–O... o que? – ergueu as sobrancelhas, ainda com cara de bobo.

–Acho que tem que ir embora. – rapidamente, consegui descer da cama e colocar uma camiseta qualquer, procurando a todo custo cobrir meu rosto daquele mentiroso.

–Sam, por favor...

–Mentiu, não foi? – fixei o olhar em seu rosto, que parecia estar com dor. – Mentiu sobre eu ser a “garota envergonhada” só pra me comer, não foi?!

–Não mude as coisas...

–Não mude você! Eu... – soquei minhas bochechas, batendo as costas no guarda roupa. – Eu sabia que não deveria me misturar com...

–Para! Eu menti sim, mas foi por uma boa causa!

–Boa causa?! – já estava gritando. – Boa causa o caramba! Você me enganou, jogou sua lábia sobre mim! Achei que fosse meu melhor amigo, Harry!

–Não, não, não! – ele, de repente, conseguiu me alcançar no guarda-roupa, e pegou em meu rosto, grudando nossas testas. – Eu sou seu melhor amigo, achei que entenderia!

–Não chega perto! Tudo que queria era tocar meu corpo, e veio com aquele lance de amizade colorida! – rosnei, ainda com nós dois colados. – Ai, mas como sou BURRA! SEU DESGRAÇADO! EU DEI MINHA VIRGINDADE PRA VOCÊ, ENTENDE ISSO?!

–Pára de se fazer de vítima! Eu já disse que ó queria que você ficasse perto de mim! Queria que você soubesse o quanto eu sou cuidadoso e carinhoso! Tenta me entender!

–Claro que não te entendo, seu idiota! Você que não entende o que isso significa para mim. Ai, como sou burra! Otária! – com força, eu consegui escapar de suas mãos, correndo em direção à cozinha. Ele veio atrás de mim.

–Não fuja, Sammy...

–Me deixa em paz! Pega suas roupas e cai fora daqui! – massageei a área entre os olhos, me encostando na pia.

Harry me olhava atrás de mim, e eu só ouvia seus suspiros. Depois de três segundos, seu rosto grudou ao meu, roubando um beijo. Não senti nada, só o distanciei e ouvi o estralo de meu tapa em seu rosto. Um tapa que ardeu minha mão, e deixou o rosto dele vermelho. Harry me olhou, segurando minhas duas mãos com força, e pela primeira vez senti algo diferente em seu rosto. Raiva.

–Me larga e vai embora.

–Nunca mais bata em mim. – dessa vezm sua voz foi mais ameaçadora. Foi a gota d’água.

Foi um quarto de minuto. Eu dei uma chave de braço em Harry, o levando para a porta com força. A Sam da oitava série tinha voltado, e nem eu reconhecia minha voz. Eu o joguei do lado de fora do apartamento, e logo em seguida sua camisa e a calça jeans.

–Nunca mais me ameace, ou apareça aqui de novo. – cuspi, batendo a porta.

O mundo desabou de novo, e eu encostei as costas na porta, deixando as pernas caírem até eu finalmente me jogar no chão. Nenhuma lágrima caiu, contudo isso não queria dizer que eu não tinha me machucado. Só tinha enganado Harry, pois assim eu via Freddie no momento em que estávamos juntos. Só que, na realidade, eu só enganava a mim mesma. Mentia para mim, tentando criar um universo em que Freddie me amava. E eu o tratava tão bem que Harry acabou se apaixonando por mim.

Isso estava tão errado. Não acredito que isso está acontecendo todas essas desgraças de uma vez só. Sabia que nunca deveria ter deixado me envolver com ninguém. Não aprendi a lição com ele, e fui mais fundo ainda, dando meu corpo para qualquer um.

Eu sou uma idiota. Eu me odeio. Sempre fazendo burradas.

Um toque estranho soou no ar, aprecia meu celular. Claro que não ia atender. A pessoa deveria ser insistente, ligou três vezes, e eu as ignorei. Só quando o celular silenciou que eu encostei a cabeça no chão gelado, adormecendo ali mesmo.