Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 4
Parte III


Notas iniciais do capítulo

Desculpas a demora do capítulo, mas a internet anda me ownando, vocês sabem.
Bem, boa leitura :)



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Noites de 1929 

O tempo passa rápido quando se é jovem. Principalmente para o mais novo dos irmãos. Vencelau já tinha dez anos de idade em um dos anos mais complicados da história. Mas como qualquer outra criança, ele era afastado destes tipos de notícias. 

O cotidiano da casa em que um casal de estrangeiros com dois filhos adotados não poderia ser mais comum: Vencelau tinha o costume de jogar futebol com os amigos, ou quando não está fazendo isto, está conversando com Andrija, uma croata de origem judaica dois anos mais nova do que ele - e até parece que Vencelau se importa com isso. -; as duas pequenas crianças eram geralmente acompanhadas de risinhos de adultos. O mais constrangedor de tudo era aturar as "ilusões" dizendo: "Algum dia, vocês dois vão se casar.", mas como toda criança, vê apenas amizade entre eles. O irmão mais velho, Alexis, já teve algumas amizades, mas ele não se dava ao luxo de sair muito. Pode muito bem ser que você encontre Alexis com alguma garota, mas sempre irá perceber que ele não prestava muita atenção nela, enquanto ela se derretia por ele. 

O passado destes garotos preocupam um pouco seus pais, mas eles tentam muito bem não pensarem nisto. A probabilidade de que Alexis saiba da verdade é grande, mas eles se preocupam com o caçula e não se sabe do jeito em que ele irá reagir. 

E era naquele dia de agosto de 1929, um dia comum para duas pequenas crianças, uma de dez e outra de oito. 

- Vencelau... Que livro é esse? - A garota perguntou, olhando para o livro que o garoto tinha nas mãos. 

- O Fantasma da Ópera - Respondeu o garoto, sorrindo. - Minha mãe me deu este livro. 

Andrija inclinou um pouco a cabeça. 

- E fala sobre o que?

- Eu não entendo bem... Mas fala sobre um fantasma que se apaixona por uma cantora de ópera. 

- Oh sim... - Ela falou, olhando para o garoto com o rosto levemente corado. - É bem... complicado de entender estas coisas, não é?

Vencelau olhou para ela, confuso. 

- Hum? O que é complicado?

- Amor... - Ela respondeu. - Eu nunca soube exatamente o que era. Parece ser uma coisa de adultos. E você parece entender... Você é muito inteligente. 

Vencelau corou; coçou a nuca, revirando o olhar; um sorriso descuidado surgiu em seu rosto. 

- Obrigado, mas não é assim tão difícil de entender. Ou pelo menos, eu tento descobrir as coisa sozinho. Tem coisas que os meus pais não gostam de me contar. Sabe, eu sou muito curioso. 

Andrija sorriu de canto. 

- Se ao menos eu tivesse a sua inteligencia... Eu viveria feliz. 

Vencelau não entendeu muito bem o que ela falava, mas mesmo assim, respondeu:

- Ah, o que é isso? Andrija, você é inteligente, além de eu achar você bem bonita. 

A garota arregalou os olhos verdes esmeraldas, com o coração pulsando. 

- V-Você acha...? - Ela revirou o olhar, sem o sorriso. - É a primeira vez que alguém me diz isso. 

Ele também tirou o sorriso.

- É mesmo? Então acredite em mim, as pessoas devem achar o mesmo. 

As duas crianças sorriram um para o outro. 

A romena 

No mesmo dia, Alexis voltava para sua casa. Estava carregando um dos seus livros de História, olhando para o seu rumo. Sabendo aceitar os olhares das garotas de sua escola, aqueles olhares derretidos e apaixonados dos quais Alexis não se entregava ao luxo de retribuir.

Você pode muito bem estar achando que Alexis é um pré-adolescente antipático, mas pense em algo. Alexis passou por algumas complicações na infância, o que fez ele ficar assim, um garoto quieto e sem muitas expressões. No decorrer disto tudo, você certamente irá entender. 

O que o jovem búlgaro não esperava: Cabelos loiros passando por si; um corpo feminino de treze anos de idade esbarrando no seu; seu livro agora estava indo em encontro com o chão; o braço do rapaz envolvia aquele corpo, para que não o deixasse cair; por fim, um par de olhos de mel o observando. 

Resumindo: Uma garota esbarrou nele. O rapaz a ajudou a não cair. 

Ela o olhava como uma tonta. Ele a olhava surpreso. 

- D-Desculpe-me. - A garota rapidamente afastou-se do rapaz, pegando o livro dele e entregando-o com as duas mãos e com a cabeça baixa, que cobria o rosto avermelhado. 

- Isso não foi nada. - Ele a respondeu, pegando o livro. 

- Eu devia olhar para onde ando. - Andava de lado, para chegar ao outro lado. - Me desculpe, eu estou atrasada. Me desculpe, me desculpe mesmo. - Ela começou a correr no mesmo sentido que antes. 

Alexis a observou até ela sair de sua vista. Suspirou e perguntou-se quem era ela. Sem achar uma resposta, deu de ombros e seguiu seu caminho. 

Negócios e verdades

Wagner estava em seu escritório quando recebeu uma visita de seu amigo, o judeu húngaro Franz Krleza. Colegas de trabalho e coincidentemente, pais de Vencelau e Andrija. 

Franz começou uma conversa curiosa:

- Você nunca me falou sobre de onde seus filhos realmente são, de onde são os pais dele. Poderia me falar?

- Bem... É claro que sim. - Wagner respirou fundo. - Você por acaso conhece Maxis Shamalanoff?

Franz ergueu as sobrancelhas. 

- Aquele homem búlgaro que trabalhava no exército? Sim, sei quem é. Ele trabalhou na empresa por algum tempo, eu já conheci ele mas eu só o vi umas duas ou três vezes no máximo. Já você, era bem próximo a ele, estou certo?

Wagner assentiu. 

- E também deve saber que ele foi morto em 1922. 

Franz assentiu. 

- Pois bem... Ele é o pai biológico de Alexis e Vencelau. 

Franz pareceu surpreso, mas atento. Wagner continuou: 

- Maxis se casou com uma sérvia de origem judaica, que eu nunca tinha conhecido. Porém, ela não resistiu ao segundo parto e morreu em 1919, quando Vencelau nasceu. Com isto, Maxis ficou bastante deprimido. Esqueceu de Alexis e Vencelau, praticamente. As duas crianças morriam de fome, e provavelmente isto teria acontecido se não fosse os vizinhos. Mas logo, estes vizinhos já começaram a não se importar com eles também. Simplesmente porque os dois eram "infiéis". 

Franz estranhou-se. 

- Como assim "infiéis"?

- Eles não tem religião, apesar do pai ser católico e a mãe ser judia. Eles nunca foram verdadeiramente batizados em igrejas. Até hoje eles não sabem muito bem sobre o que seria religião, o que seria Deus. Eles não sabem a importância da religião na vida das pessoas. 

- E por que você não os ensina?

Wagner suspirou. 

- Porque eu não vejo o porque. Eles são dois garotos únicos, não posso aproxima-los de algo que também não sou próximo. E também, um outro motivo do desprezo dos vizinhos era que o pai deles era um comunista... Assim que nem eu. 

Franz revirou os olhos, pensativo. 

- E como ele morreu?

- Eu não sei... Só sei que o encontraram morto. Até hoje não se sabe se foi um suicídio ou um homicídio. 

Franz balançou positivamente a cabeça, tentando pensar em outro assunto. 

- Tudo bem. Eu queria saber se você sente falta da Alemanha. 

Wagner respirou fundo, fechando os olhos. Logo ele se levantou e foi até a porta. 

- Deutchland über alles; über alles in der welt. - Falou quase sussurrando. - Eu vou tomar um café. Peço que venha comigo. 

Franz não recusou, ergueu-se e o acompanhou. 

Afinal, aquele trecho era um "ja" ou um "nein"


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Notas finais do capítulo

Enfim, está aqui. Espero que tenham gostado :'D



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