Mas deixemos os sentimentos e as comparacoes de lado.Acredito que voces estao muito ansiosos pelo acontecimento morbido,afinal qual ser humano não aprecia uma boa historia de morte?Se eu fosse voces,caros leitores,nao continuaria com a leitura desse texto,entretanto adianto que seja mais favoravel o conhecimento da morte quando sabemos que cedo ou tarde ela vira.Oh sim,ela vira.

Foi naquela tarde de agosto que eu sai para procurar Marrie,eu a havia buscado em vao durante horas.

“Marrie Marrie!!Onde voce se escondeu,Marrie? - eu gritava inocentemente”

Entao me lembrei do velho poco e sai correndo para la com o sorriso de um adulto quando so ele descobre o que ira acontecer no fim de um filme.Mas eu não sabia o que iria acontecer.

Estranhei ao chegar la e ver muita gente em volta do poco.

“Sera que todas essas pessoas querem brincar?Ate os homens da lei? - pensei comigo.”

Aproximei-me e vi uma coisinha ali do lado do poco.

Conhecem aquela sensacao de paralisia?De quando alguem nos surpreende com um susto e fica tudo gelado?Ou quem sabe já tenham sentido aquela obscura vertigem quando se levantam muito rapido da cama?

Aquilo que senti foi mil vezes pior.Foi algo permanente que sinto ate hoje.A partir daquele dia passei a morrer gradativamente.

Ao lado do poco,o centro das atencoes de todos ali era um corpinho de crianca desfalecido.

Era Marrie.

Eu não era tao ingenuo para um garoto da minha idade e entendi o que estava acontecendo após ve-la e depois perceber a presenca de seus pais.A mulher de cabelos louros chorava e berrava enquanto o homem ao seu lado tentava impedi-la,mas parecia não estar se aguentando em pe tambem.

Fui lentamente ate aquele pequeno corpo,onde já a alma não existia.

“Nao quero mais brincar disso,Marrie.Nao se esconda mais,por favor – sussurrei para aqueles cabelinhos dourados manchados de sangue e os olhos e labios fechados tranquilamente”

Ela havia tentado se esconder atras das pedras que envolviam o poco e sem querer uma delas se soltou levando Marrie junto.Amarga armadilha da vida.Ainda sinto o gosto azedo na boca e a mesma ansia que senti naquela cruel tarde.

A cobriram com um pano branco e eu tentei impedir ate homens vestindo fardas me pegarem pelo braco e me tirarem dali.

Os pais dela me fitavam com pena.

Eu sentiria mais a sua falta que qualquer outro e eles sabiam disso.

Sai correndo bosque adentro e uma fina chuva comecou a cair e se misturar com minhas lagrimas.O ceu estava chorando de tristeza ou pela felicidade de ter aquela pequena habitando-o?

Naquela tarde eu havia perdido minha pureza e com ela,minha vida.