Fraternidade escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 20
Parte XIX


Notas iniciais do capítulo

Fazendo tudo isso com o maior amor e carinho do mundo.

Boa leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/336449/chapter/20

Os últimos momentos

Já se faziam três anos que estavam presos lá. O tempo passava muito devagar, tanto que eles mal podiam acreditar que era 1944. E tinha sido um dia especial aquele, o desembarque da Normandia.

Vencelau estava novamente no sótão, abraçando Andrija por trás. Ela sentava entre as pernas dele, que estava com a testa pousada no ombro da moça.

É claro que Andrija sabia o quanto Vencelau estava sofrendo, e era entendível. Queria fazer algo por ele, mas o que ela poderia fazer?

Virou-se, ficando de frente a ele. Os dois se olharam nos olhos; enquanto ela passava a mão pelo rosto dele, delicadamente. Pelo menos, Vencelau estava com o amor de sua vida em seus braços. Mas a situação dele continuava tensa.

Até que ela sorriu para ele, beijando o seu rosto em seguida. Queria fazer com que ele ficasse mais tranquilo em relação a situação que ele se encontrava.

- Não se preocupe, Vencelau. Você não está só. - Ela falou num tom baixo e doce. Aquelas palavras chegavam aos ouvidos de Vencelau com prazer.

Ele tentou sorrir também, e conseguiu, de certa forma. Mas Andrija continuava preocupada; ela suspirou.

- Eu não gosto de te ver tão quieto assim...

Ele revirou os olhos, pensando no que dizer.

- Eu só estou um pouco... Artodoado.

Andrija abaixou o olhar. Ainda não sabia se ela irá sobreviver ou morrer. Até porque, um grupo de nazistas podem invadir a casa e matar todos à tiros. Mas tentou não pensar nesta possibilidade; não por causa de apenas a sua família e dela, mas também de Vencelau. Como ele era um sérvio, seria o primeiro a morrer.

Então, pôs ambas as mãos no rosto do seu amado, acariciando-o em seguida. E finalmente, Andrija teve a oportunidade de fazer aquilo. Sentiu a mão de Vencelau segurando delicadamente seu pulso. Sentir tudo aquilo dava um pequeno prazer.

Ela aproximou o rosto dela com o dele, tocando os lábios com os seus. Era um beijo pequeno, que se aprofundou depois. Sentiu-o abraçando sua cintura; sendo assim, abraçou o pescoço dele. Fazer aquilo faz com que ambos esqueçam de tudo.

Separaram-se; de novo, olhando um nos olhos do outro. Vencelau estava com uma expressão melhor, mas ainda melancólica. Ela acariciou os cabelos dele.

- Tudo vai ficar bem... - Ela falou baixinho, deitando a cabeça no peito dele. - Tudo vai dar certo. Algum dia, essa guerra acaba.

Ele assentiu e a abraçou; passando as mãos pelos cabelos dela, enquanto ela se aconchegava em seu colo.

--

Alguns dias depois, no início da tarde; era o dia em que Alexis tinha que sair de Belgrado para ir para o exército. A tarefa mais complicada de um soldado era se despedir da família. E não sabem o quanto aquilo foi difícil para Alexis.

Ele segurava as mãos de Hannelli; a sua família estava na frente da casa dele, esperando um carro do exército nazista levá-lo.

Hannelli estava trêmula. Ela não conseguia dormir e vomitava constantemente. Não sabia se tudo aquilo era de tremenda tristeza ou estava passando mal; ou os dois.

Ela não aguentava e sempre abraçava o seu marido, na inútil tentativa de prendê-lo, de não deixar ele ir. Aquilo tudo era um pesadelo. Mas ele a acalmava, ou pelo menos tentava.

- Hana... Calma... - E afastava ela, olhando para os seus olhos vermelhos de choro. Afastou uma mecha de cabelo dela, pondo-a atrás da orelha. Deslizou os dedos para o queixo dela. - Eu vou voltar. Você é a minha vida, você sabe disto. Tudo isso é para te proteger.

- Alexis... - Deslizou a mão para sua própria barriga. - Eu...

- Melhore, tudo bem? Eu te amo, você sabe que é verdade o que eu falo.

Ela sempre tentava falar algo, mas não conseguia terminar. Esperou com que Alexis se despedisse da sua família:

Primeiro foi Emilie, sua mãe:

- Alexis, agora que eu percebi que você não é mais um garoto... - Ela sorriu para ele, entre lágrimas. - Desculpe-me por demorar para perceber isto.

Alexis sorriu para ela.

- Mãe, não se desculpe. - Ela o abraçou. - Eu vou ficar bem, confie em mim. - Se separou dela, olhando nos olhos. - Obrigado por ter me amado tanto... Mesmo eu não sendo o seu filho realmente.

Ela continuava sorrindo, o mesmo sorriso de sempre. Emilie Brauer é, e sempre foi, uma linda dama.

- Você é o meu filho, Alexis...

Sorriram um para o outro. Até que ele passou para o seu pai. Era muito difícil se despedir assim, mas não voltava atrás com sua palavra.

- Eu tenho... - Wagner agora deveria olhar para cima para olhar no rosto de seu filho, estava mais alto do que ele. E pensar que antes, ele era só um garotinho pequeno numa plataforma de trem. - muito orgulho de você, filho. Sempre tive. Aliás... - Ele ajeitou a bengala, que tinha começado a usar semanas atrás. - obrigado... Acho que você salvou a minha vida.

- É o mínimo que eu posso fazer por você, pai.

Wagner sorriu. Seus cabelos loiros não pareciam estar mais velhos do que antes; seu rosto não transparecia quase nenhuma ruga em seu rosto. Ainda assim, Wagner tinha uma aparência bem inferior a sua idade.

- Eu já não tenho mais idade e nem força para isso. Você é jovem, por isso eu acredito em você.

Alexis abraçou o seu pai, emocionado. Realmente, tinha um propósito para fazer aquilo tudo. Amava o seu pai adotivo; e nunca poderia amar mais o seu pai biológico, no qual Alexis não gostava.

Separaram-se. Wagner pôs a mão no rosto de seu filho, ainda se lembrando de Maxis. Que grande presente aquele homem lhe deu, além da salvação de vida. Maxis tinha dado a Wagner a responsábilidade de criar dois homens respeitáveis.

- Eu poderia ter sido um pai melhor...

Alexis discordou.

- Ninguém é melhor pai do que o senhor...

Wagner se sentiu, de alguma forma, feliz.

Agora, Vencelau. Aquilo poderia ser bastante complicado, mais do que qualquer outro. Alexis suspirou ao olhar nos olhos de seu irmão caçula, que estavam nadando em tristezas.

- Vencelau... Pare de olhar assim para mim.

Vencelau fez uma cara emburrada e cruzou os braços, como uma criança.

- Eu já disse que se você morrer, eu nunca vou te perdoar e continuo dizendo.

Alexis deu uma risadinha.

- E eu disse que poderá me odiar. - Depois de alguns segundos, ficou sério. - Nem pense em fazer alguma besteira, entendeu?

Vencelau juntou as sobrancelhas.

- E eu tenho cara de ter dez anos? - Ironizou. - Olhe, eu não sei o que vai acontecer, mas eu espero que você não faça alguma besteira.

Alexis suspirou.

- Eu vou voltar... Eu não posso garantir, mas eu sinto que vou. - E abaixou o olhar. - Se não... Eu queria te dizer que...

Foi interrompido por um abraço apertado vindo de Vencelau. Alexis ficou surpreso com isso, mas logo retribuiu o abraço.

- Nem pense em falar isso em público, mas eu sinto o mesmo por você.

Alexis sorriu, gostava de ouvir isso dele. Vencelau sempre foi muito fechado com o irmão, mas naquele momento, não poderia esquecer da verdade.

Os dois se separaram.

- Fique bem, irmão. - Falou Vencelau, com uma voz trêmula.

Alexis assentiu.

- Você também, irmãozinho.

Na maioria das vezes, Vencelau odiava quando Alexis falava assim, mas dessa vez, não pôde esconder um sorriso. Aquilo poderia te dar esperanças de que Alexis voltasse vivo para a sua família.

E finalmente tinha chegado o carro do exército. Alexis se afastou da sua família, indo em direção ao carro, que o chamava. Olhava para trás algumas vezes.

Num desses olhares, viu Hannelli correndo até ele. Ele então, se assustou, virou-se para ela, que o abraçou em seguida.

- H-Hana... Por favor... E-Eu preciso...

Hannelli não deixou ele continuar, nunca deixaria. Depois, ela falou o que queria falar:

- Não quero que você vá sem saber disto. Porque eu estava passando mal, não era por causa da tristeza, não só dela. - Ela soluçou um pouco. - Alexis, eu estou grávida.

Alexis arregalou os olhos, sua respiração avançou; ele ficou completamente paralizado. Não podia acreditar. Ele ia ter um filho.

- H-Hana...

Ela o olhou, com um sorriso em meio das lágrimas, que escorriam. Agora, quem seria o "pai" da história, era Alexis.

- Saiba... Do porque você terá que voltar.

Os olhos dele se afundavam em lágrimas, deixando-as cair logo em seguida. Incrédulo, não conseguia parar de olhar para ela.

- Hannelli... Eu vou voltar. - E deu um profundo beijo nos lábios dela. Separando-os segundos depois. - Eu prometo que vou...

O difícil foi ter que se separar dela; ele teve que entrar no carro, mas mesmo antes de entrar, ele gritou:

- Eu amo vocês! - Com um sorriso no rosto, com esperanças de que algum dia, iria voltar para Belgrado.

Ao entrar no carro e ele dar a partida. Se deparou com uma cena "emocionante". Viu o seu irmão caçula correndo, acompanhando o carro de guerra. Ouviu ele gritar:

- Se você não voltar, eu te mato, entendeu?!

Alexis apenas sorriu para ele, que frase mais estúpida; vendo ele parar quando o fôlego gastou. Vencelau acenou para ele, agora, com um sorriso de esperança.

Pelo menos, Vencelau sorriu, pelo menos uma vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até então, só isso. Pelo menos, quando eu tiver mais vontade de escrever LOL

Até o próximo capítulo. :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fraternidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.