Mas ao olhar para Bella ele questionou o por quê de parecer tão diferente, para ela era tão normal, simplesmente acordara, depois foi até a janela ao lado dele e o abraçou, seu corpo passando calor ao dele, o acolhendo, logo, ela o acariciou no rosto e ficaram ali abraçados enquanto o céu começava a mudar de tom para logo dar lugar ao brilho do sol.

- Você também se sente assim? – perguntou ele sem encará-la.

- Assim como? – ela o abraçou de frente, seus seios quase o alcançando no peitoral.

- Sei lá – ele deu de ombros – Diferente.

                Por um tempo aquilo ficou ignorado, deixando-os perdidos em pensamentos enquanto o sol começava a nascer, uma cena quase rara considerando que moravam em Forks, mas não menos bonita por isso, pelo contrário.

                Quando Renesmee despertou, Edward continuou estranhando não poder lhe ouvir os pensamentos, mas preferiu deixar quieto, talvez fosse um daqueles surtos de Bella novamente, é que havia vezes em que mesmo sem perceber Bella acabava “ativando” seu escudo, e quando o fazia sendo somente Bella e a filha ninguém podia ouvir as duas nem tocá-las e nem nada.

                Um barulho estranho foi o que lhe chamou mais a atenção, um ronco, com o cenho franzido encarou a Bella que parecia nada ter ouvido, até tentou ignorar, mas pouco tempo depois o ronco voltara, e ao abaixar um pouco a cabeça pode concluir que vinha direto do seu... Estômago? Franziu o cenho, não era possível!

                Bella sentiu uma vontade incrível de rir, a cara que Edward fazia naquele momento não poderia ser mais impagável, uma careta com um misto de surpresa, talvez de susto. Só não o fez por que por um lado o entendia, e desde que acordara já percebera o que acontecera, só não conseguia entender porque Edward agia como se algo sobrenatural estivesse lhe passando... Era mais do que óbvio! E só então Bella pode se tocar do que o desejo de Edward consistia, o motivo da cena que vira, no início não fizera sentido, mas agora tudo fazia sentido, e com certeza seria uma oportunidade única. Nem que fosse apenas por um dia.

- O que foi? – ela perguntou ao constatar, minutos depois, de que a expressão de Edward ainda não havia mudado.

- Isso está estranho! – ele murmurou com o sorriso torto cada vez sendo mais substituído por caretas que Bella não conseguia decifrar.

- Não era isso que você queria? – ela questionou o abraçando, e por um instante ele pareceu relaxar, talvez por constatar que o contato entre os dois permanecia do mesmo modo, talvez por constatar o quão bom o calor que emanava do corpo feminino contra o seu podia ser.

- Eu só não podia imaginar que seria tão... – ele não soube exatamente como definir, na verdade acreditava que não havia definição para o modo como se sentia agora, era tudo tão diferente, tão estranho.

- Esquisito – ela completou vendo-o assentir, por que em parte era assim que ela também se sentia, por um dia voltaria a ser Bella Swan, aquela que pode ser uma ameaça para si mesma.

E para qualquer um que estivesse por perto.

- Pronto pra um dia diferente? – ela sorriu o vendo voltar a dar aquele sorriso torto que a desconcertava.

- Vamos – ele a segurou pela mão.

Passaram pelo quarto de Renesmee e o sorriso de Bella se alargou ao ver a pequena acordando, o cabelo castanho como o da mãe meio bagunçado como os de Edward sempre ficavam depois de deitarem, a carinha ainda meio amassada de sono, mas sempre sorrindo.

                Edward encarregou-se da pequena enquanto Bella, depois de ouvir o estômago de Edward roncar mais uma vez, se encarregava de preparar algo para comerem. Essa era a vantagem de ter em casa uma vampirinha meio humana ainda em crescimento, pelo menos havia o que comer além de sangue.

                Quando Edward voltou à cozinha com Renesmee já devidamente lavada e arrumada, um prato com panquecas o esperava, ele sorriu, não poderia nem contar a quanto tempo não comia algo assim. O simples ato de mastigar algo com gosto e que podia sentir descendo por sua goela já era estranho... E o barulho que até então não parara só fazia tudo mais complicado.

- Esse barulho nunca pára? – perguntou ele com o cenho franzido ao ver as caretas que a filha fazia ao ouvir.

- Coma querido – respondeu Bella maneando a cabeça – Uma hora para.

                Mas Edward não sabia que era especificamente por estar com fome, na época em que vivera como humano a fome não era algo difícil de achar. Em grande parte a população passava fome, talvez tenha até se acostumado com isso, principalmente quando a gripe espanhola começou a se aproximar, e então os estômagos já não tinham mais por que fazerem barulhos, pelo contrário, quanto mais faziam pior era, pois só lembrava a cada um da situação critica que passavam e o quão desagradável ela poderia ser.

- Então – Bella o tirou de seus devaneios – O que temos programado pra hoje?

- Passeio – anunciou uma animada e sorridente Renesmee.

- Surpresa – completou Edward dando uma piscadinha para a filha que sorriu ainda mais enquanto concordava.

                Bella maneou a cabeça, não havia como discordar, não depois de ver a animação da filha para o que viria. Sorriu para Edward minutos depois vendo que o estômago dele não roncava mais e isso o havia deixado muito mais relaxado, assim aproveitou para tomar seu café da manhã também, desfrutando do sabor amargo de café em sua boca, o qual parecia ainda mais saboroso do que em sua época de humana. Talvez a saudade de hábitos assim tivesse falado mais alto.

- Você já percebeu o que aconteceu, não foi? – perguntou ela com o cenho franzido, normalmente não eram muitas as ocasiões em que podia dizer ter se saído melhor do que ele, bom, essa era uma exceção.

- Já – disse ele sem dar muita importância, parecia mais que ele ainda não acreditara.

- Só por um dia querido – sussurrou ela – Esse foi o seu pedido!

- Então vem – ele ficou de pé e a puxou pela mão – Vamos aproveitar esse único dia.

                E para apenas um dia, tudo estava muito belo, como se todos houvessem entrando em um acordo de fazer aquele dia o mais perfeito possível. Edward dirigiu o insubstituível, ao menos por enquanto, Mercedes preta, o tanque que havia dado a Bella antes de transformá-la e que Emmett e Jasper jamais permitiriam que ele simplesmente se desfizesse do carro. Ao menos em situações como essa, não que fossem ocorrer com mais freqüência, o carro tinha muita utilidade.

                A velocidade não lhe era problema, e no banco de trás e com o cinto devidamente afivelado, Renesmee mantinha o vidro ao seu lado aberto, deliciando-se com a sensação do vento batendo contra seu rosto, fazendo-a fechar os olhos enquanto o cabelo esvoaçava.

                Edward não pode evitar ficar olhando a filha pelo retrovisor, cada dia mais Renesmee se parecia com Bella, há única diferença era o cabelo que havia puxado mais para o tom bronze como o de Edward, e claro, o fato de ela não ser um completo perigo para si. Pelo contrário, Renesmee se mostrava cada vez mais graciosa, sem contar que já começara a adquirir alguns modos de vampiros, como as noites em que passava a dormir menos e a audição que parecia incrível para uma criança como ela.

                Deixou um instante de observar a filha para olhar para Bella, que muito calada os admirava. A estrada deserta não requeria muita atenção, ainda mais depois de tanto tempo dirigindo por aquela região. Sorriu segurando a mão dela, vendo-a sorrir também, Renesmee deixou o vento um pouco de lado os olhando, demonstrando cada vez mais interesse, e entusiasmo também, nas cenas de carinho entre seus pais.

                Ao olhar par o lado, o sorriso de Bella se alargou, reconhecendo exatamente o caminho que tomavam, mas logo voltou a se fechar ao vê-lo tomar outro caminho.

- Você já vai ver – sussurrou ele ao ver o pingo de curiosidade que ficara em Bella.

                Ela maneou a cabeça, ele tinha o dom para deixá-la curiosa.

                O carro deu uma volta pegando uma estrada de barro, de ambos os lados só se podia ver as altas árvores de floresta e o tempo meio sombrio, por ali quase nunca se podia ver o sol. Depois de outra volta, um solavanco. O sol apareceu fazendo o sorriso de Renesmee aumentar, ainda mais ao ver que os pais brilhavam como de costume, e diferente do normal, Edward e Bella pareciam bem à vontade com aquele solzinho lhes aquecendo o corpo.

                Renesmee mal esperou o carro ser estacionado para, inutilmente, tentar se soltar da cadeirinha em que estava presa, e ao não conseguir, a manha começou, os olhos no mesmo tom de Bella fizeram um charme manhoso que sempre fazia Edward manear a cabeça soltando um de seus sorrisos tortos, era só Nessie soltar aquele olhar, muitas vezes acompanhado de um bico, que ela o tinha na mão. Assim, não demorou nada para que ele saísse do carro e abrisse a porta traseira, soltando o cinto que a prendia e em questão de segundos Renesmee corria pelo lugar aberto e ensolarado.

- Eu cheguei a pensar que viríamos para cá – disse Bella o abraçando enquanto ambos viam a alegria de Renesmee enquanto corria por ali.

- Eu não podia te deixar andar todo esse trecho – disse ele com aquele sorriso torto na cara novamente – Seria um grande risco a correr! – e uma tapa lhe acertou o braço – Pelo menos nossa filha não puxou isso de você... Quer dizer, ela só não puxou isso de você!

- Mentiroso! – disse ela encarando a filha – Ela tem muito mais de você do que você diz...

Mas agora isso não importava, pois ali estavam eles no lugar que tantas coisas haviam vivenciado. A clareira continuava como sempre, aberta e com o poder de despertar tantas sensações em Bella, pois era inútil tentar não lembrar tudo que já passaram ali. O jogo de beisebol, os lobisomens e os vampiros juntos, a “caçada” aos recém-nascidos, há noite em que ela o levara para falar com Charlie sobre o casamento, a batalha final com os Volturi e tudo que ocorrera naquele dia. Muitas coisas, muitos momentos em muito pouco tempo.