~POV Bernardo

  A sexta-feira tinha, enfim, chegado. Meus horários eram matemática, física e biologia, o recreio, biologia e história.

  Meu horário era igual ao de Lucy, então decidi esperá-la perto da lanchonete, perto do dormitório. Em alguns minutos avistei Katherine e Lucy, pulando, ou dançando ou seja lá o que estivesse acontecendo. Dei um aceno e as duas vieram correndo até mim.

   – Olá, garotas. – Sorri.

   – Olá, garoto. – Katherine respondeu, sorrindo.

   – Olá, homem. – Lucy me deu um abraço rápido.

   – Você parece feliz. – Notei que ela sorria muito.

   – É, um pouco. – Ela deu de ombros. – Sabe qual a grande boa notícia do dia?

   – Vamos ter pizza na cantina? – Perguntei indeciso.

   – Bem, também. Mas Katherine tem o mesmo horário que a gente. – Ela abriu outro sorriso, ainda maior que o primeiro.

   – Sério? – A própria Katherine confirmou com a cabeça. – Isso é ótimo. Vai ser um prazer ser seu colega de turma. – Baguncei o cabelo dela.

   – Ei, posso te perguntar uma coisa? – Dei de ombros. – Você é gay?

   – Ahn...não. – Franzi a testa.

   – Então tá. – Ela deu um sorriso.

   – Por que, eu pareço? – Arqueei uma sobrancelha.

   – Não, era só confirmando uma coisa. – Ela disse indiferente.

   – Tá...bom. – Continuei olhando Katherine, desconfiado. – Bom, vamos então. – Fui andando na frente.

   – Vamos. – Lucy andava do meu lado, cantarolando alguma coisa.

   Chegamos na sala pouco depois. Me sentei no lugar de sempre, ao lado de Lucy, lá na frente. Katherine se sentou logo atrás de nós, ao lado de Derek.

   A aula de matemática passou rápido. Ao menos, foi o que eu achei. O professor de física passou um exercício para ser feito em trio. Lucy, Katherine e eu fizemos juntos. Acabamos rápido.

   Lucy parecia já conhecer essa matéria e não tinha dúvidas. Eu sabia que ela era muito estudiosa. Katherine também não demonstrou ter dúvidas, mas não sei se ela também era estudiosa feito Lucy.

   Fomos os primeiros a acabar o exercício. Ficamos conversando um pouco, mas logo Katherine começou a ler Crônicas de Nárnia e Lucy decidiu adiantar o dever de matemática. Resolvi escutar música.

   Quando a aula de física acabou e a de biologia começou, me assustei. Um cara que eu nunca tinha visto entrou na sala. Professor substituto. O nome dele era...

   – Mathew? – Lucy olhou espantada para o professor.

   – Oi, Lucy. Quanto tempo... – Ele sorriu. – Bom, alunos, meu nome é Mathew Benson, e sou o professor de biologia substituto. – Ele se sentou na cadeira antes de continuar. – Creio que o professor de vocês já passou a matéria de células animais e vegetais, então façam o exercício da página 14.

   – Professor. – Uma garota lá no fundo ergueu a mão. Ele fez um gesto para que ela prosseguisse. – Quantos anos você tem?

   – Eu tenho 21. – Ele inclinou um pouco a cabeça.

   – Nossa, você é muito novo. – A garota se calou depois disso. Eu podia ouvir os cochichos dos garotos lá atrás, no fundo da sala.

   – Lucy. – Katherine cochichou atrás de nós, cutucando o ombro de Lucy. – Ele é lindo, né?

   – Tá afim dele, Kat? – Me intrometi na conversa, provocando Katherine com o apelido, sorrindo de canto.

   – Não, idiota. – Ela me deu um tapa. Mão pesada.

   – Me dá seu telefone. – Lucy esticou a mão pra trás, esperando o celular.

   – Para? – Katherine colocou o celular na mão de Lucy, que assim que o pegou começou a escrever algo.

   – Toma, o celular de Mathew. – Ela devolveu o celular para Katherine.

   – Por que você tem isso? – Perguntei para Lucy, me virando pra ela.

   – Ele era o enfermeiro que cuidava do meu irmão, aí ele me deixava ligada no que acontecia com meu irmão, e me deu o celular dele se eu quisesse ligar pra ele. – O tom dela tinha ficado triste.

   – Me desculpa, não queria ter tocado no assunto. – Peguei a mão dela.

   – Tudo bem, você não tinha como saber. – Ela deu um sorriso e soltou sua mão da minha.

   Olhei Katherine de soslaio. Ela falava sem som: “O que aconteceu? Que hospital?”. Só gesticulei com a mão, indicando que eu explicaria mais tarde.

   As aulas se passaram. No último horário, Lucy pediu para ir ao banheiro e eu decidi contar a história para Katherine.

   – Nossa, que bosta, hein? – Ela disse, num tom triste. – E como ele tá agora?

   – Como previsto, paraplégico. – A porta se abriu e Lucy entrou. Acabei com o assunto, me virando pra frente no meu lugar.

   Lucy foi embora assim que o horário acabou, para fazer os deveres. 

   – Qual o problema com Lucy? – Ouvi a voz de Mathew atrás de mim e me virei.

   – É, ela tá meio triste. – Olhei o chão por um instante. – Já sei. – Me levantei, quase num pulo, animado.

   – O que? – Katherine e Mathew disseram ao mesmo tempo, com as vozes curiosas.

   Contei para eles minha ideia, de como animar Lucy. Katherine parou de juntar o material e me ouviu. Mathew cruzou os braços, prestando atenção.

   – Ok. – Ela pegou o resto das coisas, colocou com cuidado na mochila e se levantou. – 6 da tarde eu mando ela se arrumar e lá pras 7 a gente se encontra  no Burguer Paradise.

   – Concordo com a ideia. – Mathew sorriu e caminhou até a porta. – Vejo vocês mais tarde. – Ele saiu e, logo em seguida, Katherine também.

   Tomara que realmente dê certo.

   Fui até meu dormitório. Eu não tinha um colega de quarto, ou ele ainda não tinha aparecido, então o quarto estava vazio.

   Fiz meus deveres, toquei um pouco de violão, esperando a tarde passar. Quando o relógio marcou 18:15, tomei um banho rápido, coloquei uma calça jeans com um moletom cinza da GAP e um tênis preto da Vans.

   Peguei meu celular, olhando as horas. 18:50. Mandei uma mensagem para Katherine, saindo do dormitório correndo.

   “Já to saindo, manda uma msg pro Mathew.”

   “Eu não, manda vc. Nós já tamo saindo tbm.”

   “Não tenho o número dele, vc q tem. Larga disso e manda logo!!”

   Ela não me respondeu, nem eu mandei mais nada. Coloquei o celular no bolso e sai correndo pelo campus da escola.

   Quando cheguei no Burguer Paradise, Mathew já estava lá, lendo um livro, que não consegui reconhecer. Ele usava uma camisa social branca, com calças jeans escuras e tênis all star branco.

   – E ai? – Ofeguei, cumprimentando-o.

   – Boa noite. – Ele sorriu sem tirar os olhos do livro e trocando de página. – Posso te fazer uma pergunta?

   – Claro. – Puxei uma cadeira e me deixei cair sentado nela. Ele fechou o livro.

   – A Katherine é bem bonita, não? – Ele olhou pra mim.

   – O que? – Arqueei uma sobrancelha, ainda ofegando. Eu não estava entendo mais nada, não era pra ser uma pergunta?

   – O que? – A expressão dele mudou, ficou estranha. – Não acha?

   – Acho, mas...por que você quer saber? – Peguei um chiclete no meu bolso, agora respirando normalmente. – Quer um?

   – Não, obrigado. – Ele recusou com a cabeça. – E não é por nada, é só que ela chamou minha atenção. – Ele respondeu, quase indiferente.

   – Ela é sua aluna, você é professor, sabia? – Sorri.

   – Professor substituto, por só dois dias. – Ele disse num tom brincalhão. – Acho que não vai ser um problema, então, não?

  – Bem, boa sorte. – Dei um joinha  pra ele, sorrindo.

  – Você também... – Ele riu.

  – Como assim? – Franzi o cenho. Ele só indicou alguma coisa atrás de mim com a cabeça.

  Me virei, vendo Lucy e Katherine chegando. Lucy usava um short preto, não muito curto, com um all star preto de cano médio e uma blusa branca. Katherine tinha prendido o cabelo numa trança baixa, usando um short jeans claro, uma blusa branca e um tênis de cano longo, branco da Nike.

  – Uou. – Mathew disse sem tirar os olhos delas, principalmente de Katherine. Eu fiquei sem reação, sem palavras. Elas realmente estavam lindas.

   Elas se aproximaram e deram um beijo na bochecha de cada um. Lucy sempre fazia isso, mas eu nunca tinha imaginado Katherine fazendo aquilo também. No primeiro dia dela, ela nem na minha cara olhou, de vergonha.

   – Então, o que a gente vai fazer? – Lucy abriu um sorriso.

   – Você vai ver. – Me levantei, ficando de frente pra ela.

   – Você? – Ela franziu o cenho, olhando pra Katherine. – Só eu não fiquei sabendo de nada?

   – Sei lá. – Dei de ombros antes que ela pressionasse Katherine, que me olhou agradecida. – Vamos logo, já tá quase na hora.

   Fomos correndo, porque realmente já estava quase começando. Subimos um morrinho, de onde eu pretendia ver tudo.

   – Vamos sentar aqui mesmo. – Me sentei no chão, junto com Lucy. Mathew chamou Katherine para o outro lado, nos deixando sozinho. Só não sei se foi por mim e Lucy, ou por ele mesmo com Katherine.

   – Não vai mesmo me contar o que é? – Lucy me olhou, sorrindo.

   – Calma, só mais 10 segundos. – Sorri de volta.

   – Bocó. – Ela sacudiu a cabeça e ficou encarando o céu. Ótimo.

   – 5 segundos. – Fiquei olhando o relógio. No último segundo, olhei pro céu também.

   – Pra... – Ela foi interrompida pelo som de vários fogos de artifícios, multicoloridos explodindo no céu.

   – Eu fiquei sabendo que ia ter esses fogos hoje e resolvi te trazer aqui pra assistir, só que... – hesitei. – Só que...

   – Tá tudo bem. – Ela sorriu. – Valeu, de verdade. – Ela me deu um beijo na bochecha. – Você é o melhor amigo que alguém poderia pedir. – Só sorri de volta e voltei a olhar o céu.

   Ficamos uns 30 minutos assistindo aos fogos. Assim que acabou, Mathew voltou com Katherine. Nós dois levamos as meninas de volta até o dormitório e de lá nos separamos.

   Talvez eu esteja realmente gostando dela, mas infelizmente, Logan está no pé dela.

   O que não quer dizer que eu vá desistir.