O garoto, bonito com certeza, joga seu copo no lixo e paga o mané da caixa registradora com uma nota de dez dólares, guardando sua carteira no bolso. Sam não consegue desviar o olhar.

Ao fazer isso, encara de leve a loira, ainda parado no balcão. Ela, como se concedesse permissão para uma conversa, assente colocando uma mecha atrás da orelha, mas sem sorrir ainda. Em poucos segundos, ele se senta à sua frente.

-Por que uma garota tão linda está aqui à esta hora da noite, e com essa carinha tão triste?

-Pode ter certeza, para não ser incomodada. Se eu precisasse de companhia, estendia uma placa "converse comigo". Não é o caso, né? - ela diz, o encarando ainda.

-Eu te conheço, Samantha Puckett. 

-Se me conhecesse, não diria “Samantha”, pois saberia que eu me chamo Sam. Agora cai fora, antes que eu dê um soco nesse seu narizinho.

-Eu sei que esse seu jeito é para afastar as pessoas à sua volta. Te vejo quase sempre aqui, com esse jeito triste. Não caio nessa. 

-Velho, cai fora! Ninguém me conhece! Eu não preciso dar satisfação a você, muito menos FALAR com você. Já que você não vai sair, eu saio.

A garota arremessa o copo, ainda na metade, no lixo. Se prepara para levantar, mas ele segura seu braço, a secando por um segundo.

-Por favor, fica.

-Não, valeu. Aliás, se encostar em mim de novo...

-Fala, fala, fala. Mas não me bateu ainda. Por que será? - ele dá uma risadinha. Sam, por mais que queira, não consegue ficar brava nem socar sua barriga como geralmente faria. - A gente se vê.

Ela, sem reação, continua lá parada na frente dele. O garoto se distrai olhando para o nada, como se ignorasse o fato de Sam estar o secando completamente. Ela balança a cabeça, como se acordasse do transe, e sai batendo o pé. Na porta, ele grita para ela.

-Sou o Harry, tá? Me liga!

-Aaah, claro que sim, vai sonhando. – vira os olhos.

Ela bate a porta, e ouve o Costela xingando-a. Mesmo sem querer, acaba gostando do tal Harry. Os olhos claros, as delicadas curvas da bochecha, a boca levemente corada e a voz dele. A voz. A voz era mais que perfeita. O cabelo também.

“Mas... o que estou dizendo? Nem pensar! Eu não vou gostar de ninguém daqui pra frente! Se o Freddie, que eu tinha certeza que era meu verdadeiro amor, me decepcionou sem hesitar, por que eu deveria gostar do Harry, que deve ser um galinha mau caráter?"

Chega no Bushwell, um pouco molhada devido à chuva, e entra no elevador, apertando o número 8. Ao senti-lo subir, se encosta no espelho, fechando os olhos. Como sua vida não poderia ser normal, nem mesmo por um segundo? Passou a mão pelo rosto úmido, como se depois daquele toque tudo melhorasse. Erro dela.

Ao sair do elevador, bate na porta de sua amiga, que a abre poucos segundos depois.

-Oi, Sam! Que milagre você bater! Quer dizer, que milagre você aparecer aqui! Há quanto tempo!

-Pois é, né? - ela diz, sem animação. Carly percebe.

-Ahn... tá. Vem, entra.

A morena dá espaço para a loira passar, que adentra o apartamento com passos murchos e desanimados. Tenta ignorar o casalzinho no sofá, e vai para a cozinha comer alguma coisa.

-Cadê o Dave?

-Lá em cima. Daqui a pouco ele desce. Então, Sam... - ela diz, sentando-se na bancada perto dela. - Faz muito tempo que a gente não se vê, a semana inteira você passou na Melanie que eu sei. O que foi que aconteceu? Eu fiz alguma coisa?

-Claro que não, Carly... Eu só não quis vir aqui. - Sam diz, ainda sem olhar para a amiga, procurando algo na geladeira que prestasse.

-E eu sei o motivo. Mas eu realmente sinto sua falta. Você está distante de mim. Como se namorasse com o Freddie de nov...

-NUNCA MAIS FALA ISSO! - ela bate a porta da geladeira com força, que chama a atenção dos dois no sofá.

-Desculpa. - sussurrou. - Desculpa mesmo, Sam.

A loira encara Carly por uns minutos e depois abaixa o olhar.

-Por favor, não chora. Não na frente dele, isso só vai piorar as coisas. - sussurrou, segurando em seus ombros.

-Eu não vou chorar. Eu sou forte. Já derramei muitas lágrimas por quem não merece.

Carly sorri, e ela retribui o sorriso. Sam, por mais triste que esteja, continua sua noite, trocando somente algumas palavras com Freddie, só as realmente necessárias. Já com a namoradinha trouxa, nem mesmo um "me passa o bacon". O clima estava bem desagradável, mas quem ligava? Pelo menos, Samantha não. Resolveu só viver sua vida, ter uma carreira legal e morar em Paris, quando completar 23 anos. Isso sim era vida, e não ficar sofrendo mágoas passadas.