantes...

_Foi onde mais aprendi_ pensei alto, lembrando de tudo em um turbilhão, inclusive de como Jake, agora tão concreto em meus braços fora um pontinho de luz... Com as emoções a flor da pele, eu sabia que estava feliz, mas sabia que em algum lugar algo esperava, que outra dor estava por vir...

_Não vai dizer o quê?_ insistiu.

_Não quero decepcioná-lo_ admiti, entretanto tampouco queria mentir.

_Com coisas que aprendeu?

_Com coisas que fiz_ eu não esperava tocar nesse assunto tão cedo, e nem queria ter que fazê-lo na verdade, mas ali estava eu juntando um pouco de coragem.

_Perdi-me, Jake... Eu matei, e me alimentei disso... _ fechei os olhos sem querer olhar os dele, mas os abri em seguida.

_Por quê?_ foi só o que disse, o olhar fitando algum ponto além de mim. Então segui para a explicação que já havia aprendido a dar, começando por lhe mostrar como Jodelle era doce e amigável, inquestionavelmente uma boa pessoa, e encerrando com os acontecimentos daquele fatídico dia. Jake enrijeceu, e fez um ruído gutural de nojo, e encerrei a lembrança antes que ele pudesse sentir a satisfação que senti enquanto bebia do assassino de Jodelle.

_Nessie_ Jake me abraçou forte. Eu odiava essa parte, lembrei vagamente, muito mais atenta à sensação de estar em seus braços.

_Não lamente por mim_ Sentei-me impaciente e arrependi-me por soltá-lo, mas mantive-me.

_Sinto-me... Muito mal por isso. Desculpe-me por não ter estado aqui, por não protegê-la_ ele se sentou também. Era incrível como ele havia percebido rapidamente como aquilo me perturbara, no entanto:

_Só eu sou responsável pelo que faço. Não tem a ver com você_ a última parte soou-me errada, mentira. 

_Não importa, não vou mais deixar que se machuque, prometo.

_ Não prometa, apenas fique por perto_ senti minha testa franzir com o pedido sussurrado no quarto escuro.

_Vou ficar e não vou mais te dar ouvidos, não deu certo da última vez_ ele sorriu um pouco. _ E não se sinta tão mal, eu o teria quebrado em pedaços_ disse afagando minhas mãos.

_Não parei aí_ admiti, baixando os olhos para os lençóis enrolados em minhas pernas. Muito concentrada em suas mãos nas minhas, contei-lhe também sobre os invasores daquela casa...

_Você ajudou a família_ ergui os olhos, incrédula. _ Claro você poderia apenas ter dado uma surra, mas e se ele atirasse? Você poderia se machucar, quem sabe?! Foram seus instintos, além do mais...

_Claro-claro_ falei exasperada. Jacob tinha mesmo que ser assim tão indulgente? Mas o que eu queria afinal? Que ele me xingasse de assassina e sugadora de sangue? Estremeci com minha imaginação vívida da cena. Eu não sabia se estava muito grata ou decepcionada, talvez eu ainda esperasse um castigo. Jacob segurou meu queixo me fazendo olhá-lo.

_Faça-me o favor de nunca mais seguir ladrões e estupradores, certo?_ sua voz pareceu quase ameaçadora, assenti imediatamente. Jacob me puxou para si, deitando e me aninhando ao seu lado, em seu ombro.

 Passamos a uma conversa unilateral, Jake perguntando e eu mostrando, minha mão em seu peito, irradiando minha mente para ele. Fui contando coisas...

 Espreguicei-me desorientada, num estágio tênue, entre o sono e o despertar, que toldava meus sentidos. Sentia-me rígida, mas descansada, ouvia vagamente o som da chuva no telhado, não lembrava o momento em que dormira, mas imagens encheram minha mente, fazendo-me procurar na cama. A busca de minhas mãos deu em nada antes que eu abrisse os olhos, o que me encheu de desespero e indignação com minha imaginação.

Parecia tão real! Lamentei-me, finalmente abrindo os olhos e liberando as lágrimas grossas que se acumulavam furiosamente. Eu sonhara?!

_Droga, Jacob!_ rosnei para o vazio, sentando-me e acordando de uma vez.

_O que foi que eu fiz?_ Jacob materializou-se na porta de meu quarto, o rosto confuso. Solucei, em um milésimo de segundo tudo se reorganizando em uma nova e indistinta ordem dentro de mim, e então eu chorei mais. Jacob caminhou até mim, o lábio inferior se projetando, como lembro que ele fazia às vezes, e sentou me colocando em seu colo, seu cheiro instigante e reconfortante me envolvendo.

_Não, não chore... O que houve? Do que precisa? Eu... _ toquei-o mostrando minha perspectiva do último segundo_ Estou aqui, meu amor, estou aqui_ ele me ninou e por um instante interminável eu fui novamente sua garotinha.

_Mal posso acreditar_ disse eu, mais calma e constrangida por ele estar vendo o ser estranho que eu me tornara. Jacob limpou meu rosto e beijou minha testa.

_Você dormiu demais, por isso está tão confusa... Fiz café da manhã, quero dizer, jantar. _ ele me puxou até a cozinha, a casa estava silenciosa, estávamos sozinhos. Sentei a mesa enquanto ele ia até o balcão, trouxe dois pratos e colocou diante de mim; uma omelete de queijo e presunto fumegante e um sanduíche a La Jake, enorme.

_Chocolate quente?_ ofereceu. Chocolate quente lembrava-me Chris, era estúpido, mas neguei com a cabeça, levantando e pegando suco na geladeira.

_Obrigada. Juro que não lembro a última vez que comi ovos_ dei a primeira garfada me surpreendendo com o quão satisfatório foi sentir o sabor, meu estômago roncou, Jake sorriu e eu também. Estivera muito habituada com a fome que era reflexo da sede, sentir apenas fome era uma novidade, parecia que meu amigo despertava a humanidade em mim.

 Jacob me assistia comer, passava a mão no cabelo - na altura do queixo - que estava sempre caindo em seus olhos, jogando-os para trás. Eu sorria internamente de seu novo hábito, ou talvez não tão novo, percebi. Nunca o havia visto de cabelo tão longo, sabia que não era prático que um lobo deixasse o cabelo crescer, mas eu gostava, o deixava sensual... Suspirei sentindo meu rosto esquentar e ativei meu escudo por reflexo. Jake ergueu as sobrancelhas, interrogativamente.

_Onde estão meus pais?

_Na casa de seus avós_ respondeu.

O relógio na parede marcava mais de cinco da tarde. Dormira muito mesmo, e estava descansada como há muito não ficava... Olhei Jake uma vez mais e resolvi que podia perguntar.

_Então... Onde você esteve?_ tomei mais um gole de suco tentando parecer casual. A verdade é que _era um sentimento ruim, cruel, obscuro e errado_ eu tinha vontade de magoá-lo quando imaginava por onde ele andara sem mim. Entretanto eu não era sua dona, Jake não era meu, era impossível e vergonhoso. Isso trouxe a baila outra questão...

_Quase todos os lugares até o norte do Brasil e o litoral da Argentina_ Murmurou, passando a mão no cabelo.

_Quem é a garota?_ demandei.

_Uma amiga_ seus olhos entristeceram e ele se perdeu em pensamentos.

_Eu não trouxe para casa nenhum de meus novos amigos_ sorri para suavizar o comentário _ Vai me contar?_ ele pareceu pensar por meio segundo, se inclinou sobre a mesa, se aproximando, e falou:

_Você vai me contar?_ ele estreitou os olhos_ Você editou muito ontem, acha que não percebi? Mas algumas coisas escaparam conforme você tentava me dizer coisas e o sono se aprofundava, não que eu tenha entendido muito_ hesitei um instante, porém se eu já contara o pior o que tinha a esconder?

_Cada pensamento que tive_ prometi solenemente. Ele hesitou, então se lançou em seu conto:

_Eu... Vagava por algum lugar ao norte do México, mas era perto de alguma cidade ou povoado... _ enquanto Jake falava a cena se formava em minha mente, não porque ele descrevia, mas uma recordação onírica minha, estranho, eu estava tendo em déjà vu?_ Eu estava cercado, um lobo escondido com rabo de fora_ Jake bufou_ Então eles atiraram as cegas enquanto eu corria, tentando alcançar as árvores que via longe. Como eu sou sortudo, alguns tiros acertaram, um deles na nuca e eu apaguei. Acordei na forma humana, dentro de uma cabana grande e redonda, de palha, destas indígenas, sabe? Dulce estava lá.

Dulce. Ele parou e tive a impressão de que ele não falaria mais.

_Porque a trouxe?_ eu temia a resposta. Ele teve a coisa, o tal fenômeno de lobos, imprinting? Mas ela não ela quileute, mesmo que índia, será que...?

_Não fiquei lá muito tempo. Continuei avançando pelo continente... Sabe todas aquelas histórias de Jasper sobre os vampiros do Sul? As coisas não mudaram muito por lá, acho que tive sorte de não virar sombrero de vampiro_ eu tive de rir_ Quando voltei à pequena aldeia de Dulce que era ainda menor que a nossa em La Push...

_Era?_ notei. Ele suspirou e assentiu fitando o tampo da mesa.

_Sabe... Os mais jovens da tribo, estudaram, viram o mundo fora, e saíram de lá, o assentamento tinha mais mulheres, velhos e crianças... Sete famílias ao todo. Houve desaparecimentos numa tribo vizinha e logo depois lá também. Os mais velhos falavam sobre “El chupa-cabras”, entretanto eu sabia, havia o cheiro, eram vampiros... _ o rosto de Jake se franziu em dor_ Foi um massacre. Uma noite eu acordei com gritos, mas muitos já estavam mortos, assassinados por quem fora seu amigo, mãe ou filha. Os desaparecidos haviam sido transformados, e loucos de sede dizimaram a própria tribo_ entrelacei minha mão na dele, querendo apagar o terror de seus olhos_ Dulce perdeu tudo, e só está viva porque cheguei no último momento.

_Sinto muito por ela, e por você ter visto isso_ ele beijou minha mão, meus olhos cheios de lágrimas por sua dor.

_Ela é corajosa_ ele riu_ Pensei que seria mais difícil convencê-la de que os Cullen eram confiáveis. Mas ela está muito bem.

_Como sabe?

_Desculpe_ disse segurando minha mão em seu rosto. _ Realmente precisei vê-la. Ela estava mal com tudo, desgastada da viagem, você a viu completamente apagada.

_Tudo bem... Só estou imaginando se vou ter que dividir meu amigo_ murmurei melancólica.

_Renesmee_ meu nome em sua voz rouca e baixa fez meu estômago vibrar_ Terá tanto de mim quanto quiser_ Ele simplesmente não saberia que parte dele eu desejava... Isso não ia mesmo passar?

Ficava sempre ao fundo de minha mente enquanto conversávamos, entretanto estava ali: ficava imaginando a sensação de seus lábios quentes nos meus, ou entrelaçar meus dedos em seus cabelos... Levava algum esforço manter os olhos somente em seu rosto. Eu não estava habituada ao desejo, era tão intenso, e difícil! No entanto eu tinha de aniquilar aquela idéia absurda da minha mente.

_Vou tomar banho_ falei levantando.

No espelho eu parecia diferente, com pontos febris no rosto, parecia mais viva, até.

_Edward tem uma surpresa para você_ disse Jacob sentado na poltrona em meu quarto quando saí do closet.

 Já era noite e caminhávamos tranquilamente rumo à casa de meus avós, de mãos dadas. Eu tentava pensar em Jacob de outra perspectiva, não da forma como havia pensado nos últimos meses... Não dava, eu não encontrava uma brecha...

_Você me prometeu todos os seus pensamentos_ disse ele quebrando o silêncio.

_Aviso logo que nem todos eles foram agradáveis.

_Fale de seus novos amigos, os de Paris.

_Não fiz amigos na escola de artes além de Aileen, e ela é uma vampira_ mostrei imagens dela, ele disse apenas “Hmm”. _ Trabalhei num café com jeito de barzinho, também, me relacionei mais com as pessoas de lá.

_Trabalhou de quê?_ perguntou curioso.

_Servindo, limpando... Esse é Pierre_ lhe mostrei enquanto falava_ Ele parece ser ranzinza, mas é um bom homem, é o dono e gerente. Esta é Tifany, ela é muito engraçada, esse é Alex, ele tinha um cheiro gostoso_ Jake se retraiu ao sentir um eco da sede_ Esta você sabe, é Jodelle, e este... É Christopher_ e deixei a memória se dissipar.

_Você não o conhecia bem ou o quê?

_Ele é um cara legal_ resumi_ Vamos correr_ antes de ter resposta eu já estava correndo.

 Eu não me sentia a vontade falando de Christopher, eu não queria que nada manchasse minha alegria naquele momento... Logo estava muito concentrada na corrida, Jake tinha ficado para trás, eu tinha uma boa dianteira... Teria alguma chance de ganhar? Isso seria ótimo.

Um mecanismo muito sutil e familiar avisou-me que estava sendo seguida, embora eu só pudesse ouvir o silvo do vento e animais pequenos correndo para longe na floresta. Neste momento saltei o rio e senti outro corpo se deslocando como o meu. Impulsionei ao tocar o chão, lançando-me com força para frente. Jacob estava mais perto, cada passo mais veloz. No entanto eu corria em diagonal desde que tocara o chão, estava mais próxima da casa que ele, e assim cheguei primeiro, explodindo em gargalhadas. Eu ganhara mesmo de Jake?

Jacob uivava baixinho, era mais um ronronar enquanto marchava para mim, sua cauda peluda cortando o ar. Ele encostou o focinho úmido em minha barriga, fungando e mordiscando, fazendo-me cócegas. Eu tombei de lado, rindo e tentado segurá-lo. Jake então passou sua enorme língua canina de meu braço até meu couro cabeludo, conferindo ao meu cabelo um penteado fixo e molhado, e então se deitou de bruços abanando o rabo, a língua pendendo do lado de fora num sorriso canino, eu ainda ria.

_Ela só está brincando com o cachorrinho de estimação_ ouvi Emmett dizer, enquanto meu pai e Jasper riam.

Levantei arrumando o cabelo e indo em direção a porta de vidro. Rosalie me interceptou antes mesmo que pudesse entrar completamente:

_Desculpe-me querida, não queria magoá-la_ disse ela me abraçando. Eu tinha certeza de que ela não se importava tanto em magoar Jake, mas aceitei suas desculpas, se ela se dizia arrependida, eu acreditava.

_Olá, dorminhoca_ disse Esme vinda da cozinha, ao seu lado uma moça de pele dourada, a índia que Jake trouxera. Ela tinha os olhos escuros e pequenos, uma longa trança pendia em seu ombro. Sorri e desviei os olhos, de repente constrangida.

_Vejo que dormiu muito bem_ disse Zafrina_ Parece tão cheia de vida, está até mais bonita.

_Obrigada, sim eu descansei bastante_ respondi, sentindo Rose mover-se atrás de mim, provavelmente abrindo espaço para Jacob.

_Prometo que amanhã veremos um lugar fixo para você_ murmurou ele para Dulce imaginei, sem querer chamar atenção de ninguém, para logo depois postar-se num canto da sala, parecendo sentir-se deslocado, envergonhado até. Isso me incomodou.

_Nessie, Carlisle e Edward falavam-me sobre caçar animais_ disse Nahuel interrompendo meus pensamentos_ É mesmo mais fácil para nós híbridos?_ fui sentar na banqueta do piano, próxima a Jake, enquanto respondia:

_Não acho que é um esforço compensador se não houver uma razão concreta pelo que está fazendo_ refleti_ Mas porque não tentar?

_Entendo_  ele sorriu um sorriso reluzente. Edward então levantou de onde estava, sentado ao lado de minha mãe.

_Então estragou a surpresa, Jake?_ reclamou ele, Jacob sorriu torto_ Vamos lá, não pude dar seu presente ontem_ Edward fez sinal para que o seguíssemos, ele partindo na frente com Bella, Jake pegou minha mão me levando para fora.

Do lado de fora da casa, Jake me fez parar, apenas Bella estava à vista. Ouvi o som macio de um motor ronronar e um espetacular Lamborghini saiu da garagem. Era um Gallardo LP-560-4, cor grafite. Edward saiu do carro sorrindo e eu pude sentir o cheiro do couro.

_O que acha?_ perguntou ele.

_Um exagero... E é lindo_ avancei abraçando-o. Felicidade parecia uma nuvem pesada que eu tinha certeza que todos podiam sentir, Jasper a mantinha.

_Seja responsável e dirija com cuidado_ disse-me Bella enquanto Edward punha as chaves em minha mão.

_Graças aos céus ela dirige como o pai, Bella_ provocou Emmett, todos riram, mas os dentes de Bella recuaram sobre os lábios. Abracei-a.

_Não vai inaugurá-lo?_ chiou Alice abanando as mãos, agitada.

Entrei e me acomodei no banco de couro preto e branco.

_Jacob_ ouvi minha mãe dizer em tom de incentivo, olhei para fora e não o vi, a porta passageira se abriu e ele deslizou para dentro, nesse momento.

Acelerei, em três segundos íamos a 100 km/h, pela estrada úmida e tortuosa que levava a casa de meus avôs. Passei para 220 km/h na curva para a estrada principal, e depois para 260 km/h.

_Você é quase tão boa quanto eu_ disse Jake, baixo, a voz combinando com o ronco macio do motor.

Freei e encarei-o, séria. Ele ergueu uma sobrancelha provocativamente. Pisei no acelerador de ré, e fiz o carro girar na pista, parando perfeitamente no acostamento. Era bom que Charlie não me visse.

_Tudo bem, você dirige tão bem quanto eu_ ele riu.

Revirei os olhos e acelerei.

 Já passava da meia noite e eu não podia acreditar que estava cansada. Meus pais, Jake e eu íamos para o chalé. Minha mente estava fechada _o que me cansava ainda mais_ e infantilmente confusa pelo sono... Jake pegou-me nos braços e nem tentei reclamar, era gostoso demais, apenas me aninhei em seu ombro e fechei os olhos. Ele riu em meu ouvido.

_Agora pouco estava mais vampira que humana com toda aquela velocidade... Agora parece mais um bebê_ perturbei-me vagamente com aquilo: ele me via como um bebê. Enrosquei-me mais em seu peito, decidindo que era melhor isso que nada.

_Ela está feliz_ murmurou Bella_ Finalmente.

A próxima coisa que percebi, foi Jake sussurrando “durma bem”, ao me colocar na cama. Instintivamente tentei impedi-lo de ir, tateei seu peito, seus ombros, puxando-o, então entrelacei os dedos em seus cabelos, tentando fazê-lo ficar.

_Não vou longe. Estarei aqui quando abrir os olhos_ sua voz soou distante enquanto seus dedos desembrenhavam os meus de seus cabelos, e eu já estava longe demais para lutar ou responder.

_Bom dia_ ouvi antes mesmo de abrir os olhos. Lá estava Jacob, imponente, sentado no pequeno sofá no canto de meu quarto. Um sorriso tímido nos lábios, ainda não era os de minhas lembranças, mas era verdadeiro. Senti-me um pouco decepcionada, ao sentar e olhá-lo direito, Jake estava tão... Vestido. Mas era obrigada a admitir, a blusa bege clara ficava muito bem na pele e nos músculos... Ah, onde estaria meu pai? Fechei minha mente, sentindo-me ruborizar enquanto meus olhos voltavam a seu rosto.

_Bom dia. Ainda é cedo, não que eu esteja reclamando que esteja aqui, pelo contrário.

_Falei que estaria aqui quando abrisse os olhos_ ele veio até mim e beijou minha testa_ Que tal um dia em La Push?_ indagou perto demais, minha pulsação fervendo_ Algum problema aí?_ olhou para onde meu coração dava saltos.

_Só pensando em alguns saltos do penhasco_ Menti, escapulindo para o banheiro.

_Que tal café da manhã?_ disse Jake do lado de fora do meu quarto enquanto eu terminava de me vestir_ Sabe, vai passar o dia com humanos e eu estou tentando me acostumar com as duas pernas_ eu saí do quarto_ Não quero ter de me transformar até a próxima patrulha.

Parei na cozinha, apenas sem reação. Jake me olhou, seus olhos cheios de lamento.

_Desculpe_ Ele avançou me abraçando por um instante_ Estive conversando com seu pai_ admitiu_ Sei que isso tem sido difícil desde que... Bom, você sabe que tenho um senso de humor idiota, não é?

_Tudo bem, não se preocupe. Acho que desde que não haja humanos enquanto eu caço, sem problemas, porque acho que preciso caçar hoje_ Eu sorri com a ideia de caçar com  ele e com a cena dele me preparando  café da manhã... Eu poderia ter isso todos os dias, nunca me cansaria de omelete de queijo se ele o fizesse sempre.


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Notas finais do capítulo

E aí? Deu pra ver o carro?
O que acharam de tudo?



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