No dia seguinte, Angélica aproveitou que era sábado e dormiu até tarde, ao meio de muitas reclamações da avó. Quando acordou ao meio-dia foi direto para o computador fazer o seu trabalho de filosofia. Não almoçou, nem se maquiou, apenas se concentrou nesse trabalho que valia 3/4 da sua nota, quando todos começaram a se arrumar para ir à igreja por voltas das três horas.

Natália disse:

-Você vai com a gente?

-Não, tenho que terminar meu trabalho! - a desculpa perfeita, pensou ela. Angélica continuou escrevendo.

Quando terminaram de se arrumar a avó disse:

-Estamos indo, come alguma coisa e apague todas as luzes. Tchau!

-Tchau! - respondeu Angélica, secamente.

Uma hora depois, cansada de escrever, Angélica, finalmente, fez a maquiagem e foi comer alguma coisa. Logo depois de descansar, ao ver que escureceu, trancou a porta e voltou ao trabalho. Quando se sentou para escrever, o computador desligou na sua frente e tudo na casa se apagou. Ela olhou em volta e soltou um grito de ira.

-E agora!!! Meu trabalho... eu perdi tudo!!! - resmungou ela. Pensando que apenas tinha acabado a energia, andou até a varanda de casa, quando viu que todas as outras casas da rua tinham luz, menos na sua. Voltou para dentro de casa e começou a pensar no que fazer, quando ela pôs um tênis e saiu para a rua.

Buscando coragem dentro de si, bateu na porta da casa à frente. Raphael atendeu com uma cara um tanto surpresa. Ela disse sem graça:

-Oi! 

-Oi. - respondeu ele, confuso.

-É... Será que seu pai está em casa?

-Hã... não, ele foi à igreja com minha mãe e minha irmã.

-Ah... é que... faltou energia na minha casa e eu preciso muito usar meu computador.

-Ah... sinto muito!

-Ok...! - ela fez uma expressão decepcionada.

-Mas eu posso dar uma olhada para ver o que aconteceu, se você quiser.

-Seria ótimo...!

-Ta bom, espera um pouco! - e fechou a porta. Ela ficou um pouco confusa, mas esperou. Em alguns instantes, ele voltou com uma blusa de moletom, então ela entendeu. 

Chegando lá, ela disse que tinha acabado a energia mas não sabia o porque. Ele pediu para ver a caixa de força da casa. Com uma pequena lanterna, ela guiou-o até lá.

Após uns minutos analisando a caixa, ele disse:

-Ah, entendi o que aconteceu.

-O que?

-Um rato roeu os fios.

Ela gritou e apertou o ombro dele:

-Rato???

Ele riu e disse:

-Calma, ele já deve estar longe daqui, se não levou um choque e morreu, né?

-Ah... dá pra consertar?

-Eu só preciso de fios novos

-Fios novos? Mas isso vai demorar, e eu preciso terminar o meu trabalho hoje!

-Que trabalho?

-De escola, que eu fiz a burrice de não salvar e agora vou ter de começar tudo de novo!!!

-Ah, calma... Você tem a pesquisa?

-Tenho, mas eu dei o sangue nesse trabalho,pra perder tudo assim! E ainda nem tomei banho. - disse com uma cara revoltada e triste. 

Ele riu e pensou um pouco, então disse:

-Olha, se você quiser, pode ir lá em casa e usar o meu computador, aí você aproveita e toma um banho.

Ela pensou um pouco e respondeu:

-E se minha vó chegar e me ver lá? Não vai ser legal se ela me pegar sozinha com um menino na casa dele.

-Ela só vai saber se você deixar...

Ela fingiu estar pensando e saiu para pegar uma toalha e sua roupa.