Deathwish escrita por Nero00


Capítulo 21
Capítulo 21




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[[Just the way it goes]]
ATO 21: Febre

Eu vinha pensando em alguma coisa, qualquer coisa pra dizer, mas as palavras pareciam que sequer chegavam a se formar em meu cérebro.
O ar estava gelado, a rua estava meio molhada e o sol sumia por trás de nuvens cinzentas. A cada instante que Mikey ficava sem falar, eu ficava mais deprimido. E vinha pensando em coisas, tipo em como faria pra encontrar o tal cara que teria que matar “de novo”, se poderia ver espíritos, fantasmas, espectros ou qualquer coisa do gênero e o pensamento mais freqüente que me vinha era onde a Morte estava... Eu me pegava pensando nisso a cada dois segundos de solidão.
Foi quando passamos na frente de uma casa. Uma casa que eu conhecia bem e que freqüentava bastante durante o colegial, a casa onde Ray morava.
Mas era óbvio que ele não estaria ali. Estava morando em Nova York, eu sabia. Às vezes nos víamos, como se Nova York fosse pequena o suficiente para nos proporcionar esses encontros freqüentes demais.
Mas Ray não estava ali. O meu coração me pregava uma peça, sentia que a qualquer momento a porta da frente se abriria e Ray sairia sorrindo me perguntando por que havia bebido se eu já sabia que não conseguiria chegar em casa depois e viria bater na porta dele.
Senti saudades. Senti saudade de meus amigos. Lembrei que tratei Frank muito mal e ele sequer sabia o inferno que eu estava vivendo.
A casa onde Ray morava com os pais ficou pra trás e meu pescoço foi se virando enquanto ela se distanciava na velocidade de nossos passos lentos.
Fomos subindo a rua. Eu estava inquieto.
Mikey me olhou pelo canto dos olhos e afagou meu braço. Eu me assustei quando ele me tocou. Seus dedos queimaram minha pele.
- Meu Deus! – eu gritei segurando o pulso dele e levando a minha mão a sua testa - Você está ardendo em febre!
- Não! É você que está congelado! – ele também disse alto. – Vamos voltar pra casa!
Ele me puxou pela mão.
- Mikey... – eu disse confuso.
- O quê é isso? Porque seu corpo está tão frio? – ele dizia sem parar. – Será que você adoeceu?Estava com tanto frio assim? Porque não me disse?
- Mikey! – eu o puxei e o abracei.
E ele me queimou mais. O abracei como não fazia há anos. Ele ficou imóvel apertado contra o meu corpo.
- O q-quê foi...? – ele gaguejou.
Não respondi. E encostei a cabeça na dele.
- Você está tão gelado, Gerard. Vamos pra casa, talvez pra um hospital...
- Eu amo você... – disse.
Ele me olhou por um instante meio confuso e disse com obviedade:
- Também amo você... Você é meu irmão.
Eu não sei explicar o porquê, mas meus olhos se encheram de água. E chorei, chorei muito e incontrolavelmente, de me agachar no chão e esconder a cabeça entre os joelhos.
- Mas o que foi? – Mikey se agachou a minha frente, sua voz era um misto de pena com desespero.
Eu chegava a soluçar. As lágrimas rolavam loucas pelo meu rosto, há quanto tempo mesmo elas estavam abafadas dentro do meu coração?
- Gerard... Me diz o que você tem? Está assim por causa da vovó...? – era de dar dó o jeito como ele falava, ele não sabia o que dizer ou fazer. – Me diz, vai? É isso?
- Mikey... – eu tentei enxugar o rosto na manga da camisa. – Aconteceram tantas coisas...
- Eu sei... – ele pousou a mão sobre a minha cabeça.
Não. Ele não sabia, nem sequer podia imaginar.
- Ouça. – eu disse agarrando a mão dele. – E-eu tenho que fazer algo... Tenho que ir a um lugar.. – eu continuava sem saber pra onde deveria ir, ou o que deveria fazer pra começar a minha busca por aquele tal de “Jack”, mas senti uma necessidade tão grande de desabafar ao menos o que acabara de dizer pra Mikey, eu nunca arriscaria revelar algo perturbador demais pra ele compreender.
- “Fazer algo”? – repetiu. – Não! Não dá! Olha o seu estado! Não vou deixar você ir pra lugar nenhum!
- Não. Eu PRECISO ir!
- Então, me leva junto!
- O quê? Não, não dá!
- Me diz o que você vai fazer!
- Você vem atrás de mim? – disseram a nossas costas. – Gerard Way...?
Pelas lentes dos óculos de Mikey vi apenas um vulto escuro refletido e vi também os olhos de Mikey, perdidos e vazios contemplando assustado o recém-chegado.

 


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