“Então garotinha, o que achou do seu primeiro dia na escola nova?” perguntou meu pai por telefone.

“Foi bom...” disse tentando omitir as coisas que aconteceram. Encontrar a Isa daquele jeito, tomar um banho de refrigerante.

“Fez novos amigos?” perguntou ele curioso, já que, eu geralmente sou de contar as coisas antes que me façam perguntas.

“Alguns.” Fui vaga e evasiva na resposta de novo e meu pai suspirou do outro lado da linha sabia que eu não estava bem.

“Você estava animada para voltar. O que aconteceu Lira, não tente esconder nada de mim por mais que eu seja velho não sou bobo.” Falou meu pai desabafando e eu ri, ele me conhecia como a palma da sua mão. E sabia detectar mesmo a um oceano de distância que eu não estava bem.

Não sabia se contava ou não as coisas para ele, mas resolvi que ia manter nossa relação sem segredos, como ela sempre foi.

“Lembra se da Isa?” perguntei duvidosa mordendo o lábio inferior. “Aquela que vivia sempre em casa e não se desgrudava de você?” Meu pai perguntou para ter certeza sobre quem eu falava.

“Essa mesma.” Eu disse um tanto pesarosa. “Claro que eu me lembro como poderia me esquecer, era uma menina adorável.” Realmente ela era, pensei. Joguei me na cama, pois sabia o que eu ia contar, ia demorar.

Omiti a parte de que já fora apaixonada por ela, e de que nos beijamos da ultima vez que a vi. Meu pai chegou a perguntar se eu queria mudar de colégio, mas eu disse que não seria necessário. Fui para debaixo das cobertas e ali fiquei pensando por muito tempo sem que o sono viesse me levar.

Pensava por que Isa estaria daquele jeito, seu irmão Peter como estaria, deveria eu visitá-lo ou por parte dela seria visto como uma afronta? Há quanto tempo ela estaria assim? Porque não me procurara? Porque não me ligou? Porque não me escreveu? Porque ela sumiu? Será que ela tinha ódio de mim? Será que me culpava por sua vida estar desse jeito? Ou pior será que não me amava mais?

Comecei a chorar, estava com sono, frio e medo. Medo de ser o monstro que acabara com a vida da Isa. Medo de ser o monstro que acabara com um possível nós.

Mas eu não deixaria esse medo me derrotar, eu teria que ser forte. Forte por nós duas. Eu faria a Isa mudar para melhor. Havia tomado a decisão. Se foi eu quem fez todo o estrago, não custa nada tentar concertá-lo não é? Eu sabia, ou pelo menos tinha uma breve noção de quão difícil seria tentar ajudá-la. Contudo eu não estaria apenas a ajudando, eu estaria lutando por nós. E foi com esta determinação que adormeci naquela madrugada fria.

Acordei com o despertador tocando, ele marcava exatamente seis horas. Deixei a preguiça de lado e me levantei. Dei tapinhas fracos no meu rosto, para acordar e fui andando até o banheiro. Tomei uma ducha de água quente, sai de lá e enrolei-me na macia e branca toalha que me protegia do frio.

Sequei meu cabelo com o secador e me observei no espelho, o cabelo loiro estava com as pontas encaracoladas, meus olhos azuis se destacavam por causa das fortes olheiras que evidenciavam a noite mal dormida, bufei passaria um bom tempo lutando com a base para que meu rosto ficasse ao mínimo decente.

Assim que acabei de me arrumar, sai do banheiro e entrei no meu closet a fim de achar o uniforme. Abri a terceira gaveta, porem me deparei com uma gaveta vazia. Tudo havia mudado era na terceira gaveta que eu guardava o uniforme lá em Cambridge, porém não aqui. Comecei a revirar tudo em busca da desprezada peça e quando a encontrei a coloquei rapidamente.

Já eram sete e meia e a aula só começava as nove, contudo queria encontrar a Isa antes da aula começar, não sabia o que dizer a ela, só queria vê-la, portanto fui ao colégio de taxi e fiquei sem meu rotineiro café.

Constatei que era uma das primeiras a chegar, o estacionamento estava vazio. Andei um pouco e apenas tive a companhia de uma folha de papel que era arrastada pelo vento. Podia parecer bobo, mas eu gostava de observar essas coisinhas. Mantive o foco e continuei a procurar a Isa, não estava nos corredores, não estava na biblioteca. Será que perdera a mania de chegar mais cedo? Ainda tinha um lugar que eu não havia ido procurá-la. O ginásio, poucas pessoas sabiam, mas era possível ficar embaixo das arquibancadas do ginásio. Era um lugar secreto para mim e para Isa quando estávamos no nono, sempre que estávamos chateadas ou que queríamos silencio íamos para lá. Estava tão concentrada em meus pensamentos que nem percebi que havia chegado lá.

Senti um forte cheiro de cigarros e tossi. Odiava aquele cheiro, segui-o e me deparei com Isa sentada no chão, encostada na arquibancada, tragando o seu cigarro. Sua bolsa estava jogada ao seu lado, seu cabelo meio bagunçado, porém mesmo assim ela estava linda e totalmente sexy. Sempre fui contra ao uso de drogas licitas ou ilícitas, e Isa também e ao vê-la fumando tive certeza de que ela havia mudado e muito. Ao menos continuava com algumas manias antigas.

“Pensei que odiasse cigarros.” Falei sentando me no chão a sua frente.

“Pensei que pessoas que não ligam para as outras, deveriam ficar no seu canto e não dar uma de enxerida, dando opiniões que ninguém esta a fim de escutar.” Disse ela me observando, os olhos azuis me fitavam cortantes, contudo ao mesmo tempo curiosos.

“Eu me preocupo com você.” reprimindo a vontade de chorar, já havia chorado muito ontem a noite. Não iria me debulhar em lágrimas na frente dela.

“Você poderia me deixar em paz?” ela perguntou fazendo menção para que eu saísse do lugar.

“Não posso.” Disse convicta estava ali e ficaria com ela.

“Ótimo.” Ela grunhiu. “Saio eu.” Disse se levantando, ajeitando a saia e pegando a bolsa. Levantei me e comecei a segui-la. Ela se virou abruptamente e me prensou contra a parede. Meu corpo enrijeceu e ficou tenso.

“Olha eu não sei se você me entendeu ou não, mas eu quero que você me deixe em paz, não adianta tentar agora consertar o que você fez, eu não posso e não quero ter você ao meu lado. Se você gosta ou tem ao menos um pouco de respeito por mim você vai me respeitar.” Ela disse tudo de uma vez só e pude ver seus olhos um pouco marejados. Fiz menção de abraça-la, mas antes que eu o fizesse ela saiu correndo. E tudo o que eu pude fazer foi observá-la partir.