Sweet Misery Street-rua Doce Miseria escrita por MANDAHSOARES


Capítulo 5
River - O Fim


Notas iniciais do capítulo

cap. final ,leitores!



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-Eu posso devolve-la.

Aquela voz me devolveu para o presente momento,me abortou com um feto sendo arrancado do utero materno.

-Posso devolve-la.

Ela repetiu ainda daquela forma inexpressiva.Senti um bolo preso em minha garganta e o soltei numa gargalhada insana novamente e antes que minha consciencia pudesse falar por si minha loucura respondeu.

-Por favor.

Ouvi minha voz rouca quase suplicando aquela impossibilidade que eu mesmo já havia pedido tanto durante minha breve vida.Nunca acreditei naquele que chamavam de “Deus” mas tambem para ele já havia implorado.Jamais recebi uma resposta daquele ser milagroso.

Observei o fantasma a minha frente que insistia em ser uma menina.Seus olhos dilatavam-se de forma demoniaca.

-Os pais dessa pequena são como voce,River.Nao superaram a morte da filha e se entregaram a ela tambem.Pobres seres.

Ela sussurava de um jeito meloso e esquizofrenico que fez meu estomago sentir-se embrulhado.Ainda mais enojado fiquei ao ouvi-lo.River.Fora meu nome um dia.Oh sim.Agora eu podia ouvir em minha mente vozes que me chamavam.River.

Já foram magoados?Ah,todos os individuos existentes nesse misero planeta já foram magoados de forma brutal a ponto de sentirem aquela dor sufocando o peito.A dor que lateja da barriga ao peito.Dizem que se o coracao doesse realmente estariamos mortos.Oh,mas ele doi,eu garanto.

Foi esta hostil dor que me fez ir em frente.

-Mate-os,River.

Matar.Qual sera a sensacao de exterminar uma vida?Li um livro no qual descrevia o homicida como um 'destruidor de universos',pois ele estaria não so findando a vida de um ser,mas tambem os seus possiveis filhos e netos e tudo o mais que fariam ao mundo.Ele mataria um universo.

Vi um sorriso sedento por sangue esbocando-se nos labios da menina.

Virei-me e caminhei por onde havia vindo.Olhei apenas uma vez mais para tras para ver novamente aquele ser estranho.

Ela havia desaparecido.

 

Andei por entre ruas sujas e avenidas vazias,a chuva de algumas horas atras recomecou insistente mas eu não a sentia.Finalmente cheguei ate aquele familiar bosque.Passei por ele como se fosse aquela tarde de agosto e relembrei cada passo meu.Alguns minutos depois me vi parado ao lado do poco,mas dessa vez sem derramar uma lagrima sequer.

Continuei a andar ate chegar numa casinha pintada com tinta oleo.

Eu não tinha nada a perder e minha loucura não me deixaria perceber se tivesse.

Virei a macaneta da porta apenas para me certificar mas sabia que não estaria destrancada.Retirei do bolso um chaveiro pontudo de metal e enfiei na fechadura.A porta se abriu num rangido agudo.

-Abracadabra. Sussurrei.

Fui caminhando a passos lentos ate uma escada de madeira que dava para o andar de cima.Todas as casas daquela Vila onde eu havia morado eram iguais e portanto os quartos deviam estar na parte de cima.

Entrei devagar naquela escuridao e ouvi respiracoes vindas de um comodo.A respiracao compassada que um ser humano so possui quando esta a sono alto.

Fiquei ao lado daquela cama de casal observando os dois rostos que não via ha tanto tempo.Dormiam tranquilos.

Instintivamente toquei a parte interna da minha jaqueta e percebi ali a presenca de um objeto.Puxei-o com a mao e ele brilhou no meio da penumbra.

Era uma faca.

Não sabia da onde ela havia vindo pois não me lembrava de ter colocado aquilo ali.Mas me felicitei no momento.

Não senti tristeza ou dor.Nao senti nada.

Destrui duas vidas com aquela faca.Senti o sangue quente tocando em meu rosto rosto e maos,ouvi os gritos assustados.Nao deviam ter sentido dor pois fui ligeiramente objetivo.

De repente o silencio acometeu toda a casa e eu percebi que so haviam corpos inertes no quarto comigo.

Por que sera que o desespero sempre chega para o assassino após o crime? É assim em filmes,e sera assim em contos.

Me desesperei e fitei o sangue escarlate escorrendo da minha mao para o pulso.Fiquei tao chocado que não pude perceber uma respiracao pesada e chorosa se aproximar de mim.So senti uma dor lacinante e aguda tomar meu peito e me fazer cair ao pes da cama.

Olhei para cima com a visao embacada.

Tudo o que vi foi uma mulher de longos cabelos louros e cacheados.De seus olhos cor de rum rolavam lagrimas grossas e sofridas.

 

Marrie.

 

-River...Por que? - foi tudo o que ela disse naquele momento.

Talvez ela tenha percebido minha confusao e jogou na minha cara um pequeno pedaco de jornal.

 

Jovem esquizofrenico foge do manicomio Sweet Misery na noite passada.Nada se sabe sobre seu paradeiro mas autoridades afirmam que tudo esta sob controle.

 

-Sweet Misery... É uma rua... É uma rua. Murmurava eu.

-Nao,River. É o nome do local onde esta internado desde pequeno,desde o assassinato de seus pais.

Vi Marrie fechar os olhos desconsolada.

As memorias não eram minhas.Eu vivi uma vida de inconsciencia.Agora era tudo tao claro para mim.

A ultima coisa que vi foi aqueles olhos lacrimejados e entao minha visao escureceu e tudo pareceu ficar adormecido.

Eu havia alcancado algo tao desejado e agora me parecia tao...inapropriado.

 

O silêncio e a escuridão enlouquecedora me absorviam, como se todo o meu corpo afundasse numa areia movediça maravilhosamente gélida, meus pensamentos pararam completamente.”

 

Hoje so me resta vagar pelo mundo enlouquecendo com palavras jovens como eu.Faz tantos anos que estou a deriva que já não posso conta-los.

Minha vida tinha sido algo forjada pela loucura e dor de ter presenciado meus pais serem assassinatos na minha frente,do mesmo modo como fiz com os pais de Marrie naquela noite.

 

Eu me transformei no sussurro que paira ao lado de pessoas que se jogam a tristeza.Me transformei no pior pesadelo das criancas deixadas pelos pais para dormir no escuro de seus quartos durante a noite.

 

E enquanto as coisas acontecem e o mundo muda eu procuro por ela.

 

Procuro pelo fantasma da ponte.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado! deixem review o



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