Brutal Game escrita por Mandy-Jam


Capítulo 4
Palavra mágica




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Luiza balançou a cabeça, mostrando que era totalmente contra sair do lugar onde estava e acompanhar Ares até sabe-se lá onde.

- Não? – Disse Ares quase rindo. Ela negou de novo, com bastante firmeza – Por que as pessoas gostam de tornar tudo mais difícil?

Ares caminhou até a filha de Hades, que não pode deixar de sentir uma pontada de medo, e segurou seu braço com força o suficiente para interromper sua circulação sanguínea.

- Ai! Tira a mão de mim! – Reclamou enquanto era puxada para longe – Para onde você está me levando?! Solta o meu braço!

- Fecha essa boca grande. – Resmungou ignorando as reclamações dela. Luiza virou a cabeça para trás o máximo de pôde, e encontrou o olhar da sua irmã.

- Julia, socorro! – Pediu. Juh deixou seu queixo cair, e bateu o pé no chão com forçar. Luiza podia ver que ela estava irritada.

- Por que é sempre você que tem sorte?! – Bufou com raiva. Julia virou as costas e foi embora, sem parar para ajudar a irmã e o cão infernal a seguiu.

Nem mesmo o meu cachorro me ajudou, pensou Luiza.

Ares parou quando chegou ao seu templo. A sala era enorme, mas muito desconfortável. Todas as paredes eram cobertas por armas, e as poucas partes livres mostravam uma tinta vermelha berrante. Cabeças de monstros e animais eram expostas como troféus em cima de bancadas distribuídas no espaço. O chão estava sujo de farelo de salgadinhos e a mesinha de centro repleta de revistas de motos e mulheres nuas.

- Está vendo? – Perguntou Ares apontando para uma bancada cheia de cabeças de monstros – Tem alguns cãezinhos do seu pai ali.

Luiza fez uma careta. Como alguém teria coragem de matar um cão infernal?

- Você é doente. – Falou com repulsa. Ares sorriu como se aquilo tivesse sido um grande elogio.

- Eu tento. – Admitiu rindo um pouco. Ele teve que ficar de joelhos para que seu rosto ficasse no mesmo nível que o de Luiza. Repousou uma mão sobre o ombro dela, e seus olhares se cruzaram – Eu estou muito interessado em aumentar a minha coleção de troféus, sabe? Eu tenho muitas cabeças de monstros e animais, mas sempre me esqueço de guardar a das pessoas.

Luiza entendeu a indireta e sentiu seu sangue gelar. Podia sair gritando como uma maluca na tentativa de atrair atenção, mas pressentia que ninguém ouviria sua voz. Engoliu em seco e resolveu falar algo para salvar sua pele.

- Meu pai não vai gostar disso. – Ares riu ao ouvir aquela ameaça ridícula – Estou falando sério. Ele vai vir atrás de você, aí vai pegar a sua cabeça como troféu.

- Ah, vai mesmo? Ah, Deuses, estou com tanto medo do seu papai! – Zombou Ares rindo. Ele ergueu Luh pela gola da camisa, e os olhos da filha de Hades se arregalaram. Seus pés balançaram no ar tentando inutilmente chutar o Deus da guerra – Cadê o seu pai agora, hein? Onde ele está?

Ela estava ficando sem ar e muito nervosa.

- Acho melhor ele se apressar antes que você morra. Afinal, ele não ia querer isso, não é mesmo? – Riu Ares. Luiza tentou se soltar mais uma vez, mas a força de Ares não era nada que pudesse ser vencida com facilidade.

Quando ela achava que ia desmaiar por causa da falta de ar, Ares colocou-a no chão e abaixou-se para olhar em seus olhos novamente.

- Mas eu também não ia querer. Pelo menos não agora. – Abriu um sorriso mostrando seus dentes. Luiza ainda pegava fôlego, quando ele continuou a falar – Uma mera pergunta retórica, filha de Hades. Quem você acha a Deusa mais bela?

Luiza franziu o cenho, não esperando ouvir aquela pergunta. Ela balançou a cabeça, enquanto respirava fundo.

- Eu sei lá. – Respondeu. Notou que não era aquela resposta que Ares queria, e para não ser levantada no ar de novo, achou melhor pensar rápido. Acabou por responder o que achou que ele iria querer ouvir – Afrodite.

- Pois é... – Ele fez uma careta como se estivesse pensando sobre o assunto, e depois negou – Resposta errada.

Ares segurou os tornozelos de Luiza e a ergueu no ar. A garota ficou de cabeça para baixo em segundos, e deixou um grito de susto escapar.

- Me solta! – Exclamou se debatendo, embora estivesse com medo de cair de cara no chão e se machucar.

- Não antes de você entender uma coisa, garotinha. – Falou em um tom sério – No momento em que você for decidir seu voto quanto a Deusa mais bela nessa maldita competição da Éris... Quero ter certeza de que você vai dizer Atena.

- Atena?! – Repetiu surpresa – Mas você não quer que a Afrodite ganhe?

- Não, eu não quero. Não dessa vez. – Negou Ares – Mas a minha opinião não é da sua conta. Só responda Atena. Atena, entendeu?

- Tá bom! Eu vou dizer que é a Atena! – Exclamou Luh ao ser balançada pelos tornozelos – Eu vou! Agora me põem no chão!

- Qual é a palavra mágica? – Perguntou com calma.

- Por favor. – Luiza respondeu com irritação.

- Não, idiota! É Atena! – Reclamou Ares.

- A palavra mágica sempre foi “por favor”. – Negou Luiza.

- Mas são duas palavras. – Retrucou Ares.

- E daí?! Não fui eu quem inventou isso! – Reclamou Luiza se debatendo.

- Dane-se! Mas agora é Atena Pallas! – Exclamou com raiva.

- Mas são duas palavras! – Exclamou Luiza, notando o quanto Ares podia ser burro. O Deus da guerra franziu o cenho, confuso.

- E o que tem ser duas palavras?! – Perguntou com impaciência.

- Foi você quem disse que não podiam ser duas palavras porque era a palavra mágica! – Exclamou Luiza dando um tapa em sua própria testa. Ela estava sentindo todo o seu sangue ir para a cabeça, o que não era nada bom.

- Mas se “por favor” são duas palavras e são a palavra mágica, porque Atena Pallas não pode?! – Perguntou confuso.

- Pode! – Gritou Luh – Pode ser o que você quiser, gênio! Só me solta logo!

Ares deu-se por satisfeito colocou Luh no chão. Não foi do jeito mais delicado do mundo, mas ao menos ela não tinha sido lançada de cabeça. A filha de Hades levou suas mãos à cabeça e fechou os olhos com força, enquanto a forte tontura que estava sentindo ia passando.

Quando abriu os olhos novamente, reparou que Ares a observava com o cenho franzido.

- Só para deixar claro, a palavra mágica é “Atena Pallas” e não só “Atena”. – Frisou fazendo Luh bufar de raiva.

Como alguém pode ser tão idiota?!

- Eu. Entendi. Qual. É. A. Palavra. Ares. – Falou colocando-se de pé. Ela estava quase saindo do templo, quando Ares entrou na frente dela. Ele cruzou os braços e estreitou os olhos.

- Para o seu bem, é melhor não comentar com ninguém que nós tivemos essa conversinha. Nem mesmo com o Apolo. – Falou Ares. Ele apontou para ela – Eu não gosto de linguarudos, por isso espero que sua boca fique bem fechada.

Luiza assentiu. Tudo que ela mais queria era sair dali o mais rápido possível, por isso quando Ares saiu da sua frente, a filha de Hades correu para longe do templo da guerra.

Ela não tinha nem a mais remota noção do porquê de Ares querer que seu voto fosse para Atena ao invés de para Afrodite, mas aquilo não era lá muito importante. Pela primeira vez desde que entrara como jurada daquele concurso, ela teve o pressentimento de que estava encrencada.

OoOoOoOoOo

As ninfas tinham acabado de desfazer a longa trança que prendia e enfeitava o cabelo de Hera, quando a Deusa deu-se por encerrados seus serviços. A rainha olimpiana resolveu que ela mesma iria pentear suas inúmeras mexas castanhas.

Correu a escova pelos fios delicadamente, sem tirar seus olhos do espelho na sua frente. Seus olhos corriam não só pelo reflexo de seu cabelo, mas também em seu rosto. Ela era bonita.

Era a rainha dos Deuses, e como, ela se perguntava, uma rainha não seria a mais bela das mulheres? Tinha certeza de que conseguia derreter milhares de corações, e achava que isso era prova o suficiente de que merecia a coroa da beleza. Ela merecia, na verdade, todas as coroas.

A única pessoa que a fazia sentir-se insegura quanto a sua beleza, no entanto, tinha acabado de entrar em seu quarto. Zeus suspirou como se estivesse cansado de mais um dia de trabalho, e não tardou para notar a presença de sua esposa. Sorriu carinhosamente e caminhou até ela.

Hera parou de pentear seu cabelo ao sentir as mãos grandes e quentes de Zeus tocando seus ombros.

- Querida. – Disse e beijou sua bochecha. Hera deu um meio sorriso, mas ele não pareceu notar que ela estava incomodada com algo – Como foi o seu dia?

- Agradável, creio. – Respondeu em um suspiro. Zeus assentiu e foi em direção ao armário do quarto. Enquanto ele trocava de roupa, Hera o observava pelo espelho.

Seu marido já tinha tido centenas de casos com mortais pelo mundo inteiro. Ela se questionava, na maior parte do tempo, se aquilo não era sua culpa. Parte dela achava que ele buscava outras mulheres, porque ela não era bonita o suficiente.

Era claro que ele não estava realmente interessado em saber como fora o dia dela. Suas perguntas eram meramente movidas por educação, um simples cumprimento. Tanto que estava mais entretido procurando um de seus pijamas do que estaria ouvindo a real resposta dela.

Zeus estava vestindo só uma cueca branca, enquanto analisava as peças no armário. Ele não parara para analisar o que ela estava vestindo. Hera usava uma camisola quase que transparente, mas não conseguiu prender o olhar dele por mais de segundos.

A Deusa ficou com tanta raiva, que acabou se descontrolado. Ela lançou a escova que segurava em direção a Zeus, desejando acertá-lo bem no meio da testa. Infelizmente, ela chocou-se contra a parede, fazendo o Deus dos Deuses arregalar os olhos.

- O que deu em você, Hera?! – Exclamou sem esperar aquilo.

- O que deu em você?! – Sibilou com raiva. A Deusa respirou fundo e colocou-se de pé. Segurou a cadeira na qual estava sentada e apertou-a na tentativa de controlar sua raiva – Eu sou bonita, querido?

Zeus piscou os olhos.

- Claro. – Respondeu como se fosse óbvio. Hera bufou.

- Então por que você está mais preocupado com uma roupa do que com o meu corpo? – Reclamou. Ele balançou a cabeça.

- Por que está frio, e eu quero me vestir. – Respondeu como se também fosse óbvio. Hera fechou os olhos a passou as mãos pelo rosto – O que houve?

- Não dá para acreditar em você. Simplesmente não dá! – Gritou chutando a cadeira. Hera marchou para a cama e sentou-se lá.

- Hera, você é bonita. – Repetiu ele dando alguns passos em sua direção. Hera quase explodiu.

- Mentira! É mentira sua! – Exclamou com a voz desafinando de tanta raiva – Olhe nos meus olhos, seu mentiroso, e diga que você não preferiria Afrodite vestindo isso!

Ela apontou para sua camisola, e Zeus levou alguns segundos olhando-a. Ele balançou a cabeça.

- Mas é claro que não, meu amor.

- Mentira! – Rugiu socando o colchão – Milênios com você e ainda acha que eu não sei identificar quando está tentando me enganar?!

Zeus aproximou-se e sentou na frente de Hera. Seus olhares se encontraram, e ele notou que a Deusa estava quase chorando de tanta raiva.

- Hera, o que Afrodite tem a ver com você? Por que está tão irritada? – Perguntou com calma. Ela cruzou os braços e se negou a responder – Foi algo que eu fiz? Algo que eu não fiz? Eu tenho andado ocupado, meu amor, mas achei que fosse entender isso melhor.

- Não é o seu trabalho, idiota! – Reclamou.

- Então o que é? Hera, eu não vou conseguir adivinhar se você não me contar. – Falou com a calma que faltava a ela.

- Acha Afrodite mais bonita do que eu, não acha? Diga a verdade. – Exigiu ela. Zeus piscou os olhos, achando que estava dentro de um pesadelo, mas viu que tudo aquilo estava mesmo acontecendo. Ele estava sendo questionado a escolher entre sua esposa e Afrodite.

Sabia que Hera notaria caso ele mentisse, por isso resolveu ser sincero. Do modo mais sutil de todos, claro.

- Hera... Afrodite é a Deusa da beleza. Ela é a mais bela das Deusas, mas isso não quer dizer que eu... – Ela o interrompeu.

- Por que ela é a mais bela?! – Exclamou a Deusa – Foi porque ela ganhou aquela competição estúpida e injusta?!

- Isso não quer dizer que você não seja linda. Para mim você é linda, está ouvindo? – Perguntou segurando seus braços. Hera trincou os dentes.

- Acha que eu ganharia se tivesse uma revanche? – Quis saber.

- Revanche? Bem... – Ele parou para pensar, e depois negou com a cabeça – Não.

Zeus estava morrendo de medo de levar uma surra ou te ser obrigado a dormir no chão – já que eles não tinham um sofá. Ou dos dois. Hera, no entanto, resumiu-se a jogar-se na cama, cobrir-se com o lençol e fechar os olhos com força.

- Eu vou mostrar para você, seu cafajeste imbecil. Vou ganhar de Afrodite e fazer você engolir a minha nova coroa. – Resmungou antes de fingir-se de morta e ignorar a presença de seu marido.

- Engolir uma coroa? – Murmurou confuso.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado. Vou tentar responder seus reviews antes do próximo capítulo, então podem comentar!

Quem quiser recomendar a fic também, sinta-se a vontade (a autora aqui agradece).

Beijos para vocês que acompanham! Obrigada por lerem.