O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 23
Capítulo 22 - Falsidade


Notas iniciais do capítulo

CATHAM! Capítulo novo, é :D Consegui um pc pra postar e tal, então estarei atualizando as fics o mais rápido que eu puder :3 Espero que gostem desse capítulo, acho que alguns corações shippers vão surtar nele.



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Quanto mais convivia com Clara, mais Analiese entendia a razão para Leharuin amá-la. Quando a princesa deu a notícia para a paciente jovem, ela viu a luz voltar aos seus olhos. Porque Leharuin voltaria por ela, porque Leharuin iria cumprir sua promessa...

Liese ainda não contara para ninguém... não sabia se deveria contar, embora fosse algo que ela não pudesse esconder por muito mais tempo. O fato era que a vida não era um conto de fada e as coisas não aconteciam como nos livros onde você encontra o seu amor e vive feliz para sempre. Não importava o que Lily dissera, a princesa não acreditava em tal coisa. Imagino que muitos de vocês estejam pensando: O que Analiese está escondendo? E vocês podem pensar: Oh, será que a jovem princesa está apaixonada? Bem, isso é um assunto para outra hora. A parte triste dessa história é que Analiese foi deserdada.

Um choque para muitos, suponho. Veja bem, o rei já não tem paciência para os sonhos amorosos de uma jovem. Ele insistia que ela deveria se casar com o príncipe herdeiro do reino vizinho e ela insistia que deveria se casar com alguém que amasse de verdade. E bem, Moros adora se meter na vida de seus fiéis.

— Se é incapaz de respeitar os desejos de seu pai, então não é minha filha deste dia em diante. — Alexis tentou contestar e Analiese ficou surpresa demais para dizer qualquer coisa. Porque nenhum livro que lera lhe mostraria isso... porque, para a princesa, havia apenas duas soluções cabíveis: ou seu pai lhe deixaria ser livre, ou acabaria sendo obrigada a se casar com um homem que sequer conhecia, mas que se apaixonaria por ele com o passar do tempo. Nenhum livro a avisou do risco de ser deserdada.

Ainda assim, a princesa não voltou atrás. Escolheu os vestidos mais simples que possuía, algumas joias (que pensou em vender caso fosse necessário) e o relicário de sua mãe. Seu irmão também a ajudou e conseguiu arrumar algumas moedas de ouro sem que seu pai soubesse, afinal, ele só havia permitido que ela levasse suas roupas e joias, já que eram presentes.

— Liese, peça perdão ao papai... — Seu irmão implorava e a princesa apenas sorria. O choque já havia passado e seu orgulho ferido estava no controle.

— De maneira alguma! Se ele não me ama a ponto de me permitir escolher o homem que me fará feliz... certamente que não partilho da vontade de permanecer nessa prisão. — E, enquanto lembrava-se de anos passados em que tentava conseguir a atenção de seu pai, disse por fim. — O Rei ainda possui um príncipe. Para ele isso é tudo o que importa, Alexis.

Imaginava se Alexis ficaria sentido com aquelas palavras. Analiese não poderia mentir e dizer que não sentia uma pontada de ciúmes de seu irmão. Toda a atenção de seu pai estava concentrada nele... a forma como deveria ser educado, todo o conhecimento que um rei deveria possuir, aulas sobre filosofia e moral. Seu pai queria que Alexis fosse um rei perfeito e ela... bom, Analiese deveria apenas ser uma esposa perfeita. E como ela jamais seria, agora já não seria mais necessária. Porque Alexis ofereceria ao seu pai muito mais do que ela poderia oferecer... Porque Liese era apenas um bônus.

E a princesa percebeu ainda mais a sua inutilidade ao ver que mesmo Clara sabia cozinhar e ela não. Todos nós sabemos que Clara é uma excelente professora e enquanto os rapazes e a jovem Lilith viviam aventuras em outro reino... As moças pacientes se ocupavam a aprender a arte da culinária. A loira defendia que era uma tarefa de suma importância para ser feliz no amor, Analiese, por outro lado, não concordava com isso: achava triste viver uma existência  se adaptando para fazer um homem feliz, como se aquilo fosse a única forma para uma mulher encontrar a felicidade.

Clara obviamente parecia pensar desse modo, afinal, esperou por todos esses anos… Lily pensava parecido, sua meta de vida era encontrar o amor verdadeiro, mas admitiu em segredo que jamais seria capaz de esperar. Por isso ela vivia uma aventura enquanto Clara ficava em casa, paciente. Eruwin tinha uma obsessão quase doentia por Henry e aquilo assustava Liese. A princesa sempre se considerou uma pessoa romântica, contudo, não era capaz de compreender aquela visão de mundo. Queria, obviamente, se casar com alguém que amasse, mas havia outras formas de ser feliz: como na vez que Leharuin a levou para ajudar uma comunidade miserável… havia aprendido muito naquele dia e, após refletir sobre toda a situação, sentiu-se genuinamente feliz. Passou a enviar suprimentos sempre que possível, mesmo quando ela própria não podia fugir para ir pessoalmente.

De todas as formas, sabia que se nunca encontrasse o seu par ainda seria capaz de ser feliz ao ajudar aqueles que nada tinham. Quanto à arte da culinária… a princesa considerava uma ocupação trágica e sem muitos aspectos interessantes. Exceto, é claro, na vez que Clara teve a péssima ideia de trazer um peixe para o almoço.

— Isso não é o que eu penso que é. — Eruwin gritou, sentindo-se completamente ofendida. Clara e Analiese apenas se entreolharam, sem palavras para dizer.

— Bem, espero que você não pense que isso é um peixe. — A princesa arriscou, com certo receio.

— É claro que penso que isso é um peixe! Como podem comê-lo? E se ele fosse meu amigo? — Novamente houve uma troca de olhares, embora Clara achasse a situação claramente divertida. E sim, amigos, esse jogo de palavras não foi de propósito, porém ficou apropriadamente engraçado.

— Mas Eruwin, nós já cozinhamos carne de outros animais, como carne de coelho, por exemplo. — Analiese tentava contornar a situação, não conseguia entender o motivo da frustração da sereia. — E como um peixe poderia ser seu amigo?

— Ora! Isso faz parte do encantamento de uma sereia. Somos capazes de entender e nos comunicar com qualquer criatura viva! — Bem, aquilo era um espanto para ambas as moças. — E eu nunca vi um coelho, se soubesse o que era também ficaria ofendida. Bem, exceto se eles forem iguais aos golfinhos. Golfinhos são criaturas pavorosas, talvez até piores que humanos.

— Piores que humanos? — A princesa perguntou, em um falso tom ofendido.

— Eu sei que nem todos os humanos são como os das lendas! Mas você entendeu o que eu quis dizer. — Devolveu, impaciente. — E não irei comer peixe algum!

Optaram por desistir do peixe e resolveram fazer uma sopa de legumes. Eruwin aprendia rápido, a princesa, no entanto... por mais que se esforçasse, não conseguia captar nem mesmo o básico, talvez por não partilhar do desespero de conquistar um bom marido pela barriga. Bom, isso até aquele dia. Estranhamente, Analiese estava se esforçando mais que o normal.

“Aconteceu alguma coisa?” — Clara escreveu em seu caderno. Liese olhou e deu o melhor de seus sorrisos enquanto acenava em sinal de negação. A jovem silenciosa ainda duvidava um pouco, contudo acreditou que seria melhor não se intrometer na vida da moça.

A princesa sempre partia quando o pai de Clara chegava. Era um homem estranho que ignorava a existência da filha a todo custo, mesmo que fosse necessário ignorar a presença de outras pessoas além dela. Certamente que não era sempre que aquele homem amargurado dormia em casa, queridos companheiros. Por vezes ele sumia por dias, sem nunca dar satisfação.

E quando Analiese ia embora, Clara se ocupava em ensinar Eruwin a ler e a escrever. A sereia também se sentia desconfortável com a presença do pai da humana. Mais que isso, Eruwin o odiava. Pois ele era a representação do que os homens faziam com seus filhos de sereias... Eruwin só demorou a acreditar que eles pudessem cometer tal atrocidade com suas filhas de humanas também.

E então vocês se perguntam, amigos, onde vive Analiese quando não está cuidando de Clara, conforme prometera a Leharuin? Em uma humilde estalagem nas proximidades. Mesmo que não soubesse fazer muita coisa, Analiese tinha uma enorme noção de gastos. Antes de adquirir o estranho gosto de fugir de seu antigo lar, a princesa costumava escutar as aulas que seu irmão recebia. E, graças a esse hábito de se esconder para conhecer o mundo de Alexis, ela conseguiria sobreviver ao mundo sombrio da pobreza.

Inicialmente investigou os preços e então o local. Não queria morar próxima a prostíbulos e nem em lugares muito perigosos. Ainda assim, não poderia alugar algo muito luxuoso... não sabia até quando teria dinheiro para pagar... e ainda teria que arrumar um emprego. Essa parte era a que mais a desesperava. Que emprego uma mulher conseguiria arrumar? Respirou fundo, não poderia pensar nisso... não iria descer a esse ponto. Talvez pudesse roubar... mas era tão desajeitada! E se a única opção fosse se casar com um estranho? E se tivesse que pedir desculpas a seu pai e aceitar ser tratada como uma mercadoria? O que Moros queria que ela fizesse?

Quando deitou em sua cama, deixou que as lágrimas que segurou durante todo o dia se libertassem. Lembrava-se das palavras de Leharuin... porém ela não era uma sereia... não importava o quanto chorasse, seus olhos jamais mudariam de cor. Nem as lágrimas queimariam seu rosto. Que palavras de consolo ele diria? Passou o resto da noite chorando e imaginando Leharuin a seu lado, consolando-a... porque ele era seu melhor amigo e isso era tudo o que ele podia ser.

Irei convidá-los, meus espiões anônimos, a se aventurarem nos devaneios da princesa. Lembre-se que são situações que irão apenas acontecer no mais profundo abismo dos seus desejos proibidos. Tão profundo que Analiese se deu conta deles apenas naquela noite.

E o devaneio começa com uma tentativa desesperada de conseguir ajuda sem precisar ferir seu orgulho para isso.

O jovem ladrão já havia voltado de sua notória aventura, que ela não imaginou já que estava desesperada por consolo. E tal como vinha acontecendo normalmente, a princesa estava cuidando de Clara. Não quis imaginar a cena, nem os beijos ou os abraços. Não conseguia entender ainda porque lhe era tão doloroso pensar nisso... pobre e iludida Analiese.

— Eu devo retornar ao castelo agora, antes que meu pai descubra que fugi outra vez. — Seu sorriso era divertido, porém seus olhos diziam a verdade. E seriam seus olhos que a denunciariam.

E agora ela se imaginava em seu quarto, sendo surpreendida por Leharuin que entraria pela janela da estalagem.

— Belo castelo. — Seu tom seria sarcástico e levemente acusador. Analiese pensava em várias coisas para dizer a ele nesse momento, no entanto nenhuma lhe parecia apropriada. Então ela apenas permitiu que o ladrão fizesse outra pergunta. — O que aconteceu?

— O rei me deserdou. — A princesa responderia com simplicidade. Claro, porque não poderia mostrar que estava abalada ou até mesmo desesperada. Porque somente em seus devaneios ela conseguia manter uma pose. Só neles Analiese era capaz de ser forte.

— Decisão estúpida para um Rei. — Seria possível sentir a preocupação na voz do ladrão. Talvez ele estivesse pensando em meios para ajudá-la. — Deixe-me adivinhar, foi Moros?

— Sempre é. — Imaginava um sorriso encantador nos lábios de Leharuin.

— Sim, sempre é. — Agora, meus amigos, era o momento em que a imaginação da princesa ficava perigosa, pois nela o ladrão se aproximava e segurava um dos cachos negros da princesa. — Você não precisa fazer isso.

— Fazer o quê? — Havia confusão em sua voz, porém não em seus pensamentos. Afinal, ela sabia exatamente o que ele queria dizer.

— Atuar. Você é sensível, esconder seus sentimentos só irá machucá-la ainda mais. — E aos poucos ela desabaria e então os braços fortes e ao mesmo tempo delicados de Leharuin iriam envolvê-la. Iria enterrar o rosto em seus cachos para poder sussurrar em seu ouvido. A respiração dele fazendo cócegas em sua nuca. — Você é preciosa para mim, sabia? Sempre tentou me ajudar e olhe o que isso lhe causou.

— Ei. — Agora seria a vez dela consolá-lo. Seus dedos finos segurariam o queixo do ladrão e assim seus olhos seriam obrigados a se encontrar. — A culpa não é sua. Eu escolhi, a responsabilidade é toda minha.

Nesse momento, a jovem acorda de seu sonho. Porque ela sabia o que viria depois e isso era algo que ela não poderia permitir. Nada daquilo era justo. Clara não merecia isso. Leharuin e Clara eram perfeitos um para o outro... Analiese não queria aquele sentimento.

É algo engraçado, a princesa que sempre desejou amar alguém... agora lutava bravamente contra esse sentimento. Porque, de todas as pessoas que Analiese poderia se apaixonar, Leharuin seria sua última opção.

— Por favor, qualquer um... mas ele não — sussurrou para seu próprio coração em pedaços. As lágrimas rolavam pelo rosto da princesa. E não, ela não chorava por pena de si mesma, não estava chorando por um homem que fora destinado a nunca lhe pertencer. Ela chorava de culpa. A imagem de Clara atormentava sua mente. As palavras de Eruwin que agora ela compreendia… a menina silenciosa certamente a odiaria... a odiaria por sua falsidade. Porque no fundo (por mais que odiasse a si mesma por isso) ela desejava que a espera de Clara fosse em vão. Ela desejava que Leharuin desistisse dela.


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Notas finais do capítulo

Tam dam dam. Uma princesa (ou melhor: ex-princesa q) na friendzone, que peculiar, não? O que será dos próximos capítulos? Ouvi dizer que um pirata está chegando para se juntar ao grupo de Anankes :3 Digam o que acharam