E saiu com Natalia. Mas pensou no garoto novamente ao passar na frente da casa dele.

Na escola, nada poderia ter sido mais constrangedor.

Primeiro, Natalia, ao ver as amigas, ignorou completamente Angélica e foi resolver os próprios assuntos. Depois, na sala de aula, a professora perguntou dela, e como conhecia a mãe dela, ficou contando historias da juventude das duas. No intervalo, sentada sozinha, não conseguiu engolir a comida sem sal da escola e indo contra suas convicções pessoais, e jogou fora.

A voltou para casa sozinha, já que Natalia tinha que passar na casa de uma amiga fazer num-sei o que lá.

Chegou em casa morrendo de fome e foi direto para a cozinha.  Onde a vó estava fazendo o almoço. Pegou uma maçã e pediu que a vó avisasse quando a comida ficasse pronta. Por causa do frio, foi pro quarto e não trocou de roupa, apenas pôs uma meia calça.

Voltou pra cozinha e almoçou.

A vó tinha ido limpar os moveis da sala e pediu á Angélica que assim que acabasse de comer que fosse ajuda-la. E ela assim fez, mas ao chegar na sala, viu a vó olhando pela janela, resmungando sozinha:

-Mas que pouca vergonha! Como ele tem coragem?

-O que foi vó?

A vó ignorou a pergunta da neta e continuou olhando pela janela,  Angélica se aproximou para ver também, o que estava deixando a vó tão irritada. Quando viu, se surpreendeu, ao ver que ela falava do rapaz da casa da frente.

-Depois de tudo, como ele tem coragem de voltar?

-Depois de tudo o que?- Perguntou Angélica, sem tirar os olhos do rapaz, ele era lindo. Foi quando percebeu que estava sendo observado e olhou de volta.

Angélica ficou sem-graça com o olhar profundo do rapaz, mas não desviou o olhar. Ele fez o mesmo.

A vó disse:

-Nada, só saiba que aquele garoto... - Disse saído da janela- ... é problema! E dos grandes !!! Agora venha me ajudar!

 Angélica olhou pela ultima vez para o rapaz e foi ajudar a avó.

Raphael, estava trabalhando para consertar sua moto, e também ficou um tanto “mexido” pela garota da casa da frente, encarando-o sem medo, com aqueles grandes olhos azuis. Mas sentiu que já a conhecia, e ficou tentando lembrar, onde a tinha visto aqueles olhos antes.

-Quem é ele vó?- Perguntou Angélica, tentando disfarçar o interesse.

-Raphael querida, não se lembra dele?

-Raphael?- Esse nome era familiar pra ela, mas não consegui lembrar exatamente por quê.

-É, vocês brincavam juntos quando eram crianças e você vinha passar as férias aqui. Você devia ter uns 4 anos e ele uns 6.

De repente, se lembrou, realmente, quando crianças, eram inseparáveis, passavam o dia todo brincando juntos.

-Ahh, kkk. Eu lembro, a senhora sempre brigava comigo no fim do dia, dizendo que eu não devia brincar com meninos.

-E você nunca me escutava! No outro dia já estava lá com ele de novo- Disse a vó beliscando a bochecha da neta.

-Acho que eu devia ir pra dizer um Oi né?

-NÃO!- Disse a vó se assustando.

-Por que não?

-Você não ouviu o que eu disse? Aquele garoto é problema! E você está na minha casa exatamente pra fugir disso lembra? Vocês podiam ser amigos quando eram crianças, mas as coisas são diferentes agora. Muito diferentes!

-Mas...

-Não Angélica. Quero você longe daquele garoto!

Ela disse e saiu.

Angélica ficou confusa e quando foi olhar pela janela novamente, ele já tinha saído.

Angélica foi para o quarto, estava tão exausta que dormiu o dia todo, só acordou quando a vó a chamou para o jantar.

Durante o jantar, o assunto foi a “volta” de Raphael, em meio a conversa, Angélica tentava desesperadamente entender de onde é que ele tinha voltado, mas sem-chance de falar, apenas observava curiosa.

-Esse garoto devia se por no lugar dele.- Dizia a tia.

-Que é bem longe daqui, imagine só o que a mãe dele não sofreu, pra ele voltar assim do nada?- Dizia a vó.

-É a casa dele meu bem- Dizia o avô.

-Pensasse nisso antes de fazer o que fez!- Dizia Natalia.

Angélica estava ficando tonta com o assunto paralelo, e pediu para ir pro quarto, no quarto, tentou juntar as peças de tudo que haviam dito, mas nada tinha sentido pra ela. Natalia chegou no quarto, e fingindo que estava lendo, evitou conversas.

Natalia logo dormiu, mas a noite seria longa pra ela, estava sem sono e com o pensamento ainda no rapaz, não conseguiu dormir aquela noite.

Pela manhã, quase não conseguiu levantar de tão cansada. Foi se arrastando para escola, e na volta a mesma coisa.

Os dias passavam devagar na pequena e calma cidade, quando não passava o dia ajudando a vó na faxina, se enterrava em algum livro e só, foi isso que fez nos três dias seguintes.