Brutal Game escrita por Mandy-Jam


Capítulo 5
Maçã


Notas iniciais do capítulo

E voltando com grande estilo, aqui estou eu!

~só que sem a parte do grande estilo~

Mas para os curiosos, não, eu não morri. Só fiquei um pouco enrolada com faculdade. (Sim, agora a escola não é mais a desculpa. Level up de desculpa = faculdade)

Mas enfim, aqui está o novo capítulo. A próxima fic a ser postada vai ser "Feliz Aniversário, Dionísio". Isso se o meu humor não mudar.

Boa leitura!



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Deméter regava pacientemente cada planta do seu jardim. Adorava fazer isso quando queria esfriar a cabeça, e sentia que, dessa vez, realmente precisava. Cada gota de água que caía da mangueira até a terra fazendo um barulho agradável e liberando o cheiro favorito da Deusa da agricultura deixava-a ainda mais calma.

O doce cheiro de terra molhada, pensava Deméter.

Ela se perguntava, sem conseguir se controlar, porque a deixaram de fora da primeira competição milênios atrás. Ela não seria nem mesmo bonita o suficiente para concorrer com Hera, Atena e Afrodite?

Soltou um suspiro cansado. Já estava de noite, e seu jardim particular no Olimpo estava iluminado por poucas luzes. O ar fresco e as estrelas brilhando acima dela faziam com que a Deusa sentisse certa sonolência.

Deméter caminhou até um banco e sentou-se. Respirou fundo algumas vezes sentindo o aroma da sua plantação de lavandas. Estava quase caindo no sono quando um pequeno barulho a fez retomar a consciência.

Seus olhos castanhos correram por todas as direções, procurando. Tinha um invasor ali, ela sabia. Andando na ponta do pé para não fazer barulho e camuflando-se nas sombras do jardim, a Deusa pegou a mangueira que tinha largado no chão e preparou-se.

No momento exato, apontou-a para seu alvo e aumentou a pressão da água. Ela ouviu um grito de susto seguido por reclamações e xingamentos. Esperou alguns longos minutos até que cessou a água e correu até o invasor.

Ele gemia e se remexia no chão, como se quisesse se livrar da água que ensopava suas roupas.

– Ora, seu ladrão de uma figa! – Reclamou Deméter segurando-o pela orelha – Então é você que anda roubando minhas maçãs de noite?! Como você se atreve, sua peste?!

– Ai! Ai, ai, ai! Para! – Pediu Hermes se debatendo – Para com isso, Demeter! Solta a minha orelha! Ai! Que droga!

– Que droga?! Como ousa falar desse jeito depois de ser pego roubando?! – Queixou-se enquanto o arrastava para uma área mais iluminada.

– E-Eu posso explicar! – Exclamou tropeçando nos próprios pés – Ah, qual é?! Eu só queria uma maçã! Só uma!

– Mentira! Você roubou todas as maçãs semana passada! – Desmentiu.

– Não fui eu! Eu juro para você, Deméter! Eu nunca faria algo assim! – Exclamou chocado. A Deusa o colocou de pé e soltou sua orelha. Deméter colocou as mãos na cintura, enquanto Hermes afagava sua orelha dolorida.

– Jura mesmo? – Perguntou ela erguendo uma sobrancelha. Ele assentiu – Jura pelo Estige?

Hermes hesitou.

– Olha, para que meter o Estige no meio de uma coisa tão banal quanto um roubo de maçãs? Pessoalmente, acho que isso é bem errado da nossa parte... – Ele foi cortado. Deméter começou a distribuir tapas no Deus das corridas, que fora forçado a se proteger com as mãos - Para! Para com isso!

– Seu canalha desgraçado! – Brigou enquanto continuava batendo no Deus – Seu moleque sem limites! Ladrão! Rato! Miserável!

– Por Zeus, foram maçãs, Deméter! Maçãs! – Exclamou escapando dela – Não é como se eu tivesse levado ouro!

– É ouro para mim! Minha plantação é sagrada demais para você aparecer e levar tudo embora! – Reclamou fazendo surgir uma vassoura.

Hermes arregalou os olhos e estendeu os braços em rendição. A última coisa que queria era levar uma surra de vassoura de Deméter. Aquilo devia doer como o cão.

O Deus das corridas resolveu salvar sua pele do melhor jeito que conseguia: bajulando. Afinal, as mulheres sempre se derretiam com a lábia dele. Por que não Deméter?

– Deméter, eu sinto muito. Mas tente entender o meu lado. – Hermes pegou a maçã que tinha caído no chão e sorriu para a Deusa – Nesse mundo inteirinho, em todos os meus milênios de vida, eu nunca encontrei maçãs tão deliciosas quanto as suas.

Ele jogou o cabelo molhado para trás e abriu um sorriso torto e sedutor para a Deusa. Deméter estreitou os olhos.

– Lógico. As minhas maçãs são as melhores. – Bufou impaciente e preparando a vassoura para um ataque – Mas isso não te dá permissão para roubá-las!

– Espera! – Pediu apressadamente, antes de levar uma surra. Hermes riu, nervoso, mas tentando continuar com seu jeito sedutor – Eu já disse o motivo por eu roubar as maçãs?

– Acabou de dizer. – Deméter acertou uma vassourada no braço do Deus, que gritou de dor. Hermes, antes de ser acertado novamente, segurou o cabo da vassoura.

– Para ver você! – Exclamou. Deméter puxou sua “arma” para trás e se preparou para outro ataque – Para ver você, é verdade! Eu só queria te ver! No rosto não, por favor!

Hermes se encolheu esperando pela surra que não viera. Seus olhos encontraram, amedrontadamente, os da Deusa.

– Para me ver? – Repetiu achando aquilo ridículo – Por que você iria querer me ver, seu rato ladrão?

– Porque você é bonita. – Murmurou, mentindo. Deméter abaixou a vassoura e arregalou os olhos, surpresa ao ouvir aquilo.

– Está mentindo. – Falou balançando a cabeça.

– Por que eu iria mentir? É verdade. É verdade mesmo, Deméter. – Insistiu Hermes – Eu adoro o seu rosto. Ele é lindo. Eu gosto de vir aqui só para olhar para você, enquanto me delicio com as suas deliciosas maçãs. Eu diria...

O Deus segurou as mãos de Deméter.

– Diria que suas mãos são as mais habilidosas do mundo. – Terminou. O rosto da Deusa corou, mesmo sem ela querer. Não veio na sua mente a possibilidade de Hermes estar mentindo.

– Acha que eu sou a mais bonita das Deusas? – Perguntou.

– Acho... – Ela o cortou.

– A mais bonita mesmo? Fala isso de verdade? – Insistiu. Hermes franziu o cenho ao ver a seriedade no rosto dela. Ele limpou a garganta.

– Olha... Você pode até ser bonita e tudo mais, mas eu não estou procurando um compromisso sério nem nada. Então... – Deméter o interrompeu.

– Não é por isso que eu te perguntei, cabeça oca! – Exclamou revirando os olhos.

– Por quê? – Perguntou. Deméter sentou-se em um banco, deixando a vassoura de lado, para a alegria de Hermes, e explicou tudo sobre a nova competição que Éris criara. Por fim, o Deus das corridas soltou uma gargalhada.

– Do que está rindo? – Quis saber Deméter.

– Então isso tudo é uma das brincadeiras da Éris? Ufa! Eu pensei que ia me obrigar a casar com você por causa do meu elogio! – Riu ele feliz por ser ainda um homem livre. Deméter deu um forte tapa na nuca de Hermes, e ele parou de rir.

– Eu quero ganhar. – Falou com firmeza – Quero ganhar de todas elas.

– Boa sorte. – Foi tudo o que o Deus dos ladrões disse.

Antes que ele pudesse se levantar, sentiu a mão de Deméter segurar seu braço. Não de um jeito violento e punitivo, mas de um jeito suave e delicado. Ele olhou-a mais uma vez.

– Eu posso ganhar, não é? – Perguntou insegura – Disse que eu era bonita. Então isso quer dizer que eu tenho chances... Não é mesmo?

Ele nunca se sentira tão mal por ter mentido.

Não que Deméter não fosse bonita, mas geralmente ninguém que aparentasse cerca de quarenta e tantos anos poderia ganhar de jovens com rostinhos de vinte. Parecia algo cruel de se dizer, por isso guardou aquele estúpido pensamento masculino para si e resolveu enfeitar um pouco a verdade – como sempre fazia.

– Olha, Deméter... Afrodite é a Deusa da beleza por um motivo. Não adianta tentar parecer mais bonita do que ela. Nem mesmo Hera tem chances. Nem Atena. Nem mais ninguém, creio. – Comentou bem devagar.

– Está dizendo que eu sou feia? – Perguntou incomodada.

– Não. Feia não. – Negou – Só não é bonita o bastante. Só isso. Pode parecer estranho, mas tem uma boa diferença entre as duas coisas.

– Eu quero ganhar. – Murmurou. Hermes suspirou e levou alguns segundos pesando sobre o que faria. Sentou-se novamente ao lado de Deméter e sorriu para ela.

– Só porque você não é a mais bonita, não quer dizer que você não possa ser a mais bonita. – Comentou – Se você ganhar o prêmio, ninguém vai se importar com a sua beleza. Vão achar, de qualquer forma, que você é a Deusa mais bela.

– Mas você disse que a Afrodite era a mais bela. – Deméter estava confusa.

– Sim, mas você vai ter um prêmio. Ninguém vai ver sua beleza. Eles verão a coroa em suas mãos, e todo mundo vai achar que você é mais bonita, mesmo não sendo. – Continuou explicando.

– E como eu vou ganhar o prêmio de mais bonita sem ser a mais bonita? Isso não tem sentido nenhum! – Reclamou.

– Trapaça. – Cantarolou Hermes com um sorriso torto – O que importa é ter o prêmio, não é? Então ganhe o prêmio. Simples.

Deméter não acreditou no que estava ouvindo.

– Como eu vou trapacear? – Perguntou confusa – Não tem como...!

Sempre tem como trapacear, meu bem. Sempre. – Riu Hermes como se aquilo fosse uma piada – Faz um trato legal com os jurados. Aí o prêmio vai ser seu.

– Eu não sirvo para isso, Hermes. – Respondeu balançando a cabeça – Eu não sei trapacear.

O Deus das corridas colocou a mão sobre o ombro dela e deu alguns tapinhas leves de consolo.

– Tudo bem. Não se sinta mal. – Falou antes de se colocar de pé de novo. Deméter bufou pesadamente ao notar o quanto Hermes podia ser desligado.

– Quero a sua ajuda, Hermes. – Resmungou.

– A minha ajuda? – Perguntou levemente surpreso – O que você quer que eu faça? Não estou disputando essa coroa, sabia?

– Você tem que comprar um dos jurados. – Insistiu Deméter – Senão eu vou perder.

– Mas o que eu ganho com isso? – Perguntou cruzando os braços – Não vou ser a nova Deusa da beleza. Bem, não que eu quisesse, mas veja bem. Não tem ganho para mim com isso tudo.

– Tem maçãs. – Falou Deméter colocando-se de pé.

– Maçãs? – Riu ele – Quer comprar minha ajuda com maçãs? Realmente, você não consegue fazer acordos muito bons.

– Morda a maçã. – Disse pegando a maçã e estendendo na frente do rosto do Deus. Hermes recuou a cabeça, levando um pequeno susto – Vamos. Morda. – Ele hesitou, mas acabou mordendo. Enquanto ele mastigava devagar, Deméter sorriu – Bom, não é? Agora imagine comer isso e muito mais todos os dias. Tortas de maçã quentinhas, cervejas recém-preparadas, as uvas mais deliciosas...

– Ensopado de batata? – Adicionou ele.

– Quanto você quiser. – Assentiu ela – Suco fresco de todas as frutas. Morango, limão, laranja, acerola, abacaxi... E também todos os cereais...

– Não, nada de cereal. – Ele fez uma careta.

– Tá bom. Sem cereal. – Revirou os olhos – Mas o que me diz?

– Ora, Deméter. Devo admitir que me comprar pelo estômago foi uma ótima ideia, mas você não está me oferecendo nada que eu já não possa ter. – Comentou – As ninfas podem preparar qualquer prato desses para mim.

– Mas as ninfas não podem usar nada do meu jardim. – Rebateu com um sorriso. Hermes sorriu torto ao imaginar como tudo ali devia ter um gosto excelente – E elas não cozinham como eu, posso garantir.

Hermes poderia até dizer não, mas estava ocupado demais tentando engolir toda a saliva que ameaçava transbordar da sua boca. Ele coçou o queixo pensativo, e depois olhou para Deméter.

– Você consegue fazer o prato da mamãe? – Perguntou curioso – A torta surpresa de queijo e tomate?

– Fui que quem ensinou essa receita a ela. – Hermes sorriu mostrando todos os dentes e assentiu com firmeza.

– Fechado! – Exclamou feliz. Ele riu enquanto esfregava as palmas das mãos – Então. Conte-me quem são os jurados.

– Um deles é Apolo. – Respondeu Deméter.

– E o outro? – Quis saber.

– O outro... Eu não sei. Creio que ninguém saiba. – Respondeu encolhendo os ombros. Hermes suspirou.

– Então eu ainda vou ter que achar esse fulano? – Perguntou pensativo – Uhm... Acho que tudo bem. Tenho quase certeza que consigo.

– E tem que conseguir rápido. Não quero que ninguém tente isso antes de mim. – Falou Deméter com determinação. Hermes riu e piscou para ela.

– Você está aprendendo comigo bem demais. – Hermes pegou a maçã mordida das mãos de Deméter e saiu correndo. O vento bagunçou os cabelos da Deusa, que revirou os olhos e resmungou.

– Garoto travesso. – Disse enquanto voltava a regar as plantas.


Hermes achava que demoraria longas horas até encontrar o tal jurado. Parou no meio de uma das ruas de pedra do Olimpo e olhou em volta. Já estava escuro, e não tinha mais nenhuma alma viva andando por ali.

Pensou em talvez falar com Apolo, quando um barulho lhe chamou a atenção. Uma garota fora empurrada para fora do templo de Ares, e a porta se fechara atrás de si com violência. Os olhos do Deus das corridas se estreitaram, tentando enxergar melhor na escuridão.

Cabelo castanho, roupas pretas, e pele branca. A garota bateu o pé no chão com força.

– Por que eu fui aceitar ser jurada? – Resmungou consigo mesmo, achando que ninguém ouviria. Mas Hermes ouviu. Com certeza ouviu.

Em segundos o Deus já estava na frente dela, tampando o caminho.

– É uma criança? Achei que fossem escolher alguém mais velho. – Murmurou coçando o queixo e olhando para Luh. A filha de Hades franziu o cenho.

– Senhor? – Perguntou tentando driblar Hermes – Será que pode me deixar passar? Eu tenho que ir para casa.

Hermes colocou as mãos sobre os ombros dela e sorriu.

– Qual é o seu nome? – Quis saber.

– Luíza. – Respondeu hesitante.

– Luíza. Certo. – Confirmou olhando-a – Diga-me Luiza... Você por acaso gostaria de ter um unicórnio?



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Notas finais do capítulo

Agora vai chover gente querendo ser jurada da competição só para ganhar um unicórnio. HAHAHA!

O que acharam? Sejam sinceros, sim?

Espero pelos reviews. Vou responder os antigos em breve. Provavelmente esse fim de semana.

Beijos e desculpe mais uma vez a demora.