Segredo escrita por thana
O Filipe só passou mais uma noite no hospital, no dia seguinte ele voltou para o quarto dele, isso foi bem na hora que eu tava voltando dos treinos da tarde, o resto do pessoal tinha ido para algum lugar que eu não me importava e eu tinha que ir para meu castigo. Ele tava acompanhado de um enfermeiro.
— Ok! _ ele ia dizendo para o enfermeiro _ eu me viro daqui.
— Você precisa de ajuda _ o homem ia dizendo _ senão pode piorar a sua situação.
— Eu não preciso de baba _ o Filipe falou.
O enfermeiro tava pronto para protestar quando o Filipe me viu.
— Olha ai _ e ele apontou para mim _ a minha parceira já chegou, ela me ajuda agora.
— Tudo bem _ eu ouvi enfermeiro falar quando eu me aproximava do meu quarto, não deles, que por acaso ficava próximo _ ele só vai precisar de ajuda para se vestir _ eu olhei com uma expressão confusa _ e tomar os remédios no horário _ e colocou na minha mão uma sacola cheia de caixinhas.
Eu continuei olhando para o enfermeiro, mas ele não tava nem ai, ele se virou e foi embora.
— Que cara chato! _ o Filipe foi dizendo enquanto tirava a sacola da minha mão.
Continuei calada, o Filipe se virou e entrou no quarto dele. Eu sei que deveria ter oferecido ajuda, mas eu me virei também e fui para o meu quarto.
Eu fiz o que já tava sendo costumeiro, tomei banho, e comecei minha lição e foi ai que me lembrei que tinha que passar o assunto para o Filipe também. Então eu catei alguns cadernos e me dirigi até o quarto dele, não queria ter que fazer a mesma coisa duas vezes, e a Brenda não tinha mais falado sobre dividir as matérias.
Bati na porta.
— Já vai _ ouvir a voz abafada dele.
Eu esperei por um tempinho, mas logo ouvi um resmungo. Eu bati novamente, mas dessa vez eu não quis esperar por uma resposta e entrei.
Encontrei o Filipe com a cabeça presa no buraco da camisa, um braço vestido e o outro, o fraturado, não.
Eu não falei nada, fui até ele e tirei a blusa e o ajudei a vestir corretamente, é claro que o braço com gesso deu um pouco mais de trabalho.
— Obrigado _ ele agradeceu pegando a toalha com o braço bom e enxugou os cabelos ainda encharcados _ você quer alguma coisa? _ ele parecia surpreso.
— Eu só vim te passar a matéria _ eu peguei os cadernos e coloquei encima da cama dele.
— Já? _ e ele fez uma cara triste _ eu voltei do hospital hoje, pensei que ia ter mais um tempinho de folga.
— Eu pensei em adiantar logo _ fui dizendo _ Cadê os seus cadernos? _ eu perguntei.
— No meu armário _ e ele apontou para o armário.
Até aquele momento eu não tinha observado o quarto, que era diferente do meu, não pelo fato de ser um quarto de menino e de menina, mas porque o dele era bem simples, só tinha uma cama e um armário, as paredes eram totalmente brancas, com uns posters de pessoas andando de skates e de alguma banda que eu nunca ouvi falar.
Abri o armário, que estava uma bagunça, e peguei os cadernos dele que estava encima de tudo.
Me sentei no chão e usei a cama como mesa para copiar a matéria.
— Quando você volta para os treinos? _ eu perguntei começando a escrever.
O Filipe se deitou na cama com o braço bom atrás da cabeça.
— Sei lá _ ele respondeu _ acho que eu já posso participar de alguns treinos _ ele respirou fundo _ a Dra Julia disse que falou com o treinador físico para eu, por hora, não participar do treino, mas ela não falou nada dos outros treinos.
Eu bufei.
— Eu bem que queria não ter que acordar cedo amanhã _ comentei ainda escrevendo.
— Mas você não precisa _ ele disse se sentando na cama _ amanhã é sábado, não tem treino _ eu olhei para ele incrédula.
Eu tava meio que perdida com relação ao tempo ali dentro, ainda me perco às vezes.
— Então, que bom _ eu falei voltando para o caderno.
Eu comecei a passar as matérias/aulas que me pareciam menos chatas, como por exemplo, profissões.
Minha letra meio que destoou um pouco, porque a letra do Filipe era um desastre, enquanto a minha era, e ainda é, bem caprichada.
Os cadernos que eu já tinha terminado ia passando para ele, na intenção de que ele os lesse, mas ele simplesmente os fechava.
— Você sabe que tem que estudar tudo isso, né? _ eu perguntei, apontando para os cadernos ao lado dele.
— Isso é muito chato _ ele resmungou jogando as pernas para fora da cama _ eu prefiro assistir as aulas.
— Então da próxima vez que tome mais cuidado com o seu skate _ eu respondi enquanto escrevia novamente, agora faltava menos _ e não deixe ninguém danificar ele.
— Eu não tive culpa _ ele reclamou _ era regra do torneio o skate dormir lá.
Eu dei uma risada discreta, pelo menos eu achei que era discreta, mas ele viu.
— Que estranho _ ele falou olhando para mim.
— O que? _ eu perguntei parando de escrever novamente, tava começando a ficar com a mão doendo.
— Você rindo _ ele respondeu _ eu nunca te vi rindo.
— Eu riu sim _ eu protestei.
— Sem duvida _ ele disse se sentando no chão também _ mas não aqui.
Eu pensei bem no que ele dizia e de fato até então rir era uma coisa que eu não vinha fazendo muito, eu também não tinha muitos motivos.
— Continue assim _ ele falou encostando a cabeça na beira da cama e fazendo uma careta.
— Ta sentindo dor? _ eu perguntei, retoricamente, porque ninguém fazia careta se não fosse por dor ou algo do tipo _ não tem nenhum remédio nessa sacola que sirva para isso não?
— Acho que tem um _ ele falou sem abrir os olhos.
Eu olhei ao redor procurando pelos remédios.
— Cadê a sacola? _ eu perguntei quando não a achei.
— Eu guardei no armário.
Me levantei e vasculhei o armário dele mais uma vez, achei a sacola jogada de qualquer jeito ali dentro, a peguei e voltei para onde ele tava, tirei todos os remédio olhei de um por um. Tinha muito suplemento de vitamina c e de cálcio, e achei um que tinha escrito na caixa que era um analgésico, paracetamol. Nele tinha um pedaço de esparadrapo colado e tinha escrito “tomar a cada quatro horas ou quando sentir dor”. Pegue um comprimido e passei a ele.
— Vou ter que tomar assim mesmo? _ ele perguntou.
— Assim como? _ eu devolvi a pergunta.
— Sem água nem nada _ ele respondeu _ você já viu o tamanho disso?
Ele segurou o remédio entre os dedos para me mostrar, era grandinho.
— Eu não to vendo nenhuma água aqui _ eu dei uma olhada ao redor.
— Eu acho que tem uma garrafa de água na minha mochila.
Eu comecei a me levantar para ir até o armário novamente para procurar a tal mochila, mas ele me parou:
— Aonde você vai _ ele falou olhando para mim_ minha mochila ta aqui embaixo da cama.
Olhei para ele esperando ele dizer que era uma piada, mas ele voltou a recostar a cabeça na cama de olho fechado. Olhei por debaixo da cama, tinha muito lixo ali embaixo e poeira, eu fiquei amedrontada.
— To achando não _ eu disse me sentando novamente _ engole assim mesmo.
Ele olhou atemorizado.
— Não _ ele falou _ ta ai sim _ ele disse desesperado _ procura de novo.
Eu respirei fundo e olhei de novo.
— Eu não to vendo nada _ eu falei ainda olhando por debaixo da cama.
— Ela deve ta lá no fundo _ ele encorajou _ coloca a mão para ver se você acha.
Eu ergui os olhos para ele, mas coloquei o braço até a metade, eu torcia para que nada subisse nele. Apalpei pelo chão, eu sentia algumas coisa, uma eu identifiquei sendo no mínimo uma revista, fui procurando com o tato até que eu bati em algo que de inicio eu achei que fosse um travesseiro, mas percebi uns zipes nele, finalmente tinha achado a mochila. Puxei, ela já tava cheia de poeira, dei uma batida.
— Deve ta no bolso maior _ ele me avisou.
Eu encontrei a garrafa de água pela metade, abri e entreguei a ele. O Filipe colocou o remédio na boca e em seguida tomou um gole de água.
— Agora é só esperar fazer efeito _ ele voltou a recostar a cabeça na cama e fechou os olhos.
Eu voltei a escrever.
— Sabe do que eu senti muita falta? _ o Filipe voltou a falar _ da Nina.
Eu fiquei intrigada.
— Quem é Nina? _ perguntei parando de escrever mais uma vez.
— O meu amado skate _ ele suspirou.
— Por que se chama Nina?
— Porque quando eu achei, eu andava para cima e para baixo com ele _ ele tinha aberto o olho para me contar a historia _ então o Derike disse que o skate era meu parceiro, então eu disse que se fosse assim eu preferia que fosse uma menina então o Jonas brincou dizendo que o skate era a minha namorada e que eu precisava dar um nome para ela, eu escolhi Nina ai eu carrego a Nina desde então comigo, carregava pelo menos _ ele terminou com pesar na voz.
— E por que esse nome? _ eu insisti _ Nina?
— É o final da palavra meNina,
Eu revirei os olhos.
— Você disse que achou? _ eu puxei o assunto.
— É _ ele continuou _ ela tava jogada em um lixo lá na recreação.
— O skate já tava velho?
— Usado _ ele corrigiu _ mas a prancha tava boa e as rodas também, eu não sei por que alguém a jogaria fora.
— Você já sabia andar de skate? _ eu perguntei sem muito interesse.
— Um pouco _ ele respondeu pensativo _ eu aprendi quando pequeno.
Eu continuei escrevendo.
— Se o João não tivesse me dito que talvez alguém tivesse danificado eu acreditaria que teria se rompido por uso _ eu comentei terminando mais um caderno.
— Por falar nisso _ ele disse _ teve alguma noticia sobre ela?
— Ela quem?
— A Nina _ ele respondeu.
— Não, mas se ele acha mesmo que foi alguém querendo te prejudicar não volta tão cedo _ falei me lembrando das series policiais, quando tinha uma pista do crime eles sempre guardavam em uma sala até desvendar o crime _ mas de qualquer forma você não pode andar ainda de skate.
— Mas ela me fazia companhia _ ele suspirou novamente _ e agora me faz falta.
— Se o que o João acha for verdade _ eu comecei a falar _ quem você acha que quis te tirar do campeonato?
— Se for só para me tirar do campeonato eu to no lucro _ o Filipe disse _ mas eu acho que pode ter sido o Marcos, ele não vai muito com a minha cara.
— Por que, hem?
— Sei lá _ ele me respondeu _ o nosso santo não bate.
— Por que você não quis que a Brenda soubesse da historia da sabotagem? _ eu perguntei me lembrando que na hora que eu ia contar para o Brenda o assunto da conversa ele me interrompeu de propósito.
— Para ela não se preocupar _ ele disse se levantando e voltando para cama.
— Só por isso? _ eu duvidei.
Ele ficou em silencio, como se tivesse pensando se era melhor ou não falar algo.
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