A minha primeira aula foi um inferno, eu não tinha outra blusa e continuei com aquela mesma. Holmes estava em nela e todas as pessoas ficavam comentando e olhando para mim. Algumas com curiosidade outras com desprezo. Atenção desnecessária era uma coisa que eu preferia deixar passar.

Na segunda fiz amizade com uma garota muito simpática que não me lembro mais o nome e na terceira fui obrigada a fazer dupla de laboratório de biologia com Isabella que parecia estar extremamente incomodada com a minha presença na sala.

“Nessa aula eu quero que vocês analisem a anatomia da cabeça de um ser humano, de um macaco e de um cavalo. Quero que escrevam hipóteses levando em consideração o ângulo formado pela glabela e o maxilar.” O professor um homem careca e baixinho que usava óculos falou nos orientando sobre as coisas que deveríamos fazer o resto estava tudo na lousa anotado. Peguei uma folha de papel e comecei a escrever nossos nomes. Olhei para ela. Fitava o além.

 Parecia que eu a obrigava a se sentar o mais longe de mim que conseguia. Reparei que ela não era a mesma. Não estava tomando notas das coisas que os professores falavam, não demonstrava um pingo de respeito e ficava mandando mensagens de texto o tempo todo. Acabei que tive que fazer todas as coisas sozinhas inclusive começar a fazer o relatório da aula. A única coisa que não mudara nela fora o perfume, embriagava me era tão doce e irresistível, mas misturado ao cheiro de álcool de seu halito que me fazia querer vomitar não era tão bom assim. Ela virou e seu olhar se encontrou com o meu. Não tive tempo de disfarçar e encarar outro lugar por isso corei, e ela revirou os olhos. Fechei os olhos e tentei me concentrar. Foco eu precisava terminar o relatório.

Quando o terceiro sinal tocou dei graças a deus, entreguei o relatório para o professor e sai correndo da sala eu não aguentava aquela atmosfera pesada que nos envolvia e ficar com aquele protótipo de garota adolescente rebelde que minha melhor amiga se tornou me deixava deprimida. Corri eu queria ficar longe de todos e todas sabia que todos estariam ou no refeitório ou nos cafés ao redor do colégio então fui para a biblioteca onde sabia que encontraria um pouco de paz.

Sentei me num dos corredores e passei a soluçar baixinho. Eu queria voltar para a Inglaterra.

“Hey o que aconteceu?” perguntou James colocando a mão em meu ombro obrigando-me a parar de soluçar. “Foi assinada pela louca da Holmes não foi?” ele perguntou docilmente e eu tive vontade de voltar a chorar.

“Sim foi a Isa.” Confirmei voltando a me lembrar da blusa suja e grudenta foi este motivo que me levou a parar de tomar refrigerante.  Eu já havia me levantado e fingia analisar as prateleiras abarrotadas de livros. Organizados cronologicamente.

“Hum quer ajudar para se limpar?” Eu revirei os olhos odiava estes garotos que pensavam que nos entregaríamos para eles tão fácil assim. Mas James não me encarava e sim James olhava descaradamente para a bunda de um garoto que tentava encontrar algum livro na sessão de direito.

“Oh meu deus você é gay!” afirmei um pouco mais alto do que gostaria. Fazendo com que a bibliotecária mandasse nos fazer silencio com apenas um olhar bem azedo.

“Cale a boca ninguém pode saber.” Ele falou arregalando os olhos.

“Mas então o que você faz?” perguntei curiosa. Afinal jamais vira um gay que dava em cima de garotas.

“Vou a bares que ninguém daqui frequenta.” Respondeu ele dando de ombros. Analisei o. Sapato de marca, cabelo levemente bagunçado, relógio de marca, sim ele era gay como não percebera antes?

“E porque esta me ajudando?” perguntei agora desconfiada por que se ele não queria me comer (desculpe a palavra) alguma coisa ele deveria estar querendo, é difícil encontrar boas pessoas no mundo.  

“Preciso de alguém para ser minha falsa namorada, meus pais estão começando a desconfiar e estão cortando minha mesada.” Falou rápido e me deu um olhar suplicante.

“E o que eu ganho com isso?” indaguei arqueando a sobrancelha enquanto passava a mão pelos livros.

“Minha amizade.” Respondeu ele sem mais nem menos. Pensei por um momento  seria bom ter alguém ao meu lado, alguém que eu pudesse confiar e bem pudesse contar sobre minha historia com Holmes.

“Eu acho que tudo bem, mas nada de beijos nem coisa do tipo.” Falei concordando.

“Claro que não eca eu não gosto da fruta.” Falou ele e eu achei super engraçado. “E porque Isa te atacou você? A atiçou? Pensei que fosse mais inteligente novata.” Comentou ele, falava demais, fazia perguntas demais, mas parecia ser uma boa pessoa.

“Não sou novata e Isa é uma antiga amiga” respondi.

“Amiga sei...” provocou ele. Talvez esperando por uma boa história.

“É verdade.” Eu disse. E ele nada respondeu apenas se sentou no chão e começou a ler alguma coisa. “Porque ela esta assim?” perguntei curiosa era minha chance de saber o que havia acontecido com ela.

“Bem desde que eu a conheci no ano passado ela é uma puta. Pega todos os garotos dessa escola e tem bebido muito e não me surpreenderia se a encontrassem com drogas.” Respondeu dando de ombros enquanto eu a muito custo tentava digerir a informação sabia que ela tinha mudado, mas tanto assim?

“Isso é impossível.” Murmurei mais para mim do que para James.

“Como você explica o cheiro dela de álcool?” disse ele enquanto mandava uma mensagem de texto para alguém.

“Eu não sei, mas ela não é assim.” Eu tentava em vão me ludibriar inventando mentiras para não ter que enfrentar uma realidade em que a pessoa mais perfeita que eu conhecia havia se tornado uma verdadeira vadia.

“Então realmente não sei se estamos falando da mesma Isabella Holmes.” Comentou James enquanto ajeitava os livros que estavam na bolsa dele. “Vamos daqui a pouco o sinal bate.” Disse ele se levantando e estendendo a mão para me ajudar.

Fui para a quarta aula com ele química. Por incrível que pareça eu já havia visto aquela matéria há dois anos. Por isso pude ficar voando em pensamentos durante a aula toda. Nesta eu não estava com aquela garota simpática da segunda aula, nem com James, muitos menos com a Isa o que eu não sabia se deveria considerar uma coisas boa ou ruim. As outras aulas passaram voando e bem quando o ultimo sinal bateu eu fui de volta a coordenação para ver se eles não tinham como dar uma mudada nos meus horários e ver se havia algum curso extra que me interessasse.

Quando sai da secretaria, já não esperava encontrar ninguém. Contudo vi a silhueta já conhecida, cabelos loiros encaracolados que caiam perfeitamente em suas costas. Ela caminhava vagarosamente pelo corredor como se não houvesse mais nada no mundo só ela, ela e mais ninguém. Cogitei na hipótese de esperar que ela fosse embora e eu tomasse meu rumo para casa, mas eu tinha que esclarecer algumas coisas. Coisas não ditas por mais de um ano e meio. Eu queria reerguer nossa amizade e quem sabe num futuro algo mais. Comecei a correr sem nem menos perceber.

“Nós temos que conversar.” Gritei enquanto a vi saindo do colégio. Ela se virou e me fitou curiosa. Eu estava ofegante, definitivamente deveria voltar a fazer algum esporte.

“Não tenho nada para falar com você, Lira.” ela praticamente cuspiu o meu nome e agora me olhava no fundo dos olhos e me fuzilava com aquelas lindas orbes verdes.

“Qual é você joga coisas em mim, me ignora nas duas aulas que tivemos juntas, me deixa fazendo o relatório de biologia juntas e não tem nada que conversar comigo. Eu sou sua melhor amiga.” Desabafei eu precisava dela não admitiria aquilo, mas eu precisava dela.

“Eu não tenho amigos.” Respondeu seca cruzando os braços.

“O que aconteceu com você?” perguntei baixinho com vontade de chorar. Era obvio que ela tinha amigos não via eu estava ali, estava ali por ela.

“O que aconteceu comigo?” ela deu uma gargalhada amarga e voltou a me encarar com cínica. “O que será que aconteceu comigo? Minha mãe morreu quando eu nasci e meu pai me culpa por isso até hoje, meu irmão quase morreu de overdose no ano passado e está em uma clinica de reabilitação, meu pai não para em casa por mais de dois dias, esta trabalhando feito um louco e...” eu não havia percebido que por trás daquela máscara de garota forte estava uma garotinha frágil e vulnerável.

“Eu sou sua amiga.” Repeti tanto para ela quanto para mim. Tinha que reafirmar aquilo para mim mesma.

“Não é e se fosse não teria me abandonado aqui como fez há dois anos agora me deixa em paz porque eu tenho coisas melhores para fazer do que ficar falando sobre como minha vida é uma merda com uma pessoa que não liga a mínima para mim.” Ela falou, deu me um sorriso triste e voltou a caminhar para fora do colégio onde seu motorista esperava por ela.

Será que ela estava certa? Eu era mesmo uma merda. Não havia ficado aqui quando ela mais precisou de mim. Havia partido. Talvez eu fora egoísta ao partir. Não só com ela, mas também comigo eu desejava ficar afinal de contas ela me amava e eu a amava. Mas agora eu tinha um objetivo eu iria conseguir colocar ela de volta na linha, não só por mi mesma, mas por ela e eu precisaria de ajuda e seria ai que  James entraria.