A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo intenso. Aí vai! :D



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Reno voltou para o castelo pensando o tempo todo no que faria para levar Sven até Rezon. Mas essa era a parte mais fácil. Podia simplesmente dizer ao mestre que Rezon solicitava sua presença, não era realmente Sven que o preocupava. Era Aiko.

O aprendiz provavelmente estava temeroso, com medo de tudo. Desde que lera a carta a Rezon escrita por Sven, Aiko vinha sendo ameaçado de morte por seu mestre. Decidiu que chegaria à Corte e procuraria direto por Sven.

Fez como havia decidido. Assim que chegou, procurou seu alvo pelo lugar. Alguns soldados disseram que o haviam visto na biblioteca do castelo e foi lá mesmo que Reno o encontrou.

— Mestre Sven — disse ele, se aproximando cautelosamente. — Como vai?

— Bem, Reno — respondeu, seco, como costumava fazer. Sven lembrava um pouco Martin, Reno constatou com desagrado.

— Eu tenho um recado para você — continuou, esforçando-se com sucesso para manter a voz firme. — Alguém lhe espera na biblioteca de Ima essa noite.

Reno pode perceber o rosto de Sven ficar branco. O professor deu um leve passo para trás, hesitante, sentindo um nó na garganta. Ele arregalou os olhos por um instante e então respirou fundo, levando a mão ao peito, fazendo o possível para se acalmar. Reno sorriu.

— Algo de errado, Sven? O que poderia ser esse convite? — disse o líder, percebendo que estava achando graça. — Está tudo bem?

— Perfeitamente, senhor Reno — forçou um sorriso, ainda com o coração acelerado.

— Então. Posso dizer a seu anfitrião que você estará na biblioteca essa noite?

Sven hesitou antes de suspirar, incrédulo, e cheio de dúvidas.

— Como você está sabendo disso, Reno?

— Sabendo do quê? — ele ergueu uma sobrancelha, com um convincente teatro de quem não sabe de nada. — Você deve saber que eu e a bibliotecária de Ima somos um casal. Não sei de nada além do fato de que Suriel me pediu para avisar que alguém quer marcar um encontro com você na biblioteca essa noite, que é bem mais reservada. Não faço ideia de quem se trata e não seria cortês perguntar. — Depois parou por alguns segundos, abrindo mais o sorriso. — Há algo para saber?

— Não — riu Sven com um aceno suave da mão. — Esqueça isso. São só negócios pessoais, eu me precipitei.

— Certo — assentiu Reno, abandonando o sorriso. — Diga, seu aprendiz irá junto com você?

— Aiko? — Sven tornou-se sério novamente. — É claro. Quero dizer, eu vou tentar levá-lo comigo, mas duvido que ele aceitará.

— É mesmo? — Reno ergueu as sobrancelhas mais uma vez, prosseguindo com seu convincente teatro de quem não sabia de nada. — Por quê? Está mesmo tudo bem, Sven?

— É claro — Sven sorriu, deixando transparecer o nervosismo. — É claro que sim. O problema de Aiko é que ele não gosta de sair. Prefere ficar no quarto. Deve ter percebido que isso tem piorado nesses últimos dias.

— Percebi, de fato — Reno teve vontade de pedir para dar certeza se Aiko iria à biblioteca, mas não podia. Isso daria a impressão de querer saber mais do que devia. Resolveu que andaria o dia todo em volta de Sven e Aiko, e tentaria perceber algo diferente. Talvez até tentasse conversar com o aprendiz. — Bem, isso é tudo — completou Reno. — Qualquer coisa, avise-me.

— Obrigado, Reno — disse ele, virando-se rapidamente e saindo com passos apressados.

Reno também saiu, com um sorriso grande no rosto. Percebeu que havia se divertido falando daquele jeito com Sven. Reno sabia: Sven estava ajudando Rezon apenas porque o mago havia prometido poder a ele também. Como Rezon cumpriria a promessa, o soldado não queria nem saber. Sabia que Sven não prestava e vê-lo morto seria uma boa recompensa por tudo o que vinha fazendo ultimamente.

Pensou com pesar, depois, que não era muito melhor que Sven. Ele estava ajudando Rezon a matar por seus próprios objetivos, o mesmo motivo de Sven. Apesar de diferentes razões, no fundo, não era assim tão diferente. Enquanto ele caminhava até seus aposentos, alguns soldados vieram lhe perguntar como iam as investigações sobre a mulher assassinada e o garoto desaparecido, Rob. Reno respondeu a todos com o sorriso característico e um pedido desajeitado de desculpas, já que as investigações não estavam dando em nada. Pelo menos Rezon fora esperto o suficiente para sumir com o corpo de Rob, que não devia estar muito diferente do corpo de Lilian.

Reno entrou em seu cômodo e fechou a porta. Sabia que Aiko raramente saía do quarto. O aprendiz nunca gostara de estabelecer muito contato com os outros aprendizes e essa situação estava ainda pior agora, com as ameaças de morte que vinha sofrendo de seu próprio mestre. Não sabia o que fazer. Apesar de aprendiz, o garoto era um mago. Seria difícil simplesmente se aproximar e matar. Se jogou na cama e encarou o teto, tentando pensar em uma solução. Seria mais fácil de agir à noite.




Nirina suspirou cansada após as aulas de Zahra. Já conseguia, com relativa facilidade, ler os pensamentos superficiais dos seus alvos caso desejasse e agora aprendia a parte mais difícil: ler a mente de modo profundo quando tivesse a permissão do alvo. Essa não era a lição mais difícil, no entanto; a lição mais difícil, advertira Zahra, seria a de usar ataques mentais. Sua mestra havia advertido para que não tentasse ler mentes enquanto não tivesse total prática sobre a técnica. Algumas vezes o resultado poderia não ser muito agradável.

Trocou de roupa, substituindo a curta túnica azul pela longa túnica roxa, de aprendiz de clarividente. Era quase hora do almoço e ela precisava se encontrar com os outros aprendizes no salão das refeições.

Ao chegar, Nirina constatou, consternada, que Aiko não estava ali. Sentou-se à mesa em silêncio e almoçou, enquanto Adrien, Laina e Ísis conversavam sobre algo que não era de seu interesse. Não tentou mais estabelecer relações com Adrien ou Laina, e não estava interessada em falar com Ísis. Quando levantou da mesa, no entanto, a aprendiz de magia de fogo se aproximou.

— Ei, Nirina — disse ela, com óbvio desprezo na voz. — Há um tempo não nos falamos, certo? Como vão seus estudos de maga clarividente? — ela perguntou sem realmente se interessar, acentuando o desprezo ao chamá-la de clarividente.

— Ótimos, obrigada — limitou-se a dizer, dando as costas à Ísis e se afastando.

— Eu não terminei — Ísis a segurou pelo braço, fazendo-a se virar novamente. — Escute.

— Eu terminei — insistiu Nirina, tentando seguir seu caminho. Ísis a impediu.

— O que está acontecendo com Aiko? — perguntou ela, séria. — Ou o que você tem feito com Aiko?

— Eu gostaria de saber, Ísis, mas mesmo que soubesse, não te diria.

— Ah, é mesmo? — disse a rival, afinando os olhos. — É engraçado como você é. Mal chega aqui e acha que já entende das coisas. Isso é irritante, sabia? O jeito como você acha que é mais forte que todos nós.

— Eu não apenas acho — continuou, perdendo a paciência. — Eu sou. Queira me dar licença, por favor.

Nirina libertou o braço da mão de Ísis, que a encarava com uma raiva quase visível. A clarividente não pode evitar abrir um sorriso enquanto se afastava de Ísis, satisfeita. A melhor maneira de irritar alguém era, realmente, não dar importância a sua implicância.

A aprendiz andou até a frente do quarto de Aiko, que estava com a porta fechada. Ela não tinha certeza se ele estava ali, nem se podia entrar, mas bateu na porta. Ninguém atendeu na primeira vez. Nem na segunda.

Atrevendo-se, resolveu tentar abrir. Não estava trancada. Enquanto entrava no cômodo, seu coração foi preenchido por um crescente desespero. Ela sentiu a cabeça pesar e girar e, de repente, viu o corpo de Aiko envolto em sangue, com uma espada do lado. Uma longa espada com um cabo elegante, trabalhado. Ela fez questão de se lembrar do detalhe.

Assim que olhou para a cama, viu que Aiko estava sentado sobre o colchão, com as pernas dobradas perto de seu corpo, abraçando os joelhos em estado quase catatônico. Ele estava ficando muito mal. Se Sven não era o culpado pelo estado do aprendiz, Nirina tinha certeza que preocupado ele também não estava.

— Aiko... — disse ela, aproximando-se com cautela.

O aprendiz não respondeu, nem mesmo mexeu os olhos.

— Aiko, o que há de errado com você? Converse comigo, por favor.

Ainda assim não obteve resposta. De repente, se sentiu curiosa. Aproximou as mãos da cabeça de Aiko, na região das têmporas, e analisou se ele reagiria de alguma forma. Diante do silêncio e falta de movimento do colega, Nirina pousou as mãos sobre as têmporas e concentrou sua vontade. De súbito, sentiu a cabeça doer e seu pensamento se encheu de um terror que ela não conseguia descrever com palavras.

As cenas que estavam dentro da mente de Aiko eram uma bagunça, mas havia sangue. Muito sangue. Nirina não conseguia distinguir direito os pensamentos, que iam e vinham sem parar. Ela apertou os olhos e quase perdeu a concentração, mas manteve-se firme na leitura da mente. Estava procurando apenas pelos pensamentos superficiais, mas Aiko parecia pensar em tudo ao mesmo tempo.

Concentrando-se um pouco mais, Nirina viu Sven entre os pensamentos de Aiko, então se sentiu ainda mais curiosa. Uma das visões era como um sonho: Sven desenhava um símbolo desconhecido com o sangue de Aiko no chão, depois, deitava o garoto sobre o desenho e sorria, impiedoso, segurando uma faca de forma diferente, como um semicírculo. Nirina conseguiu ouvir os gritos desesperados de Aiko junto com seu choro suplicante. Ele implorava a Sven que não o matasse. A clarividente apertou os olhos, sentindo a dor de cabeça aumentar.

Por mais que Aiko suplicasse a Sven, ele não assentiu. Finalmente enfiou a faca no peito do aprendiz, que gritou de forma insuportável. Nirina não conseguiu continuar dentro de sua mente. Sua dor de cabeça estava fora do normal e ela sentia uma dor no peito tremenda, que fazia sua respiração lenta e dificultosa. Tentou manter-se um pouco mais ali, mas de repente todo o desespero e medo de Aiko a invadiram. Ela deu um grito suave, esforçando-se para não ser ouvida, e retirou as mãos das têmporas do colega, afastando-se rápido, deixando-se sentar sobre a cama. Quando encarou Aiko, percebeu que ele estava exatamente na mesma posição, com o olhar desfocado. Então era esse tipo de pensamento que vinha incomodando o aprendiz cada vez mais.

Mas teriam fundamento? Sven envolvido com magia negra? Nirina não conseguia sentir a magia negra no mestre.

Ao tentar levantar da cama, sua cabeça girou. Ela foi obrigada a se sentar novamente, enquanto Aiko continuava ali, parado do mesmo jeito desde que ela havia entrado no quarto. Tentou levantar novamente, devagar, e dessa vez obteve sucesso. Seu peito ainda pesava, no entanto, e a dor de cabeça ainda beirava o insuportável.

Seu coração acelerou quando ela ouviu alguém abrindo a porta. Precisava sair dali ou precisava se esconder. Percebeu, com desespero, que não tinha como sair sem que a pessoa que estava entrando a visse: o quarto tinha um corredor estreito até a porta. A única coisa que conseguiu pensar foi se esconder atrás da porta do banheiro.

Entrou e ficou ali, desejando com todas as suas forças que a pessoa que estava entrando não a visse. Sentiu-se alerta quando reconheceu a voz que falava com Aiko como sendo a de Sven.

— Eu tenho que ir até a biblioteca de Ima essa noite — disse ele a Aiko. Nirina não podia ver se o aprendiz estava reagindo de algum jeito, mas teve a impressão que sim. — E isso tudo é culpa sua. Se você não tivesse se intrometido e atrapalhado, estaria tudo bem.

Nirina ergueu uma sobrancelha, pensativa. Agora tinha certeza absoluta que Sven estava envolvido em algo suspeito. Mas o que poderia ser? Não sentia a magia negra no mestre.

— Você tem conversado com alguém? — A aprendiz não ouviu resposta, mas imaginou que Aiko tivesse respondido com um sinal. — Ótimo. Acho bom mesmo. E fique longe de Nirina. Ela não pode saber de nada, nem mesmo suspeitar.

Sven sentiu a cabeça pesar e decidiu que jogaria uma água no rosto para tentar dispersar os pensamentos que iam e vinham em sua mente, sem conseguir parar de pensar na noite. A aprendiz se percebeu com terror e súbito medo ao ouvir os passos se aproximando.

Quando Sven empurrou a porta para abri-la, sentiu-a bater em algo. Forçou um pouco mais e Nirina se esforçou para não se manifestar, mantendo-se em silêncio. Mas não teria jeito: Sven abriria a porta para verificar, e foi o que fez.

Assim que o mestre abriu a porta e olhou para trás, seus olhos se arregalaram, incrédulos.

— O que você está fazendo aqui? — ele disse, deixando que a voz se elevasse. — Eu... — ele afinou os olhos, apertando as mãos. — Eu acabo com você, sua aprendiz insolente! Acha que só porque é uma maga clarividente pode fazer o que quiser por aqui? Não... Não é bem assim!

Aiko ouvia os gritos de Sven, mas não se manifestava. Ouvia a voz de Nirina também, enquanto ela parecia lutar com seu mestre, mas também não se moveu.

Sven nem pensou em usar sua magia. Levou a mão ao pescoço de Nirina, agarrando-a e apertando-a com uma força gradativa.

— Você acha que pode ir entrando nos quartos assim, acha?! E se você ouvir o que não deve? O que você fez com Aiko?! Responda! — disse Sven, ainda com a voz forte, severa, completamente alterado.

— O que você fez com Aiko — disse Nirina, corrigindo-o, falando com um pouco de dificuldade. — Garanto que não sou a culpada por isso.

— Calada! — gritou Sven, ainda tomando cuidado para que não fosse ouvido. Apertou-a com mais força, fazendo-a tossir levemente. — Não fale nada. Não diga nada, eu não quero mais ouvir sua voz. Você devia morrer — ela viu seus olhos frios, e o sorriso sádico que seus lábios expressavam. — Você não devia saber de nada disso. Você não devia nem estar nessa Corte. Você não devia estar viva, mas eu posso dar um jeito nisso.

A aprendiz sentiu seu desespero aumentar um pouco e se perguntou qual seria o motivo de Sven para tanto ódio. Ele realmente devia estar fazendo algo muito ruim, que devia estar custando sua vida, mas o ódio e o desespero exagerados não o ajudariam na hora de um combate.

Nirina tentou respirar fundo e manter a calma. Sven estava tomado pelos sentimentos, logo não conseguiria raciocinar direito. A clarividente desejou já saber usar ataques mentais, mas não conseguia.

De repente, lembrou-se de algo simples que estava aprendendo com Selene. Ainda não havia dominado a técnica completamente, mas poderia tentar.

Nirina reuniu suas forças e pôs uma de suas mãos sobre o rosto de Sven. Segurou-o e, com o máximo de agilidade que conseguia, invocou a água fazendo-a se espalhar pelo rosto do mestre, não muito rápido. Sven ergueu uma sobrancelha e ia começar a rir quando sentiu a água ficar gelada e logo ser transformada em gelo. A água de Nirina estava chegando perto dos olhos do mestre. Surpreendido pela magia e pela própria falta de racionalidade, Sven a soltou e começou a passar as unhas pelo gelo, tentando tirá-lo da pele, que já ardia com o frio, querendo evitar que o gelo alcançasse seus olhos. A aprendiz se esgueirou por suas costas, passando pela porta do banheiro, então parou na porta que dava para fora do quarto, exausta. Agradeceu por algo tão simples ter dado certo. Diante do medo e da pressão que sentia, não havia sido fácil transformar seu elemento em gelo. Deslizou a mão pelo pescoço, apertando-o devagar.

— Mas eu estou — disse Nirina, olhando para Aiko, que estava imóvel. — Eu estou viva.

Ela virou as costas, rápido, ignorando os gemidos de Sven, e temeu por Aiko. Percebeu que estava com medo de Sven também e que precisava urgentemente conversar com Arthus. Não, Selene não seria o suficiente para consolá-la, e ela se sentia sozinha, perdida e confusa. Enquanto corria em direção a seu quarto para se trancar no cômodo e esperar por Selene, esbarrou em alguém. Ao erguer seu olhar, tentou acalmar a respiração.

— Reno! — ela disse, reverenciando-o levemente. — Sinto muito, não o vi perto, o senhor estava andando tão calmamente...

— Shh — ele fez sinal para que ela se acalmasse, perguntando-se o que ela estava fazendo saindo correndo do quarto de Aiko. — O que está acontecendo com você? — perguntou, apoiando uma das mãos sobre o ombro da garota.

— É Sven — respondeu, olhando em volta e abaixando a intensidade da voz. — Eu tenho certeza que Sven está envolvido com alguma coisa suspeita, eu estou certa.

— Por quê? — perguntou Reno, esforçando-se para parecer surpreso. — Por que está dizendo isso?

— Eu ouvi. Ouvi no quarto de Aiko quando fui ver se ele estava bem.

Reno teve que se esforçar para não se sentir ameaçado. Nunca havia se sentindo tão aliviado ao pensar que Sven não sabia sobre seu envolvimento com Rezon.

— Logo começarão suas aulas da tarde, certo, Nirina? — disse ele, querendo ganhar tempo e distrair a aprendiz.

— Sim, Reno — ela concordou, ainda com o coração acelerado.

— Espere um tempo. Se você disser por aí que ouviu Sven dizer algo suspeito, isso não servirá como prova.

— Eu sei — assentiu Nirina, incomodada. — Mas eu tenho certeza!

— Só a sua certeza não basta — disse o líder, com um sorriso compreensivo. — Vamos fazer assim: espere alguns dias, e veremos se encontramos novas evidências.

— Certo, Reno — ela sorriu quando ele passou a mão por seus cabelos, com o sorriso carinhoso de sempre.

— Por curiosidade — disse ele mais uma vez, atraindo a atenção de Nirina — ele citou algum lugar? Algo que pudéssemos investigar?

Nirina mordeu o lábio inferior por alguns segundos. “As pessoas podem não ser o que aparentam”. “Existe alguém de olho em você”. Podia ser qualquer um. Zahra podia não ser confiável, bem como Selene, Martin, Sven, Aiko... E Reno também era uma possibilidade.

— Não — mentiu Nirina. — Só o ouvi dizer que Aiko havia arruinado seus planos, mas ele não falou nada sobre nenhum lugar.

— Entendi — disse Reno, com um sorriso de convincente alívio. — Cuide-se, menina. E não é certo ouvir conversas por aí.

— Juro que não foi minha intenção.

Reno riu e os dois se afastaram. Quando o líder deu as costas a aprendiz, seu olhar pousou sobre a espada, e ela sentiu o coração acelerar. O cabo da espada de Reno era igual ao da espada que ela tinha visto quando enxergou o corpo de Aiko ensanguentado. Se aquilo era um tipo de previsão, devia avisar a Zahra que suas habilidades estavam um pouco fora de seu controle. Perguntou-se o que a espada de Reno tinha a ver com o assassinato e se o líder estaria envolvido em algo suspeito também.

Ao considerar a possibilidade, sentiu o coração doer e os olhos umedecerem levemente. Reno parecia tão boa pessoa que soava cruel pensar o contrário.

“Algumas pessoas podem não ser o que parecem, cara Nirina. Mesmo para alguém tão inteligente e talentosa quanto você”, dizia Martin. Ela não queria pensar, mas talvez Reno fosse o malvado da história e Martin, o mocinho. Balançou a cabeça, apertando os olhos, e foi até o quarto esperar pelo início das aulas com Selene. Precisava conversar com Zahra, rápido.

O que a consolou foi lembrar que no dia seguinte veria Arthus junto com Zahra e a curiosa pessoa que queria conhecê-la e precisava de sua ajuda. Contaria o que estava acontecendo a Arthus e sua mestra, então se sentiria melhor.

Reno havia visto a leve marca no pescoço de Nirina, mas achou melhor não perguntar. Decidiu que não falaria com Sven até o cair da noite, para que não pensasse que sabia mais do que deveria.




Arthus deixou a biblioteca pouco depois da hora do almoço, sentindo-se faminto. Resolveu que comeria em algum restaurante antes de caminhar até em casa. Agradeceu a Suriel pela ajuda com os livros, que havia sido de grande valia, e seguiu seu caminho.

Comeu no primeiro restaurante que encontrou ali perto e tomou as estradas para casa. Seguiu pelas estradas laterais, como sempre pedia à Nirina que fizesse, e abriu um sorriso triste para si mesmo ao se lembrar da aprendiz. Queria que o dia acabasse logo para que pudesse encontrá-la rápido.

Ao chegar em casa, sentiu-se entediado e sem vontade de ler, estudar, ou fazer qualquer outra coisa. Deixou-se cair no sofá e deitou ali, fechando os olhos. Se seu sono permitisse, pretendia dormir até a noite e, quem sabe, até o dia seguinte.


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