[[Just the way it goes]]
ATO 22: Jack

Girei meu corpo para olhar aquela figura parada a minha frente. Depois de seres de planos espirituais muito peculiares, me assustei com aquele rapaz magro que deveria ser mais novo do eu, usando um simples e surrado terno preto, sujo de sangue nos punhos e no colarinho, aliais, todo aquele cara estava coberto de sangue. Seu rosto estava sujo e até em seus sapatos havia gotas de sangue.
- Gerard...? Quem é esse cara? – Mikey dizia enquanto nos colocávamos de pé novamente.
- O nome dele é Jack....
- Você o conhece?
- Não. – respondi e dei dois passos na direção de Jack. Ele inclinou a cabeça pra esquerda com um olhar divertido. Eu sentia algo tomando conta de mim, a mesma coisa que me possuiu quando matei Destino na igreja.
- Você estava demorando. – ele pareceu sorrir quase como um demônio. – Então vim atrás de você.
Não disse nada, apenas o fiquei encarando.
- Você é um enviado do céu. Eu sou enviado do inferno. – ele jogou a cabeça pra trás, seus cabelos sequer se moveram.
- Sou um enviado da morte. – corrigi e minha voz pareceu estranha com aquelas palavras.
Jack riu:
- Então, eu também sou um “enviado da morte” como você! Não entende? Eu apenas estou punindo aqueles que merecem, descontando nos maus o que fizeram comigo... Eu estaria errado?
- Não. – fui sincero.
Ele pareceu gostar.
- Qual é a sua recompensa por essa missão? – ele me perguntou.
- Vou reencontrar a mulher que eu amo. E a sua?
- Hm... É parecida... Também tenho alguém me esperando. Tenho apenas que trocar as almas desses condenados pela minha passagem para reencontrá-la. Somos meio parecidos, não?
Realmente. No fundo do meu coração eu saberia que também aceitaria qualquer proposta pra ter a Morte de volta. Mas sentia pena, ao mesmo tempo, desse cara. Ele estava louco, era visível que estava consumido pelo inferno. Ele era demoníaco.
Ele era, de qualquer forma, um obstáculo que eu iria ter que superar, mesmo que isso significasse que um de nós não teria a sua promessa cumprida ou pelo céu ou pelo inferno.
E eu estava decidido de que não seria eu.
- Não vai ser fácil. – ele continuou. – Eu não vou deixar que seja fácil, não é assim pra mim e não será pra você.
- Eu não estou pedindo pra ser. Ambos temos muito a perder e muito a ganhar.
- Concordo. – ele disse tirando duas pistolas de dentro do casaco.
- Gerard! – Mikey gritou atrás de mim. Eu já havia me esquecido que ele estava ali.
- Mikey, - eu disse sem olhá-lo – isto é o que eu preciso fazer.
- Como é? Que conversa é essa? Vocês estão doidos?
- Mikey vá embora. – mandei.
- O quê?- ele gritou.
- Vai pra casa.
- Não! – ele gritou mais alto.
Aquela fumaça saiu dos meus poros, eu fechei o punho sobre ela. Rapidamente ela tomou forma, tornou-se matéria. Eu sentia em minhas mãos o cabo de madeira da minha foice.
Ouvi um baque atrás de mim. Mikey caiu sentado no chão.
- Q-que diabos é isso? – ele apontava trêmulo. – Saiu de você...
Eu me virei pra ele e dessa vez eu me agachei a sua frente.
- Mikey, existe algo que só eu posso fazer. Só eu posso enfrentar esse cara e eu tenho que fazê-lo parar para conseguir o que eu quero. Pra poder ter uma promessa cumprida. Você não me entenderia...
- Cala a boca! – ele disse. – Você está completamente louco! Eu não quero entender! Quero que você pare com isso!
Fiquei em silêncio o encarando. Ele estava em pânico.
- Não posso. – me levantei e disse para Jack me distanciando de Mikey. – Podemos ir para outro lugar?
- Não Gerard! – Mikey gritou se levantando as pressas.
Jack sorriu, voltou a guardar uma das pistolas e estendeu a mão livre pra mim. Meu corpo foi ficando dormente e eu podia ver minhas pernas sumindo como areia carregada pelo vento. O mesmo acontecia a Jack a minha frente.
- Gerard! – ouvi Mikey gritar de novo. Meu peito e meus braços viravam areia.
Minha cabeça pairava no ar como uma assombração. A virei sobre um pescoço inexistente e olhei para Mikey. Ele correu pra mim enquanto eu sumia.
Senti seus dedos me tocarem quando meu ultimo fio de cabelo desapareceu.