- Tem certeza que não quer vir para a escola comigo? – perguntei pela vigésima vez para Carter, enquanto tomávamos café da manhã.

 - Nah. Eu iria causar muita confusão e as pessoas iam notar demais a gente. Sei que não gosta de chamar atenção.

 - Como você iria causar confusão?

 - Com a minha aparência, ué!

 - Nossa. Você é tão modesta. – disse irônica mesmo sabendo que era verdade.

 - Além do mais – ela disse, ignorando o meu comentário – Eu não quero ir para a escola! Eu to aqui para descansar e me divertir.

 - Ta bom. Mas promete que irá lá no final para conhecer o Jeremy e a Ryan? – passei a noite passada inteira atualizando a minha prima com todas as coisas que aconteceram por aqui. Minha mãe ficou bem surpresa ao vê-la, mas depois ficou toda amável e parece que por enquanto ela vai me dar uma trégua. Mas vai ser a Carter ir embora que eu vou estar morta. Ah! Tomara que ela nunca vá!

 - Hum... – ela murmurou – Vou pensar no seu caso.

 - Pensar no meu caso? – disse sorrindo e jogando um guardanapo amassado nela.

 - Jeremy. – Josh disse – É o seu namorado?

 - Não. – disse respondendo o meu irmãozinho – Ele é meu amigo.

 - Uuuuu! – Carter e Josh se entreolharam e disseram na mesma hora – Melanie e Jeremy sentados em uma árvore... – começaram a cantar

 - Carter. – olhei ameaçadoramente para ela – Josh. – fiz o mesmo com ele. – Calem a boca. – e eles se calaram, mas ficaram dando risadinhas quando me levantei e subi as escadas.

 Hoje eu ia com um vestidinho florido. Estava feliz. Mais do que feliz. Minha melhor amiga de sempre estava aqui. Eu tinha dois amigos incríveis. E o capitão do time de futebol queria sair comigo. Quando foi que a minha vida ficou tão boa? Ah é. Ontem.

 - Gostei do seu vestido. – Carter apareceu atrás de mim no espelho. – Talvez algum dia desses, você não o ache no seu armário.

  - Vai começar a roubar as minhas roupas de novo?

 - Não é minha culpa se temos as mesmas medidas e o mesmo gosto.

 - Então de quem é a culpa? Porque alguém tem que ser culpado por essa desgraça.

 - Huh. – ela colocou a mão no peito e fez uma cara de indignação. Mas a desfez e me respondeu. – A genética.

 - O quê? – disse olhando o celular.

 - A culpa. É da genética.

 - Ah é. Tenho que ir. O quê que você vai fazer até eu voltar?

 - Sei lá. Talvez eu saia. Talvez não. Posso ver TV, ler um dos seus quinhentos livros. Experimentar as suas roupas para ver qual que fica melhor em mim para eu poder roubar.

 - Azul fica melhor na gente. – parei – Espera. O quê que eu estou falando? Quero ver todas as minhas roupas ai quando eu voltar.

 - Ai. Ta bom.

 - E eu vou checar.

 - Já entendi!

 - Q bom. – disse sorrindo – Tchau. Te amo.

 - Também te amo.

Desci as escadas correndo e parei perto da minha mãe.

 - Vamos?

 - Isso ainda não acabou mocinha. Ainda temos muito o quê conversar.

 - Então você vai querer conversar? – disse com um pinguinho de esperança dentro de mim.

 - Não fique tão feliz com isso. – ela disse secamente

 - Mas é uma chance da gente se entender. – ela se virou e pegou a sua bolsa. Peguei a minha e fui saltitando até o carro. “Wrecking Ball” começou a tocar no rádio e eu aumentei o volume. A música era ótima, mas quando assisti o clipe eu só tive mais certeza ainda que onde a Miley Cyrus deveria mesmo estar é no hospício. Eu e Josh cantamos a música em plenos pulmões até a minha mãe desligar por não aguentar a nossa “bela cantoria”.

 - Melanie. – minha mãe me chamou, quando eu desci do carro.

 - Oi?

 - Fez as pazes com aquele garoto?

 Assenti com a cabeça, sorrindo.

 - Que bom. – uma fração de sorriso apareceu em seus lábios, mas sumiu rapidamente. – Ande logo. Se não vai se atrasar. 

 Corri pelo corredor porque, bem, eu estava muito animada e com vontade de correr. Até que tropecei e quase cai de cara no chão. Quase. Fortes braços me seguraram e me viraram e eu estava de cara com Jordan. Perto, perto demais.

 - Você está bem? – perguntou, sem tirar os olhos dos meus.

 - Aham. Obrigado. – Nossos narizes estavam se tocando. Anda Melanie, uma voz na minha cabeça murmurava, beija ele. Mas com sorte eu ignorei-a, se não ia ser muito constrangedor. Jordan ainda estava me encarando, sem diminuir o aperto dos seus braços.

 - Você tem olhos muito bonitos. – ele murmurou, chegando mais perto.

 - Obrigada. – disse, corando, e dando um passo para trás, mostrando claramente que eu estava desconfortável com a situação. O aperto diminuiu e me livrei de seus braços. Ele usava o típico casaco vermelho do time e tinha um sorriso fofo nos lábios.

 - Oi. – ele disse.

 - Oi.

 - Então. – ele parecia nervoso e ansioso. – Sobre o nosso encontro.

 - Hum.

 - Pode ser na hora do almoço?

 - Claro. Aonde?

 - Me espere na porta do refeitório. Eu te levo. Vai ser uma surpresa.

 - Então ta. – disse sorrindo, o sinal tocou. – Tenho que ir.

 - Eu também. – ele se aproximou de mim e me deu um beijo na bochecha. – Tchau.

 - Tchau. – murmurei meio tonta. Dando meia volta.

Não olha para trás. Não olha para trás. Não olha para trás. Tarde demais. Olhei para trás e encontrei o olhar dele. Virei rapidamente, com um sorriso de uma criança que foi pega fazendo besteira. Pensei sobre isso e ri.