Fiquei vagando pelos corredores do colégio, impaciente esperando que as aulas começassem. Não cheguei a encontrar com Isa novamente, também sabia que não era o momento de voltar a falar com ela, deveria dar-lhe um pouco de tempo. Eu ainda não acreditava ser a causa de tanta angústia, dor, sofrimento. Antes eu que era sua morfina, me tornara agora seu bicho monstro pessoal.

Resolvi ir até a biblioteca alugar um livro, reconheci a Sra. Bennet deveria ser a mesma blibiotecaria desde que inauguraram o colégio. Peguei um livro emprestado de medicina chinesa para ler em casa mais tarde, como não tinha nada para fazer fui me inscrever no grêmio estudantil, queria fazer parte da edição do jornal da escola. Gostava de escrever e seria um bom jeito de conhecer novas pessoas.

Peguei meus livros no meu armário e fui para a minha primeira aula. Inglês avançado. Naquela classe estava a garota, da qual o nome eu não me lembrava, fui conversar com ela. Descobri mais tarde, seu nome quando uma menina se aproximou e lhe chamou, Claire, ela queria saber como foi morar em Cambridge, e eu lhe contei sobre praticamente tudo, como eram meus amigos, o que eu fazia no meu tempo livre, como eram as pessoas. A outra amiga dela Hanna também era muito simpática, e elas me chamaram para ir ao shopping depois da aula.

O sinal bateu e o professor já estava atrasado. Uma pessoa chegou por trás de mim e tampou meus olhos.

“Adivinha quem é?” perguntou e eu reconheci imediatamente a voz.

“James.” Falei rindo, será que ele era sempre assim extrovertido?

“Preciso falar com você.” disse ele em alto e bom som e se aproximou do meu ouvido e murmurou empolgado. “Tenho fofocas quentes.”

As meninas me observavam, eu pedi licença a elas e fui até o canto mais reservado para falar com James, podia sentir olhos me perseguindo sabia que era as meninas curiosas em saber o que estava acontecendo.

“Não sei o que você fez, mas conseguiu deixar a megera da Holmes abatida, algumas meninas a viram chorando no banheiro feminino e a fofoca esta correndo, parece que a dama de ferro esta triste.” Contou ele enquanto me fitava com estrema curiosidade. Estava começando a ficar encabulada com toda essa atenção que estava recebendo.

Neste momento, entra a passos pesados Isa, ela me vê e revira os olhos estavam mesmo um pouco inchados e vermelhos, será que ela estava chorando por minha causa? Isso foi de quebrar o coração queria mandar o tempo que ficamos separadas para o inferno e ir até lá e abraça-la dizer que tudo acabaria bem. Queria ser novamente seu porto seguro. O que todos deveriam pensar que era mais um dia comum com ela emburrada, eu tinha a certeza de que não era. Ela bufou e começou a retirar os livros que usaria na aula e os jogou na mesa irritada. O professor chegou e James foi para o seu lugar e tentei observá-lo melhor, definitivamente o garoto era gay, mas mesmo assim escondia muito bem.

Tentava prestar atenção enquanto o professor falava sobre Shakespeare. Mas quando ele falou de Stratford, comecei a viajar pelas minhas lembranças, ao me lembrar de uma excursão que tivemos para esta cidade, tinha saudades do pessoal de Cambridge. Deveria ligar para eles, o faria hoje assim que tivesse tempo.

Voltei a prestar atenção no que o senhor dizia, ele apesar da idade expressa pelos cabelos brancos e roupas mais sóbrias era um homem muito simpático e extrovertido. Seria uma das aulas que eu gosto de assistir. Ele falava e eu conseguia me situar no local como mágica, estava me sentindo em Stratford-Uppon-Avon no período elisabetano. Conseguia sentir o cheiro das carroças, o cheiro da chuva, o calor de uma lareira aquecendo uma sala, conseguia ver o mestre das palavras escrevendo seus sonetos em um momento de inspiração.

Indubitavelmente aquela seria minha aula favorita, é difícil encontrar professores como este, que te transportam para outra época somente com palavras, mas quando os tem as pessoas tem que saber aproveitar. Olhei para o lado Isa fitava o professor com um sorriso, o primeiro que a vi esboçar desde que voltara da Inglaterra. Ela era linda, indescritivelmente maravilhosa. Os olhos verdes observavam atentos cada gesto do professor, então ela continuava a gostar de literatura.

“Senhorita Grey poderia prestar atenção na minha aula, por favor?” perguntou o professor, fazendo com que todos rissem e eu corasse. Fora pega observando a Isa pelo professor.

Quando a aula acabou tentei ir falar com ela sobre qualquer coisa, talvez sobre as aulas de biologia que tínhamos juntas e teríamos que entregar um trabalho sobre evolução, ou talvez sobre o irmão dela perguntar se poderia ir visitá-lo. Mas ela foi mais rápida, já tinha saído da sala quando tentei falar com ela.

Vi Claire e Anna se aproximando de mim, e sorri para elas.

“Você é filha do Robert Grey?” Anna perguntou e eu assenti com a cabeça, não que não fosse importante para mim, mas meu pai é um grande-neurocirurgião e bem o sobrenome dele era reconhecido em quase todos os lugares, sua pesquisa se terminada com certeza lhe renderá um Nobel e isso o fazia ser ‘famoso’.

“Meu deus, isso é tão demais. Por isso você foi para a Inglaterra.” Concluiu Claire, eu não gostava de dizer meu sobrenome as pessoas por causa disso, ou elas reconheceriam meu pai ou a minha mãe e passariam a ser mais prestativas. Odiava receber tratamento especial por ser filha de pessoas influentes.

“Sim.” Respondi monossilábica e vi que James me esperava. “O James está me esperando ali eu vou indo meninas a gente se fala mais tarde ta bom?”

“Sim, shopping depois das aulas, as duas e você vai ter de nos contar sobre ele.” E apontaram para o James. Internamente eu ri, concordei em contar para as meninas sobre o James, lhes diria que éramos apenas amigos.

“Você me esperou.” Falei o obvio. Tinha que correr para a próxima aula economia dizem que o professor é um porre e não admite atrasos.

“Quem? Não estou vendo ninguém aqui.” Falou olhando para os lados. Ele usava uma bolsa da Louis Vuitton de lado.

“Palhaço.” Disse batendo no ombro dele e ele reclamou. “Se não quer parecer gay pare de usar essas bolsas.” Eu falei enquanto andava apressada pelos corredores.

“Mas eu adoro essa bolsa, gastei uma fortuna nela e...” ele falou, mas eu o interrompi.

“Garotas gastam uma fortuna em bolsas garotos que querem pagar de hétero para o papai não.” Disse o que era verdade, já que ele queria ficar dentro do armário por mais um tempo deveria se vestir como um garoto qualquer.

“E o que eu faço com isso?” perguntou enquanto fitava a bolsa como se fosse se despedir da coisa mais importante da sua vida.

“Bem você pode me dar.” Eu disse e ele riu.

“Tchau a gente se vê no almoço.” Disse ele e saiu correndo para a próxima aula.