Neko no Noroi escrita por Nacchan


Capítulo 5
Capítulo 5




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 Depois que já tinha sido possuído pela maldição, uma vez tentei tingir meu cabelo. Na verdade a idéia fora de minha mãe, esse seria um bom meio de se camuflar com as pessoas normais. Então ela pegou a tinta, lembro até hoje de como tinha um cheiro forte, passou no meu cabelo e deixou um tempo. Ardia e coçava ao mesmo tempo, mas depois de meia hora lavamos e era quase um milagre, meu cabelo novamente estava castanho, não da mesma tonalidade do que tinha antes, mas o importante era que não estava mais vermelho. Foi um alívio, uma pequena alegria que durou pouco. Na manhã seguinte voltou aos poucos no mesmo tom irritante de vermelho.

 Não entendo como as pessoas da “superfície” podem ser tão exageradas... Essa ferida não era nada se comparada com as que normalmente eu recebia. Algo como um corte superficial de uns 15 centímetros percorrendo do meu peito esquerdo até o meu umbigo, não era realmente alarmante. O que mais preocupava era que, ao proferir o golpe, o inimigo também cortou minha blusa e esta rasgou de tal modo que deixou exposta todas minhas cicatrizes e, pior ainda, também o símbolo da maldição.

 Aquele que me cortara, vendo a tatuagem, ficou um pouco surpreso e então sorriu levemente, afastou-se e pegou o ferido – o da kunai –, ambos fugiram, deixando para trás os três companheiros desmaiados. Não os segui por que Mayumi se agarrou a mim e começou a chorar desesperadamente, nem reparou no meu corpo, pois agarrara minhas costas, que ainda estavam cobertas pela blusa.

 Passei a mão na cabeça dela e disse:

 - Pronto, já foram, pode se acalmar agora. – E sorri falsamente.

 Ela me olhou, cessando o choro, mas ainda com uma expressão triste. Se não a conhecesse, podia até falar que era meiga, mas sendo Mayumi...

 - Você está bem?

 - Sim, sim...

 - Ah, seu ferimento! – E se desgrudou de mim, indo até o corte.

 - Não é realmente necessário...

 Ela parou surpresa quando viu a tatuagem e as cicatrizes. Passou a mão de leve e viu o formato do gato se mexer. Assustou ainda mais, dando um passo para trás.

 - Você... Aonde você-

 Suspirei.

 - Acho melhor irmos ver como os outros estão.

 Mayumi parecia totalmente perdida, então tentei inutilmente cobrir meu peitoral com os restos da blusa, fazendo com que finalmente ela parasse de olhar a tatuagem se mexer... Peguei em seu braço e a puxei até onde os outros estavam.

 Ryuu estava puxando os quatro inimigos que havia capturado, todos desmaiados amarrados juntos por uma corda grossa. Kanro estava tentando ajudar Ryuu e Tisha estava parada quieta longe do tumulto.

 Ao verem que estávamos chegando, Ryuu deu um salto de surpresa e alegria em nossa direção e abandonou Kanro.

 - May-chan, está tudo bem? – Ele parou por um instante ao me ver, então foi mais alegremente ainda. – Garu-kun! Você também está aqui! Ah, está ferido?! – E agarrou minha blusa. Por um momento, ele fez exatamente a mesma expressão que Mayumi, de surpresa, talvez até de medo.

 Então voltou a me encarar, e disse:

 - Você está bem? Tem um corte enorme aqui!

 Hãm? Ele não viu a tatuagem se mexendo...?

 Kanro surgiu atrás dele e me pegou no colo, como se não pesasse nada.

 - Ei! O quê você está fazendo?! Me ponha no chão! – Gritei.

 - Não, não, não. Você está ferido e sangrando, temos que lhe levar rápido até o chalé para que May-chan possa cuidar disso!

 - Ah, é verdade! – Mayumi foi atrás de nós.

 Ela ficou meio relutante em dar os pontos, sempre atenta a tatuagem, não demorou muito também para que os outros chegassem. Ryuu sentou-se ao meu lado e ficou olhando atentamente enquanto Mayumi acabava de costurar.

 - Está doendo? – Perguntou ele, sorridente.

 - Não, nada. – Sorri de volta.

 - Normalmente doeria, sabe... – Disse Mayumi.

 - Ah, talvez seja por que você é uma ótima médica, Mayumi-san, eu não sabia. – Na verdade era bem acostumado com a dor, então isso não me fazia nem cócegas.

 - Toda equipe precisa de pelo menos um médico...

 - Sério? – Sorri.

 - Ei, Garu... O que é... Isso? – E olhou para meu peito.

 Eu relutei em responder, todos ficaram em silêncio.

 Por sorte ou destino, Satore-san chegou nesse momento, sorridente, dando de cara com esta atmosfera pesada com todos reunidos na pequena sala, nos encarou e disse, alegremente:

 - Olá~!

 Um profundo silêncio pairou por uns momentos até que ele me viu, deitado sobre o sofá e com todos a minha volta.

 - Caramba, Garu-kun! O que aconteceu?!

 - Você... Seu... Professor inútil! – Mayumi gritou, lançando-o um olhar de raiva.

 - Um grupo grande de inimigos atacou e Garu-kun se feriu protegendo May-chan. – Ryuu respondeu a pergunta inicial.

 - Garu-kun! – Ele se aproximou e segurou minhas mãos, com os olhos brilhando. – Sabia que você era um bom garoto!

 - E tinha alguma dúvida?! – Respondi.

 Ele pareceu notar algo, olhando em direção à tatuagem, fez uma careta e então brincou:

 - Uh, “isso” ainda está ai!

 - É claro que está! – Sussurrei, virando o rosto para o lado.

 - Hm, e o que é “isso”? – Pergunto Ryuu, inocentemente.

 - Ah, não é nada de mais, é só uma tatuagem que guarda uma tática de luta do meu clã, mas ele já está instinto, então eu também não sei muito sobre... – Menti.

 Não era muito útil me perguntar o que era “isso” se nem mesmo eu sabia ao certo. Quando ganhei a maldição, essa tatuagem veio junta. É quase como um lembrete. É horrível, anormal e bizarra. Dizendo em detalhes, ele tem o tamanho de um palmo, mais ou menos, tem a forma de um gato-montro, de pelagem vermelha, igual ao meu cabelo, e olhos também semelhantes aos meus. O que o tornava diferente de uma tatuagem normal era que se mexia livremente pelo meu corpo, porém normalmente ficava em torno da minha barriga, dormindo. Digo em sério, a tatuagem realmente se mexia... Eu não sei muito mais do que isso sobre ela, sei, claro, o que significa, mas não podia falar para eles e, pelo jeito, ninguém desconfiava tampouco.

 Depois disso, Mayumi começou a enfaixar o ferimento, cobrindo os pontos e parte do gato, que percebera a movimentação e acordou, espreguiçou-se e subiu para perto de meu ombro esquerdo, desviando das bandagens, onde voltou a deitar-se. Eu não sabia o que fazer, todos olhavam atentamente cada movimento do monstro, mas ninguém falava nada; Mayumi, distraída, até parou de rolar a bandagem...

 - Er... – Disse.

 - Ah, desculpa! – Mayumi continuou o seu serviço. – É que é muito estranho. Ah, mas não um estranho ruim, é interessante!

 - Interessante...? Haha – Me contive em dar uma risada sarcástica... Gostaria de poder falar tudo o que sinto, gostaria mesmo que alguém compartilhasse do meu sofrimento, que alguém entendesse ou aceitasse toda a verdade por trás da maldição. Provavelmente estes sentimentos estavam estampados em meu rosto naquele momento, pois Satore-san me olhou com pena e ele, que sabia da verdade, foi o único que de imediato não tentou me assassinar. Talvez seja o que mais me compreenda, porém também é o que pior me apóia, mesmo que ele não saiba na integra tudo o que desejo ou planejo.

 Daí em diante não aconteceu nada muito significativo. O senhor de terras, quando soube do atentado, decidiu voltar para as Terras Centrais, então o escoltamos até lá. Os Viginti pareciam incomodados por me fazer andar quilômetros mesmo estando ferido, o que para mim não era nada, eles pareciam fazer um alvoroço. Aliás, o ferimento era tão superficial que meus poderes de cura já o haviam cicatrizado horas atrás, então só o que restava era a coragem de falar isso para eles, me tratavam tão desesperadamente bem que era difícil falar a verdade.


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